DESCOBRINDO A CONDIÇÃO HUMANA NA LUDOPOIESE: UM DESPERTAR PARA A CONSCIÊNCIA DA COMPLEXIDADE HUMANA



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Transcrição:

DESCOBRINDO A CONDIÇÃO HUMANA NA LUDOPOIESE: UM DESPERTAR PARA A CONSCIÊNCIA DA COMPLEXIDADE HUMANA Áurea Emilia da Silva Pinto BACOR/PPGED/UFRN Resumo Esse trabalho foi elaborado a partir de uma roda de conversa com de educadores integrantes da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde do Rio Grande do Norte. As atividades foram realizadas durante e posterior à reunião da grande roda, envolvendo doze educadores. A vivência foi um momento de descobertas: terapia corporal, relaxamento, automassagem, estimulando o autocuidado, o autoconhecimento. Aprofunda-se o conhecimento sobre a condição humana, despertando para a consciência da complexidade humana, conforme Edgar Morin. Esta abordagem caracteriza-se como etnofenomenológica e transdisciplinar, focalizando as representações imagéticas vivenciadas na construção de cenários com a utilização do Jogo de Areia. Palavras-chave: Complexidade Humana, Ludopoiese, Corporeidade, Humanescência

2 DESCOBRINDO A CONDIÇÃO HUMANA NA LUDOPOIESE: UM DESPERTAR PARA A CONSCIÊNCIA DA COMPLEXIDADE HUMANA Áurea Emilia da Silva Pinto BACOR/PPGED/UFRN 1. Introduzindo a Vivência Este texto objetiva, essencialmente, descrever a Vivência Pedagógica Humanescente Descobrindo a condição humana na ludopoiese: um despertar para a consciência da complexidade humana, refletindo sobre Os sete saberes necessários à educação do futuro (MORIN, 2005). Busca-se aprofundar o conhecimento sobre a condição humana, nutrindo a educação com a transdisciplinaridade: um trabalho que se opõe a qualquer forma de reducionismo científico, de pensamento linear, de determinismo, de disjunção, de cultura patriarcal-matriarcal. Pretende-se mostrar como é possível, com base no fenômeno da ludopoiese (CAVALCANTI, 2009), despertar para a condição humana suscitando admiráveis descobertas subjetivas, tendo a reflexividade sobre o desenvolvimento verdadeiramente humano que articula o conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana (MORIN, 2005 p. 55). O grupo participante é composto pela diversidade de pessoas compromissadas com a articulação, reconhecimento e fortalecimento da diversidade de experiências e saberes relacionados aos modos de pensar, sentir, fazer e cuidar da saúde da população, sendo, esta sua função social, cultural e educadora. Cabe ressaltar que não estamos nos referindo a um grupo de pessoas reunidas eventualmente para apontar ou resolver problemas, mas a produção de um grupo que questiona a realidade, debate sobre ela, propõe alternativas, constrói coletivamente, partilhando saberes e responsabilidades, e que supõem mudança nas realidades sociais, econômicas, políticas, ambientais, culturais, transformando o grupo e a si próprio, num mesmo processo. Assim, compreenderemos que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento, como tão bem realça Paulo Freire (2000, p. 110) em sua obra Pedagogia da Autonomia.

