A IMPLANTAÇÃO DE HORTA ORGÂNICA COMO INSTRUMENTO PARA A FORMAÇÃO DE ALUNOS PARTICIPATIVOS



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Transcrição:

A IMPLANTAÇÃO DE HORTA ORGÂNICA COMO INSTRUMENTO PARA A FORMAÇÃO DE ALUNOS PARTICIPATIVOS 1 AMARAL, Anelize Queiroz; 2 JUNIOR, Élio Jacob H.; 2 SADRAQUE, Caetano; 1 MIGUEL,, Kassiana & 2 LARA, Juliete Gomes ¹ Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Docente do curso de Ciências Biológicas. ² Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Acadêmicos de Ciências Biológicas. RESUMO A Agenda 21 recomenda em seu capítulo 36, que trata da promoção do ensino e da sensibilização pública, a reorientação do ensino para o desenvolvimento sustentável. Pensar globalmente, mas agir localmente é o mote para as ações a serem desenvolvidas também no âmbito escolar. Nesse sentido foi desenvolvido um projeto de implantação de uma horta orgânica na disciplina de Ciências, envolvendo 62 alunos das 5 séries do ensino fundamental de um a escola localizada num município do oeste do estado do Paraná. O projeto, dentro dos princípios da educação ambiental, teve como objetivo ampliar o espaço educacional para além das salas de aula, visando uma maneira de os alunos vivenciarem, simultaneamente, teoria e prática, e participarem ativamente do processo de ensino e aprendizagem. Antes de iniciar o projeto, os alunos responderam a um questionário, que teve por objetivo verificar as expectativas dos mesmos com relação à implantação de uma horta no ambiente escolar. Os dados foram submetidos à uma análise quanti-qualitativa. O projeto contemplou a instalação de dois canteiros, com a produção de diversas hortaliças que, posteriormente, foram aproveitadas na alimentação dos alunos e uma composteira que passou a reaproveitar o lixo orgânico gerado pela merenda escolar. Dessa forma a horta constituiu-se num laboratório vivo que possibilitou o desenvolvimento de diversas

atividades pedagógicas em educação ambiental, unindo teoria e prática de forma contextualizada e divertida para os alunos, além de estreitar relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperativo entre alunos, professores e toda a comunidade escolar. Foram trabalhados conteúdos relacionados a importância de cada ser vivo na cadeia alimentar, horticultura orgânica, propriedades físicas, químicas do solo e água, vegetação, compostagem, formas de consumo dos alimentos, relação campo-cidade e discussões acerca da Agenda 21. Podem-se destacar outras conquistas como a diminuição da indisciplina em sala de aula, interesse e participação ativa dos alunos na construção do conhecimento. PALAVRAS - CHAVE: Educação Ambiental, Trabalho com projetos, Horta escolar. INTRODUÇÃO A educação ambiental efetivou-se como uma preocupação no âmbito da educação mundial a partir do final dos anos 60, há mais ou menos três décadas. Ao lançarmos um olhar sobre a evolução da humanidade, percebe-se que o homem, ao longo dos tempos, colocou em ação sua capacidade de construir tecnologias que levasse a sua emancipação social e econômica, por outro lado, provocou uma cadeia de modificações no espaço natural, tornando-se, consequentemente, um gerador de transformações no meio. É fundamental o surgimento de uma nova percepção da realidade, que promova revitalização das comunidades educativas, comerciais, políticas, de assistência à saúde e da vida cotidiana, de modo que os princípios ambientais se manifestem como princípios de educação, de administração e de política (CAPRA, 1994).

Dessa forma, o âmbito educacional como espaço de construção e socialização de conhecimentos tem o papel essencial de formar cidadãos comprometidos com os problemas do mundo no qual habitam. O que pode ser evidentemente compreendido nas leituras da Agenda 21: [...] a Agenda 21 é um processo voltado para a identificação, implementação, monitoramento, ajuste de um programa de ações e transformações, em diversos campos da sociedade. Trata-se de um processo que resgata a raiz básica ao planejamento, ao apontar para cenários desejados e possíveis, cuja concretização passa pela pactuação de princípios, ações e meios entre os diversos atores sociais, no sentido de aproximar o desenvolvimento de uma dada localidade, região ou país, aos pressupostos e princípios da sustentabilidade do desenvolvimento humano. Portanto, deve ser um processo público e participativo, em que haja o envolvimento dos vários agentes (BORN, 1998, p.11). De acordo com Wojciechowski (2006), a educação ambiental surge como uma necessidade das sociedades contemporâneas, uma vez que as questões socioambientais têm sido cada vez mais discutidas e abordadas pelos vários segmentos da sociedade, em decorrência da gravidade da degradação do meio natural e social. De acordo com a autora a sistematização destas discussões na escola é uma maneira de oportunizar, aos professores e educandos, uma reflexão crítica da realidade, desde o nível local ao global. Recorrendo a Panachao (2008, p.1), o autor destaca que: [...] uma das metas básicas da Educação Ambiental é lograr que as pessoas e as comunidades compreendam o caráter complexo do meio ambiente natural e artificial, resultante da inter-relação de seus aspectos biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, as atitudes e as aptidões que permitam participar, de forma responsável e eficaz, do trabalho de preservação e resolução de problemas ambientais, e na gestão apropriada ao meio ambiente.

