Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): um título de crédito para financiamento do agronegócio*



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Transcrição:

Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): um título de crédito para financiamento do agronegócio* Gustavo de Souza e Silva C.P.F.: 293.835.408-85 Universidade de São Paulo USP Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz ESALQ Av. Dois Córregos, 2599 Convívio Green Village, rua 2 casa 662 Bairro Dois Córregos, CEP: 13420-750, Piracicaba SP gssilva@esalq.usp.br Pedro Valentim Marques C.P.F.: 601.025.008-00 Universidade de São Paulo USP Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz ESALQ Departamento de Economia, Administração e Sociologia Caixa Postal 252 CEP: 13400-970, Piracicaba SP pvmarque@esalq.usp.br Área Tématica Grupo 5 Políticas setoriais e macroeconômicas Forma de apresentação Apresentação com o presidente da sessão e sem a presença do debatedor * Refere-se à dissertação de mestrado em andamento.

Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): um título de crédito para financiamento do agronegócio Resumo O financiamento da agricultura brasileira vem se apresentando como um dos grandes problemas da alocação de recursos da economia. Com o comprometimento da maior parte dos recursos públicos no pagamento da dívida pública juntamente com a acentuada crise fiscal pela qual o Estado passou, houve um impacto direto na disponibilidade de recursos para o financiamento agropecuário. A Lei n o 11.076 de 2004, que instituiu cinco novos títulos de crédito para financiamento do agronegócio, vai proporcionar uma nova configuração para o agronegócio brasileiro. Os investidores institucionais privados poderão investir no setor através da compra dos títulos, o produtor rural e suas cooperativas terão maior facilidade de acesso ao crédito rural e os agentes do agronegócio, que financiam e disponibilizam crédito ao produtor rural, poderão captar mais recursos para suas operações no mercado financeiro e de capitais com a negociação de seus direitos creditórios do agronegócio. Em três leilões realizados somente nas três primeiras semanas de março de 2005, o Banco do Brasil já captou mais de R$30 milhões em emissões, dinheiro que tem como destino o próprio agronegócio na forma de novos financiamentos para o setor. Palavras-chave: crédito rural, letra de crédito do agronegócio e política agrícola. 2

Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): um título de crédito para financiamento do agronegócio 1. Introdução O crédito rural deve atuar como suprimento de recursos financeiros para proporcionar competitividade à agropecuária brasileira, no curto e no longo prazo, de acordo com as normas estabelecidas pela legislação (Lei n o 4.829 de 5 de novembro de 1965). Porém as fontes tradicionais de recursos para o crédito rural, ou seja, os recursos públicos, estão cada vez mais escassos. Atualmente o governo é incapaz de atender toda a demanda do setor. O financiamento da agricultura brasileira vem se apresentando como um dos grandes problemas da alocação de recursos da economia. Para Araújo & Almeida (1997), diante do esgotamento do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), os agentes do setor (produtores, cooperativas, agroindústrias e comerciantes de insumos e produtos, dentre outros) estão alocando mais eficientemente seus recursos e também procurado novas formas e fontes para financiar suas atividades. A crescente saída do governo como agente financiador da agricultura brasileira é reflexo do estouro da dívida pública, tanto externa, contraída ao longo da década de 70, como da interna, dos anos 80 (Schouchana & Perobelli, 2000). Enfim, o governo esta assumindo uma função de agente regulador e estimulador do crédito do que propriamente de financiador. No intuito de incentivar o setor privado a se envolver mais a fundo nesse segmento e de reduzir a dependência do setor agrícola em relação aos recursos públicos, a Lei n o 11.076, de 30 de dezembro de 2004, regulamentou cinco novos títulos de crédito para o financiamento do agronegócio brasileiro. Estes novos instrumentos de financiamento deverão aumentar a participação do setor privado no financiamento do agronegócio brasileiro, aumentar a disponibilidade de recursos para o setor e proporcionar um maior giro de capital dentro do próprio sistema. Os novos instrumentos de financiamento do agronegócio são denominados de: Certificado de Depósito Agropecuário (CDA), Warrant Agropecuário (WA), Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Estes novos títulos de crédito do agronegócio devem preencher as lacunas do atual sistema que apresenta um dinheiro curto e caro, em que as taxas de juros teimam em ficar elevadas. O principal objetivo destes títulos é desenvolver um novo mecanismo de financiamento do agronegócio através de títulos lastreados em produtos e títulos agrícolas que devem ampliar o relacionamento entre o setor financeiro e o agronegócio, sendo que o lançamento desses novos instrumentos do agronegócio deve tornar o financiamento mais eficiente para o produtor e menos onerosos aos cofres públicos. 1.1 Objetivos O objetivo deste trabalho é apresentar, analisar e discutir a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA). Especificamente pretende-se: 1. Discutir os artigos e detalhes da Lei n o 11.076 de 2004 que instituiu a LCA; 2. Analisar os três primeiros negócios realizados com a LCA e ofertadas pelo Banco do Brasil (BB). 3

