MINISTÉRIO DA FAZENDA 1 r. CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS... PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO - CRSNSP 2O8 Sessão Recurso n 6382 Processo SUSEP n 15414.003591/2008-48 RECORRIDA: SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP EMENTA: RECURSO ADMINISTRATIVO. Denúncia. Descumprimento Contratual. Negativa de pagamento de indenização. Invalidez Permanente e Total por Doença. Responsabilidade pelo pagamento da indenização. Obrigação de pagar a indenização recai sobre a seguradora que cobria a apólice vigente na época em que se manifestou a doença que gerou a incapacitação, se houver indicação do início da doença na declaração médica. Caso contrário, deve-se considerar a data da declaração médica que atestou a invalidez. Recurso conhecido e provido. PENALIDADE ORIGINAL: Multa de R$ 17.000,00. BASE NORMATIVA: Art. 757 da Lei n 10.406/2002, c/c art. 88 do Decreto-Lei n 73/66, c.c. 1 do artigo 72 da Circular SUSEP n. 302/2005. ACÓRDÃO /CRSNSP N 5121/14. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decidem os membros do Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização, por unanimidade, dar provimento ao recurso da Cia. de Seguros Previdência do Sul, nos termos do voto da Relatora. Presente a advogada, Dra. Shana Araújo, que sustentou oralmente em favor da recorrente, intervindo nos termos do Regimento Interno deste Conselho a Senhora representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Dra. Maria Eli Trachtenberg. Participaram do julgamento os Conselheiros Ana Maria Meio Netto Oliveira, Claudio Carvalho Pacheco, Carmen Diva Beltrão Monteiro, Paulo Antonio Costa de Almeida Penido, Marcelo Augusto Camacho Rocha e André Leal Faoro. Presentes a Senhora Representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Dra. Maria Eli Trachtenberg, e a Secretária-Executiva, Senhora Theresa Christina Cunha Martins. Sala das Sessões (RI), 12 de dezembro de 2014. ím vc tíjvt. XNA MARIA MEtO NJTTO OLIVEIRA Presidente e Relatora MARIA ELIi. 'ENBERG Procuradora da Fazenda Nacional
.11 MINISTERIO DA FAZENDA CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO RECURSO CRSNSP N 6382 PROCESSO SUSEP N 15414.003591/2008-48 RECORRENTE: CIA DE SEGUROS PREVIDÊNCIA DO SUL RELATORA: ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA RELATÓRIO Trata-se de processo administrativo em que se apura a negativa de pagamento de indenização relativa à garantia de invalidez permanente total por doença, de que resultou a condenação de CIA DE SEGUROS PREVIDÊNCIA DO SUL por infração ao artigo 757 da Lei n 10.406/2002, dc artigo 88 do Decreto-lei n 73/66 e com o 1 do artigo 72 da Circular SUSEP n. 302/2005, tendo-lhe sido aplicada penalidade de multa no valor de R$ 17.000,00, prevista na alínea "g" do inciso IV, ao art. 5 da Resolução CNSP n 60/20W, conforme decisão de fi. 250, de 9 de outubro de 2012. Consta dos autos que o segurado comunicou o sinistro à Mitsui Sumitomo Seguros (fi. 3), tendo a indenização sido negada por esta seguradora, conforme correspondência de fi. 04, sob o argumento de que a hipertensão arterial e afastamento das atividades se configuraram em 06/03/2006, tendo a conclusão da aposentadoria previdenciária ocorrido em 02/05/2008, data esta posterior ao período de vigência da apólice, que teve seu término em 30/03/2006, não sendo a indenização de responsabilidade da Mitsui. Ante a negativa da Mitsui, foi enviado aviso de sinistro à Cia. Previdência do Sul (ti. 5), que, por sua vez, recusou-se à cobertura do sinistro por meio da correspondência de ti. 7, sob o fundamento de que o sinistro teria ocorrido em março de 2006, e não em maio de 2008, pois há de ser considerada a declaração médica que atesta que o segurado está incapacitado e afastado efetivamente desde 06 de março de 2006, e não a data da concessão de aposentadoria pela instituição oficial de previdência. Após recebidas as informações prestadas pela Cia Previdência do Sul (fis. 88/132) e pela Mistui Sumitomo (fis. 140/209), foi empreendida análise pela área técnica da Autarquia (fis. 2 17/218), que constatou que: O reclamante tem direito a receber a indenização por invalidez permanente por doença referente à apólice contratada junto à Cia de Seguros Previdência do Sul; A invalidez permanente só foi constatada no ano de 2008 conforme laudo médico anexo aos autos de acordo com o art. 5 da Circular SUSEP n. 302/2005; Não há que se falar em divergência da moléstia, e portanto de necessidade de junta médica, tendo em vista que a reclamada aceita a moléstia; IEGER/cosgc, RE CEBIDO / A'
