ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS EM SAÚDE LUIS ALFREDO GÓMEZ VIEIRA

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Transcrição:

0 ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS EM SAÚDE LUIS ALFREDO GÓMEZ VIEIRA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ARTROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA MULTISLICE E ARTROSCOPIA NA AVALIAÇÃO DAS LESÕES DO MANGUITO ROTADOR DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SALVADOR 2018

1 LUIS ALFREDO GÓMEZ VIEIRA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ARTROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA MULTISLICE E ARTROSCOPIA NA AVALIAÇÃO DAS LESÕES DO MANGUITO ROTADOR Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação Stricto Sensu em Tecnologias em Saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Tecnologias em Saúde. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antônio Almeida Matos SALVADOR 2018

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4 INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública EBMSP Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro Serviço de Bioimagem do Hospital Português / Clínica Delfin

Dedico este trabalho a Nosso Senhor Jesus Cristo, à Virgem Maria, à minha esposa Gisele, minhas filhas Beatriz e Nicole, meus irmãos Maria Iracema, Gerardo e José Pedro, minha tia-mãe Ignez, a Emma e a meu pai Nicolas Gerardo por estarem sempre do meu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. 5

6 AGRADECIMENTOS Ao Hospital Português da Bahia que nos permitiu realizar e filmar as cirurgias artroscópicas, envolvidas no meu trabalho, com o consentimento dos pacientes. Ao Serviço de Bioimagem da Clínica Delfin que nos permitiu direcionar os nossos pacientes para a realização dos exames de imagem de acordo com o nosso protocolo de pesquisa. Aos meus colegas do Mestrado Acadêmico em Tecnologias em Saúde pelo companheirismo sempre presente e predisposição para estar numa ajuda mútua constante. A Profa. Dra. Marta Silva Menezes pelas ajudas/orientações no processo de submissão do meu trabalho na Plataforma Brasil. Ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Marcos Antônio de Almeida Matos, que desde o início do trabalho sempre se manteve atento e à disposição para me prestar valiosas orientações. Ao meu pai, amigo e ídolo, Nicolas Gerardo, por ser o meu grande mestre incentivador/orientador na vida profissional e pessoal com exemplos de conduta que hoje me inspiro para buscar ser um cidadão de valor e pai melhor para minhas filhas Beatriz e Nicole. A minha amada esposa Gisele em quem nem todas as páginas deste trabalho seriam suficientes para expressar todo o meu amor e admiração que lhe tenho. Mãe e esposa exemplar sempre manteve total e irrestrito apoio às minhas atividades e inspirações.

7 RESUMO INTRODUÇÃO.As lesões que afetam o manguito rotador estão entre as mais frequentes causas de dor no ombro. A artrotomografia computadorizada multislice (artrotcms) possibilita a obtenção de imagens diagnósticas, multiplanares e reconstruções tridimensionais do ombro tendo a grande vantagem de ter um menor custo e rápida realização com menor desconforto para o paciente se comparado com o exame de ressonância magnética, no entanto, estudos científicos são necessários para a confirmação da eficácia da aplicação da artrotcms na avaliação da lesão do manguito rotador do ombro.objetivo.comparar os achados por imagem das alterações anatômicas da artrotomografia computadorizada multislice com os achados artroscópicos na avaliação das lesões do manguito rotador do ombro.metodologia. Feito estudo longitudinal, prospectivo, comparativo de acurácia diagnóstica entre junho de 2016 a junho de 2017, em pacientes de ambos sexos com idade entre 40-70 anos com lesão dos tendões do manguito rotador do ombro. Após a realização da artrotcms, todos os pacientes foram submetidos a artroscopia. Com a artroscopia considerada como exame padrão-ouro, utilizando o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 21, para a obtenção dos resultados foram determinados os seguintes parâmetros: sensibilidade, especificidade, acurácia, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo e kappa contrapondo o método de imagem (artrotcms) com a artroscopia. RESULTADOS. As variáveis clínicas observadas nos pacientes incluíram claustrofobia, doenças cardiovasculares, presença de implantes metálicos e comorbidades diversas. A anormalidade mais comum visualizada na artroscopia foi a lesão do tendão do músculo supraespinalevidente, também, em todos os casos deste estudo na artrotcms. Em 27 pacientes, a artroscopia detectou lesões do maguito rotador. Já a artrotcms demonstrou no estudo a identificação da lesão em 20 pacientes.conclusão.a artrotcms mostrou-se eficaz na avaliação das lesões do manguito rotador com resultados semelhantes aos da artroscopia podendo ser utilizada como um exame imagenológico alternativo de eleição no diagnóstico daslesões do manguito rotador do ombro. Palavras-chaves: Ombro. Manguito Rotador. Artroscopia. Artrotomografia Computadorizada Multislice.

8 ABSTRACT INTRODUCTION. Lesions that affect the rotator cuff are among the most frequent causes of shoulder pain. "Multislice" computerized arthrotomy (MCA) makes it possible to obtain diagnostic and multiplanar images and three-dimensional reconstructions of the shoulder, having the great advantage of having a lower cost and faster realization with less discomfort for the patient when compared to MRI in the However, scientific studies are needed to confirm the efficacy of artrotcms in the evaluation of shoulder rotator cuff lesion. OBJECTIVE. To compare the imaging findings of the anatomical alterations of the "multislice" computerized arthrotomy with the arthroscopic findings in the evaluation of the rotator cuff lesions of the shoulder. METHODOLOGY. Made a longitudinal, prospective, comparative study of diagnostic accuracy between June 2016 and June 2017 in patients of both sex aged 40-70 years with shoulder rotator cuff tendon injury. After MCA, all patients underwent arthroscopy. In order to obtain the results, the following parameters were determined: sensitivity, specificity, accuracy, positive predictive value, negative predictive value and kappa by contrasting the imaging method (MCA) with arthroscopy. RESULTS. The clinical variables observed in the patients included claustrophobia, cardiovascular diseases, presence of metallic implants and diverse comorbidities. The most common abnormality visualized in arthroscopy was evident supraspinal muscle tendon injury, also, in all cases of this study in MCA. In 27 patients, arthroscopy detected rotator cuff lesions. In contrast, MCA demonstrated the identification of the lesion in 20 patients. CONCLUSION. MCAwas shown to be effective in evaluating rotator cuff lesions with results similar to those of arthroscopy and could be used as an alternative imaging exam of choice in the diagnosis of rotator cuff lesions of the shoulder. Keywords: Shoulder. Rotator Cuff. Arthroscopy. Multislice Computerized Arthrotomography.

