4. Modelo Monetarista 4.1. Demanda por moeda em Friedman: o restabelecimento da TQM Carvalho et al. (2015: cap. 6) 07/11/2018 1
Monetaristas Como reação à síntese neoclássica e a crença no trade-off estável entre inflação e desemprego, os monetaristas reformulam a teoria quantitativa da moeda, retomando as bases propostas na versão de Cambridge e aprimorando a especificação da função de demanda por moeda, mas reafirmam as conclusões principais - o papel determinante da renda em relação à demanda por moeda e a neutralidade da moeda no longo prazo. Em acordo com a tradição clássica, os autores mantêm a determinação do nível de produto e emprego no longo prazo a partir da tecnologia, acumulação de capital, crescimento populacional e preferências, sendo a oferta de moeda capaz de afetar apenas os níveis de preços. Mas reconhecem e formalizam a possibilidade de variações na oferta de moeda terem efeitos reais no curto prazo. 07/11/2018 2
Monetaristas e Friedman O autor de maior destaque desta escola é Milton Friedman. Friedman, em seu artigo "A teoria quantitativa da moeda - uma reafirmação" de 1956, identifica a TQM como uma teoria da demanda por moeda (e não do produto ou do nível de preços) inserida no contexto de uma teoria de alocação de portfólio (teoria de capital), sendo a moeda uma espécie de "ativo" que constitui uma alternativa, dentre várias, para se manter a riqueza. Ele compara a decisão de demandar moeda (ou qualquer outro ativo) à decisão de demanda por um bem de consumo, considerando, portanto, a restrição orçamentária (estoque de riqueza), o preço e retorno dos diversos ativos e gostos e preferências em contexto de maximização de utilidade do fluxo de renda gerada pelo portfólio. 07/11/2018 3
Restrição Orçamentária A riqueza total estaria associada aos diversos ativos disponíveis (moeda, títulos, propriedades, bens duráveis e capital humano) que são capazes de gerar alguma fonte de renda para seus proprietários. Dada a dificuldade de calcular o estoque de ativos (ex. ativos de diferentes gerações ), então Friedman sugere que a riqueza seja calculada de maneira aproximada como o valor presente do fluxo de renda esperado a partir da posse do conjunto de ativos: W = / r 07/11/2018 4
Restrição Orçamentária Vale notar que = W.r representa a renda permanente, isto é, reflete a capacidade de usufruto permanente da riqueza existente, desprezando-se flutuações conjunturais. Seu cálculo é aproximado pelas rendas médias correntes e passadas gerada pelo total de ativos. Assim, a influência da restrição orçamentária associada ao estoque de riqueza sobre a demanda por moeda poderia ser capturada pelo nível de renda permanente da economia: Md = f(), sendo dmd/d > 0. 07/11/2018 5
Restrição Orçamentária Moeda M Md a Curva Indiferença Md Md a a CI Z Outras formas de riqueza Z Z CI Z 07/11/2018 6
Os agentes alocariam a sua riqueza entre os diversos ativos de forma a maximizar a utilidade gerada pela composição do fluxo de renda resultante. Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) i) Moeda Ativo aceito como meio de pagamento a valor nominal fixo e com retorno não monetário e subjetivo associado, em geral, à comodidade e segurança, avaliados de diferentes formas e diferentes contextos; 07/11/2018 7
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) i) Moeda (cont.) Md = f(u), onde dmd/du > 0 u = preferências e incertezas que afetam a utilidade da moeda (condições estruturais, conjunturais e de expectativa ex. distribuição de renda, estabilidade político-institucional). Md=f(p e ), onde dmd/dp < 0 Caso se considere a existência de inflação, então o valor nominal fixo representará uma valor real menor, diminuindo a utilidade da moeda. Neste sentido, a demanda por moeda será negativamente afetada pela inflação esperada (p e ). 07/11/2018 8
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) Moeda Md Md a a CI CI Z Z Outras formas de riqueza 07/11/2018 9
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) ii) Títulos Ativos com direito a fluxos periódicos de pagamento sob a forma de juros prefixados em termos nominais decorrentes da concessão de crédito e potencial valorização/desvalorização; iii) Ações Ativo com direito a fluxos periódicos de pagamento sob a forma de dividendos variáveis em termos nominais decorrentes do retorno das empresas e potencial valorização/desvalorização; 07/11/2018 10
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) iv) Bens Físicos Ativo produtivo com expectativa de fluxo periódico de pagamento variável sob a forma de lucro derivado da atividade produtiva das empresas (ex. máquinas bem de capital) ou da remuneração pela prestação de serviços (ex. imóveis) e potencial valorização/desvalorização; 07/11/2018 11