2. A Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) A Lei número 11.076, de 30 de dezembro de 2004, além do Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e da Warrant Agropecuária (WA), também instituiu outros três títulos de créditos do agronegócio brasileiro: os Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Os três títulos possuem a mesma função que é captar recursos dos investidores privados para aumentar a oferta de financiamento e crédito aos produtores rurais e cooperativas, porém cada um desses títulos possui o seu emissor exclusivo: 1. O CDCA é de emissão exclusiva de cooperativas de produtores rurais ou pessoas jurídicas que exerçam a atividade de comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária; 2. A LCA é de emissão exclusiva de instituições financeiras públicas ou privadas; 3. O CRA é de emissão exclusiva das companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio. Como o objetivo deste trabalho é analisar e discutir apenas a Letra de Crédito do Agronegócio, daqui para frente os esforços serão focados no entendimento deste título e de seus respectivos emissores, apesar dos cinco títulos de crédito terem sido anunciados juntos e possuírem o objetivo de aumentar os recursos disponíveis ao agronegócio brasileiro. As LCAs são lastreadas em recebíveis originados de negociação entre os agentes do agronegócio. De acordo com o Banco do Brasil, a LCA têm como lastro direitos creditórios originários de negócios realizados entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, inclusive financiamentos ou empréstimos relacionados com a produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos ou insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na atividade agropecuária. Cada título poderá ser vinculado aos direitos creditórios que o seu respectivo emissor possua, ou seja, é uma espécie de repasse destes recebíveis aos investidores privados antes dos seus vencimentos. Este repasse proporcionará maior disponibilidade de capital aos agentes do agronegócio que poderão aumentar a oferta de financiamento e crédito nas compras a prazo dos produtores rurais e cooperativas e reduzir o custo desses recursos. Estes títulos de crédito poderão ser lastreados em Notas Promissórias Rurais (NPR), Duplicatas Rurais (DR), Cédula de Produto Rural (CPR), Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e o Warrant Agropecuário (WA), Contratos de fornecimento futuro e outros títulos que a legislação permite que estas pessoas jurídicas emitam em suas operações comerciais no meio rural. A LCA deverá ser comercializada em Bolsas de Valores e de Mercadorias e Futuros e em mercados de balcão organizados, ambos autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No caso da comercialização pelas Bolsas, a figura da corretora se insere dentro da comercialização e neste caso haverá a cobrança de corretagem e emolumentos que representa um valor adicional ao de fechamento do negócio dos títulos. Com relação a estas instituições e este mercado, será observado o disposto na Lei n o 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a comissão de Valores Mobiliários. A Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM) 1 apresenta um grande potencial para se desenvolver como mercado primário e secundário deste título. No mês de março de 2005, esta 1 Maiores informações sobre a BBM podem ser obtidas em http://www.bbmnet.com.br/pages/portal/index.asp 4

instituição já teve grande participação nos três leilões de LCAs lançadas pelo Banco do Brasil, sendo estes os únicos leilões realizados no mercado brasileiro até o momento. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na prática, a negociação da LCA funciona como um CDB, ou seja, o investidor aplica um valor no ato da compra do papel e vai resgatar aquele valor corrigido pela taxa obtida no leilão. Segundo Régis Alimandro 2, assessor da Secretaria de Política Agrícola, as LCAs darão condições aos bancos de se refinanciarem, ampliando a oferta de crédito rural. Hoje as instituições financeiras deixam de comprar CPR quando o orçamento para este fim se esgota. Ele ainda afirma que com o novo título os bancos podem pegar esse estoque de CPR e vender no mercado, só que envelopando com o nome LCA que pode ser revendido para um novo investidor, ampliando sua capacidade de financiar a atividade agrícola. A portaria n o 19, do Ministério da Fazenda, publicada no Diário Oficial da União dia 14 de fevereiro de 2005, isentou do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros ou relativos a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) as operações com títulos de crédito agropecuário, isentando diretamente as LCAs. 2.1 A Lei e as características da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) 3 A Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) é um título de crédito de emissão exclusiva das instituições financeiras, públicas ou privadas, com o objetivo de renegociar seus direitos creditórios com investidores privados para captar mais recursos para novos investimentos. Os direitos creditórios devem ser os originados de negócios com produtores rurais ou cooperativas, ou seja, a LCA é lastreada em recebíveis do agronegócio. O título de crédito é um documento no qual se confirma a promessa de pagamento futuro de uma dívida assumida hoje pelo devedor com o credor. A LCA é classificada pela legislação como um título de crédito nominativo que representa a promessa de pagamento em dinheiro no seu vencimento ao respectivo credor. Seguindo o modelo dos outros títulos do agronegócio, a LCA é considerada um título executivo extrajudicial e deve-se aplicar as normas de direito cambial sobre estes títulos. Pode-se entender como executivos extrajudiciais o processo de aplicação das penalidades previstas em contratos sem recorrer a justiça. De acordo com Oliveira (1998), para ser executado o título judicial são necessários dois processos: um de conhecimento, o qual o órgão jurisdicional determina o direito aplicável à espécie; e o executivo, o final. Já o titulo extrajudicial, de acordo com suas características da liquidez, da certeza e da exigibilidade, não permitem discussão e sofre apenas o processo executivo. Portanto sendo desnecessária intervenção do judiciário para a cobrança do respectivo título, inicia-se diretamente a ação executiva. No entanto é necessário que esta ação seja representada por um advogado legalmente habilitado. A principal vantagem dessa característica é a agilidade no processo. A LCA, no que for cabível, será aplicado as normas de direito cambial da legislação brasileira respeitando as duas alterações expostas na Lei n o 11.076/04: 1) os endossos devem ser completos; 2) fica dispensado o protesto cambial para assegurar o direito de regresso contra endossantes e avalistas. Por se tratarem de títulos de créditos, a transferência do título completa-se com o endosso no respectivo verso. O endosso transfere todos os direitos do título de crédito ao novo credor, ou seja, o endossante deixa de ser o credor. 2 Noticia de aviso do primeiro leilão de LCAs: Governo oferta primeiras Letras de Crédito do Agronegócio, 28 de fevereiro de 2005, http://www.agricultura.gov.br. 3 Agradecimento especial à Roberto Ricardo Barbosa Machado (Bob), acessor especial da BBM e da BM&F, pelas dúvidas sanadas a respeito do título. 5

