Impetrante: Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva - SINAENCO S E N T E N Ç A

Transcrição

1 CLASSE Nº 2200 MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL Impetrante: Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva - SINAENCO Impetrado: Pregoeira das Centrais Elétricas de Rondônia CERON S E N T E N Ç A Trata-se de mandado de segurança coletivo, com pedido de liminar, ajuizado pelo SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE ARQUITETURA E ENGENHARIA CONSULTIVA - SINAENCO, qualificada nos autos, contra ato da PREGOEIRA DAS CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA - CERON, objetivando a anulação da licitação sob a modalidade de pregão eletrônico, tipo menor preço. Narra que o processo licitatório iniciado por ordem da autoridade impetrada, sob a modalidade de pregão eletrônico, é nulo em razão da incompatibilidade do pregão em face ao objeto do certame que visa a contratação de empresa projetista para elaboração de projetos básicos e executivos de subestações e linhas de distribuição de alta e média tensão do Sistema Eletrobrás Distribuição Rondônia. Sustenta que o art. 5º do Decreto n /2000, veda expressamente a realização de pregão para contratar serviços de engenharia e arquitetura. Decisão de fls. 342/345 deferindo a liminar. A autoridade coatora prestou informações à fls. 359/380, sustentando em preliminar o fato do impetrante já ter formulado representação junto ao TCU acerca do objeto dos autos, tendo referida representação sido indeferida. Sustenta ainda, a incompetência da Justiça Federal para examinar ato de empregado de sociedade de economia mista de direito privado. No mérito, alega que em 5/5/2010, com a publicação da Súmula n.257/2010 do TCU, a CERON começou a adotar a citada orientação a qual dispõe acerca da possibilidade de realizar a modalidade de pregão nas contratações de serviços comuns de engenharia, não tendo, Pág. 1/5

2 portanto, cometido nenhuma irregularidade ao adotar referida modalidade de licitação. Às fls.714/719, a CERON informou que a ordem judicial foi cumprida, bem como requereu a reconsideração da decisão. Despacho de fl. 721, indeferindo o pedido de reconsideração. O Ministério Público Federal opinou pela concessão da segurança (fls.740/746). FUNDAMENTAÇÃO. O presente mandamus foi ajuizado com o objetivo de anular licitação realizada sob a modalidade de pregão eletrônico, tendo como objeto a contratação de empresa projetista para elaboração de projetos básicos e executivos de subestações e linhas de distribuição de alta e média tensão do Sistema Eletrobrás Distribuição Rondônia, no valor previsto de R$ ,10 (cinco milhões, duzentos e quarenta e dois mil, quinhentos e quarenta e cinco reais e dez centavos). De início impende mencionar que a preliminar de incompetência da Justiça Federal já foi afastada, através da decisão de fls. 342/345, tendo-se firmado este juízo como competente. No tocante a alegação do indeferimento da representação realizada pelo impetrante junto ao TCU acerca do objeto dos autos, referida análise no âmbito do TCU não afasta do Judiciário a apreciação da matéria, sob pena de ferir o princípio da separação dos Poderes. Feitas estas considerações, passo a análise do mérito. De acordo com o Decreto n /2005, o qual regulamenta o pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços comuns, estipula em seu artigo 6º: Art. 6º A licitação na modalidade de pregão, na forma eletrônica, não se aplica às contratações de obras de engenharia, bem como às locações imobiliárias e alienações em geral. Pág. 2/5

3 No mesmo sentido, precedente ao citado decreto encontra-se a redação do art. 5º, do Decreto n /2000, o qual aprova o regulamento da licitação na modalidade pregão. Atento aos dispositivos normativos, a decisão de fls. 342/345, afastou a possibilidade do certame do modo como requerido pela impetrada. Torna-se oportuno transcrever o seguinte trecho da decisão: Analisando o pedido de liminar, verifico a plausibilidade do direito invocado, pois a modalidade de licitação do pregão eletrônico destina-se tão só à aquisição de bens e serviços comuns (art. 1º da Lei nº /2002), não se estendendo, portanto, aos serviços de engenharia, a teor do que prevê o art. 5º do Decreto n /2000, sujeitando-se às demais modalidades previstas na Lei n /93. Asseverou com propriedade o impetrante: a realização de pregão viola expressa disposição legal de norma regulamentar instituída pela chefia do poder executivo federal. Note-se ainda que o Decreto 3.555/2000, no Anexo II contempla uma relação de bens e serviços considerados comuns levando em conta sempre aqueles que são possíveis de padronização, o que não é o caso dos serviços de engenharia e arquitetura. Os decretos posteriores o modificaram, mas não revogaram a proibição legal contida no artigo 5º. Tampouco a lista do Anexo II, relativa aos serviços possíveis de contratação por pregão, onde não se inserem os licitados. Assim, a contratação de serviços de engenharia e arquitetura permanece vedada por meio de pregão por tratar de atividades essencialmente técnicas, intelectuais, exigindo trabalhos inovadores e não repetitivos, de cuja qualidade técnica depende diretamente os custos de execução e manutenção, os prazos e a segurança do investimento público. O perigo da demora encontra-se representado na possibilidade de prejuízo para o interesse público, uma vez que não se busca a proposta com melhor preço, mas também a que seja exequível, evitando-se, com isso, possíveis danos ao Pág. 3/5

4 erário público. Ademais, Impende mencionar que a modalidade de licitação denominada pregão somente se destina à aquisição de bens e serviços comuns, considerando-se estes como aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais do mercado (art.1º e parágrafo único da Lei n /2002; art.1º e art.2º, 2º, do Decreto n /2005). Ocorre que o objeto do certame visa a elaboração de projetos básicos e executivos de construção civil, montagem eletromecânica, dos sistemas de medição, proteção, comando, controle e automação digital; e levantamentos topográficos e cadastrais, bem como a elaboração dos projetos básicos e executivos, das seguintes linhas de distribuição de alta e média tensão (itens e do edital n. 53/2011). Com efeito, referidos serviços não se coadunam como serviços comuns, mas como serviços essencialmente técnicos, conforme disposto no inciso I do art. 13 da Lei n /1993. Como bem asseverou a ilustre representante do Ministério Público Federal: Não se deve perder de vista que a Lei 8.666/93, em seu art. 13, inciso I, expressamente classifica como serviços técnicos profissionais especializados estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos. E, no seu artigo 46, determina que os tipos de licitação melhor técnica ou técnica e preço, ontologicamente incompatíveis com a modalidade pregão, serão utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral. Nesse sentido, tendo em vista que o objeto do certame não se caracteriza como serviço comum e ainda pelo fato de se caracterizar como serviço de engenharia, entendo que a licitação não pode ser realizada pela modalidade de pregão, devendo ser declara nulo o procedimento adotado pela impetrada. Pág. 4/5

5 DISPOSITIVO. Ante o exposto, CONCEDO a segurança vindicada para declarar nula a licitação realizada pela Eletrobrás Distribuição Rondônia, sob a modalidade de pregão eletrônico sob o n.53/ /STF e 105/STJ). Custas em reembolso e remanescentes pela impetrada. Sem honorários advocatícios (ex vi do art. 25 da Lei /2009 e das Súmulas Dê-se vista da sentença ao Ministério Público Federal. Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição (art. 14, 1º, da Lei nº /2009) pelo que, preclusas as vias impugnatórias, proceda-se à remessa dos autos ao egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Porto Velho/RO, 20 de março de Wagmar Roberto Silva Juiz Federal Pág. 5/5