9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Lesão do supraespinal. A- corte coronal da artrotcms (seta vermelha); B- visãoartroscópica subacromial (seta branca - tendão supraespinal;seta preta tuberosidade maior do úmero).... 29 Figura 2 - Lesão transfixante do tendão supraespinal. A- cortesagital da artrotcms (seta); B- visão artroscópica intra-articular(seta).... 30 Figura 3 - Lesão parcial do tendão subescapular. A- corte axial daartrotcms (seta); B- visão artroscópica intra-articular (seta).... 30

10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Quadro comparativo entre os diferentes exames de imagem quanto à avaliação músculoesquelética... 19 Tabela 2 - Variáveis sócio-demográficas e clínicas dos pacientes... 27 Tabela 3 - Lesões encontradas na artrotcms e na artroscopia... 28 Tabela 4 - Características das lesões encontradas na artrotcms e na artroscopia... 29 Tabela 5 - Achados associados às lesões do manguito rotador na artrotcms e artroscopia.... 31 Tabela 6 - ArtroTCMS sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN), acurácia e Kappa (%)... 32

11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLA ArtroRM Artrorressonância magnética ArtroTC Artrotomografia computadorizada ArtroTCMS Artrotomografia computadorizada multislice cm Centímetro ga Gauge GE General eletric Kg Quilograma m Metro ml Mililitro mm Milímetro RM Ressonância magnética Rx Raio X TC Tomografia computadorizada TCMS Tomografia computadorizada multislice USG Ultrassonografia

12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 2 OBJETIVO... 14 3 REVISÃO DA LITERATURA... 15 3.1 Prevalência e história natural... 16 3.2 Etiologia... 16 3.3 Quadro clínico... 17 3.4 Classificação... 18 3.5 Diagnóstico por imagem... 18 3.6 Tratamento... 22 4 METODOLOGIA... 23 4.1 Desenho do estudo e seleção da população... 23 4.2 Critérios de elegibilidade... 23 4.2.1 Critérios de inclusão... 23 4.2.2 Critérios de exclusão... 23 4.3 Métodos... 24 4.3.1 Avaliação ortopédica... 24 4.3.2 Técnica de realização do exame de artrotcms... 24 4.3.3 Técnica da artroscopia... 25 4.3.4 Análise estatística... 25 5 RESULTADOS... 27 6 DISCUSSÃO... 33 APÊNDICES... 47 ANEXOS... 52

12 1 INTRODUÇÃO As lesões que afetam o manguito rotador estão entre as mais freqüentes causas de dor no ombro, com probabilidade de gerar marcante impotência funcional (1-3). Estas lesões representam um espectro de doenças que vão desde tendinite aguda até lesão maciça, comprometendo todos seus componentes anatômicos. Além de alta prevalência global, que varia de 7 40%, sabe-se também que esta desordem aumenta em proporção direta com o avançar da idade (4). O manguito rotador atua para estabilizar dinamicamente e equilibrar a cabeça do úmero em relação à glenóide, enquanto que o grupo muscular axial (deltóide e peitoral maior) age para mover o úmero: a ruptura do manguito rotador pode levar facilmente à perda da função do ombro (5,6) em variados graus. Com o aumento da expectativa de vida da população, os indivíduos desejam viver com qualidade de vida, livres de dor e capazes de realizar ampla gama de atividades físicas, incluindo esportivas e de vida diária. Desta forma, uma articulação do ombro com normalidade funcional adequada assume cada vez importância maior do que se supõe para a percepção de bem estar (7). A idade do paciente, os sintomas e o nível de atividade influenciam diretamente no tratamento, assim como também a presença de outras anormalidades associadas, tais como lesões labrais, de cartilagem e ósseas (8-10). Por este motivo, o tratamento e especialmente o diagnóstico de tais lesões, tem se tornado cada vez mais complexo e cada dia mais importante. O exame de ressonância magnética (RM), na avaliação do manguito rotador, é considerado o exame de imagem padrão-ouro em comparação com os demais métodos de diagnóstico por imagem. Trata-se de um exame que decorre da captação de ondas eletromagnéticas para a definição de imagens do corpo humano (11). Algumas sequências durante o exame, entretanto, tornam a ressonância magnética relativamente demorada, o que acaba se tornando um problema relativamente sério naqueles pacientes com traços de comportamento claustrofóbico ou, de fato, claustrofóbicos. Além disso, pacientes que são portadores de implantes metálicos podem ter contra-indicação de realização deste exame. Alteração do funcionamento de marca-passo cardíaco ou mesmo deslocamento de clipes cerebrais e implantes ortopédicos são exemplos deste tipo de

13 preocupação. Entretanto, com a tecnologia da TC multislice é possível a aquisição de imagens de alta qualidade com grande cobertura anatômica e pequeno intervalo de tempo (segundos) o que na avaliação do sistema musculo-esquelético é altamente benéfico (12). Trata-se de um exame de imagem com vantagens são significativas na avaliação, por exemplo, de pacientes com implantes metálicos e obesos (13). Assim, em virtude da inexistência, até o momento, de um exame imagenológico alternativo de eleição no diagnóstico da lesão do manguito rotador do ombro, a proposta desta pesquisa foi comparar a eficácia da artro-tomografia computadorizada multislice (artrotcms) na lesão do manguito rotador do ombro em um grupo de pacientes com contra-indicação relativa ou absoluta para o exame de ressonância magnética. Comparando os achados por imagem das alterações anatômicas da artrotcms com os achados artroscópicos na avaliação das lesões do manguito rotador do ombro. Entendemos que nosso estudo poderá mostrar uma boa correlação da artrotcms com a artroscopia ao acessar a lesão do manguito rotador e, assim sendo, determinar as características desta lesão permitindo uma melhor definição terapêutica para o paciente.

14 2 OBJETIVO Comparar os achados por imagem das alterações anatômicas da artrotomografia computadorizada multislice com os achados artroscópicos na avaliação das lesões do manguito rotador do ombro.