De acordo com o artigo 887 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o novo Código Civil brasileiro, o título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido que somente produz efeito quando preenchidos todos os requisitos da lei. Julga-se importante essa determinação das informações que devem conter estes títulos uma vez que os títulos de crédito diferenciam-se de outros títulos pelo principio da literalidade, ou seja, é o atributo pelo qual só vale aquilo que está escrito no título de crédito, sendo nulo qualquer adendo. Portanto o título de crédito deve obedecer rigorosamente o conteúdo nele descrito e para ele valer como tal, deverão ser obedecidas as respectivas formalidades previstas na lei. A LCA deverá ser registrada em sistema de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central do Brasil. Para Azevedo (2000) é importante a existência de registro, custódia e liquidação financeira de títulos representativos de commodities agrícolas e fiscalizados pelo Banco Central do Brasil, uma vez que seria uma condição essencial para a adequada segurança dos negócios. As principais vantagens do registro em sistema de registro oficial são: controle do volume de títulos emitidos e facilitar a negociação eletrônica. Os direitos creditórios da LCA também deverão ser registrados em sistema de registro e de liquidação financeira de ativos autorizado pelo Banco Central do Brasil. Os direitos creditórios vinculados a LCA deverão ser custodiada em instituições financeiras ou outras instituições autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a prestar serviços de custódia destes valores. Na realidade, pelo fato dos emissores da LCA serem instituições financeiras, eles mesmos poderão custodiar estes títulos, desde que sejam autorizados para tal, ou terão que custodiar seus respectivos direitos creditórios em outra instituição financeira. De acordo com Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no dia 22 de fevereiro de 2005, existiam 54 instituições regulamentadas para a custódia de valores mobiliários 4. Já o registro deve ser feito na Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip) ou na Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F). Todas as instituições custodiantes deverão manter sob sua guarda a documentação que comprove a veracidade dos direitos creditórios vinculados a LCA. Estas instituições também terão o direito e até mesmo a obrigação de realizar a liquidação física e financeira dos direitos creditórios custodiados, para isto o emissor da LCA disponibilizará total poderes para estas instituições cobrarem e receberem os valores destes recebíveis ou qualquer outro serviço que julgar necessário. A respectiva entidade registradora da LCA é a responsável pelo registro de novos negócios realizados com o título e deverá manter o registro de todas as negociações feitas com o objetivo de controle e até mesmo de fiscalização do mercado. A transferência da titularidade se dará pelo registro do negócio efetuado e constatado pela entidade. Os direitos creditórios da LCA poderão ter sua identificação em documento à parte do contexto do próprio título. No entanto este documento à parte deve ser mencionado no contexto do certificado ou nos registros da instituição responsável pela manutenção dos sistemas de escrituração, sendo que o documento a parte deverá conter a assinatura dos representantes legais do emitente. Os direitos creditórios deverão ter duas características para oferecer garantias reais ao investidor : 1. Um título certo, ou seja, possui valor definido; 2. Líquido, uma vez que já tem o vencimento definido. 4 Ver no site da CVM, participantes do mercado http://www.cvm.gov.br. 6

Os respectivos direitos creditórios da LCA poderão ser identificados pelo seu respectivo número de registro recebido do sistema de registro e de liquidação financeira de ativos. A LCA confere direito de penhor sobre seus respectivos direitos creditórios e não se aplica o disposto nos artigos 1.452, caput, e 1.453 da Lei número 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil. A origem e autenticidade dos direitos creditórios vinculados a LCA são responsabilidades do emissor da LCA, devendo ele responder por qualquer irregularidade. Estes artigos e o respectivo caput definem que o penhor de direito constitui-se de instrumento público ou particular registrado no Registro de Títulos e Documentos; sendo que o titular do direito empenhado deverá entregar ao credor os documentos comprobatórios desse direito, salvo se tiver o interesse legítimo de conserva-los; e por sua vez o penhor de crédito não terá eficácia se não for notificado ao devedor e este por instrumento público ou particular, declarar-se ciente da existência do penhor. Todos os direitos creditórios vinculados a uma LCA não poderão ser penhorados, seqüestrados ou arrestados devido a outras dividas do emitente. Se necessário, é responsabilidade do próprio emitente declarar a vinculação destes recebíveis a LCA, devendo ele responder pela sua omissão. Na LCA também é permitida a substituição dos direitos creditórios vinculados ao título, desde que o titular e o emitente do título estejam de acordo, sendo que se extingui o penhor sobre os recebíveis substituídos e automaticamente instaura-se o penhor sobre os novos direitos creditórios vinculados. Esta característica citada acima é especialmente importante quando configurada a diferença de data de vencimento entre os direitos creditórios. Por exemplo, se os direitos creditórios da LCA estiverem com diferentes datas de vencimento, a Lei permite que se troquem os direitos creditórios para igualar a data de vencimento, desde que as duas partes do LCA estejam de acordo. A LCA poderá contar com outras garantias adicionais, reais ou fidejussórias, livremente negociada entre as partes e até mesmo outras cláusulas de sua negociação. Estas particularidades serão descritas em documentos à parte, o qual deverão ser mencionados do contexto da respectiva LCA e serem assinados pelos representantes legais do emitente. O título também poderá ser emitido sob a forma escritural, sendo que mesmo na emissão neste formato o título deverá ser registrado em sistema de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central do Brasil. De acordo com a própria Lei n o 11.076/04, o valor de negociação da LCA não poderá em hipótese alguma exceder o valor total dos seus direitos creditórios. Mas por outro lado, a LCA poderá conter uma cláusula para permitir a variação do respectivo valor nominal do título, sendo que obrigatoriamente deverá ser a mesma dos seus direitos creditórios. Também é permitido a LCA o pagamento parcelado dos seus vencimentos, desde que especificados no contexto do título os valores e as datas de vencimento das diversas parcelas. A taxa de juros negociada para a LCA pode ser fixa ou flutuante, dependendo do interesse das partes, sendo que a própria legislação da LCA permite a sua capitalização. Para Chaves (2000) a capitalização consiste em que os saldos em determinados momentos são sempre maiores que no momento anterior, ou seja, os juros de cada período são somados ao capital para o cálculo de novos juros no período seguinte 5. Três características desses títulos de crédito permitirão que fundos de investimentos comercializem estes papéis e invistam seus recursos neste segmento: a garantia de instituição financeira ou seguro dos títulos, papéis devidamente registrados em sistemas de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central do Brasil ou pela CVM e a respectiva custódia em sistemas de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados 5 Abelardo de Lima, Matemática Financeira Objetiva e Aplicada Ed,.Saraiva, 6ª ed. 1999, pg. 14, citado por Chaves (2000). 7

