Aula 15: Externalidades e Economias de Aglomeração. Prof. Eduardo A. Haddad

Documentos relacionados
A economia da estratégia

Legislação aplicada às comunicações

Monopólio. Microeconomia II LGE108. Características do Monopólio:

Teoria dos Lugares Centrais, Redes e Regionalização

ÐЏٸ Я [Я Carlos Martins

HABILIDADE FINANCEIRA DOS BRASILEIROS. Fevereiro de 2016

Luciano Coutinho Presidente

PARTE I As Finanças Públicas e o Papel do Estado

A Formação de Clusters e Redes de Negócios

GABARITO LISTAS. 1. Dê 3 exemplos de tradeoffs importantes com que você se depara na vida.

Aula 2 Contextualização

Teoria da utilidade / CI. Sumário. Teoria da utilidade / CI. Teoria da utilidade / CI. Teoria da utilidade / CI. Teoria da utilidade / CI

CURSO de CIÊNCIAS ECONÔMICAS - Gabarito

1) Eficiência e Equilíbrio Walrasiano: Uma Empresa

DETERMINAÇÃO DO PREÇO NA EMPRESA

UNOCHAPECÓ Programação Econômica e Financeira

Pesquisa de Orçamentos Familiares

Regulação em Projetos Transnacionais de Infraestrutura Aspectos Econômicos. Arthur Barrionuevo FGV - Escolas de Administração e Direito

DIRETORIA DE PESQUISA - DPE COORDENAÇÃO DE CONTAS NACIONAIS CONAC. Sistema de Contas Nacionais - Brasil Referência Nota metodológica nº 2

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

RUMO AO FUTURO QUE QUEREMOS. Acabar com a fome e fazer a transição para sistemas agrícolas e alimentares sustentáveis

1. O Contexto do SBTVD

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

Estruturas de Mercado. 17. Concorrência Monopolística. Competição Imperfeita. Competição Monopolísitica. Muitos Vendedores. Produtos Diferenciados

2. São grupos, respectivamente, de crédito na Conta 1 (PIB) e débito na Conta 2 (RNDB) das Contas Nacionais:

Como as empresas financiam investimentos em meio à crise financeira internacional

Prova de Macroeconomia

Estratégias. Chapter Title Gestão Grupos Empresas. 15/e PPT. Screen graphics created by: Jana F. Kuzmicki, Ph.D. Troy University-Florida Region

MOBILIDADE URBANA. André Abe Patricia Stelzer

Novo Modelo para o Ecossistema Polos e Clusters. Resposta à nova ambição económica

Cresce o emprego formal em todos os setores de atividade

Uma estratégia para sustentabilidade da dívida pública J OSÉ L UÍS O REIRO E L UIZ F ERNANDO DE P AULA

Princalculo Contabilidade e Gestão. Comércio Investe"

Comércio e moeda. A distribuição

O Princípio do Protetor-Recebedor no Financiamento das Unidades de Conservação no Brasil

Química Economia, Organização e Normas da Qualidade Industrial

Inovação aberta na indústria de software: Avaliação do perfil de inovação de empresas

Evolução da Disciplina. Programação e Controle. Conteúdo da Aula. Contextualização. Sinergia. Prof. Me. John Jackson Buettgen Aula 6.

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO VERSÃO 2

Desenvolvimento Regional e Aglomerações Produtivas na Bahia: Territórios de Identidade. Francisco Teixeira EAUFBA

Aula 7 Inflação. Prof. Vladimir Maciel

Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose

Cartilha do ALUNO EMPREENDEDOR POLITÉCNICA


Capítulo 3. Focalizando o novo negócio

Visão. O comércio entre os BRICS e suas oportunidades de crescimento. do Desenvolvimento. nº abr no comércio internacional

Economia Criativa. Prof. Leandro Valiati

Engenharia de Software e Gerência de Projetos Prof. Esp. André Luís Belini Bacharel em Sistemas de Informações MBA em Gestão Estratégica de Negócios

Administração AULA- 4. ERI0199 Teoria Econômica. Prof. Isnard Martins

Instrumentos Econômicos de Gestão Ambiental. Subsídio Ambiental

O QUE É COMPROMISSO IMPACTO

MICROECONOMIA. Paulo Gonçalves

Estudo das Cinco Forças de Porter para a Análise do Ambiente Competitivo ou Setorial. Aula - 5

2.7 - Curva de Possibilidades de Produção

Oportunidades no Mercado de Biocombustíveis

Página 1 de 8

Palestra de Philip Kotler - Tecnologia

INFLAÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS E TEORIAS. Profa.: Enimar J. Wendhausen

Capítulo 1: Introdução à Economia

4) Considerando-se os pontos A(p1, q 1) = (13,7) e B (p 2, q 2) = (12,5), calcule a elasticidade-preço da demanda no ponto médio.