15 3 REVISÃO DA LITERATURA O ombro é uma articulação que tem como função uma ampla mobilidade do membro superior. Sendo uma articulação que não sustenta o peso corporal (fora do eixo central do corpo humano), a articulação glenoumeral é acometida, com frequência, por diferentes tipos de lesões. Dentre elas, as lesões do manguito rotador que estão presentes em indivíduos de todas as idades. O manguito rotador surge da escápula sendo formado por um grupo muscular (4 músculos) cujos tendões se prendem nas tuberosidades do úmero proximal. O músculo subescapular se origina na face anterior da escápula e se insere na tuberosidade menor. O músculo supraespinal se origina na fossa supraespinal da escápula e se insere na região anterior da tuberosidade maior. Já o músculo infraespinal, se origina na fossa infraespinal da escápula e se insere na região póstero-lateral da tuberosidade maior. E, finalmente, o músculo redondo menor se origina na face inferior da escápula e se insere na região inferior da tuberosidade maior. Os tendões destes quatro músculos permitem realizar uma série de movimentos rotacionais do úmero contrapondo-se às forças musculares dos músculos deltoide e peitorais maior e menor. Em todo arco de flexo-abdução do ombro, os músculos do manguito rotador estão ativos gerando um efeito compressivo da cabeça umeral contra a glenóide (14). A biomecânica do manguito rotador permite a centralização da cabeça umeral na glenóide e leva a uma força de rolamento desta no momento da elevação anterior com um deslizamento inferior. Isto impede o atrito entre a cabeça umeral e o manguito rotador e o arco coracoacromial (15). As lesões que afetam o manguito rotador estão entre as mais frequentes causas de dor no ombro, merecendo atenção cada vez maior no diagnóstico e tratamento, sendo considerado hoje patologia que exige equipe multi-disciplinar (16,17). Muitos autores entendem que uma das causas mais comuns de dor e impotência funcional no ombro são as lesões do manguito rotador (2,3,18).

16 3.1 Prevalência e história natural A prevalência das lesões do manguito rotador varia de 7% a 72% dependendo do estudo (19, 20). Em estudo na população coreana, os autores encontraram uma menor prevalência das lesões assintomáticas do que a esperada (4,7%) percebendo um aumento nos indivíduos com mais idade e nos diabéticos e fumantes (21). Já um estudo japonês, estudando 664 moradores de uma vila demonstrou que a prevalência na população em geral foi de 22,1% aumentando, também, com a idade avançada (22). De fato, percebemos que a idade avançada parece ter uma relação direta com a incidência de alterações do manguito rotador. Teunis et al., em uma revisão sistemática envolvendo 30 estudos, avaliou 6112 ombros observando que as anormalidades no manguito rotador variou de 9,7% em pacientes com menos ou igual a 20 anos de idade a 62% em paciente com 80 ou mais anos de idade (23). Nos Estados Unidos da América, cerca de 4,5 milhões de indivíduos procuram assistência médica por conta de lesões do manguito rotador por ano (24). Apenas neste país, de acordo com Abdul-Wahab et al., bilhões de dólares são gastos para custear o tratamento das desordens do manguito rotador e ainda hoje há pouca informação em relação à sua história natural (25). Quanto à história natural destas patologias, em um estudo controlado, durante dois anos, de lesões articulares do supraespinal por artrografia, Yamanaka e Matsumoto observaram que 10% das lesões desapareceram, 10% diminuíram e 80% aumentaram ou evoluíram para lesão completa (26). Já um estudo israelense, acompanhou 51 pacientes (61 lesões do manguito) com idade igual ou menor que 60 anos, durante dois a três anos, que cursavam com rotura completa do manguito rotador tratados de forma conservadora (sem cirurgia) e observou que entre 49% e 60% das lesões do manguito rotador aumentaram de tamanho ao longo do tempo (27). 3.2 Etiologia Quanto à etiologia, uma série de fatores pode causar tendinopatias no manguito rotador desde mecanismos intrínsecos, como alteração na vascularização e degeneração tendínea, a mecanismos extrínsecos como trauma. No entanto, é crescente a evidência de que os fatores intrínsecos tem

17 uma maior influência neste processo (28). No entanto, vale ressaltar que muitos autores demonstraram a grande influência do tabagismo nas lesões do manguito rotador afetando a sua vascularização com consequente aumento da necessidade de procedimentoscirúrgicos (29-31). O termo zona crítica definido por Moseley e Goldie em 1963, define uma área de vascularidade diminuída próxima à inserção do tendão supraespinal na tuberosidade maior (32). Um maior interesse por esta região deve-se a que esta zona corresponde ao local mais comum de lesões no manguito rotador sendo que este déficit vascular é agravado quando o tendão é colocado em tensão (33). Com orientações respeitadas até o presente momento e como norteador de conduta, historicamente, Codman em 1934 estabeleceu condições, sinais e sintomas que indicariam uma rotura completa do tendão do músculo supraespinal: ocupação (trabalhador braçal), idade acima de 40 anos, dor noturna severa, diminuição da força de elevação do braço, exame de raio X normal, dentre outros. Segundo este autor, a combinação destes achados sugere a necessidade de correção cirúrgica imediata e que o retardo neste procedimento significaria uma maior retração do tendão com uma piora do problema (34). 3.3 Quadro clínico De acordo com o quadro clínico, de um modo geral, os pacientes se apresentam clinicamente com dor no ombro e diminuição da força nas atividades exercidas com o membro superior elevado acima da cabeça, mas, também podem cursar com efusão articular e pseudoparalisia do ombro nos casos mais graves (35). Além disso, as atividades de vida diárias ficam limitadas nos pacientes com lesões no manguito rotador; eles evoluem com dor noturna no ombro e fraqueza muscular no movimento de elevação do braço (36). Apenas 10% a 20% das lesões intrasubstanciais do manguito rotador cicatrizam sem cirurgia enquanto que nenhuma lesão completa cicatriza espontaneamente. Estas lesões impactam na qualidade de vida dos pacientes em termos de dor, força, amplitude de movimento e atividades exercidas com o membro superior elevado acima da cabeça como também da sua biomecânica (37,38).

