VALORES DE ENERGIA METABOLIZÁVEL APARENTE E DIGESTIBILIDADE DE AMINOÁCIDOS DE MICROALGA (Spirulina platensis) PARA FRANGOS DE CORTE

Documentos relacionados
USO DE MICROALGA NA ALIMENTAÇÃO DE CODORNAS JAPONESAS MELHORA A QUALIDADE DOS OVOS

Nutritime. Uso do concentrado protéico de arroz na dieta de suínos, aves e peixes (salmão e truta).

DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE FÊMEAS RECEBENDO DIETAS COM NÍVEIS DE VALINA

AVALIAÇÃO DE CONCENTRADO PROTEICO DE SOJA SELECTA EM PEIXES

Perfil de aminoácidos digestíveis para aves de farelos produzidos a partir de soja convencional e soja geneticamente modificada.

Valores de aminoácidos digestíveis de alimentos para aves. Values of digestible amino acids in feedstuffs for broiler

Energia metabolizável para aves dos farelos de soja das variedades convencionais e geneticamente modificada

Uso do grão de arroz na alimentação de suínos e aves

Composição química, valores de energia metabolizável e aminoácidos digestíveis de subprodutos do arroz para frangos de corte

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ENERGIA METABOLIZÁVEL DE INGREDIENTES PARA AVES 1

Composição química e energética de alguns alimentos para frangos de corte em duas idades

COEFICIENTES DE DIGESTIBILIDADE E CONTEÚDO DE AMINOÁCIDOS DIGESTÍVEIS EM ALIMENTOS PROTEICOS PARA FRANGOS DE CORTE 1

VALORES ENERGÉTICOS DO MILHO E DO FARELO DE SOJA DETERMINADOS COM POEDEIRAS NA FASE DE PRODUÇÃO

DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO ÓLEO DE SOJA. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil

Métodos in vivo para determinar disponibilidade e digestibilidade. Luciano Hauschild

III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Zootecnia

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO GÉRMEN INTEGRAL DE MILHO PARA AVES 1

Avaliação nutricional e energética do farelo de girassol para aves

Avaliação nutricional e energética da soja integral tostada para frangos de corte

RELATÓRIO DE PESQUISA - 42

EFEITO DE DIFERENTES NÍVEIS DE BALANÇO ELETROLÍTICO E PROTEÍNA SOBRE AS AMINOTRANSFERASES HEPÁTICAS EM FRANGOS DE CORTE AOS SETE DIAS DE IDADE

DIFERENTES NÍVEIS DE SUBSTITUIÇÃO DO MILHO POR TORTA DE COCO BABAÇU EM RAÇÕES DE FRANGOS LABEL ROUGE DE 1 A 28 DIAS DE IDADE

Programas de Alimentação Frangos de Corte

RELATÓRIO DE PESQUISA - 49

Avaliação nutricional do farelo de algodão de alta energia no desempenho produtivo e características de carcaças de frangos de corte

Níveis de lisina digestível em rações para poedeiras semi-pesadas no período de 28 a 44 semanas e seus efeitos sobre o desempenho 1.

... Palavras-chave: ALT, AST, Avicultura, Enzimas, Nutrição Animal, Rim

RELATÓRIO DE PESQUISA - 47

SORGO - UMA BOA ALTERNATIVA PARA REDUÇÃO DOS CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO

DIFERENTES METODOLOGIAS NA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE RAÇÕES E DE MICROALGA PARA FRANGOS DE CORTE

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO DE RAÇÃO PARA FRANGOS DE CORTE DE UMA EMPRESA DA BAHIA.

DIFERENTES NÍVEIS DE CÁLCIO E ÓLEO EM DIETAS DE POEDEIAS DE 70 A 73 SEMANAS DE IDADE

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

Princípios de formulação de alimentos para cães e gatos. Aulus Carciofi

DIGESTIBILIDADE DE FONTES RENOVÁVEIS DE CÁLCIO PARA CODORNAS DE CORTE

Composição química, valores energéticos e digestibilidade verdadeira dos aminoácidos de farinhas de carne e ossos e de peixe para aves

EFEITO RESIDUAL DOS NÍVEIS DE METIONINA + CISTINA SOBRE O DESEMPENHO PRODUTIVO DE POEDEIRAS NA FASE FINAL DE POSTURA

Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR ISSN X Ano de publicação: 2014 N.:11 Vol.:1 Págs.