pelo Banco Central do Brasil ou em instituições autorizadas à prestação de serviços de custódia pela CVM. É importante ressaltar que estas três características atendem o artigo 85, 3º e 4º, e artigo 86 da versão consolidada da instrução CVM n o 409, de 18 de agosto de 2004, com alterações introduzidas pelas instruções CVM n o 411, de 26 de novembro de 2004 e 413, de 30 de dezembro de 2004, que dispõem sobre a constituição, a administração, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de investimento. Um ponto importante que se deve destacar na criação da LCA é a inserção do seguro e até mesmo a viabilização do aval bancário nas suas negociações. Para Cunha (2002), ou se adota mecanismo de proteção contra o risco na agricultura, ou o governo estará condenado a suportar todo o encargo do financiamento das atividades agrícolas, uma vez que a agropecuária oferece um risco maior do que outros setores e o setor privado não deverá aceitar assumir totalmente este risco. Acredita-se que vincular a LCA a um seguro deverá facilitar a concessão de aval bancário e até mesmo diminuir o seu custo cobrado na operação. A vinculação deste seguro atrairá mais investidores ao segmento o que proporcionará maior liquidez ao mercado e diminuirá o risco tanto dos investidores como dos bancos avalizadores. Espera-se que este aumento de liquidez diminua a demanda por crédito formal, aliviando os recursos públicos. O Conselho Monetário Nacional fica responsável por expedir as instruções que se fizerem necessárias à execução das disposições da Lei n o 11.076 de 2004. O artigo 27 da Lei n o 11.076/04, que instituiu os novos títulos de crédito do agronegócio especifica que a LCA deverá conter no seu contexto: 1. O nome da instituição que emitiu o título e a assinatura de seus representantes legais; 2. O número de ordem, o local e a data de emissão; 3. A denominação Letra de Crédito do Agronegócio ; 4. O valor nominal; 5. A identificação dos seus direitos creditórios e seus respectivos valores, ressalvado a possibilidade de identificação por documentação à parte, sendo neste caso mencionado no seu contexto; 6. Taxa de juros, fixa ou flutuante, admitida à capitalização; 7. Data de vencimento ou no caso do vencimento parcelado, os valores e as respectivas datas de vencimento das parcelas; 8. Cláusula à ordem, ressalvada a transferência de titularidade pelos registros da instituição registradora. No apêndice deste trabalho, a Figura 1 demonstra um esquema com as etapas da comercialização das LCAs no mercado braseiro. 2.2 As perspectivas de uso da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) O principal objetivo da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) é aumentar a disponibilidade de capital para os agentes do agronegócio que financiam e disponibilizam crédito para o produtor rural e as respectivas cooperativas. Estes agentes do agronegócio, através deste título, poderão renegociar seus recebíveis originados de negociação com o produtor rural aos investidores institucionais interessados. A emissão e negociação deste título de crédito deverá constituir e concretizar um mercado secundário dos direitos creditórios do agronegócio tendo o investidor institucional privado como principal fonte de recurso deste mercado. Com a renegociação dos direitos creditórios do agronegócio antes dos seus vencimentos, os agentes do agronegócio que 8

financiam e disponibilizam crédito ao produtor rural terão mais recursos disponíveis antes do respectivo vencimento dos recebíveis, podendo financiar e disponibilizar mais crédito aos produtores agropecuários, ou seja, aumentará o capital de giro disponível para o agronegócio brasileiro. Pode-se exemplificar como investidor institucional privado os: 1. Fundos de pensão abertos e fechados; 2. Seguradoras; 3. Instituição financeira administradora de recursos de terceiros; 4. Companhias de capitalização; 5. Bancos em geral; 6. Investidor pessoa física; 7. Fundos de investimentos. No mercado de balcão, as características de cada título negociado (taxas de juro, data de vencimento, direitos creditórios vinculados, pagamento parcelado ou em única parcela e valor nominal) devem ser negociados entre as partes no momento da operação. Já no mercado de bolsa de mercadorias e futuros, o título será disponibilizado, com suas características prédefinidas, aos potenciais investidores, seguindo o modelo de leilão em cima do seu respectivo valor nominal para a negociação do título. No mercado futuro, a LCA poderá ser depositados com margem de garantia na aquisição de contratos nas respectivas bolsas de futuros, uma vez que elas são consideradas títulos de crédito e possuem vencimento futuro. No lançamento da LCA 6, Edemir Pinto, diretor-geral da BM&F, afirmou que assim como já ocorre com a CPR, a BM&F aceita a LCA como garantia para os mercados derivativos. Os agentes do agronegócio deverão conseguir empréstimos com taxas mais compatíveis com as do mercado, ou seja, o CDI ou até mesmo o CDI com um pequeno spread. Estes novos títulos deverão impulsionar o mercado das CPRs físicas, o mercado futuro no país e principalmente atrair mais capital para o setor possibilitando que o produtor rural financie a comercialização da sua produção. Para o Governo, espera-se que a concretização destes títulos deverá afastá-lo da total responsabilidade de responder pelo crédito rural e até mesmo aliviar os cofres públicos que atualmente não possui capital suficiente para atender toda a demanda por este crédito. O MAPA espera que haja uma expansão significativa da capacidade de financiamento agrícola por bancos e empresas. 2.3 A Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) A Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM), criada em 22 de outubro de 2002, uma entidade sem fins lucrativos, apresenta um grande potencial para se desenvolver como mercado primário e secundário da LCA. O objetivo é que o setor privado invista no agronegócio por intermédio do mercado de capitais e do sistema financeiro. Para Sousa & Marques (1997), a existência de um mercado futuro atuante, que reflita de forma clara as expectativas do mercado, pode assumir as imperfeições do mercado físico, minimizando risco e diminuindo custos de transação. A BBM foi constituída a partir da união de sete bolsas de mercadorias brasileiras. A instituição possui central regional de operações em seis estados brasileiros (GO, MG, MS, 6 Notícia de lançamento da LCA: Banco do Brasil lança na BM&F as primeiras LCAs do mercado, 02 de março de 2005, http://www.bmf.com.br. 9