18 Existem alguns testes específicos para avaliar os tendões do manguito rotador como, por exemplo, o teste de Jobe que avalia a integridade do tendão do músculo supraespinal, o teste de Patte que estuda a integridade do tendão do músculo infraespinal e o teste de Gerber que pesquisa o status do tendão do músculo subescapular (39). Na avaliação do manguito rotador, os testes correntes de exame físico para este grupo muscular tem uma acurácia diagnóstica baixa. Além disso, a infiltração gordurosa que é um importante fator de prognóstico nas lesões do manguito rotador, não pode ser apreciada. Assim, os exames de ressonância magnética, artro-tomografia computadorizada e ultrassonografia são modalidades radiológicas usadas na avaliação destas estruturas com bons achados assim como os achados artroscópicos (40,41). 3.4 Classificação As lesões do manguito rotador tem diferentes classificações como, por exemplo, parcial (quando apenas parte do manguito rotador está lesionado) ou total (quando acomete toda espessura do tendão), aguda ou crônica e traumática (oriunda, por exemplo, de episódios como queda ao solo) ou degenerativa (características de desgaste tendíneo de evolução natural pela idade do indivíduo) (42,43). Tem, também, aquelas baseadas pela sua fisiopatologia classificação de Neer (baseada na evolução da lesão do manguito rotador) (44) e pelo diagnóstico artroscópico classificação de Ellman (45) e classificação de Snyder el al (46) onde a lesão do tipo A indica que a lesão parcial é na superfície articular, o tipo B indica que a lesão parcial se encontra no lado bursal do manguito rotador (extra-articular) e o tipo C indica que a lesão é completa. 3.5 Diagnóstico por imagem Quanto ao diagnóstico por imagem, diferentes tipos de exames dão a sua contribuição na avaliação do manguito rotador. A tabela 1 apresenta um quadro comparativo entre os diferentes exames de imagem quanto à avaliação músculo-esquelética.

19 Tabela 1 - Quadro comparativo entre os diferentes exames de imagem quanto à avaliação músculoesquelética Variável Raio X USG TC RM Radiação Sim Não Sim Não Contraste Não Não Sim* Sim* Tempo de exame Rápido Rápido Rápido Demorado Imagem Unidimensional Unidimensional 3D 3D Indicação** Osso Partes moles Ambos Ambos Custo Baixo Baixo Moderado Alto Fonte: dados do autor; *pode-se usar meio de contraste; **melhor indicação Os exames de radiografia ou raio x simples (Rx simples), auxiliam na definição da causa do impacto, avaliando fatores anatômicos ósseos e articulares. Servem, também, para identificar calcificações tendíneas e peritendíneas (47). O Rx simples é um método que apresenta resultados menos favoráveis e sua utilização se torna importante quando encontramos o sinal do espelho (esclerose óssea na borda inferior do acrômio e na borda superior da tuberosidade maior do úmero proximal). Este dado indica que quando encontramos a osteofitose na região anteroinferior do acrômio, existe alta probabilidade de o paciente apresentar lesão de espessura completa do manguito rotador (48). A ultrassonografia como exame radiológico para o diagnóstico das lesões do manguito rotador tem sido frequentemente utilizada com boa acurácia naqueles aparelhos de alta resolução. No entanto, muitos achados falso-positivos e falso-negativos podem ser encontrados decorrentes da técnica aplicada pelo médico radiologista, da anatomia do paciente, da própria doença do manguito rotador assim como de fatores característicos dos pacientes como obesidade, hipertrofia muscular e limitação da amplitude de movimento do ombro (49). A acurácia da ultrassonografia é altamente examinador dependente. Este procedimento diagnóstico requer treinamento e prática significativos

20 para fornecer uma acurácia diagnóstica útil clinicamente (50). Uma limitação importante deste exame é quando este procedimento é realizado por ultrassonografista com pouca experiência levando a uma menor acurácia no diagnóstico das lesões do manguito rotador (51). De acordo com Restrepo González (52), sem dúvida, a ressonância magnética (RM) simples (sem contraste) é o método mais aceito para estudar as afecções do ombro. No entanto, a complexidade do manguito rotador e das outras estruturas, requer maior precisão em muitos pacientes. A vantagem da artrorm sobre a ressonância magnética simples ou convencional é que o líquido do contraste introduzido na articulação, distende a mesma e permite separar as estruturas promovendo um melhor detalhamento das estruturas intra-capsulares do ombro e melhor apreciação da sua anatomia complexa e das suas variações anatômicas; além disso o meio de contraste realça as estruturas da articulação e, conseqüentemente, identifica com mais nitidez as lesões. Uma desvantagem é transformar um exame não invasivo em exame minimamente invasivo, no entanto, universalmente tolerado (53). A tecnologia da tomografia computadorizada (TC) teve o seu primeiro aparelho introduzido na prática diagnóstica de imagem em 1972 (54). Coube ao inglês Sir Godfrey Hounsfield criar o primeiro equipamento de TC para uso clínico que permitia examinar o crânio e seu conteúdo lhe rendendo, em 1979, o prêmio Nobel de Medicina (55). Desde que a tomografia computadorizada multislice (TCMS) foi introduzida no mercado em 1988 e desde que a TCMS com 16 cortes foi comercializada em 2002, suas imagens tem revolucionado a capacidade de aquisição de dados anatômicos com rapidez e alta resolução (56). A diferença basal entre a TC e a TCMS, é que na primeira a ordem dos detectores é unidimensional distribuído em uma fileira simples com a espessura dos cortes determinada por colimadores do raio x enquanto que na TCMS, a espessura dos cortes é dada pela configuração do detector e não pela colimação do raio X (57).

21 A TCMS permite estudo com cortes finos e grande cobertura da anatomia, em pequenos espaços de tempo, com reconstruções multiplanares de alta definição e qualidade em cortes com espessuras de até 0,5 mm (58). No entanto, uma desvantagem desta tecnologia (TCMS) quando comparada com a TC é o aumento da radiação necessária para a realização do exame de imagem (59,60). Poucos anos depois, Lecouvet et al. (61) avaliando as aplicações clínicas da artro-tomografia computadorizada multislice (artrotcms) perceberam sua utilidade na determinação da localização e extensão da lesão, posição do tendão retraído e na atrofia muscular sendo o método de escolha no estudo das lesões da cartilagem. Uma das grandes contribuições da artroscopia do ombro tem sido delinear, de melhor forma, a anatomia normal e patológica intra-articular e subacromial. Diferentemente das cirurgias convencionais, a avaliação artroscópica não distorce ou danifica a arquitetura normal da articulação para permitir acesso visual (62). A artroscopia tem auxiliado no processo de esclarecimento anátomo-patológico (63), delineamento e confirmação pré-operatória com a avaliação de imagem (64), confirmação de diagnóstico préoperatório e tratamento definitivo da patologia instalada (65). De acordo com Callaghan et al. (66) num estudo comparativo da artrotc com a artroscopia da articulação glenoumeral, a artrotc teve a sensibilidade, especificidade e acurácia de 50%, 100% e 96%, para detecção de lesões do manguito rotador, respectivamente. Os autores concluíram que a artroscopia do ombro delineia com acurácia significativa o manguito rotador. Entretanto, a rotura parcial do manguito rotador não é bem visualizada pela artrotc. Consideramos a artroscopia como o exame diagnóstico padrão-ouro quanto a avaliação de lesões do manguito rotador. Enquanto com o advento da técnica multislice, esperamos com este trabalho encontrar um melhor resultado quando comparado a este autor.