DESEMPENHO E QUALIDADE DOS OVOS DE GALINHAS SEMI-PESADAS ALIMENTADAS COM RAÇÕES FORMULADAS COM DUAS EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DIFERENTES

RELATÓRIO DE PESQUISA - 44

Palavras-chave: ALT, AST, Avicultura, Enzimas, Nutrição Animal, Rim

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

AMÉRICA LATINA ROSS 308 AP (AP95) Especificações Nutricionais FRANGOS. An Aviagen Brand

DESEMPENHO INICIAL DE FRANGOS DE CRESCIMENTO LENTO ALIMENTADOS COM TORTA DE ALGODÃO

Determinação da composição química e dos valores energéticos de alguns alimentos para aves

AMÉRICA LATINA MATRIZES ROSS 308 AP (AP95) Especificações Nutricionais. An Aviagen Brand

SUBPRODUTOS DA MAMONA NA ALIMENTAÇÃO DE AVES 1. Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais / Montes Claros MG.

AVALIAÇÃO DO MESOCARPO DE BABAÇU (Orbignya ssp) NA ALIMENTAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE

Composição química e valor energético de alimentos de origem animal utilizados na alimentação de codornas japonesas 1

Palavras-chave: agroindústria, alimentos alternativos, codornas europeias, resíduo de fruta

Comunicado 508 Técnico

UTILIZAÇÃO DA GOMA DE SOJA EM DIETAS PARA POEDEIRAS E O SEU EFEITO SOBRE A QUALIDADE INTERNA E EXTERNA DO OVO

Área: Tecnologia de Alimentos VARIABILIDADE DA COMPOSIÇÃO DE FARINHA DE CARNE E OSSOS SUÍNA DE DIFERENTES PROCEDÊNCIAS

III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Zootecnia

FIBRA BRUTA EM DIETAS DE POEDEIRAS LEVES EM FASE INICIAL DE POSTURA

Alimentação do Frango Colonial

RELATÓRIO DE PESQUISA - 35

Substituição do milho pela farinha do mesocarpo de babaçu em rações balanceadas para frangos de corte de um a 21 dias de idade

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALORES DE ENERGIA METABOLIZÁVEL APARENTE CORRIGIDA DE ALGUNS ALIMENTOS ENERGÉTICOS DETERMINADOS COM FRANGO DE CORTE 1

CONSUMO DE NUTRIENTES E DESEMPENHO PRODUTIVO EM CORDEIROS ALIMENTADOS COM DIFERENTES FONTES E PROPORÇÃO DE VOLUMOSOS

Palavras-chave: aminoácidos digestíveis, coeficientes de digestibilidade, galos cecectomizados, subprodutos de origem animal

Valores de energia metabolizável de alguns alimentos obtidos com aves de diferentes idades

VALORES DE ENERGIA METABOLIZÁVEL DE ALIMENTOS PARA PINTOS DE CORTE NA FASE PRÉ-INICIAL

ENERGIA METABOLIZÁVEL DE DEITAS COM DIFERETES BALANÇOS ELETROLÍTICOS PARA FRANGOS DE CORTE DE 1 A 21 DIAS DE IDADE

NÍVEIS DE METIONINA+CISTINA PARA FRANGAS LEVES DE 1 A 6 SEMANAS DE IDADE SOBRE O PESO DOS ÓRGÃOS

TEORES SÉRICOS ENZIMÁTICOS E MINERAIS DE FRANGOS DE CORTE AOS 21 DIAS DE IDADE COM DIFERENTES NÍVEIS DE BALANÇO ELETROLÍTICO E PROTEÍCO

PROTEÍNA. Lisina (ARC 1981) Aminoácidos Essenciais. Aminoácidos Essenciais - suínos. Fenilalanina Arginina

RELATÓRIO DE PESQUISA - 48

Composição química e valores de energia metabolizável de alimentos protéicos determinados com frangos de corte em diferentes idades

Suplementação dietética de fitase sobre o metabolismo de nutrientes de frangos de corte