PR, RS e SP). Além de auxiliar na política agrícola do governo brasileiro, a bolsa proporciona modernidade, confiabilidade e competitividade ao comércio de produtos, títulos e serviços. Atualmente ela é capaz de disponibilizar para o agronegócio brasileiro os sistemas de registro e custódia, moderno sistema de negociação eletrônica e sistema de liquidação, viabilizando a participação de investidores nacionais e internacionais. A BBM é constituída pelas seguintes bolsas: 1. Bolsa de Mercadorias & Futuros; 2. Bolsa de Mercadorias de Goiás; 3. Bolsa de Mercadorias do Mato Grosso do Sul; 4. Bolsa de Mercadorias de Minas Gerais; 5. Bolsa de Mercadorias do Paraná; 6. Bolsa de Mercadorias do Rio Grande do Sul; 7. Bolsa de Mercadorias de Uberlândia. A Bolsa de Mercadorias & Futuros detém uma participação de 55% na BBM, sendo que os demais 45% são divididos entre as demais bolsas participantes. A BBM opera com o mercado de produtos físicos, mercado de títulos, mercado a termo, mercado de opções e licitações públicas. A BBM já trabalha com alguns títulos do agronegócio tal como as CPRs, contrato a termo dos produtos, opção sobre disponíveis, as operações do próprio governo brasileiro (leilões, opções, Programa de Escoamento da produção PEP e entre outros) e leilões do Banco do Brasil e da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab). A integração do mercado físico com o mercado futuro torna-se uma ferramenta de grande utilidade para o mercado. O produtor obtém recursos de custeio e/ou comercialização negociando os títulos à vista com os fundos de investimentos, que por sua vez fazem hedge no mercado futuro fixando suas posições e dando liquidez às operações desse mercado, atuando também como a ponta vendedora. 2.4 A Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e o Banco do Brasil (BB) No dia 1º de março, na sede da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), em São Paulo, o Banco do Brasil lançou as primeiras Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) do mercado brasileiro. O lançamento contou com a participação do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA). As LCAs foram lastreadas pela carteira de CPR mantida pelo Banco do Brasil. De acordo com o próprio banco, considerada ativo financeiro enquanto vincenda, a letra de crédito proporcionará lucro aos seus investidores de acordo com o prazo da aplicação e a diferença entre o valor de aquisição do crédito e seu preço de resgate. Segundo Ricardo Conceição, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, "O lançamento da LCA tem como objetivo viabilizar o acesso do produtor ao mercado. Com este novo produto, pretendemos aumentar a disponibilidade de recursos para o setor e contribuir para a redução de custos desses recursos". Principal agente financiador do agronegócio no país, o Banco do Brasil possui uma carteira de R$30 bilhões em operações rurais. Para Manoel Felix Cintra Neto, presidente do Conselho de Administração da BM&F, A Letra de Crédito do Agronegócio será o grande negócio da agricultura. Estas letras estão lastreadas pela CPR e são um produto bom tanto para o tomador como para o aplicador. Já Ivan Wedekin, Secretário Política Agrícola do Ministério da Agricultura, afirmou que a LCA está inserida na estratégia do governo brasileiro neste trabalho em conjunto com 10

o setor privado para fortalecer a competitividade do agronegócio e que o objetivo é ampliar a base do crédito e permitir novos meios de financiamento do agronegócio. O Banco do Brasil já realizou três leilões de LCAs no mercado brasileiro e informou que semanalmente ofertará lotes de LCA ao mercado, com o objetivo de aumentar a disponibilidade de recursos para o agronegócio. Como resultado deste primeiro leilão, Félix Schouchana 7, diretor de Mercados Agrícolas da BM&F, afirmou que o resultado do leilão superou as expectativas dado o curto prazo de divulgação da operação e que o leilão foi disputado e acabou obtendo uma taxa interessante para o mercado. Ele ainda avaliou que a LCA é simples e, por isso, foi bem absorvida pelo mercado. É um instrumento ágil e claro. Podemos destacar como as principais características das LCAs emitidas pelo Banco do Brasil 8 : 1. Aval do Banco do Brasil; 2. Vinculadas as CPRs do banco; 3. As CPR correspondentes aos direitos creditórios vinculados as LCA estarão registradas no Sistema de Registro e Custódia de Títulos do Agronegócio, mantido pela BBM/BM&F; 4. Valor de resgate pago na conta indicada para o último credor registrado no sistema da instituição de registro e custódia onde a LCA foi registrada, por crédito direto em conta, quando for no próprio Banco, ou por TED (Transferência Eletrônica Disponível), quando em outra instituição financeira; 5. A data e horário do pregão, bem como os lotes ofertados (com as características das LCAs cuja emissão será prometida: número, vencimento, valor de resgate e tipificação dos títulos a que se refere) serão divulgados em Aviso de Oferta específico, o qual constituir-se-á em parte integrante do regulamento; 6. O pregão será realizado na modalidade de preço (viva-voz), no qual o lote é indivisível (constituído por uma LCA) e os participantes apresentam lances crescentes de valor; 7. No caso de haver lances idênticos, o lance vencedor será o da bolsa que primeiro efetuou a oferta; 8. As cotações deverão ser apresentadas em reais (R$) por título; 9. Só poderão conectar-se ao Sistema de Leilão as bolsas de mercadorias que estiverem credenciadas junto ao Banco do Brasil; 10. É livre a participação de qualquer interessado, desde que esteja devidamente cadastrado junto à bolsa em que pretenda realizar a operação, não esteja impedido de operar junto ao Sistema de Leilão Eletrônico do Banco do Brasil e tenha manifestado sua ciência e adesão quanto a este Regulamento; 11. A LCA será registrada no Sistema de Registro e Custódia de Títulos do Agronegócio, mantido pela BBM/BM&F, autorizado pelo Banco Central do Brasil, em custódia eletrônica do membro/corretora indicado pelo credor; 12. A custódia física (guarda) da LCA e dos direitos creditórios a ela vinculados ficará a cargo do Banco do Brasil. Eventual pedido de retirada da custódia implicará na liquidação antecipada do título, pelo valor de negociação no leilão, sem qualquer acréscimo; 13. A negociação secundária da LCA poderá ser feita em sistema de Central de Registro e Custódia que mantenha relacionamento com o Banco e disponibilize informações precisas sobre a cadeia de endosso envolvida nessas negociações, inclusive do detentor final do título, no mínimo 3 (três) dias úteis antes do vencimento da LCA. 7 Notícia do resultado do primeiro leilão da LCA: Primeiro leilão de LCA vende R$ 10 milhões em títulos, 01 de março de 2005, http://www.agricultura.gov.br. 8 Informações retiradas do regulamento do Banco do Brasil para as LCAs. 11