Ii CRSNSP RECURSO N 6382 Embora a doença já se apresentasse em 2006, a reclamante encontrava-se em tratamento, não se caracterizando incapacidade total e permanente, que só veio a se materializar em 2008, conforme laudo médico, sendo impossível a definiçãodomomento exato da inyalidez,sçnão n&data dojaudo, conforrne-art.- 12 da Circular SUSEP n. 302/2005; A seguradora assumiu o ônus do risco inerente à atividade de seguro ao aceitar como partícipe da apólice de seguro de vida em grupo o reclamante que já apresentava sinais da moléstia no momento da contratação e em nenhum momento do processo consta que o segurado tenha omitido o fato. Intimada para defesa, a seguradora apresentou petição de fis. 224/233, arguindo ofensa aos princípios da legalidade e da tipicidade, tendo em vista que a conduta não foi devidamente especificada. No mérito, alega que o quadro clínico que gerou o afastamento e aposentadoria do segurado já caracterizava a TPD desde março de 2006, época em que vigia apólice contratada junto a congênere. A data da declaração médica deveria ser considerada como a data da ocorrência do sinistro, nos termos da Circular SUSEP n. 17/92, então vigente. A data de 02/05/2008 refere-se tão somente a data formal da aposentadoria do segurado e não pode por si só ser adotada para fins de concessão de garantia por IPD, eis que o próprio marco regulatório estabelecido pela SUSEP divorcia os critérios adotados pela previdência social daqueles que devem ser adotados pelo mercado segurador. O parecer técnico de fis. 237/239, analisando as declarações médicas de fis. 13, 3 e 5, e documentos de fis. 24, 12 e 129 à luz do disposto no art. 50 da Circular SUSEP n. 302/2005, conclui que a invalidez ocorreu em 06/03/2006, época em que a detentora do risco era a Mitsui Sumitomo, opinando pela improcedência da denúncia em relação à Previdência do Sul. Acrescenta que, de acordo com o prazo previsto no art. 206 do Código Civil, que estabelece prescrição ânua para reclamação de indenização contra o segurador, e tendo em vista que o fato gerador da pretensão ocorreu em 06/03/2006, estaria prescrita a pretensão do segurado contra a seguradora Mitsui. O Despacho de fis. 24 1/242, acolhido pelo parecer jurídico de fis. 244/246, por sua vez, manifesta discordância em relação às conclusões do parecer referido acima, tendo em vista que o documento de fi. 13 indica que no dia 06/03/2006 o segurado foi afastado de sua atividade laboral, para tratamento de saúde, não havendo declaração médica de que o segurado já estivesse inválido nesta data. As declarações médicas de fis. 03 (verso), 06, 05 e 57, que atestam a invalidez definitiva do segurado são datadas de maio e junho de 2008, data de ocorrência do sinistro nos termos da Circular n. 17/92, então vigente. Intimada da decisão condenatória em 22/10/2012, a seguradora recorreu tempestivamente ao CRSNSP, reiterando, em razões recursais de fis. 266/275, os argumentos apresentados em manifestações anteriores, repisando que, ainda que a declaração médica apontada como ensejadora da aplicação de penalidade à recorrente tenha sido emitida em 2008, deixa absolutamente claro que a invalidez já se encontrava configurada em data anterior. Acrescenta que, ao apreciar idêntica matéria no bojo dos processos 15414.003525/2008-78 e 15414.005089/2008-71, a CGJUL, corroborando os entendimentos da área técnica e jurídica, entendeu que não houve cometimento de infração por parte da seguradora. Alternativamente, requer seja a pena pecuniária convolada em advertência, nos termos da Resolução CNSP n. 243/2011. PÁ