3 Trata-se de encorajar, de estimular ou despertar se estiver adormecido, nos educadores da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde do Estado do Rio Grande do Norte o fenômeno ludopoiético, capaz de fazer emergir a alegria de viver a vida com sentido humanescente (CAVALCANTI, 2009). 2. Dialogando sobre os saberes necessários à educação A vivência foi desenvolvida com a participação e colaboração de 12 (doze) educadores da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde, ANEPS-RN, formada por entidades, movimentos e práticas de educação em saúde e de práticas populares de saúde. São realizadas reuniões mensais, em âmbito estadual, todas as segundas quintas-feiras de cada mês, em Natal/RN. Sua coordenação é assumida por um Núcleo Estadual formado por representantes do segmento de gestores, trabalhadores e usuários de saúde. Consideramos para esta atividade a realização de três vivências pedagógicas humanescentes. Para tanto, foi estimulada uma leitura prévia do Capítulo III: Ensinar a condição humana do livro Os sete saberes necessários à educação do futuro de Edgar Morin. Na primeira vivência corporal foi realizado um relaxamento para o enraizamento/desenraizamento do ser humano, sendo estimulado posteriormente a reflexividade sobre as condições cósmica, física, terrestre e humana. Na segunda vivência corporal estimulamos uma automassagem, o humano do humano, seguida da reflexividade sobre o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. Na terceira vivência sensibilizamos para a importância do autocuidado e do autoconhecimento: unidade e diversidade humana ; finalizamos com a reflexividade sobre o princípio de unidade e diversidade na educação em saúde, reconhecendo a diversidade cultural existente nos saberes populares, na forma e no cuidado com a saúde da população. Uma aventura cheia de descobertas, centrada na condição humana, na qual, através de uma roda de conversa sobre a temática, discute-se inicialmente que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Uma vez que essa unidade da natureza humana ainda é totalmente fragmentada na educação por meio das disciplinas. Reflete-se sobre a condição cósmica, física, terrestre e humana na busca de compreendermos que somos originários do cosmos, da natureza, da vida,

4 mas, devido à própria humanidade à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos, que nos parece secretamente íntimo, como mostra Morin (2005, p. 51) em suas reflexões. Por fim, põe-se em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano, como preconiza os enunciados de Edgar Morin (2005, p. 47-61). Posterior às discussões e reflexões, utilizamos o jogo de areia, um método de psicoterapia junguiano, desenvolvido por Dora Maria Kalff, analista junguiana suíça, a partir de técnica psicológica criada por Margaret Lowenfeld, pediatra inglesa que contemporaneamente à Melanie Klein introduziu o brinquedo na relação analítica com crianças (THOMPSON, 1981). Para realização da atividade com o jogo de areia, foram formados três grupos com quatro integrantes. Cada grupo ficou responsável por um tópico do Capítulo III Ensinar a Condição Humana. Para facilitar a construção de cenários no jogo de areia, distribuímos uma caixa com miniaturas para cada grupo. Cada equipe deveria representar imageticamente a compreensão sobre Os sete saberes necessários à educação do futuro, contextualizando suas práticas educativas em saúde. Os resultados obtidos foram surpreendentes! Os educadores construíram coletivamente cenários representando o cotidiano de suas vivências e o campo do trabalho, configurando-se assim um momento lúdico, de criatividade e sensibilidade, no qual emergiram a beleza, a emoção, o encantamento, o desejo e a paixão pelo conhecimento. Exemplo do que vem acontecendo na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialmente no ano letivo 2010.1; a partir de uma concepção que reconhece a corporeidade o foco gerador de critérios educacionais, que prioriza a sensibilidade, a ludicidade e a criatividade, na perspectiva de ampliar os saberes humanescentes para a educação, capaz de constribuir para a sustentabilidade de ambientes saudáveis, portanto norteador de toda a ação educativa (BACOR, 2010). Para avaliar as vivências pedagógicas formamos um grande círculo para exposição e apresentação dos cenários construídos no jogo de areia. Momento de partilha, reconhecimento e valorização de saberes. Encerramos a atividade convidando os integrantes da ANEPS/RN para dançar uma ciranda, embalados pela alegria de viver a vida com sentido humanescente, sem medo de ser feliz!