Dos leilões realizados pelo Banco do Brasil participam as 29 bolsas conveniadas com o banco. Para maiores informações sobre o procedimento dos leilões e das próprias bolsas conveniadas acessar o site do banco (http://leilao.bb.com.br/informacoes.lel). 3. Metodologia Na primeira parte deste trabalho, foram apresentadas e discutidas a Lei (n o 11.076/04) e as características da Letra de crédito do agronegócio do mercado brasileiro. Por se tratar de uma legislação recente, com pouco conhecimento por parte do mercado e praticamente nenhuma literatura a respeito, este trabalho apresentou as características da LCA expostas na própria legislação, comentando-as de acordo com o conteúdo de outras legislações relacionadas e principalmente das dúvidas sanadas com as pessoas que idealizaram e desenvolveram estes títulos. Como etapa seguinte, este trabalho irá analisar os três leilões realizados até o momento com as LCAs no mercado brasileiro. Nesta etapa será analisado a média e o desvio-padrão das taxas negociadas em cada um dos leilões separadamente e considerando os três leilões juntos. Também serão evidenciados os valores máximos e mínimos de cada leilão. Para o cálculo da média, utilizou-se o conceito de média aritmética. Segundo Hoffmann (1998), a média aritmética de n dados é, por definição, o valor: 1 X = n Onde: X = a média aritmética das taxas de juros; n = o número de observações; X = a taxa de juros do lote i. i n X i i = 1 Já o desvio-padrão, de acordo com Hoffmann (1998), é a raiz quadrada, com sinal positivo, da variância. Sendo a variância dada por: Var ( X ) Onde: Var ( X i )= a variância das taxas de juros; X = a média aritmética; n = o número de observações; X = a taxa de juros do lote i. i i = n i = 1 ( X i X ) n 1 Portanto, segundo Hoffmann (1998), temos o desvio-padrão como: DP = Onde: DP ( X i )= o desvio-padrão das taxas de juros; Var ( X i )= a variância das taxas de juros. ( X ) Var( ) i X i 2 12

4. Os primeiros leilões da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) Os três leilões das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) no mercado brasileiro foram ofertados pelo Banco do Brasil e foram realizados pelo sistema eletrônico do próprio banco. No primeiro lote de negociação da LCA, dia 01 de março de 2005, o Banco do Brasil vendeu integralmente os dez lotes de LCAs ofertados, totalizando R$10 milhões em emissões. Na Tabela 1, notam-se as informações referentes ao leilão realizado. Tabela 1 - Resultado do primeiro leilão de LCAs - Banco do Brasil * Lote Vencimento Valor de Abertura Fechamento Arrematante Taxa ao ano resgate (R$) (R$) (R$) (%) 1 30/5/2005 1.000.000,00 958.325,00 958.325,00 ALFA 19,58 2 30/5/2005 500.000,00 479.162,00 479.162,00 SOCOPA 19,58 3 29/6/2005 100.000,00 94.356,00 94.356,00 BML 19,55 4 29/6/2005 1.000.000,00 943.566,00 943.566,00 ALFA 19,54 5 29/6/2005 1.000.000,00 943.566,00 943.566,00 SOCOPA 19,54 6 29/6/2005 1.000.000,00 943.566,00 943.566,00 SOCOPA 19,54 7 29/7/2005 2.400.000,00 2.229.840,00 2.229.840,00 SOCOPA 19,51 8 29/7/2005 1.000.000,00 929.100,00 929.104,00 ALFA 19,50 9 29/8/2005 1.000.000,00 915.480,00 915.480,00 SOCOPA 19,49 10 29/8/2005 1.000.000,00 915.480,00 915.480,00 SOCOPA 19,49 Total 9.352.445,00 Fonte: Banco do Brasil e Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F) * Realizado dia 01 de março de 2005. Na tabela nota-se que os títulos apresentaram quatro datas diferentes de vencimento, quatro diferentes valores de resgate e três diferentes arrematantes. As taxas de juros negociadas ficaram entre 19,49% e 19,58% ao ano, sendo que nove lotes foram negociados em São Paulo através da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBMSP) e um lote foi negociado para Londrina (PR) através da Bolsa de Mercadorias e Futuros de Londrina BML (lote n o 3). O segundo leilão de LCAs foi realizado no dia 10 de março de 2005. Foram vendidos os quatorze lotes ofertados, totalizando R$12 milhões em emissões. Na Tabela 2 nota-se as informações referentes ao segundo leilão. As taxas de juros negociadas neste leilão ficaram entre 19,22% e 19,59% ao ano, sendo que apresentou quatro diferentes datas de vencimento e cinco diferentes valores de resgate. Dos quatorze lotes ofertados, doze foram negociados pela BBM, sendo que dois para regional do Paraná (lote n o 2 e 3) e doze para regional São Paulo; os outros dois lotes foram negociados através da Bolsa de Mercadorias e Futuros de Londrina BML (lote n o 4 e 6). Já o terceiro leilão foi realizado no dia 17 de março de 2005, novamente vendendo os dez lotes ofertados, totalizando R$10 milhões em emissões. Na Tabela 3, verificam-se as características do respectivo leilão. Foram ofertados três diferentes valores de resgate com quatro diferentes prazos de vencimento. As taxas de juros variaram entre 19,71% e 19,91% ao ano. Nove lotes foram negociados em São Paulo através da BBM e um lote foi negociado através da BBM regional de Uberlândia (lote n o 4). 13