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1

Unidade I. Mercado Financeiro e. Prof. Maurício Felippe Manzalli

Valorizar os produtos da terra. Melhorar a vida das nossas aldeias. documento síntese para consulta e debate público 9 Fev 2015

Ins$tuto Ethos A SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA E A NOVA ECONOMIA. De Empresas e Responsabilidade Social

CURSO: ADMINISTRAÇÃO Prof Dra. Deiby Santos Gouveia Disciplina: Matemática Aplicada OFERTA DE MERCADO

O Novo Mercado Brasileiro de Cartões de Pagamento

3. As Receitas Públicas

2/26/aa. Preço. Mais Alta Estratégia de preço premium. Estratégia baseada no valor. Qualidade. Mais Baixa Estratégia de preço exorbitante

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

POSICIONAMENTO LOGÍSTICO E A DEFINIÇÃO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AOS CLIENTES

Prova de Microeconomia

Planejamento do CBN Política Nacional de Normalização. Processo de produção de normas. Antecedentes. Objetivo. Propor a

Economia. Comércio Internacional Taxa de Câmbio, Mercado de Divisas e Balança de Pagamentos,

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular Fundamentos Económicos da Inclusão Social Ano Lectivo 2011/2012

ELEMENTOS BÁSICOS NA ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO DE CAPITAL

Soluções Energéticas para o seu negócio

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Centro de Ciências Sociais e Aplicadas - CCSA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

ECONOMIA Prof. Maurício Felippe Manzalli

Se pudéssemos resumir em tópicos alguns conceitos apresentados na Palestra poderíamos citar os seguintes:

Correção 9)As operações de mercado aberto envolvem variações nos encaixes compulsórios que os bancos. Conceito de Déficit e Dívida Pública

Recrutamento e Seleção de Pessoal. 1ª aula Profa Giselle Pavanelli. Como estudar e obter nota para aprovação? Quem é a professora responsável?

Investimento Inicial

CONJUNTURA DA ECONOMIA BRASILEIRA EM 2015: CONTEXTUALIZAÇÃO VIA RESTRIÇÕES INTERNAS E EXTERNAS

Quais Foram as Principais estratégias estabelecida pela Política Industrial e Comércio Exterior, adotada pelo Governo Brasileiro?

Administração Estratégica

Diferenciação de Valor

A ESCOLHA DOS TRABALHADORES

Economia Conceitos e Exercícios

CICLO DE PALESTRAS SOBRE CICLO DE PALESTRAS SOBRE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO São Carlos 03 de junho de 2005 UFSCAR NIT

O QUE FAZER PARA MELHORAR O PROCESSO DE COMPRAS 1

A Empresa. Força e Credibilidade na Recuperação de Seus Títulos

Mudanças Climáticas e Economia. Secretaria de Acompanhamento Econômico SEAE

Grupo de trabalho Tributação sobre Consumo no Brasil Brasília de novembro de 2007 PAGE

MUDANÇAS NA RELAÇÃO ENTRE A PME E A PED COM A NOVA METODOLOGIA DA PME

AULA 6 Esquemas Elétricos Básicos das Subestações Elétricas

Apresentação FINANÇAS PÚBLICAS. Resultados de aprendizagem. Programa. Licenciatura em Direito 2º Ano, 1º Semestre 2008/09. Finanças Públicas - 2º Ano

Introdução ao Comércio Internacional

Gestão Estratégica da Inovação e da Tecnologia

Transcrição:

Aula 15: Externalidades e Economias de Aglomeração Prof. Eduardo A. Haddad

Aquecendo os motores... Rua Teodoro Sampaio Rua José Paulino Av. Europa Consolação Rua Santa Efigênia Barão de Limeira Nova Faria Lima Oscar Freire 25 de Março São Caetano O que existe em comum entre os endereços ao lado? 2