22 3.6 Tratamento A abordagem conservadora em pacientes com síndrome do impacto do ombro é descrita como sendo de grande valor terapêutico em estudos de vários autores (67,68). O tratamento conservador das rupturas completas do manguito rotador pode ser bem sucedido em pacientes sedentários e/ou idosos; porém, o reparo cirúrgico do manguito rotador, seja por via aberta ou artroscópica, é a melhor conduta para os indivíduos ativos ou nos casos de dor e fraqueza muscular persistente e evolutiva (69). Sabe-se que a cicatrização espontânea do tendão do manguito rotador é incomum, devido à retração das extremidades rotas (70,71). O emprego de técnicas artroscópicas para o controle de distúrbios ortopédicos tem se expandido exponencialmente nas últimas décadas. A artroscopia permite a combinação ímpar de máxima visualização cirúrgica com o mínimo trauma aos tecidos moles. Diferentemente das cirurgias convencionais, a avaliação artroscópica não distorce ou danifica a arquitetura normal da articulação para permitir acesso visual (72).

23 4 METODOLOGIA 4.1 Desenho do estudo e seleção da população Trata-se de um estudo transversal, prospectivo, comparativo entre artrotcms e artroscopia realizado no período de junho de 2016 a junho de 2017, em 30 pacientes de ambos sexos com idade entre 40-70 anos com história e achados clínicos de lesão dos tendões do manguito rotador do ombro e que tinham necessidade clínica e terapêutica de realizar artroscopia do ombro e que apresentavam contra-indicação relativa ou absoluta para realização de RM. Apenas para efeito de cálculo das variáveis ligadas a acurácia diagnóstica da ArtroTCMS, foi utilizado um grupo separado de oito pacientes com outras patologias que não lesão do manguito rotador e que também foram submetidos a artrotcms e artroscopia. Estes indivíduos foram adicionados ao grupo principal para compor um pool de pacientes com diagnóstico negativo. 4.2 Critérios de elegibilidade 4.2.1 Critérios de inclusão Foram incluídos pacientes originários do Serviço de Ortopedia do Hospital Português com contraindicação à realização de ressonância magnética e cujo médico assistente tenha solicitado exame de artrotomografia computadorizada do ombro como método alternativo de avaliação. 4.2.2 Critérios de exclusão Os critérios de exclusão foram: hipersensibilidade ao meio de contraste utilizado no exame, ter realizado procedimentos cirúrgicos prévios no ombro acometido, incapacidade de responder ao questionário clínico ou ao termo de consentimento livre e esclarecido ou que não estiverem acompanhados de responsável capaz de fazê-lo; também serão excluídos portadores de alergias, hipertiroidismo em atividade, insuficiência cardíaca grave, insuficiência pulmonar de alto grau, asma, insuficiência renal, doenças auto-imunes, mieloma múltiplo, nefropatias com diabetes mellitus ou outras patologias graves não relacionadas ao objetivo do estudo.

24 Todos os pacientes elegíveis para o estudo foram adequadamente informados de objetivos, riscos e benefícios da pesquisa e entraram no protocolo após estarem devidamente conscientes do seu desejo e após assinarem o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). A pesquisa só teve início após apreciação e aprovação do protocolo pelo CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) da EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública CAAE 57418916.7.0000.5544). 4.3 Métodos A nossa hipótese é que a artrotcms é um exame de imagem realmente capaz de identificar com precisão as lesões do manguito rotador. Assim sendo, os pacientes foram encaminhados para o Setor de Tomografia Computadorizada para a realização de exames de artrotc multislice conforme protocolo clinicamente padronizado para esta finalidade. Posteriormente, todos os pacientes com indicação de tratamento cirúrgico artroscópico, foram submetidos a artroscopia da maneira convencional e, também, sem a interferência da pesquisa na indicação ou no protocolo dos procedimentos. 4.3.1 Avaliação ortopédica A avaliação ortopédica foi realizada por meio de pesquisa da história e achados clínicos de lesão do manguito rotador, de acordo com os critérios adotados pelo médico assistente (autor do trabalho). Os achados clínicos diagnósticos foram registrados em fichas de exame próprias que serviram para o planejamento do tratamento da lesão do manguito rotador no ombro do paciente estudado (Apêndice 1). 4.3.2 Técnica de realização do exame de artrotcms A artrotcms de cada paciente foi realizada em um único dia utilizando-se a técnica convencional no aparelho Optima com 128 multidetectores da GE. Previamente ao método, os pacientes foram submetidos à artrografia por meio dos seguintes passos: a) identificação do ponto exato onde seria introduzida a agulha intra-articular por fluoroscopia; b) assepsia e antissepsia do ombro a ser examinado com clorexedina a 2% (degermante) e clorexedina a 0,5% (solução alcoólica); c)

