I. RELATÓRIO Vistos e examinados os autos de Ação Ordinária sob nº 0001997-57.2014.8.16.0179, ajuizada por REINALDO ALVES CAMARGO e STAEL ALVES DE CAMARGO contra ANDREAZZA E MASSARELLI LTDA. Trata-se de ação ordinária em que tem como objeto a devolução dos valores pagos pelos autores a título de sinal em contrato que foi posteriormente desfeito. Os autores informam que, em 02/06/2011, o primeiro autor, REINALDO ALVES CAMARGO, contratou a empresa ré para realização da festa de casamento da autora, STAEL ALVES DE CAMARGO, contudo, em razão do rompimento do relacionamento, os autores rescindiram o contrato em 09/08/2011. Mencionaram que o contrato firmado previa, na cláusula 12ª, alínea a, que a resilição do contrato pela parte contratante de forma unilateral, até 90 dias antes da data do evento, importaria no pagamento do valor total desembolsado como sinal do negócio. Alegam que tal penalidade é abusiva, na medida em que a resilição ocorreu com antecedência de 5 meses à data do evento, sem que houvesse dano à parte contratada, que justificasse a retenção do sinal do negócio, no valor de R$ 8.904,00 (oito mil e novecentos e quatro reais), pelo que requerem sua devolução integral. 1
Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação alegando que o contrato firmado, embora inserido numa relação tipicamente de consumo, não se configura como de adesão, já que houve efetiva negociação das partes para ajuste das cláusulas contratuais. Nessa esteira, sustentou que a cláusula de arras penitenciais expressamente prevista e anuída pelos autores não pode ser considerada abusiva, sendo plenamente aplicável. Alegou, também, que ante a natureza jurídica do instituto das arras penitenciais, não cabe a discussão quanto aos prejuízos causados pelo cancelamento do evento. Por fim, pugnou pelo indeferimento do pedido de inversão do ônus da prova e total improcedência do pedido formulado na inicial. Em impugnação à contestação, os autores rebateram os argumentos trazidos na contestação e reiteraram os fatos e fundamentos narrados na petição inicial. Intimados a especificarem as provas que pretendiam produzir, ambas as partes requereram o julgamento antecipado da lide. Em seguida foi prolatada decisão reconhecendo a relação jurídica firmada entre as partes como de consumo e afastando a 2
inversão do ônus da prova, determinando, ao final, o julgamento antecipado da lide. Desta decisão, os autores interpuseram agravo retido requerendo a inversão do ônus probatório. Apresentadas contrarrazões pela parte contrária, o agravo foi recebido e, em sede de juízo de retratação, foi mantida a decisão por seus próprios fundamentos. II. FUNDAMENTAÇÃO Os autores aduzem, em síntese, que a cláusula que previu a retenção do valor integral do sinal pela desistência do negócio é abusiva, na medida em que o cancelamento do evento com 5 meses de antecedência a data prevista para sua realização não impôs nenhum prejuízo à empresa contratada. Em primeiro lugar, é preciso estabelecer a natureza do contrato firmado entre as partes. Em que pese os argumentos lançados pelos autores, não vislumbro estarem presentes os requisitos para caracterização do contrato como de adesão. 3
Observa-se dos e-mails trocados pelas partes (Ref. 37.5-37.7) que o contrato foi editado a partir das necessidades e escolhas individuais dos autores quanto ao número de convidados, menu a ser servido e serviços a serem prestados, sendo os valores propostos objeto de minuta de contrato, disponibilizado aos contratantes para análise e posterior acerto. Percebe-se que foi oportunizado aos contratantes uma análise minuciosa do contrato e aberta a possibilidade de acerto quanto aos seus termos em reunião específica para tanto. Tratando-se efetivamente de um contrato inserido numa relação de consumo, ainda que não caracterizado como de adesão, necessária a análise da cláusula combatida a fim de apurar a alegada abusividade no estabelecimento de arras no valor de 30% do valor do contrato para o caso de resilição do contrato. O Código Civil em seu artigo 418 prevê: Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. 4
Nessa toada, a cláusula 10ª do contrato firmado entre as partes previu sinal ou arras no valor de R$ 8.904,00, equivalente a 30% do valor contratado (R$ 29.680,00), ficando estabelecido na cláusula 12ª que em caso de resilição unilateral pelo contratante (autor), este deveria pagar à contratada (ré) arras proporcionais à proximidade com a data do evento. A resilição do contrato ocorreu em 09/08/2011, incorrendo na hipótese prevista na cláusula 12ª, alínea a, do contrato, que previa a retenção da integralidade do sinal do negócio caso a resilição se desse até 90 dias antes da realização do evento. A estipulação de arras ou sinal não pode ser encarada como abusiva quando definida em valor que atenda ao princípio da razoabilidade e proporcionalidade, o que entendo ter ocorrido no presente caso. Foram definidas arras em três diferentes valores a depender da proximidade do evento, sendo que o valor mínimo, pago pelos contratantes, equivaleu a 30% do valor total do negócio, o que não se mostra abusivo ante à atividade contratada, que costumeiramente envolve uma reserva de data com bastante antecedência. 5
Ademais, a arras é justamente a estipulação de uma taxa mínima de indenização em caso de resilição, não exigindo a comprovação do prejuízo suportado, a teor do artigo 419 do Código Civil, que prevê a necessidade de prova do prejuízo quando pedida indenização suplementar ao sinal, o que inclusive também previu o contrato. Assim, o caso é de improcedência do pedido ante a legalidade das arras impostas no contrato firmado entre as partes. III. DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo improcedente o pedido com fundamento no artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil. Diante do princípio da sucumbência, condeno a parte autora ao pagamento das custas e das despesas processuais e honorários advocatícios, estes fixados no valor de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) com fundamento na disposição contida no artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil, levando em conta o grau de zelo profissional, a matéria controvertida, o trabalho realizado e o tempo de duração do processo. O valor dos honorários advocatícios deverá ser monetariamente corrigido pelo INPC desde a data da publicação da 6
sentença e acrescido dos juros de mora (1% ao mês) a partir do trânsito em julgado até o efetivo pagamento. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Curitiba, 13 de abril de 2015. Marcelo Mazzali Juiz de Direito 7