CRSNSP RECURSO N 6382 A fim de possibilitar a compreensão do caso, destaco abaixo os pareceres médicos constantes dos autos: À fl. 3: Relatório do médico assistente no aviso de sinistro apresentado à seguradora - -Mitsui3_datadode---L2/0-5/-Z00& Re1ata--que em--1-2-/05/2008 o--5egurado não se encontrava em plenas condições de trabalho, tendo sido afastado de suas atividades a partir de 06/03/2006. À fl. 5: Relatório do médico assistente no aviso de sinistro apresentado à seguradora Previdência do Sul, datado de 16/06/2008. Relata que o segurado foi atendido pela primeira vez com relação à moléstia determinante da invalidez em 06/03/2006. À fl. 6: atestado médico datado de 12/05/2008, atestando que o segurado está incapaz. À fl. 13: Atestado da Prefeitura Municipal de Curitiba no qual afirma que o servidor municipal foi aposentado por invalidez em 02/05/2008, sendo que o início da incapacidade laborativa do servidor devido a afecção da qual resultou sua aposentadoria ocorreu em 06/03/2006. À fl. 57: atestado médico datado de 03/06/2008, atestando que o segurado está incapaz. Destaca-se ainda que consta à fl. 14 a Listagem de afastamentos por servidor da Prefeitura Municipal de Curitiba, que demonstra que o segurado encontrava-se em licença para tratamento de saúde de 06/03/2006 a 05/05/2008. Em parecer de fis. 292/293, a Representação da PGFN no CRSNSP manifestase pelo conhecimento do recurso e, no mérito, pelo não provimento. É o relatório. Brasília, 14 de novembro de 2014. ' ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA Relatora Representante do Ministério da Fazenda
* MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO 305 RECURSO CRSNSP N 6382 PROCESSO SUSEP N 15414.003591/2008-48 RECORRENTE: CIA DE SEGUROS PREVIDÊNCIA DO SUL RELATORA: ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA VOTO A discussão travada nos autos circunscreve-se ao evento que caracteriza o sinistro - se o diagnóstico da doença que gera a invalidez ou se a declaração médica que atesta a invalidez, ou ainda aposentadoria oficial - a fim de que se determine a responsabilidade pelo pagamento da indenização, que recairá sobre a seguradora que garantia a apólice à época da ocorrência de tal evento. A meu ver, a interpretação correta para a questão foi exposta no parecer técnico de fis. 237/239. Analisando as declarações médicas constantes dos autos, conclui o parecer que o sinistro ocorreu em 06/03/2006, época em que a detentora do risco era a Mitsui Sumitomo, opinando pela improcedência da denúncia em relação à Previdência do Sul. Com efeito, a orientação atual do CRSNSP é no sentido de que a obrigação de pagar a indenização recai sobre a seguradora que cobria a apólice vigente na época em que se manifestou a doença que gerou a incapacitação, se houver indicação do início da doença na declaração médica. Se não houver indicação da data do início da doença no relatório médico, considera-se a data da declaração médica que atestou a invalidez. No entanto, reputo equivocada a conclusão do referido parecer técnico quanto à incidência da prescrição da pretensão do segurado à luz do artigo 206 do Código Civil. Entendo que o início da contagem da prescrição, em casos dessa natureza, se dá a partir da primeira declaração médica que atesta a caracterização da invalidez total e permanente, e não do início da doença da qual decorre a incapacitação. Isto porque há de se considerar que, nos tempos atuais, é possível conviver anos com determinadas doenças, com preservação da qualidade de vida, até que surja uma intercorrência, causada por essa mesma moléstia, que resulte na invalidez total e definitiva.
a CRSN S P RECURSO N 6382 Assim sendo, o direito do segurado à indenização nasce no momento em que é atestada sua incapacidade total e definitiva, e não quando do início da doença ou do primeiro_diagnóstico. No presente caso, tendo-se obtido a primeira declaração médica atestando a incapacidade em 12/05/2008 (ti. 6), poderia o segurado pleitear junto à Mitsui o pagamento da indenização até a data de 12/05/2009. Ante o exposto, entendo que assiste razão à seguradora quanto à alegação de que não lhe compete o pagamento da indenização, tendo em vista que, quando da ocorrência do sinistro, a apólice era coberta pela seguradora Mitsui, que deveria ter providenciado o pagamento. Por esta razão, dou provimento ao recurso. É o voto. Brasília, 12 de dezembro de 2014. 1 ol k..âna MARIA MELO NETTO OLIVEIRA Relatora Representante do Ministério da Fazenda t - 2