25 anestesia local com xilocaína a 2% introduzida por meio de agulha 30x7; d) introdução de agulha de raquianestesia 18 ou 20 Ga de 7 cm até alcançar a articulação glenoumeral guiada sob visão fluoroscópica; e) injeção na articulação glenoumeral de 10 a 12 ml de solução contendo 5 ml de meio de contraste diluído em 100 ml de soro fisiológico a 0,9% guiada pela fluoroscopia da tomografia computadorizada pela via anterior; f) encaminhamento dos pacientes para a realização do exame de imagem. Após a realização da artroscopia no paciente, todas as imagens de artrotcms foram analisadas novamente por radiologista com mais de 10 anos de experiência em radiologia musculoesquelética que não teve acesso a história clínica ou aos resultados da artroscopia. 4.3.3 Técnica da artroscopia As artroscopias foram realizadas da forma convencional de acordo com a técnica, protocolo e decisão do autor deste trabalho no Hospital Português da Bahia. Foram feitos três pequenos cortes para a confecção dos portais artroscópicos (anterior, lateral e posterior) no ombro do paciente. No portal posterior ficava a video-câmera para a filmagem e visualização da cirurgia e os portais anterior e lateral serviram para introdução dos materiais cirúrgicos necessários para a correção das lesões do manguito rotador. Após a realização do procedimento, o autor do trabalho teve acesso aos vídeos das artroscopias para análise das lesões anatômicas existentes em cada paciente com registro das mesmas em protocolo próprio. 4.3.4 Análise estatística Como exame padrão-ouro, consideramos a artroscopia, sendo determinados os seguintes parâmetros: sensibilidade, especificidade, acurácia, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo e Kappa contrapondo o método de imagem (artrotcms) com a artroscopia. Neste intuito, foram construídas tabelas de dupla-entrada do tipo 2 x 2, com freqüências e percentuais, dos pares de variáveis formados, e seus respectivos valores marginais e totais; com isso, para cada tabela construída, foram calculadas as medidas-resumo acima mencionadas. O teste do qui-quadrado (ou Fisher, quando pertinente) foi utilizado para comparação dos resultados, considerando-se alfa de

26 0,05 como o valor de significância. O coeficiente Kappa classifica o grau de concordância em: nulo (valores menores que zero), ruim (0-19), razoável (20-39), moderado (40-59), substancial (60-79) e quase perfeito (80-100) (73). Em nosso estudo, para efeito de cálculo de sensibilidade e especificidade se fez necessário identificar uma amostra em um grupo distinto contendo 8 pacientes com outras patologias que não lesão do manguito rotador e que também foram submetidos a artrotcms e artroscopia. Utilizamos também a mesma nomenclatura da classificação de Kappa para designar os valores obtidos para acurácia, sensibilidade e especificidade.

27 5 RESULTADOS As variáveis sócio-demográficas e clínicas dos 30 pacientes (Tabela 2) assim como os achados na artrotcms e na artroscopia estão sumarizadas em tabelas. Todos os pacientes do estudo realizaram o exame de imagem sem intercorrências e os resultados foram considerados adequados aos objetivos da pesquisa. As artroscopias também transcorreram sem alterações significativas do procedimento, sendo também avaliadas como tendo qualidade suficiente para a finalidade do estudo. Tabela 2 - Variáveis sócio-demográficas e clínicas dos pacientes Características Sexo Masculino Feminino Idade Peso Altura Doença cardiovascular Uso de marca-passo Outras comorbidades Claustrofobia Presença de implantes metálicos Membro dominante operado Tempo de diagnóstico Até seis meses Mais de seis até 12 meses Mais de 12 meses n (%) ou média (desvio-padrão) 15 (50%) 15 (50%) 57,00 (8,28) 68,00 (5,56) 1,64 (0,06) 16 (53,3%) 9 (30%) 19 (63,3%) 18 (60%) 16 (53,3%) 18(60%) 2 (6,7%) 12 (40%) 16 (53,3%) Fonte: Dados do autor A distribuição por sexo neste estudo foi exatamente igual com 15 homens e 15 mulheres com média de idade de 57 anos, peso médio de 68 Kg e altura média de 1,64 m. O membro dominante dos pacientes foi operado em 60% dos casos e o diagnóstico da lesão, na maioria dos casos, levou mais de 12 meses para ser estabelecido (53,3%). As variáveis clínicas que contra-indicavam (de forma absoluta ou relativa) a realização do exame de ressonância magnética neste estudo foram claustrofobia (60%), doenças cardiovasculares com marca-passo (53,3%), presença de implantes metálicos (53,3%) e, além disto, cerca de 63,3% apresentavam também outras comorbidades que necessariamente não contra-indicavam a RM (tais

28 como diabetes, hipertensão, etc). Em 27 pacientes, a artroscopia detectou lesões do maguito rotador. Já a artrotcms demonstrou lesão em 20 pacientes. Das lesões do manguito rotador, a artroscopia constatou lesão do supraespinal em 26 pacientes, lesão do infraespinal em 15 pacientes e lesão do subescapular em 13 pacientes enquanto na artrotcms a distribuição dessas lesões se deu em 20, 11 e 10 pacientes, respectivamente (Tabela 3). Tabela 3 - Lesões encontradas na artrotcms e na artroscopia ArtroTCMS Com lesão artroscópica Sem lesão artroscópica P Manguito rotador Com lesão Sem lesão 27 7 0 4 Supraespinal Com lesão Sem lesão 26 7 0 5 <0,001 Infraespinal Com lesão Sem lesão 15 4 0 19 <0,001 Subescapular Com lesão Sem lesão 13 3 0 22 As características das lesões foram distinguidas em: lesão completa, lesão transfixante, lesão parcial bursal, lesão parcial intrasubstancial e lesão parcial articular (Tabela 4).

29 Tabela 4 - Características das lesões encontradas na artrotcms e na artroscopia Lesões ArtroTC n (%) Artroscopia n (%) Supraespinal Intacto Completa Transfixante Parcial bursal Parcial intrasubstancial Parcial articular 4 (13,3%) 12 (40%) 9 (30%) 1 (3,33%) 0 4 (13,3%) 0 15 (50%) 6 (20%) 5 (16,7%) 0 4 (13,3%) Infraespinal Intacto Completa Transfixante Parcial bursal Parcial intrasubstancial Parcial articular Subescapular Intacto Completa Transfixante Parcial bursal Parcial intrasubstancial Parcial articular 15 (50%) 6 (20%) 1 (3,33%) 0 0 8 (26,67%) 17 (56,67%) 5 (16,7%) 1 (3,33%) 0 0 7 (23,33%) 13 (43,33%) 8 (26,67%) 1 (3,33%) 1 (3,33%) 0 7 (23,33%) 15 (50%) 4 (13,3%) 1 (3,33%) 0 1 (3,33%) 9 (30%) A alteração patológica mais comum visualizada na artroscopia foi a lesão do tendão do músculo supraespinal. Esta alteração também esteve presente na avaliação por artrotcms em todos os casos. A lesão do supraespinal foi completa 12 pacientes na artrotcms e em 15 pacientes durante a artroscopia (Figura 1). Figura 1 - Lesão do supraespinal. A- corte coronal da artrotcms (seta vermelha); B- visãoartroscópica subacromial (seta branca - tendão supraespinal;seta preta tuberosidade maior do úmero).