Portanto, a educação Ambiental deve promover os subsídios necessários para a compreensão da complexidade ambiental, por meio de uma integração das diferentes disciplinas e experiências educativas, a fim de proporcionar uma visão mais integrada do meio ambiente, e fomentar valores éticos, econômicos e culturais. Para Dias (1994, p. 64): [...] valores esses que favoreçam o desenvolvimento de comportamentos compatíveis com a preservação e melhoria do meio ambiente, assim como uma ampla gama de habilidades práticas necessárias à concepção e aplicação de soluções eficazes aos problemas ambientais. Destaca-se ainda a necessidade dos currículos serem compreendidos de forma ampla, dinâmica e flexível, sendo necessário criar uma alternativa de ensino que esteja ligada a realidade dos sujeitos envolvidos e que promova a construção e participação efetiva dos alunos no processo de ensino e aprendizagem (KRAMAER, 1997). De acordo com o contexto é necessário deixar de ver a educação ambiental como um tema a ser trabalhado pontualmente para entendê-la como uma prática pedagógica cotidiana. Promover uma prática de ensino, onde professores e alunos tenham a oportunidade de desenvolver trabalhos de intervenção na realidade e no cotidiano escolar é uma forma de estar ensinando e, ao mesmo tempo, formando alunos reflexivos; já que ao estar no ambiente escolar, pode-se estar discutindo e refletindo sobre problemáticas que nessa realidade se apresentam (JUSTINA et al., 2005). De acordo com Marques (1997), ao participar de um projeto o aluno está envolvido em uma experiência educativa, em que o processo de construção do conhecimento está integrado às práticas vividas, esse aluno deixa de ser nessa perspectiva apenas um aprendiz.

A maneira de conceber o ensino através do trabalho com projetos, tem como ponto de partida os questionamentos e interesses dos educandos, estes levados ao campo ambiental, podem ultrapassar diversas barreiras, que muitas vezes estão cristalizadas na concepção de não se sentirem como partes integrantes do meio ambiente. Recorrendo a Minini-Medina (1997), o fato de os docentes levarem ao âmbito escolar uma preocupação com aspectos da vida dos educandos é algo positivo, considerando que a educação ambiental se tornará mais efetiva se tiver relação com a vida dos mesmos. Sendo assim, o projeto buscou estimular nos educandos mudanças de atitudes diárias, entre elas proporcionar o respeito entre os seres humanos e os demais seres vivos, promover hábitos de alimentação saudável e um trabalho coletivo por meio de uma prática prazerosa e significativa no processo de ensino e aprendizagem para esses educandos, a implantação de uma horta orgânica no espaço escolar. DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento do projeto ocorreu em um colégio público do oeste do PRno decorrer da disciplina de Ciências com duas turmas de 5 séries do período da tarde. A idéia de implantar a horta surgiu a partir de várias necessidades, dentre elas destacam-se: a necessidade de uma prática pedagógica que despertasse um maior envolvimento e responsabilidade por parte dos alunos, pois a questão da indisciplina é uma das principais problemáticas discutidas no colégio em questão, além da urgência de encontrar uma temática que possibilitasse a valorização do ambiente escolar.

Para a efetivação do trabalho primeiramente os alunos responderam um questionário que teve por objetivo verificar o interesse e expectativas dos mesmos com relação à implantação de uma horta no ambiente escolar. Após essa análise, deu-se inicio as seguintes etapas: a) Primeiramente, efetivou-se a construção de um espaço denominado composteira, onde foi utilizado como matéria prima o resto dos alimentos da escola, além dos resíduos da poda dos jardins; b) Num segundo momento, desenvolveram-se diversas reflexões em sala de aula sobre os conteúdos voltados ao trabalho (cadeias alimentares; propriedades químicas e físicas do solo e da água; vegetais; técnicas de cultivo, produção de adubo orgânico e desequilíbrios ambientais); c) Num terceiro momento, os alunos discutiram acerca da diversidade de hortaliças que gostariam de plantar; d) Em seguida, dividiu-se o trabalho a ser executado pelos diferentes grupos (preparar a terra, peneirá-la, misturar o adubo, plantar, regar e retirar espécies invasoras). Todas as etapas foram acompanhadas de discussões e reflexões sobre diversos conceitos necessários para a efetivação dessa prática e uma maior interação homem-natureza. RESULTADOS E DISCUSSÒES Ao analisar os questionários que foram aplicados antes do desenvolvimento do projeto de trabalho, verificou-se que 100% dos alunos consideraram de grande importância a implantação de canteiros de hortaliças no colégio, como mostra algumas falas abaixo: acredito que sim, pois além da escola dar o exemplo, teríamos contato com o tema e a prática, aprendendo mais dessa forma. isso irá promover o contato com o ambiente possibilitando também uma alimentação com vegetais mais saudáveis. estaria estimulando o consumo de alimentos saudáveis para uma

