Agravo de Instrumento n. 2012.002772-8, da Capital Relator: Des. Jaime Luiz Vicari AÇÃO COMINATÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. PLANO DE SAÚDE. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES. PRETENSÃO DE TRATAMENTO EM HOSPITAL EXPRESSAMENTE EXCLUÍDO DO CONTRATO. AUSÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. "A operadora de saúde não está obrigada a custear internação realizada em hospital não credenciado, mormente se o contrato celebrado entre as partes exclui de forma expressa a cobertura no referido estabelecimento" (Ap. Cív. n. 2010.026973-9, de Rio do Sul, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. em 9-6-2010). "A operadora de saúde que se compromete a prestar o serviço médico com profissionais credenciados, ou com a internação em estabelecimentos próprios ou conveniados, não está obrigada a reembolsar as despesas efetuadas pelo seu associado que se internou em hospital não conveniado, se essa hipótese não estiver prevista no contrato. Poderá estar, e isso será um motivo a mais para angariar clientes, mas, não estando, a extensão pretendida pelo autor extravasa o âmbito do que seria razoável exigir-se da operadora" (STJ, REsp. n. 267.530/SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. em 14-12-2000). Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n. 2012.002772-8, da comarca da Capital (5ª Vara Cível), em que é agravante Sônia Regina Gonzaga e agravada Unimed Grande Florianópolis - Cooperativa de Trabalho Médico: A Sexta Câmara de Direito Civil decidiu, por unanimidade, conhecer do recurso e desprovê-lo. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado em 15 de março de 2012, os Exmos. Srs. Des. Ronei Danielli e Stanley da Silva Braga. Florianópolis, 22 de março de 2012.
2 Jaime Luiz Vicari PRESIDENTE E RELATOR
3 RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento interposto pela autora Sônia Regina Gonzaga contra interlocutório que, em ação cominatória, indeferiu pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ao argumento de que era imprescindível a prova da negativa da ré UNIMED em arcar com o tratamento do qual necessita aquela. Alegou a agravante ser beneficiária do contrato de plano de saúde empresarial firmado entre a UNIMED de Florianópolis e a Associação dos Auditores Fiscais da Receita Estadual do Estado de Santa Catarina - AAFRESC, na categoria "Nacional K6 ambulatorial + apartamento". Disse que o plano contratado é um dos melhores disponíveis pela ré, ora agravada, e que lhe foi diagnosticado "tumor da cabeça do pâncreas", com sinais de acometimento das veias mesentéricas e junção espleno-mesentérico, o qual é extremamente agressivo e exige tratamento imediato. Acrescentou que pretende realizar o tratamento oncológico no Hospital do Câncer A. C. Camargo, por ser credenciado à UNIMED Paulistana, e que, no entanto, recebeu a informação segundo a qual o seu plano de saúde não daria direito a atendimento no referido nosocômio. Requereu, além do efeito suspensivo, a concessão da tutela antecipada para compelir a agravada a arcar com o tratamento, até alta definitiva, com o consequente conhecimento e provimento do agravo. O eminente Des. Rodolfo C. R. S. Tridapalli (fls. 136-142) indeferiu o pedido de efeito suspensivo, por entender, em síntese, que não estão evidenciados os pressupostos legais para a sua concessão. Contraminuta às fls. 149-154, e vieram os autos para julgamento. Este é o relatório.
4 VOTO Preenchidos os requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade recursal, o agravo é conhecido. Discute-se aqui o acerto ou desacerto da decisão interlocutória que indeferiu pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ao argumento de ausência de preenchimento dos requisitos constantes do artigo 273 do Código de Processo Civil. Destaca-se, de plano, que o agravo é desprovido. Explica-se. Inicialmente, não se olvida este Julgador da lamentável situação pela qual atravessa a agravante, portadora de "adenocarcinoma bem diferenciado invasivo" no pâncreas (fl. 71). Entretanto, o caso não diz respeito à restrição ou negativa de tratamento médico, mas sim ao local em que ele deve ser prestado. O contrato acostado ao feito (fls. 205-216), notadamente a cláusula sétima, espanca quaisquer dúvidas: "CLÁUSULA 7ª - Local da prestação dos serviços Os serviços ora contratados serão prestados pelos médicos cooperados e rede própria, contratada ou vinculada ao Sistema Nacional Unimed, excluídos da cobertura deste contrato os seguintes hospitais: [...] São Paulo (SP): Hospital Beneficência Portuguesa, Fundação Antônio Prudente - Hospital A. C. Camargo, Hospital Anchieta" (original sem grifos). Desse modo, frise-se, a agravada não está a impedir a agravante de tratar a enfermidade que possui. A propósito, as entidades com as quais a agravada possui convênio foram previamente cientificadas à agravante quando da assinatura do pacto. Fundamental registrar, ainda, as bem-lançadas palavras proferidas pelo eminente Des. Rodolfo C. R. S. Tridapalli (fls. 136-142), cujos fundamentos passam a integrar este decisum, especialmente os de fls. 139-141. Em que pese a agravante preferir se tratar no Hospital A. C. Carmargo, de São Paulo, assinala-se que também existem outros tantos nosocômios que, além de conveniados à agravada, podem auxiliar a agravante no combate e na cura da doença que possui. Não bastasse isso, não se vê nos autos documento apto a demonstrar que o tratamento da agravante somente pode ser efetuado naquela entidade hospitalar. Já decidiu este Tribunal: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. PLANO DE SAÚDE. PRETENDIDA A CONDENAÇÃO DA UNIMED AO CUSTEAMENTO DE INTERNAÇÃO REALIZADA EM HOSPITAL NÃO CREDENCIADO. IMPOSSIBILIDADE. AVENÇA QUE EXIGE ATENDIMENTO PRESTADO EXCLUSIVAMENTE POR PROFISSIONAL E ESTABELECIMENTO CONVENIADOS. DISPOSIÇÃO CONTRATUAL LÍCITA E NÃO ABUSIVA. DEVER DE INDENIZAR NÃO CONFIGURADO. INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. A operadora de saúde não está obrigada a custear internação realizada em
5 hospital não credenciado, mormente se o contrato celebrado entre as partes exclui de forma expressa a cobertura no referido estabelecimento (Ap. Cív. n. 2010.026973-9, de Rio do Sul, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. em 9-6-2010). Nesse sentido: Ap. Cív. n. 2006.035489-1, de Balneário Camboriú, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. em 19-11-2010; Ap. Cív. n. 2008.022257-6, de Brusque, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. em 29-9-2008. Ao arremate, agora do Superior Tribunal de Justiça: A operadora de saúde que se compromete a prestar o serviço médico com profissionais credenciados, ou com a internação em estabelecimentos próprios ou conveniados, não está obrigada a reembolsar as despesas efetuadas pelo seu associado que se internou em hospital não conveniado, se essa hipótese não estiver prevista no contrato. Poderá estar, e isso será um motivo a mais para angariar clientes, mas, não estando, a extensão pretendida pelo autor extravasa o âmbito do que seria razoável exigir-se da operadora (REsp. n. 267.530/SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. em 14-12-2000). Ademais, não há nos autos documento apto a demonstrar a imprescindibilidade de que o tratamento seja feito somente na entidade de saúde pretendida, pelo que falece a prova inequívoca da verossimilhança de suas alegações. Assim sendo, vota-se por conhecer do apelo e desprovê-lo. Este é o voto.