5 3. Algumas considerações A Vivência Pedagógica Humanescente Descobrindo a condição humana na ludopoiese: um despertar para a consciência da complexidade humana possibilitou demonstrar, de maneira extraordinária, as potencialidades dos educadores em saúde integrantes da grande roda da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde, ANEPS-RN. Considerando os relatos produzidos pelos educadores, percebe-se que vivências pedagógicas como essas trazem oportunidades de os educadores em saúde refletirem suas práticas. A abordagem metodológica focalizando o estudo vivenciado na construção de cenários imagéticos com a utilização do Jogo de Areia expressou situações do cotidiano de suas práticas, promovendo valorização e atitudes solidárias de troca de saberes. Na grande roda de exposição e partilha de saberes foram relatadas situações educativas vividas coletivamente na comunidade, revelando a importância de compreendermos a condição humana, principalmente de uma forma lúdica, prazerosa, humanescente, como uma oportunidade de descobertas, do autocuidado e do reconhecimento da complexidade da vida no interior de cada um de nós. Para os educadores, a atividade favoreceu a reflexão sobre si mesmo, sobre sua atuação, ampliando o conhecimento, partilhando os saberes e as experiências, alimentando a complexidade das relações entre os educadores e a complexidade das relações sociais. Estimula atitudes e valores humanos à medida que impulsiona a reflexividade sobre a importância das práticas inovadoras educativas e humanescentes, para a restauração e reconhecimento da unidade e da complexidade humana, o que viabiliza sua aplicação em ambientes educacionais. De certa forma, percebe-se com a vivência pedagógica humanescente Descobrindo a condição humana na ludopoiese: um despertar para a consciência da complexidade humana a existência de um potencial infinito de possibilidades e de relatos que revelam a importância do diálogo, da escuta das experiências comunitárias. Muitas vezes, o que os educadores em saúde necessitam é de um pouco mais de atenção, tempo e de condições para que apresentem suas inquietações, certezas e incertezas, onde possam manifestar suas habilidades e competências, seus saberes relacionados aos modos de pensar, sentir, fazer e cuidar da saúde da população. Portanto, é necessário que estejamos atentos para as inúmeras possibilidades existentes

6 de expressão dos diferentes saberes e práticas educativas, em favor de um mundo melhor, mais humano, solidário e fraterno. Desta forma, cumpriremos nosso papel na construção de um novo paradigma na atual passagem de um modelo de pensamento linear, fechado, polarizado, fragmentado, competitivo, excludente e predatório, para um pensamento complexo, aberto, dialógico, includente, integrador, com as dúvidas e interrogações de nosso tempo. Enfim, através de vivências pedagógicas humanescentes podemos aprender lições de vida, tomar consciência da condição comum a todos os humanos, da rica e necessária diversidade de saberes existentes nos integrantes da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde, ANEPS-RN, possibilitando contribuir para uma educação humanescente, para o desenvolvimento da ludicidade na formação humana, para o aprendizado da vida. Referências AMMANN, Ruth. A terapia do jogo de areia. Imagens que curam a alma e desenvolvem a personalidade. Trad. Marion Serpa. São Paulo: Paulus, 2004. BACOR. Ateliê de pesquisa corporeidade, ludicidade e educação. Base de Pesquisa Corporeidade e Educação. PPGED/UFRN, 2009.. Seminário Reflexões Teóricas e Metodológicas da Corporeidade. Base de Pesquisa Corporeidade e Educação. PPGED/UFRN, 2010.1. CAVALCANTI, Katia Brandão. Comunicação pessoal. Seminário de Pesquisa BACOR-PPGED/UFRN, 2009.. Corporeidade, sensibilidade e transdisciplinaridade: o desafio ludopoiético como obra de arte da vida. In: III Congresso internacional transdisciplinaridade, complexidade e ecoformação, set. 2008, Brasília. Anais, CD, Brasília, Universidade Católica de Brasília, 2008.. Jogo de Areia e transdisciplinaridade: desenvolvendo abordagens ludopoiéticas para a educação e a pesquisa do lazer. Revista licere, vol. 11 (3), 2008. CAVALCANTI, K. B. e MAIA, S. C. F. A formação ludopoiética do profissional do lazer: um desafio para sua autoformação humanescente. In: III Congresso internacional transdisciplinaridade, complexidade e ecoformação, set. 2008, Brasília. Anais, CD, Brasília, Universidade Católica de Brasília, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 16 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão Técnica de Edgard de Assis Carvalho. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 7