Padrões locacionais dominados por forças coesivas Cluster como padrão lógico de localização Atividade orientada pelo produto com mercados concentrados (e.g. talentos) Atividade orientada pelo insumo com fontes resumidas/concentradas (e.g. vinícolas) Cluster de atividades pode ser o resultado de forças coesivas superando forças dispersivas (e.g. regiões de balada ) Especialização e tamanho da cidade 3

Concentração relativa de mestres e doutores no Brasil, quociente locacional, 2000 G_estado.shp G_municipio.shp 0-1 1-1.9 1.9-2.9 2.9-3.8 3.8-4.8 4.8-5.7 5.7-6.7 6.7-7.6 7.6-8.6 8.6-9.5 N 1000 0 1000 2000 Miles W S E 5

Agora quero levar a profissão a sério e me mudar para São Paulo.

Região de Bordeaux 10

Vinho do Porto 11

Economias externas Conceito diretamente ligado ao espaço geográfico Efeitos de vizinhança (e.g. benfeitorias) Ganhos de produtividade Ganhos não se refletem diretamente nos preços pagos por quem deles se beneficia Dificuldades de mensuração Manifestam-se, em parte, através de uma produtividade mais elevada (global ou por trabalhador) das aglomerações urbanas 12

Economias de aglomeração Economias externas de escala redução do custo médio de longo prazo da empresa em função do aumento da produção local Redução de custos de transporte de bens, pessoas e ideias (Gleaser & Gottlieb, 2009) Mecanismos Localização (Marshall, 1890) Produtividade tamanho do setor Crescimento do próprio setor Urbanização (Jacobs, 1969) Produtividade escala da cidade Diversidade 13

Micro-fundamentos (Duranton e Puga, 2004) Compartilhamento (sharing) Bens e serviços indivisíveis Ganhos de variedade Especialização dos indivíduos Risco Compatibilidade (matching) Quantidade Qualidade Aprendizado (learning) Geração de conhecimento Difusão Acumulação 14

Evidências empíricas? Produtividade aumenta com a escala de uma atividade em uma dada localização Evidência de sua existência e magnitude Áreas urbanas: diferença na PTF de uma cidade de tamanho médio e uma cidade duas vezes maior é de 2-8% 15

Renda do Trabalho: Regiões Metropolitanas, Brasil, 1999 1,10 1,00 São Paulo Renda média do trabalho (SP = 1) 0,90 0,80 0,70 0,60 Porto Alegre Curitiba Belo Horizonte Salvador Recife Belém Rio de Janeiro 0,50 Fortaleza 0,40-2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000 20.000.000 População 16

Correlações entre densidade e salário (AMC) All jobs 2000 8.00 All jobs 2010 ln w ln w 7.50 7.50 7.00 7.00 6.50 6.50 6.00 6.00 5.50 5.50 5.00 5.00 y = 0.0867x + 5.7705 4.50-5.00-3.00 ln E 4.00-1.00 1.00 3.00 5.00 7.00 9.00 11.00 y = 0.0644x + 6.1528 4.50-5.00-3.00 ln E 4.00-1.00 1.00 3.00 5.00 7.00 9.00 11.00 Formal jobs 2010 Formal jobs 2000 ln w ln w 8.00 7.50 7.50 7.00 7.00 6.50 6.50 6.00 6.00 5.50 5.50 5.00 5.00 y = 0.0595x + 6.1637 4.50 ln E 4.00-6.00-4.00-2.00-2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 y = 0.0468x + 6.4044 4.50 ln E 4.00-6.00-4.00-2.00-2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 17

Promover aglomeração? Mesmo que a produtividade aumente com a aglomeração, a política ótima pode não ser a de incentivo à aglomeração Duas razões: 1. Obtenção de maior eficiência agregada através da aglomeração pode aumentar desigualdades regionais 2. Mesmo do ponto de vista da eficiência sistêmica, não é claro se aglomeração é sempre melhor: necessidade de se considerar preço da terra e congestionamento 18