CARACTERISTICAS DE VÍSCERAS E GORDURA ABDOMINAL DE FRANGOS DA LINHAGEM LABEL ROUGE ALIMENTADOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE URUCUM

Artigo Número 5 UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE PENA NA ALIMENTAÇÃO DE ANIMAIS MONOGÁSTRICOS. Introdução

DESEMPENHO DE TRÊS DIFERENTES LINHAGENS DE FRANGOS DE CRESCIMENTO LENTO NA FASE INICIAL

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DA TORTA DE BABAÇU PARA FRANGOS DE CRESCIMENTO LENTO EM DIFERENTES IDADES 1

Controle de Qualidade em Fábrica de Rações. Luciano Hauschild Maio 2012

DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE VENDA DO DDGS PARA A SUINOCULTURA

Milho. Gérmen de milho. Gérmen de milho. Gérmen de milho 05/05/2008. Universidade Federal de Goiás Alimentos e Alimentação Animal

DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM ORÉGANO ENTRE 7 A 28 DIAS DE IDADE

TEORES SÉRICOS ENZIMÁTICOS E MINERAIS DE FRANGOS DE CORTE AOS SETE DIAS DE IDADE COM DIFERENTES NÍVEIS DE BALANÇO ELETROLÍTICO E PROTEÍCO

Determinação da energia metabolizável do farelo residual do milho com e sem enzima em dietas para frangos de corte

Avanços na nutrição de camarões. João Manoel Cordeiro Alves, M.Sc. Gerente de Produtos Aquacultura Guabi Nutrição Animal Grupo Guabi

Universidade Federal de Pelotas Faculdade de Veterinária Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária

TEORES SÉRICOS ENZIMÁTICOS E MINERAIS DE FRANGOS DE CORTE AOS 14 DIAS DE IDADE COM DIFERENTES NÍVEIS DE BALANÇO ELETROLÍTICO E PROTEÍCO

Composição Química e Valores de Energia Metabolizável das Farinhas de Penas e Vísceras Determinados por Diferentes Metodologias para Aves 1

ALIMENTOS ALTERNATIVOS PARA CRIAÇÃO DE SUÍNOS NA FASE DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO

DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE SUÍNOS EM TERMINAÇÃO SUPLEMENTADOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE RACTOPAMINA NA DIETA

Alimentos Alternativos disponíveis no Nordeste para Alimentação de Aves Tipo Caipira

Resumo. bruta, sobre o desempenho e excreção de proteína bruta de frangos de corte de 1 a 21 dias de idade. Introdução

Resumo: Objetivou-se com o presente estudo avaliar a associação da fitase com um complexo enzimático

Efeito da protease sobre o coeficiente de metabolizabilidade dos nutrientes em frangos de corte

EFEITO DA INCLUSÃO DO BAGAÇO DE UVA SOBRE O DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE SUÍNOS EM TERMINAÇÃO

Suplementação de carboidrases e fitase em dietas para poedeiras semipesadas e seus efeitos sobre o desempenho

Valores de Aminoácidos Digestíveis Verdadeiros da Farinha de Carne e Ossos para Aves

Comunicado 503 Técnico

III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Zootecnia

Valor nutritivo dos alimentos utilizados na formulação de rações para peixes tropicais. Nutritive value of common feeds used in tropical fish diets

Suplemento: Desempenho e Nutrição para frangos de corte

Transcrição:

VALORES DE ENERGIA METABOLIZÁVEL APARENTE E DIGESTIBILIDADE DE AMINOÁCIDOS DE MICROALGA (Spirulina platensis) PARA FRANGOS DE CORTE Lenilson da Fonseca Roza¹; Fernando de Castro Tavernari²; Diego Surek 2 ; Carina Sordi 1, Marcio Luis Busi da Silva 2, Marcel Manente Boiago 3, Diovani Paiano 3 ¹Alunos do programa de pós-graduação em Zootecnia, UDESC, Chapecó, Brasil. ²EMBRAPA Suínos e Aves, Concórdia, Brasil. fernando.tavernari@embrapa.com.br. 3 Professor na UDESC, Chapecó, Brasil. Apresentado no XVI Seminário Técnico Científico de Aves e Suínos 25 a 27 de abril de 2017 - CentroSul / Florianópolis - SC, Brasil RESUMO: Para avaliar a energia metabolizável (EMAn) da microalga (Spirulina platensis) para frangos de corte, foi realizado um ensaio de metabolismo em delineamento inteiramente casualizado, sendo 2 tratamentos (metodologias de determinação de energia - coleta total de excretas e indicador cinza insolúvel em ácido (CIA)) e 10 repetições de 14 aves. Ao final do período experimental os animas foram abatidos e foi feita a coleta do conteúdo ileal para determinação dos coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos. Os valores de EMA da microalga determinado pelo método de coleta total (2865 kcal/kg MN) foi superior a determinada pelo indicador CIA (1995 kcal/kg MN). A EMAn também foi superior no método de coleta total (2493 kcal/kg MN) comparada ao indicador (1763 kcal/kg MN). Os CDEs médios dos aminoácidos essenciais foram de 79,99±3,5% e não essenciais de 78,52±4,2%. Conclui-se que a microalga S. platensis possui 2493 kcal/kg MN de EMAn e relevantes teores de aminoácidos digestíveis para frangos de corte. O uso do indicador CIA subestima a EMAn da microalga comparado ao método de coleta total (padrão). PALAVRAS-CHAVE: Aminoácidos, energia, indicador, microalga. ABSTRACT: To evaluate apparent metabolizable energy (AMEn) of microalgae (Spirulina platensis) for broilers, a metabolism test was performed in a completely randomized design, with 2 treatments (energy determination methodologies - total excreta collection and acid insoluble ashes marker) and 10 replicates of 14 birds. At the end of the experimental period the animals were slaughtered and ileal content was collected to determine amino acid digestibility coefficients. AMEn values determined by the total collection method (2865 kcal/kg DM) were higher than those determined by AIA indicator (1995 kcal/kg DM). AMEn was also superior in the total collection method (2493 kcal/kg DM) compared to the indicator (1763 kcal/kg DM). The mean CDEs of the essential amino acids were 79.99 ± 3.5% and nonessential of 78.52 ± 4.2%. Microalgae S. platensis has 2493 kcal/kg DM of AMEn and relevant levels of digestible amino acids for broilers. The use of the AIA indicator underestimates the AMEn of the microalgae compared to the total collection method (standard). KEY WORDS: Amino acids, energy, marker, microalgae.

INTRODUÇÃO: A alta capacidade fotossintética, o crescimento rápido e a facilidade de cultivo fazem com que microalgas sejam capazes de produzir significativas quantidades de biomassa e de nutrientes em curto período. Estes e outros fatores despertaram o interesse pela avaliação deste alimento na nutrição de animal (LENG et al., 2012; AUSTIC et al., 2013; GATRELL et al., 2014). Visto que se inicia a difusão do uso de microalgas no Brasil e que estas apresentam potencial de utilização na alimentação de frangos de corte, torna-se necessária a avaliação deste alimento para aves. Para isso, o conhecimento da energia metabolizável e dos aminoácidos digestíveis deste ingrediente são necessários para correta formulação de rações e atendimento das necessidades energéticas e aminoacídicas dos frangos. Neste sentido, dois métodos são utilizados na avaliação energética de alimentos/rações para frangos de corte, o método de coleta total de excretas (tradicional) e o com indicadores. A cinza insolúvel em ácido (CIA) é um indicador de fácil análise laboratorial, boa recuperação e comumente usado em ensaios de digestibilidade com aves (PURDUM et al., 2014; STEFANELLO et al., 2016). Sendo assim, tão importante quanto avaliar o valor nutricional dos alimentos é necessária considerar a metodologia utilizada, uma vez que a metodologia pode influenciar nos resultados finais e consequentemente a formulação de rações. Diante do exposto, objetivou-se determinar os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos e o valor de energia metabolizável aparente, pelos métodos de coleta total e com indicador CIA, de microalga Spirulina platensis para frangos de corte. MATERIAL E MÉTODOS: O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado (DIC), sendo dois tratamentos e 10 repetições de 14 aves por repetição. Os tratamentos eram compostos por duas metodologias de avaliação dos valores EMA e de EMAn da microalga, sendo eles o método de coleta total de excretas e o uso de indicador de indigestibilidade. As dietas experimentais eram à base de milho e farelo de soja e foram formuladas de acordo com Rostagno (2011). Para determinação da EMA e digestibilidade aparente dos aminoácidos foram formuladas duas dietas, uma denominada de dieta referência (DR) e outra dieta teste (DT). Para elaboração da dieta teste (DT) foi adicionado 20% de microalga, compondo uma ração com 80% DR + 20% microalga. Em ambas as dietas experimentais foi adicionado indicador indigestível CIA - Cinza Insolúvel em Ácido (Celite ) na quantidade de 10g/kg de ração. Dos 14 aos 17 dias de idade das aves esta foram adaptadas as dietas experimentais e dos 18 e 22 dias realizouse a coleta total de excretas. Amostras foram analisadas para determinação da concentração do indicador CIA. No 22º dia, após a última coleta de excretas, as aves foram insensibilizadas (deslocamento cervical) e sacrificadas para coleta de conteúdo íleal. A determinação dos valores de EMA e de EMAn pelo método de coleta total foram realizadas de acordo com a metodologia proposta por Matterson et al. (1965) e com indicador de acordo com Sakomura e Rostagno (2016). Os coeficientes de digestibilidade ileal standardizada foram calculados a partir da perda endógena de aminoácidos de frangos de corte em jejum descritos em Sakomura e Rostagno (2016). Os valores calculados de EMA e de EMAn dos diferentes métodos (coleta total de excretas e indicador CIA) foram comparados pelo teste t-student (5% de significância). RESULTADO E DISCUSSÃO: A composição bromatológica analisada da S. plantensis (Tabela 1) revelou teores de nutrientes, com destaque para a proteína bruta (51,47% MN), matéria mineral, minerais como cálcio, fósforo total e sódio os quais superam matérias primais tradicionais como milho e farelo de soja (ROSTAGNO, 2011). Os valores de