Tabela 2 - Resultado do segundo leilão de LCAs - Banco do Brasil * Lote Vencimento Valor de Abertura Fechamento Arrematante Taxa ao ano resgate (R$) (R$) (R$) (%) 1 8/6/2005 100.000,00 95.826,00 95.855,00 GRIFFO 19,46 2 8/6/2005 100.000,00 95.826,00 95.886,00 BBMPR 19,30 3 8/6/2005 100.000,00 95.826,00 95.896,00 BBMPR 19,24 4 8/6/2005 200.000,00 191.653,00 191.791,00 BML 19,25 5 8/6/2005 1.000.000,00 958.265,00 958.301,00 GRIFFO 19,59 6 8/7/2005 500.000,00 471.750,00 472.200,00 BML 19,22 7 8/7/2005 500.000,00 471.750,00 472.100,00 GRIFFO 19,30 8 8/7/2005 2.000.000,00 1.887.000,00 1.887.265,00 GRIFFO 19,52 9 8/8/2005 500.000,00 464.847,00 464.965,00 GRIFFO 19,45 10 8/8/2005 1.000.000,00 929.694,00 929.925,00 GRIFFO 19,45 11 8/8/2005 2.000.000,00 1.859.323,00 1.859.885,00 GRIFFO 19,45 12 6/9/2005 1.000.000,00 916.104,00 916.430,00 GRIFFO 19,41 13 6/9/2005 1.000.000,00 916.104,00 916.465,00 GRIFFO 19,40 14 6/9/2005 2.000.000,00 1.832.208,00 1.832.915,00 GRIFFO 19,40 Total 11.189.879,00 Fonte: Banco do Brasil e Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM) * Realizado dia 10 de março de 2005. Tabela 3 - Resultado do terceiro leilão de LCAs - Banco do Brasil * Lote Vencimento Valor de Abertura Fechamento Arrematante Taxa ao ano resgate (R$) (R$) (R$) (%) 1 15/6/2005 500.000,00 478.811,00 478.873,00 GRIFFO 19,88 2 15/6/2005 500.000,00 478.811,00 478.843,00 GRIFFO 19,91 3 15/6/2005 1.000.000,00 957.623,00 957.885,00 GRIFFO 19,81 4 15/7/2005 500.000,00 471.263,00 471.471,00 BBMUB 19,79 5 15/7/2005 1.000.000,00 942.526,00 942.950,00 SOCOPA 19,78 6 15/8/2005 500.000,00 464.191,00 464.476,00 SOCOPA 19,76 7 15/8/2005 1.000.000,00 928.383,00 928.930,00 ALFA 19,77 8 14/9/2005 1.000.000,00 914.424,00 915.270,00 SOCOPA 19,71 9 14/9/2005 2.000.000,00 1.828.849,00 1.830.500,00 ALFA 19,72 10 14/9/2005 2.000.000,00 1.828.849,00 1.830.460,00 ALFA 19,72 Total 9.299.658,00 Fonte: Banco do Brasil e Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM) * Realizado dia 17 de março de 2005. 5. Análise dos resultados Na Tabela 4 nota-se os resultados da análise dos três leilões separadamente das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e considerando eles juntos. Nesta análise destacamos a média aritmética, o desvio-padrão, o valor máximo e o valor mínimo de cada conjunto das taxas de juros. O terceiro leilão apresentou a maior média das taxas de juros obtidas, sendo que a média dos três leilões juntos ficou acima da média dos dois primeiros leilões. O segundo leilão apresentou a menor média das negociações. O maior desvio-padrão foi obtido quando considerado os três leilões juntos, sendo que o segundo leilão apresentou o maior desvio-padrão quando considerado os leilões separadamente. O primeiro leilão apresentou o menor desvio-padrão. 14

Tabela 4 - Análise dos leilões das LCAs - Banco do Brasil Leilão Média Desvio-padrão Valor Valor Máximo Mínimo 1 o leilão 19,53 0,034 19,58 19,49 2 o leilão 19,39 0,111 19,59 19,22 3 o leilão 19,79 0,067 19,91 19,71 Todos 19,55 0,185 19,91 19,22 Fonte: Elaboração dos autores A maior taxa de juros foi obtida no terceiro leilão, sendo que nos outros dois obtiveram praticamente o mesmo valor máximo, com diferença de 0,1 ponto percentual, obtendo o primeiro leilão a menor taxa de juros máxima. Já em relação à taxa mínima, o segundo leilão apresentou a menor taxa dos três leilões, sendo seguido pelo primeiro leilão. Um ponto interessante a destacar neste item é que a menor taxa de juros obtida no terceiro leilão é maior do que a taxa de juros máxima obtida nos outros dois leilões. As maiores taxas de juros obtidas no terceiro leilão, dia 17 de março, pode ser reflexo direto da elevação da taxa de juros básica da economia pelo Copom. Na sua reunião do dia 16 de março 9, o Copom elevou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, definindo uma nova taxa de 19,25% ao ano. É a sétima vez consecutiva que a taxa sofre uma elevação, atingindo seu maior valor dos últimos dezessete meses. Por outro lado, quanto maior o desvio-padrão nota-se uma maior disputa nos leilões, já que esta medida demonstra a variação em relação ao valor médio obtido. Não é surpresa que o menor valor tenha sido obtido no primeiro leilão, podendo ser reflexo de uma precaução do próprio mercado com relação ao novo título. 6. Comentários Finais Com o comprometimento da maior parte dos recursos públicos no pagamento da dívida pública juntamente com a acentuada crise fiscal pela qual o Estado passou, houve um impacto direto na disponibilidade de recursos para o financiamento agropecuário. Portanto, segundo Almeida (1995), os próprios segmentos produtivos e industriais passam a demonstrar maior interesse no conhecimento e desenvolvimento dos novos instrumentos de comercialização, indicando a preocupação em estabelecer mecanismos que não dependam única e exclusivamente do governo. Para Buainain & Souza Filho (2001/p. 374), o Estado passaria a privilegiar a criação de condições gerais e de incentivos macroeconômicos adequados para o crescimento da produção agropecuária e concentraria seus recursos na promoção e fortalecimento da agricultura familiar, inclusive por meio da reforma agrária. Muitas das funções tradicionais de política agrícola, entre as quais o financiamento, estabilização de preços, manutenção dos estoques etc., seriam desempenhadas pelo próprio setor privado, utilizando para tanto os instrumentos de mercado. A Lei n o 11.076/04 vai proporcionar uma nova configuração para o agronegócio brasileiro. Os investidores institucionais privados poderão investir no setor através dos cinco títulos do agronegócio, o produtor rural e suas cooperativas terão maior facilidade de acesso 9 Site do Banco Central do Brasil http://www.bacen.gov.br. 15