30 Quanto à segunda lesão mais comum lesão do tendão músculo infraespinal - a lesão mais comumente encontrada foi a lesão parcial articular evidente em 8 pacientes pela artrotcms e em 7 pacientes pela artroscopia. Na artrotcms, as lesões do tendão supraespinal em 12 pacientes foram completas, 9 pacientes com lesão transfixante, apenas uma lesão parcial bursal e 4 pacientes com lesão parcial articular (Figura 2). Figura 2 - Lesão transfixante do tendão supraespinal. A- cortesagital da artrotcms (seta); B- visão artroscópica intraarticular(seta). Enquanto as lesões do tendão infraespinal se distribuíram da seguinte forma: lesão completa em 6 pacientes, lesão transfixante em um paciente e lesão parcial articular em 8 pacientes. Já as lesões do tendão subescapular se apresentaram em 5 pacientes com lesão completa, lesão transfixante em um paciente e lesão parcial articular em 7 pacientes (Figura 3). Figura 3 - Lesão parcial do tendão subescapular. A- corte axial daartrotcms (seta); B- visão artroscópica intraarticular (seta).

31 Na artroscopia, as lesões do tendão supraespinal em 15 pacientes apresentaram lesão completa, 6 pacientes com lesão transfixante, 5 pacientes com lesão parcial bursal e 4 pacientes com lesão parcial articular. Enquanto as lesões do tendão infraespinal se distribuíram da seguinte forma: lesão completa em 8 pacientes, lesão transfixante em um paciente, lesão parcial bursal em um paciente e lesão parcial articular em 7 pacientes. Já as lesões do tendão subescapular se apresentaram em 4 pacientes com lesão completa, lesão transfixante em um paciente, lesão parcial intrasubstancial em um paciente e lesão parcial articular em 9 pacientes. Quanto aos achados associados às lesões do manguito rotador, as lesões labrais (3 pacientes), lesões cartilaginosas (2 pacientes) e as lesões ósseas (11 pacientes) foram igualmente identificadas tanto na artrotcms como na artroscopia. Quanto à lesão associada do tendão do cabo longo do bíceps, na artroscopia esta lesão foi identificada em 8 pacientes enquanto na artrotcms se identificou a lesão em 7 pacientes (Tabela 5). Tabela 5 - Achados associados às lesões do manguito rotador na artrotcms e artroscopia. Achados ArtroTCMS Artroscopia Tendão cabo longo do bíceps (lesão) 7 8 Âncora do bíceps (lesão) 0 0 Labrum (lesão) 3 3 Cartilagem (lesão) 2 2 Estruturas ósseas (lesão) 11 11 Cápsula articular (lesão) 0 0 Corpo livre (intra-articular) 0 0 A lesão parcial intrasubstancial dos tendões supraespinal e infraespinal não foi encontrada em nenhum paciente pela artrotcms ou artroscopia. As lesões na inserção do cabo longo do bíceps, também conhecida como âncora do bíceps, e na cápsula articular assim como a presença de corpo livre articular não foram vistas pela artroscopia nem pela artrotcms em nenhum dos nossos pacientes.

32 Os resultados estatísticos do nosso trabalho quanto à sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN), acurácia e valor Kappa para o exame de artrotcms quando comparado à artroscopia estão sumarizados na tabela 6. Tabela 6 - ArtroTCMS sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN), acurácia e Kappa (%) Variável Manguito Supraespinal Infraespinal subescapular Sensibilidade 79,41 (%) 78,78 (%) 78,95 (%) 81,25 (%) Especificidade 100 (%) 100 (%) 100 (%) 100 (%) VPP 100 (%) 100 (%) 100 (%) 100 (%) VPN 36,36 (%) 41,67 (%) 82,61 (%) 88,00 (%) Acurácia 81,57 (%) 81,57 (%) 89,47 (%) 92,11 (%) Kappa 44,44 (%) 49,51 (%) 78,94 (%) 83,39 (%)

33 6 DISCUSSÃO Nossos achados demonstraram que a maior parte dos pacientes que apresentam contra-indicação à realização da RM eram portadores de claustrofobia, doença cardiovascular com uso de marcapasso ou presença de implante metálico. Tais contra-indicações são mencionadas, também, por muitos autores que acabam inviabilizando a utilização do exame de RM (26, 40, 48,50,53). Este grupo se distribuiu igualmente de acordo com o gênero e apresentava mais de um ano de diagnóstico. A lesão do supra-espinal, seguida do infra-espinal e do subescapular foram as mais frequentes, nesta ordem; sendo a lesão do supra-espinal completa na maioria dos casos. A ordem de acometimento no nosso trabalho reflete o comprometimento referido na literatura. De acordo com Rockwood, a fisiopatologia da lesão do manguito rotador começa na inserção tendínea do músculo supraespinal na tuberosidade maior do ombro acometendo em seguida o tendão do músculo infra-espinal e, logo, o tendão do músculo subescapular (14). A sensibilidade da artrotcms para detecção das lesões do manguito rotador foi considerada substancial, sendo também substancial para supra-espinhal e infraespinal e quase perfeita para o subescapular. A especificidade e a acurácia foram consideradas quase perfeitas em todos os tipos de lesão. O índice Kappa foi considerado moderado para o diagnóstico de lesões do manguito rotador, sendo moderado nos casos do supraespinal, substancial no infra-espinal e quase perfeito nas lesões do subescapular. As lesões do manguito rotador têm uma incidência desconhecida na população em geral, contudo sabe-se que têm prevalência alta que aumenta de acordo com idade e que por volta de 60 anos alcança uma taxa próxima a 60% (74). No nosso estudo, a média de idade dos nossos pacientes foi de 57 anos. O membro dominante foi mais frequentemente lesado nos nossos achados e isto se deve muito provavelmente à sua maior demanda quando comparado com o lado oposto (75). Apesar dos nossos pacientes cursarem com número significativo de comorbidades, isto não representou fator negativo na indicação do procedimento cirúrgico e em sua subsequente reabilitação pósoperatória (76,77). Quanto a outras lesões (lesão labral, lesão cartilaginosa, lesão óssea, lesão do cabo longo do