Produtividade e tamanho da cidade Alonso (1971) Aglomerações possuem benefícios e custos Benefícios e custos aumentam com o tamanho da cidade Benefícios cresceriam a taxas decrescentes Custos cresceriam a taxas crescentes Tamanho ótimo da cidade: Benefício líquido máximo 20

Tamanho ótimo da cidade Custos e benefícios marginais C(n) B(n) n* Tamanho da cidade (n) 21

Produtividade e tamanho da cidade Gerenciamento das cidades pode modificar as curvas de custos e benefícios! Redução do custo marginal Aumento do benefício marginal Novo tamanho ótimo! Boa administração pode aumentar, indefinidamente, o tamanho ótimo de uma cidade (Prud homme e Lee, 1999) 22

Gestão urbana Custos e benefícios marginais C(n) C (n) B (n) B(n) n* n'* Tamanho da cidade (n) 23

Economias externas demanda Economias de aglomeração: ganhos de produtividade atribuíveis à aglomeração geográfica da população ou das atividades Variedade do produto requer inspeção para escolha do consumidor (substitutos imperfeitos) aglomeração Quanto maior a variedade disponível em uma localização, mais consumidores são atraídos Custo de transferência inclui visitas a diferentes locais (comparação de atributos) Distância percorrida = f (gastos potenciais) 24

Economias externas oferta Economias externas de aglomeração podem advir de considerações sobre custos e oferta Produtos diferenciados e mutáveis com características semelhantes de insumos (e.g. fashion) Compartilhar custo fixo (terceirização) Especialização Produtor deve estar antenado Como isolar os ganhos de produtividade atribuíveis à aglomeração geográfica? Progresso tecnológico vs. Sistema de informação e comercialização mais eficaz 25

Economias de Aglomeração e Custos de Produção $ $ ATC ATC ATC0 ATC1 ATC0 ATC 0 ATC Q0 Q1 Q Q0 Q Especialização pode levar a economias internas de escala Poupança em custos de transferência; possibilidade de manutenção de estoque reduzido; aumento da produtividade do trabalho, etc.

Economias externas Lichtenberg (1960): atividades relativamente concentradas em NY > 10% do emprego total Disponibilidade de insumos comuns Atividades semelhantes Atrativo para os consumidores Diversidade Atração de atividades complementares ou relacionadas (demanda comum) Complexo de atividades gera economias externas Tipologia das economias de aglomeração... 27

Economias de localização Ganhos de produtividade específicos de uma indústria ou de um conjunto de empresas relacionadas que são imputáveis à sua localização Internalizadas ao nível da indústria Estimação: Henderson (1988) Nível salarial por trabalhador no setor Dimensão urbana ou setorial 28

Razões para existência de economias de localização Custos fixos e indivisibilidades (e.g. forno, oficina de reparação, oleoduto, porto) Redução dos custos de transferência (e.g. complexos industriais relação entre firmas) Tirar proveito de vantagens de especialização (e.g. confecção e vestuário) Frequência e diversidade de trocas (e.g. moda) Redução de custos de informação (inovações) Redução dos custos de recrutamento e de formação de mão-de-obra 29

Economias de urbanização Dificuldade de identificação de clusters Componentes especializados podem ser associados à localização Outras atividades são associadas a aglomerações urbanas (diversificação) Economias externas aos clusters de atividade, mas internas à cidade Você não pode duplicar clusters de atividades em cidades diferentes! Concentração fora de grandes centros urbanos História, insumos especializados, reputação 30

Razões para existência de economias de urbanização Economias externas que podem ser realizadas no âmbito das trocas, da informação, das possibilidades de recrutamento e formação de mão-de-obra e dos custos fixos são, muitas vezes, ainda mais importantes quando se apoiam numa quantidade maior de agentes econômicos Atividades típicas de grandes cidades Fórum: Por que São Paulo concentra tanto a atividade econômica nacional? 15,47% do PIB e 6,26% da população (1996) Bens públicos Sensíveis a economias de escala (e.g. aeroportos, hospitais) Financiamento 31

Atividade Ensaio: Razões para a existência de shopping centers... 32

Bibliografia Hoover, E. M. e Giarratani, F. (1985). An Introduction to Regional Economics. The Web Book of Regional Science, cap. 5. http://rri.wvu.edu/resources/web-book-rs/ 33