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) Assim, os ativos não monetários (títulos, ações e bens físicos) têm, em geral, um fluxo periódico de rendimento, como juros, dividendos, lucros e aluguéis, além de poderem sofrer valorização ou desvalorização como reflexo de mudanças em seus preços relativos. Quão maior o retorno esperado dos ativos não monetários (ra - renda fixa, rb - renda variável), maior o custo de oportunidade de se reter moeda no portfólio, portanto: Md = f(r a, r b ), onde dmd/dr a < 0 e dmd/dr b < 0 07/11/2018 12
Preço e Retorno dos Ativos (custo de oportunidade) Md = f(r a, r b ), onde dmd/dr a < 0 e dmd/dr b < 0 Moeda M (r a, r b ) >(r a, r b ) Md Z a Curva Indiferença Outras formas de riqueza Md Md a Z a Z CI Z 07/11/2018 13
Preço e Retorno dos Ativos v) Capital Humano Ativo com expectativa de fluxo periódico de pagamento sob a forma de salários decorrente do emprego em atividade produtiva. Como o "capital humano" (Rh) é um ativo de baixa liquidez, uma vez que não se negocia o próprio ativo, o ser humano, mas apenas o serviço prestado por ele, o trabalho, que será remunerado sob a forma de salário, então, quão maior a participação do capital humano no estoque de riqueza de um indivíduo, maior será a sua demanda por moeda para compensar a falta de liquidez. Md = f(w), onde dmd/dw > 0, w = Rh / Rnh e Rnh = riqueza não humana. 07/11/2018 14
Função de demanda por moeda é dada por: Md = f(, u, p e, r a, r b, w) = renda permanente u = fatores subjetivos (preferências e incerteza) p e = inflação esperada r a = taxa de retorno esperada de ativos de renda fixa (títulos) r b = taxa de retorno esperada de ativos de renda variável (ações e bens físicos) w = relação entre riqueza humana e não humana 07/11/2018 15
Função de demanda por moeda e o curto prazo A função demanda por moeda, na visão de Friedman, poderia ser escrita de maneira simplificada na forma da TQM tradicional: M/P = Md = f(, u, p e, r a, r b, w) => M/P = Md = k(u, p e, r a, r b, w) Sendo as preferências, u, expectativa de inflação, p e, e a participação do capital humano na riqueza total, w, relativamente estáveis no curto prazo, seria possível reescrever a função de demanda por moeda da seguinte maneira: M = k(r).p, onde a sensibilidade-juros da demanda por moeda é baixa e, portanto, k permanece estável, isto é, a velocidade-renda da moeda é previsível, mesmo sem ser constante. 07/11/2018 16
e a IS-LM Função de demanda por moeda e o curto prazo M/P = Md = f(, u, p, r a, r b, w) => M/P = Md = kp Neste sentido, permanecendo k relativamente estável e a demanda por moeda com baixa elasticidade-juros, então, em termos do modelo IS-LM, teríamos: IS: = C+j bi+g 1 c 1 t = αa i LM LM: M P = k hi i Onde h baixo e b alto IS 07/11/2018 17
e a Política Monetária Função de demanda por moeda e o curto prazo Como, na visão dos monetaristas, a substituição entre moeda e demais ativos é pequena, i.e., a elasticidade-juros da demanda por moeda (h) é baixa, então variações na oferta de moeda, tal como na visão dos clássicos, gera grande impacto sobre a demanda. P d = C + j + b h M P + G P 0 A B 1 c 1 t + bk h d (M 0 ) 0 1 07/11/2018 18
e a Política Monetária Função de demanda por moeda e o curto prazo Para os monetaristas, no caso de variações da oferta de moeda, será principalmente a variação na renda que irá reequilibrar o mercado monetário, ao contrário da visão dos keynesianos que creditam maior parte do ajuste a variações na taxa de juros. Os monetaristas, no entanto, diferenciam o efeito de variações na oferta de moeda no curto e no longo prazo. No curto prazo, o produto responderia parcialmente ao estímulo da demanda agregada gerado pelo aumento da oferta de moeda, acompanhado de elevação de preços, enquanto, no longo prazo, a pressão de demanda agregada gerada pela expansão monetária se reverteria integralmente em elevação de preços. 07/11/2018 19
e a PM Curto Prazo Como será visto, o efeito potencial de uma variação da oferta de moeda sobre o produto,, no curto prazo, e não só sobre os preços, P, seria resultado de erro na formação das expectativas dos agentes quanto ao comportamento dos preços, em situação onde a inflação esperada é menor do que a inflação corrente. i LM LM (M 0 /P 0 ) (M LM 1 /P 1 ) (M 1 /P 0 ) P s CP A B B IS B A d (M 1 ) d (M 0 ) 0 1 07/11/2018 20 P 1 P 0
e a PM No longo prazo, no entanto, quando os agentes já ajustaram suas expectativas, o impacto recairia apenas sobre P, tal como proposto pela TQM. i LP LM (M 0 /P 0 = M 1 /P 1 ) LM (M 1 /P 0 ) P s LP A=B P 1 B B IS P 0 A d (M 1 ) d (M 0 ) 0 1 07/11/2018 21
Monetaristas e keynesianos demanda por moeda As principais diferenças entre os monetaristas e keynesianos são: Friedman/monetaristas não segmentam a demanda por moeda entre diferentes motivos; A função demanda por moeda para os keynesianos é instável e para os monetaristas é estável; A sensibilidade-juros da demanda por moeda para os keynesianos é alta e para os monetaristas é baixa; A oferta de moeda seria, em geral, pouco eficaz para estimular a demanda para os keynesianos, enquanto para os monetaristas seria eficaz. 07/11/2018 22