ao crédito rural com taxas menores que as comercializadas atualmente e os agentes do agronegócio, que financiam e disponibilizam crédito ao produtor rural, poderão captar mais recursos para suas operações no mercado financeiro e de capitais com a negociação de seus direitos creditórios originados dos negócios com os próprios produtores rurais e cooperativas. Em três leilões realizados somente nas três primeiras semanas de março de 2005, o Banco do Brasil já captou mais de R$30 milhões em emissões, dinheiro que tem como destino o agronegócio na forma de novos financiamentos para o setor. Enfim, estes títulos deverão aumentar a disponibilidade de capital para o agronegócio o que implicaria diretamente nos cofres do governo. Tendo o produtor rural maior acesso aos recursos para sua produção e maior disponibilidade de financiamento diretamente com os agentes do agronegócio, eles ficarão menos dependentes dos recursos públicos que atualmente não conseguem atender toda a demanda do setor pelo crédito rural. Gasques & Verde (1995) já apontavam a importância da implantação de fundos de financiamentos da agricultura com a criação de títulos que deveriam vincular a agricultura com o mercado financeiro, sem a necessidade de recorrer ao sistema de crédito rural, aliviando a pressão sobre os recursos financeiros para a agricultura. Deve-se estimular à captação de recursos e a comercialização de produtos agrícolas através de bolsa de físicos e futuros uma vez que elas são importantes instrumentos de administração de risco tanto para produtores quanto para as agroindústrias. Espera-se que os fundos de investimentos sejam os grandes investidores nestes cincos títulos do agronegócio e com isso seja criado e fortalecido o fundo de investimento do agronegócio. Estima-se que o patrimônio líquido desses fundos no Brasil seja de R$530 bilhões. Com uma pequena parcela deste setor, grande parte da demanda de crédito pelo agronegócio seria atendida e conseguiria-se garantir a liquidez e rentabilidade dos títulos exigida pelos respectivos investidores. Bibliografia ALMEIDA, A. de. Financiamento da agricultura: tempo de mudanças. Preços Agrícolas, ano 9, n. 99, p. 8-9, jan. 1995. ARAÚJO, P. F. C. de & ALMEIDA, A. de. Financiamento da agricultura: evolução e perspectivas. Preços Agrícolas, v. 11, n. 126, abr. 1997. AZEVEDO, R. G. da R. Securatização e comercialização da produção agropecuária através das CPRs e Warrants. Preços Agrícolas, v. 14, n. 161, p. 13-14, mar. 2000. BANCO DO BRASIL (BB) AGRONEGÓCIOS. Disponível em: http://www.agronegocios-e.com.br/agronegocios. BOLSA BRASILEIRA DE MERCADORIA (BBM). Disponível em: http://www.bbmnet.com.br. BRASIL. Leis, decretos, etc. Instrução CVM N.º 409 de 18 de agosto de 2004. Dispõe sobre a constituição, a administração, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de investimento. BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei No 4.829 de 05 de novembro de 1965. Institucionaliza o Crédito Rural. 16

BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei No 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei No 11.076 de 30 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Certificado de Depósito Agropecuário CDA, o Warrant Agropecuário WA, o Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio CDCA, a Letra de Crédito do Agronegócio LCA e o Certificado de Recebíveis do Agronegócio CRA, dá nova redação a dispositivos das Leis nos 9.973, de 29 de maio de 2000, que dispõe sobre o sistema de armazenagem dos produtos agropecuários, 8.427, de 27 de maio de 1992, que dispõe sobre a concessão de subvenção econômica nas operações de crédito rural, 8.929, de 22 de agosto de 1994, que institui a Cédula de Produto Rural CPR, 9.514, de 20 de novembro de 1997, que dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário e institui a alienação fiduciária de coisa imóvel, e altera a Taxa de Fiscalização de que trata a Lei no 7.940, de 20 de dezembro de 1989, e dá outras providências. BUAINAIN, A. M. & SOUZA FILHO, H. M. Política agrícola no Brasil: Evolução e principais instrumentos. In: BATALHA, M. O. (orgs). Gestão agroindustrial. São Paulo: editora Atlas, 2001. vol. 2, p. 325-383. CHAVES, Oziel. Há anatocismo na Tabela Price?. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 46, out. 2000. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=737>. Acesso em: 01 fev. 2005. CUNHA, A. S. Um seguro agrícola eficiente. Consultoria legislativa, Câmara dos Deputados, praça dos 3 poderes, anexo III térreo, Brasília DF. Estudos, junho de 2002, 44 pgs. GASQUES, J. G. & VERDE, C. M. V. Novas fontes de recursos, propostas e experiências de financiamento rural. Texto para discussão IPEA, n. 392, dez. 1995. HOFFMANN, R. Estatística para economistas. São Paulo: Pioneira, 1998. 430 p. OLIVEIRA, E. N. de. A desigualdade de tratamento entre título executivo judicial e extrajudicial no que tange ao momento de caracterização da fraude de execução. Rio de Janeiro, 1998. Monografia referente ao Curso de Pós-Graduação em Direito Processual Civil Universidade Veiga de Almeida. SCHOUCHANA, F. & PEROBELLI, F. S. O financiamento da agricultura e o Mercado futuro. Resenha BM&F, n. 142, nov. e dez. 2000. SOUSA, E. L. L. & MARQUES, P. V. Competitividade do milho e da soja nos Estados Unidos e Brasil. Preços Agrícolas, ano XI, n. 133, nov. 1997, p. 13-18. Excluído: 17

Apêndice Emis s ão Instituição Financeira Transforma DCA* em LCA Central de Registro Negociação Primária Mercado de balcão Investidor Institucional Instituição Financeira Bolsa de mercadorias ou futuros Corretora Negociação Secundária Mercado de balcão Investidor Institucional Investidor Institucional Bolsa de mercadorias ou futuros Corretora Liquidação Instituição Financeira Fonte: Elaboração dos autores. Investidor institucional Legenda Fluxo monetário; Fluxo do título; Custodiado. * DCA = Direito creditório do Agronegócio Figura 1 Etapas de comercialização das LCAs no mercado brasileiro. 18