34 biceps) associadas às lesões do manguito rotador, observamos no nosso estudo que a artrotcms foi capaz de identificá-las com definição parecida à da artroscopia. Muitos autores entendem que a lesão do manguito rotador e a instabilidade com lesões associadas são estreitamente relacionados, principalmente, em indivíduos acima de 60 anos de idade (78-81). Gómez, em estudo comparativo entre artrorm, artrotcms e artroscopia na avaliação de pacientes com instabilidade glenoumeral identificaram lesões associadas com achados muito próximos entre os métodos artrotcms e artroscopia. Mesmo com todos os avanços alcançados no campo da imagenologia músculo-esquelética, até o presente momento, não há consenso estabelecido a respeito de qual técnica de imagem forneça os melhores resultados no diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com lesão do manguito rotador. Também não há padronização das metodologias disponíveis caso não seja possível a realização do exame de Ressonância Magnética, considerada atualmente o melhor método de imagem para diagnóstico destas lesões (11). No entanto, sabe-se que a artrotomografia computadorizada (artrotc) e a artroressonância magnética (artrorm) têm sido exames frequentemente usados na avaliação pré-operatória das lesões do manguito rotador (82-84).Vale aqui ressaltar que assim como a RM, a artrorm também apresenta as mesmas contra-indicações do exame sem contraste tais como implantes metálicos, marca-passos, etc. Estudos na década de 90 (85-88), demonstraram que com uma especificidade de 85% e uma sensibilidade que variou de 56% a 72%, a ressonância magnética simples (sem contraste) não se mostrou ser plenamente eficaz na avaliação das lesões do manguito rotador. Entretanto, ainda naquela década, em estudo comparativo com a RM e a artro-ressonância magnética (artrorm) da articulação glenoumeral, Flannigan et al. (89) analisaram 23 pacientes submetidos à artroscopia sendo avaliados o manguito rotador e o labrum. Dos 14 pacientes que apresentavam lesão do manguito rotador identificadas pela artroscopia, 11 foram observados também pela artrorm. Apesar de ser considerada o exame de imagem padrão-ouro na avaliação do manguito rotador, a RM pode ser contra-indicada em algumas situações como, por exemplo, presença de marca-passo,

35 claustrofobia e presença de artefatos metálicos. Nossa observação é corroborada, também, por outros autores que entendem que a artrotomografia computadorizada com multidetector é uma alternativa válida para os pacientes com contra-indicação à RM (90,91). No nosso trabalho observamos que as três contra-indicações acima citadas foram responsáveis pela quase totalidade dos pacientes impedidos de realizar o exame de RM. A vantagem da artrorm é que o contraste distende a articulação, permitindo separar as estruturas. Esta distenção promove melhor detalhamento na visão intra-capsular e melhor apreciação da complexidade anatômica sobrepondo-se à ressonância magnética (RM) convencional. Apesar de bem tolerado, uma desvantagem da artrorm é transformar um exame não invasivo em procedimento invasivo e com risco de reações ao contraste (53). Além disto, pacientes claustrofóbicos ou com implantes metálicos têm as mesmas restrições de realização tanto para RM como para artrorm. Bachmann et al. (92) num estudo da acurácia diagnóstica e terapêutica da artrotc e da artrorm do ombro para lesões labrais e outras doenças articulares observaram que a rotura do manguito rotador foi visualizada em 73% dos casos pela artrotc e em 100% dos casos pela artrorm. Não temos dúvida que a artrorm é muito mais precisa no diagnóstico das lesões do manguito rotador do que a artrotc. No entanto, o que buscamos foi a comprovação no sentido de avaliar a artrotcms como o melhor exame alternativo. Hodler et al. (93), em estudo comparativo avaliaram, pela artrorm, 36 pacientes com lesões parciais ou completas do manguito rotador confirmadas por via artroscópica. A sensibilidade isolada da artrorm foi de 71%, a especificidade de 84% e a acurácia de 78%. No nosso estudo, baseando-se pela artrotcms, observamos resultado levemente melhores, com sensibilidade de 79,41%, especificidade de 100% e uma acurácia de 81,57%. Deve-se ressaltar, entretanto, que em nosso estudo houve número limitado de pacientes sem lesão do manguito, o que pode ter melhorado artificialmente a especificidade. Charousset et al. (94) em 2005, confirmam o valor da artro-tomografia computadorizada (artrotc) no diagnóstico das lesões do manguito rotador observando uma considerável sensibilidade e

36 especificidade das lesões dos tendões dos músculos supraespinal e infraespinal.a artrotc apresentou uma sensibilidade de 99% e especificidade de 100% no diagnóstico das lesões do supraespinal. Quanto ao infraespinal apresentou 97,44% e 99,52%, respectivamente e para o subescapular, 64,71% e 98,17%. Os altos valores de especificidade com baixos valores de VPP podem ser explicados no nosso estudo pela limitada quantidade de exames sem lesão. Isto, também, pode ter diminuído artificialmente os valores de kappa. A despeito disto, na prática clínica diária, a maioria dos pacientes que apresenta lesão suspeita de manguito rotador precisa ser submetida a reparo. Isto faz com que os valores mais importantes para os cirurgiões de ombro sejam a sensibilidade e a acurácia do exame, pois, pacientes sem suspeita (negativos) dificilmente serão levados à artroscopia terapêutica. Além disso, a artrotcms tem mostrado vantagens no pós-operatório como a não produção de artefato significativo na presença de materiais metálicos cirúrgicos (95-98). Em certos casos, a presença de metal dentro ou ao redor da articulação do ombro pode limitar a efetividade da RM convencional ou da artrorm a despeito das técnicas que podem otimizar o exame de RM (99-102). Vale ressaltar que a artrotcms tem a grande vantagem de ser um procedimento de menor custo e de rápida realização com menor desconforto para o paciente quando comparado com o exame de ressonância magnética. A artrotcms de alta resolução do ombro permite a visualização e diagnóstico das lesões articulares do manguito rotador. No entanto, quanto às lesões parciais (bursais, intersticiais) o exame não se mostrou efetivo (103,104). Particularmente no nosso estudo, percebemos também, uma maior dificuldade no diagnóstico das lesões parciais. Esta impressão nos é confirmada quando, na nossa avaliação, identificamos que enquanto à lesão parcial do tendão supraespinal foi identificada em apenas 3,33% dos casos pela artrotcms, na artroscopia verificamos a presença deste tipo de lesão em 16,7% dos casos. A acurácia da artrotcms no diagnóstico das lesões do manguito rotador (81,57%), de modo geral, se mostrou com grau de concordância moderado (coeficiente Kappa). No entanto, ao avaliarmos