8 DESCOBRINDO A CONDIÇÃO HUMANA NA LUDOPOIESE: UM DESPERTAR PARA A CONSCIÊNCIA DA COMPLEXIDADE HUMANA Áurea Emilia da Silva Pinto BACOR/PPGED/UFRN INTRODUÇÃO Esse trabalho foi elaborado a partir de uma roda de conversa com de educadores integrantes da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde do Rio Grande do Norte. As atividades foram realizadas durante e posterior à reunião da grande roda, envolvendo doze educadores. Aprofunda-se o conhecimento sobre a condição humana, despertando para a consciência da complexidade humana, conforme Edgar Morin. Esta abordagem caracterizase como etnofenomenológica e transdisciplinar, focalizando as representações imagéticas vivenciadas na construção de cenários com a utilização do Jogo de Areia. CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA Período: Reunião Mensal Junho/2010. Local: Natal Rio Grande do Norte Público Alvo: Educadores integrantes da ANEPS-RN Objetivo geral: Este texto objetiva, essencialmente, descrever a Vivência Pedagógica Humanescente Descobrindo a condição humana na ludopoiese: um despertar para a consciência da complexidade humana, refletindo sobre Os sete saberes necessários à educação do futuro (MORIN, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos foram surpreendentes! Os educadores construíram coletivamente cenários representando o cotidiano de suas vivências e o campo do trabalho, configurando-se assim um momento lúdico, de criatividade e sensibilidade, no qual emergiram a beleza, a emoção, o encantamento, o desejo e a paixão pelo conhecimento. Exemplo do que vem acontecendo na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialmente no ano letivo 2010.1 Figura Figura DESCREVENDO AS VIVÊNCIAS HUMANESCENTES Consideramos para esta atividade a realização de três vivências pedagógicas humanescentes. Para tanto, foi estimulada uma leitura prévia do Capítulo III: Ensinar a condição humana do livro Os sete saberes necessários à educação do futuro de Edgar Morin. 1ª Etapa: Na primeira vivência corporal foi realizado um relaxamento para o enraizamento/desenraizamento do ser humano, sendo estimulado posteriormente a reflexividade sobre as condições cósmica, física, terrestre e humana. 2ª Etapa: Na segunda vivência corporal estimulamos uma automassagem, o humano do humano, seguida da reflexividade sobre o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. 3ª Etapa: Na terceira vivência sensibilizamos para a importância do autocuidado e do autoconhecimento: unidade e diversidade humana ; finalizamos com a reflexividade sobre o princípio de unidade e diversidade na educação em saúde, reconhecendo a diversidade cultural existente nos saberes populares, na forma e no cuidado com a saúde da população. Uma aventura cheia de descobertas, centrada na condição humana, na qual, através de uma roda de conversa sobre a temática, discute-se inicialmente que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Figura AVALIAÇÃO DA VIVÊNCIA A Vivência Pedagógica Humanescente Descobrindo a condição humana na ludopoiese: um despertar para a consciência da complexidade humana possibilitou demonstrar, de maneira extraordinária, as potencialidades dos educadores em saúde integrantes da grande roda da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde, ANEPS-RN. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMMANN, Ruth. A terapia do jogo de areia. Imagens que curam a alma e desenvolvem a personalidade. Trad. Marion Serpa. São Paulo: Paulus, 2004. BACOR. Ateliê de pesquisa corporeidade, ludicidade e educação. Base de Pesquisa Corporeidade e Educação. PPGED/UFRN, 2009.. Seminário Reflexões Teóricas e Metodológicas da Corporeidade. Base de Pesquisa Corporeidade e Educação. PPGED/UFRN, 2010.1. CAVALCANTI, Katia Brandão. Comunicação pessoal. Seminário de Pesquisa BACOR-PPGED/UFRN, 2009.. Corporeidade, sensibilidade e transdisciplinaridade: o desafio ludopoiético como obra de arte da vida. In: III Congresso internacional transdisciplinaridade, complexidade e ecoformação, set. 2008, Brasília. Anais, CD, Brasília, Universidade Católica de Brasília, 2008.. Jogo de Areia e transdisciplinaridade: desenvolvendo abordagens ludopoiéticas para a educação e a pesquisa do lazer. Revista licere, vol. 11 (3), 2008.CAVALCANTI, K. B. e MAIA, S. C. F. A formação ludopoiética do profissional do lazer: um desafio para sua autoformação humanescente. In: III Congresso internacional transdisciplinaridade, complexidade e ecoformação, set. 2008, Brasília. Anais, CD, Brasília, Universidade Católica de Brasília, 2008.FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 16 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão Técnica de Edgard de Assis Carvalho. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005.