EMA e de EMAn (Tabela 2) da microalga diferiram entre o método de coleta total (padrão) e indicador CIA, sendo maiores (P<0,05) no método de coleta total de excretas. A microalga apresentou 4.399 kcal/kg de energia bruta na matéria natural (MN), contudo os resultados do presente ensaio de metabolismo demonstraram que o aproveitamento da energia foi de 65,15% na EMA (2.865 kcal/kg MN) e 56,69% na EMAn (2.493 kcal/kg MN) determinada pelo método tradicional (coleta total), sendo superior ao farelo de soja (2.254 kcal/kg na MN), porém inferior ao milho (3.381 kcal/kg na MN) que é um alimento energético (ROSTAGNO et al., 2011). Os valores de EMA e de EMAn da microalga determinados pelo uso de indicador foram de 1995 e 1763 kcal/kg (MN), respectivamente. Estes resultados sugerem cautela na utilização de valores de EMA obtidos com indicador na avaliação de alimentos. Na Tabela 3 observa-se que a S. platensis apresentou valores expressivos de aminoácidos totais. Os coeficientes de digestibilidade ileal estandardizados foram de 79,99±3,53% para os aminoácidos essenciais e 78,52±4,26% para os não essenciais. Os aminoácidos limitantes na nutrição de frangos de corte como a metionina (0,75%), treonina (2,31%), valina (2,32%), isoleucina (2,41%), arginina (3,41%) e leucina (3,79% na MS) apresentaram valores digestíveis estandardizados que superam os teores do farelo de soja 45% PB (ROSTAGNO, 2011), o que se reflete em menor utilização de aminoácidos sintéticos na formulação de rações contendo a microalga. Tabela 1. Composição bromatológica analisada da microalga (Spirulina platensis) na matéria natural (MN). Composição Spirulina platensis Matéria seca (%) 88,80 Energia bruta (kcal/kg) 4.399 Proteína bruta (%) 51,47 Fibra bruta (%) 1,06 Extrato etéreo (%) 0,99 Cinzas (%) 9,44 Cálcio (%) 0,33 Fósforo (%) 1,10 Sódio (%) 1,59 Tabela 2. Valores de energia metabolizável aparente (EMA) e corrigida para balanço de nitrogênio (EMAn) das rações referência, teste e da microalga Spirulina platensis para frangos de corte. EMA (kcal/kg) EMAn (kcal/kg) Método Base seca Base Natural Base seca Base Natural Coleta Total 3219ª 2865ª 2800 a 2493ª Indicador CIA 2242 b 1995 b 1980 b 1763 b CV (%) 5,50 5,50 5,54 5,54 EP 47,48 42,26 41,87 37,27 ANOVA 0,001 0,001 0,001 0,001 a,b: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste t (P<0,05)