melhor qualidade de vida no recreio. porque além de ocupar um local na escola que não esta sendo utilizado pode trazer benefícios a nossa saúde, como o lanche na escola. Os depoimentos indicam que os alunos acreditam que a horta pode tornar-se um grande recurso didático para os professores, pois estimularia os alunos à consumirem alimentos saudáveis e à compreenderem a importância do ambiente e seus cuidados. Quando indagados acerca dos conteúdos que poderiam aprender no decorrer da construção da horta, obtivemos os seguintes resultados: do total de alunos, 25% deles responderam plantas e solo ; 24% dos alunos citaram decompositores e húmus ; 9% deles enfatizaram as cadeias alimentares ; 2% dos alunos citaram ajudar a natureza e os demais generalizaram diversos conteúdos. Após essa análise, a professora desenvolveu diversas temáticas com os alunos referentes aos conteúdos teóricos, dentre eles o conteúdo sobre cadeia alimentar no processo de construção da composteira. Nesse momento, ressaltou-se a importância de cada ser vivo na manutenção do meio ambiente. Com a implantação dos canteiros discutiu-se temas relacionados ao solo; necessidades dos vegetais; desenvolvimento vegetal; técnicas agrícolas; elementos inorgânicos e alimentos orgânicos, além de conteúdos relacionados à manutenção do equilíbrio ecológico e a importância da Agenda 21. Foi possível trabalhar os diversos conteúdos relacionando-os com a prática cotidiana desses alunos, o que permitiu maior envolvimento e prazer dos alunos no contexto da aprendizagem. Além do que, os alunos puderam tirar dúvidas no momento do desenvolvimento de cada atividade e aprender com os erros cometidos. Portanto, é importante destacar a importância do projeto como um facilitador da aprendizagem, como descrito pelos alunos:

não conseguia imaginar as minhocas como seres importantes para o meio ambiente, depois de ver a professora mostrando passei a entender, legal né. gostei de saber que posso usar o resto da comida para fazer adubo, lá em casa não tem bichos para dar o resto, agora já podemos usar para alguma coisa. as aulas na sala eram muito chatas, hoje quando a professora fala que vamos à horta todos fazem silêncio para que ela não mude de ideia. as aulas são mais legais dessa forma e fica mais fácil de aprender compreendi que meio ambiente não é só plantas e animais, nós fazemos parte disso tudo, da sua manutenção. Com a implantação da horta no âmbito escolar foi possível desenvolver inúmeras atividades promovendo dessa forma um projeto de trabalho que contemplou teoria e prática, envolvendo os alunos de forma dinâmica e prazerosa. Deve-se destacar, ainda, o fato de o projeto sobre a horta ter auxiliado na diminuição da indisciplina na sala de aula. Os alunos demonstraram ter maior envolvimento e responsabilidade, e à todo momento perguntavam professora qual a dupla que vai regar a horta hoje ; qual a dupla que deve pegar na cozinha o lixo orgânico e levar até a composteira, tirando dessa maneira a atenção para conversas paralelas e comportamentos inadequados em sala de aula. No entanto, existem obstáculos que tornam difícil o desenvolvimento de um projeto sobre horta, devendo ser superados com criatividade e muita disposição por parte dos educadores. Um dos maiores obstáculos é o da horta ser concebida, essencialmente, como espaço de produção de hortaliças, em detrimento da inserção de conhecimentos e atividades educativas aos alunos.

REFERENCIAS BORN, R. Caminhos, descaminhos e desafios da Agenda 21 brasileira. Debate sócio ambiental. São Paulo, v.4, 1998-1999. CAPRA, F. (1994) A teia da vida. São Paulo: Cultrix. DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1994. JUSTINA, L. A. D ; FERRAZ, D.F ; POLINARSKI, C.A.P ; AMARAL, A.Q. Formação inicial de professores de Ciências Biológicas: Uma experiência com o método de projetos. In: Atas V ENPEC, São Paulo, Bauru: 2005. KRAMER, S. Propostas pedagógicas ou curriculares: subsídios para uma leitura crítica. Educação & Sociedade, v.18, n.60, 1997. MARQUES, M. O. A formação do professor da educação. 2. ed. Ijuí: Editora Unijui, 1997. MININNI-MEDINA, N. Breve histórico da educação ambiental. In: PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Ipê: Instituto de pesquisas ecológicas. Brasília, 1997. PANACHÃO, E.I. Experiência de implementação de horta orgânica em unidade de ensino não-formal na zona norte de Londrina - PR. Anais do XI EPEA, Londrina- PR, 2007. WOJCIECHOWSKI, T. (2006). Projetos de Educação Ambiental no Primeiro e no Segundo Ciclo do Ensino Fundamental: Problemas Socioambientais no Entorno de Escolas Municipais de Curitiba. Dissertação Programa de Pós- Graduação em Educação Setor de Educação da Universidade Federal do Rio Grande: Curitiba.