Tabela 3. Aminoácidos totais (AAT), digestíveis aparente (AADA) e estandardizado (AADE) e os coeficientes de digestibilidade ileal aparente (CDAp) e estandardizado(cde) dos aminoácidos da microalga Spirulina platensis (% MN). Aminoácido AAT(%) CDAp(%) CDE(%) AADA(%)¹ AADE(%) 2 Aminoácidos essenciais Metionina 0,81 77,24 82,41 0,63 0,67 Lisina 2,18 76,83 81,27 1,67 1,77 Treonina 2,49 72,47 83,44 1,80 2,08 Valina 2,61 72,54 79,77 1,89 2,08 Isoleucina 2,71 74,79 79,69 2,03 2,16 Arginina 3,92 74,78 77,89 2,93 3,05 Leucina 4,40 72,41 77,10 3,19 3,39 Histidina 0,73 72,02 80,03 0,53 0,58 Fenilalanina 2,23 76,19 85,38 1,70 1,90 Glicina 2,89 66,97 72,88 1,94 2,11 Aminoácidos não essenciais Ác. Aspártico 5,06 68,75 74,09 3,48 3,75 Ác. Glutâmico 7,17 74,57 79,05 5,35 5,67 Serina 2,61 68,21 75,85 1,78 1,98 Alanina 4,14 73,68 77,83 3,05 3,22 Prolina 2,18 74,23 86,43 1,62 1,88 Tirosina 2,66 70,54-1,88 Cistina 1,31 68,75 77,84 0,90 1,02 1 Aminoácidos digestíveis aparentes calculados no presente estudo. 2 Aminoácidos digestíveis estandardizados corrigidos através de perda endógena de frangos em jejum baseados em SAKOMURA & ROSTAGNO (2016). CONCLUSÕES: Conclui-se que o valor de EMAn da microalga Spirulina platensis é de 2493 kcal/kg MN. A utilização de indicador cinza insolúvel em ácido não promoveu valores semelhantes de energia ao método padrão. Os coeficientes de digestibilidade íleal estandardizados médios dos aminoácidos essenciais foram de 79,99% e não essenciais 78,52%. AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Embrapa Suínos e Aves, Concórdia SC, por fornecer recursos, infraestrutura e corpo técnico para a realização da pesquisa. E a empresa Spirulina Brasil G&F LTDA, em nome do biólogo Ivan Pinheiro Joventino pelo fornecimento da microalga. REFERÊNCIAS AUSTIC, R. E. et al. Potential and limitation of a new defatted diatom microalgae biomass in replacing soybean meal and corn in diets for broiler chickens. Journal Agriculture Food Chemical, v. 61, p. 7341-7348, 2013. GATRELL, S. et al. Nonruminant Nutrition Symposium: Potential of defatted microalgae from the biofuel industry as an ingredient to replace corn and soybean meal in swine and poultry diets. Journal Animal Science, v. 92, p. 1306-1314, 2014. LENG, X. J. et al. Defatted algae biomass may replace one-third of soybean meal in diets for laying hens. Journal Animal Science, v. 90, supl. 3, p. 701, 2012.

MATTERSON, L. D. et al. The metabolizable energy of feed ingredients for chickens. Connecticut: The university of Connecticut, Agricultural Experiment Station, 1965. 11 p. (Research Report, 7). PURDUM, S.; HANFORD, K.; KREIFELS, B. Short-term effects of lower oil dried distillers grains with solubles in laying hen rations. Poultry Science, v. 93, p. 2592 2595, 2014. ROSTAGNO, H. S. (Ed.). Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3. ed. Viçosa: UFV/DZO, 2011. 252 p. SAKOMURA, N. K.; ROSTAGNO, H. S. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos. 2 ed. Jaboticabal: FUNEP, 2016. STEFANELLO, C. et al. Energy and nutrient utilization of broilers fed soybean meal from two different Brazilian production areas with an exogenous protease. Animal Feed Science and Technology, v. 221, p. 267 273, 2016.