ACÓRDÃO Registro: 2016.0000170493 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0000858-56.2013.8.26.0396, da Comarca de Novo Horizonte, em que é apelante CARLOS WILSON MEDEIROS DO AMARAL, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 15 de março de 2016. Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação criminal nº 0000858-56.2013.8.26.0396 Comarca: Novo Horizonte Apelante: Carlos Wilson Medeiros do Amaral Apelado: Ministério Público VOTO Nº. 12.482 Apelação. Homicídio culposo na direção de veículo automotor. Alegada nulidade por cerceamento de defesa. Não ocorrência. Duas testemunhas não localizadas para serem ouvidas. Defesa intimada que se manteve inerte, não apresentando novos endereços. Terceira testemunha a ser ouvida por precatória também não localizada. Findo o prazo da carta precatória. Inteligência do art. 222, 2º, do CPP. Preliminar rejeitada. Pedido de aplicação do perdão judicial. Não cabimento. Morte de amigo. Ocorrência de dissabor próprio ao crime culposo, sem maiores consequências no caso concreto. Perda do membro inferior esquerdo. Acusado que se utiliza de prótese, locomovendo-se com facilidade e levando vida normal. Inexistência de gravíssimas consequências a afastar a necessidade de aplicação da pena. Apelo improvido. Pela sentença de fls. 178/182, proferida em 03/03/2015 pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Eduardo Calvert, da 1ª Vara Judicial da Comarca de Novo Horizontel, CARLOS WILSON MEDEIROS DO AMARAL foi condenado às penas de 2 anos de detenção, em regime inicial aberto, e suspensão do direito de dirigir por igual período, dando-o como incurso no art. 302, caput, do Código de Trânsito Brasileiro. A privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos, Apelação nº 0000858-56.2013.8.26.0396 2
consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária de 10 salários-mínimos, destinados aos herdeiros da vítima. Irresignada, a defensoria do réu maneja recurso de apelação alegando, preliminarmente, nulidade por cerceamento de defesa. No mérito, requer a incidência do perdão judicial (fls. 189/196). O Ministério Público se bateu pelo acerto do decisum (fls. 195/203) e a Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo improvimento do apelo defensivo (fls. 247/249). É o relatório. Inicialmente, não merece acolhida a preliminar aventada. Sustenta o causídico ser o processo nulo posto não terem sido ouvidas três testemunhas arroladas pela defesa. A primeira testemunha deveria ser ouvida através de carta precatória, vez residir em comarca diversa. Entretanto, apesar de expedida a precatória, findou-se o prazo para seu cumprimento sem que fosse localizada a testemunha indicada pela defesa. Destarte, o feito foi sentenciado com fundamento no art. 222, 2º, do Código de Processo Penal, não havendo qualquer nulidade a ser sanada. Em relação às outras duas testemunhas, também não foram localizadas para serem intimadas. E, após a certificação negativa do oficial de justiça, a defesa foi intimada Apelação nº 0000858-56.2013.8.26.0396 3
para apresentar novos endereços, porém quedou-se inerte, precluindo o direito de ouvi-las. Por fim, note-se que o próprio réu, em seu interrogatório, afirmou que tais testemunhas não presenciaram os fatos, não sendo de grande relevância ao deslinde do feito. Assim, fica afastada a preliminar. No mérito, sendo o réu confesso e não havendo insurgência quanto à dinâmica fática, passo a analisar o pleito de incidência do perdão judicial. Conforme restou apurado, em 02/09/02, durante a madrugada, o acusado e a vítima, José Santana, participaram de uma festa, tendo o réu ingerido elevada quantidade de bebida alcoólica, estando com concentração de 1,7 grama de álcool por litro de sangue. Ao deixarem a festividade, o apelante tomou a direção de sua motocicleta, sendo a vítima seu garupa. Durante o trajeto, em uma curva, o acusado perdeu o controle do motociclo, colidindo com uma placa de sinalização. O garupa não resistiu aos ferimentos e veio a óbito, enquanto o condutor sofreu lesão corporal gravíssima, consistente na amputação do membro inferior esquerdo, fazendo atualmente uso de prótese. Não entendo tratar-se de hipótese de incidência do perdão. Primeiramente, o simples fato de ser o ofendido amigo do réu não basta para a aplicação do benefício. Apelação nº 0000858-56.2013.8.26.0396 4
Cuidando-se de crime na modalidade culposa, na qual o réu não pretende e nem aceita a ocorrência do resultado típico, natural se mostra a existência de pesar e abatimento na pessoa do condenado. Contudo, o mero dissabor não se confunde com a dor e o sofrimento aptos à aplicação da benesse. No caso em tela, a perda do membro inferior também não se mostra capaz de garantir a incidência do perdão. Isto porque, embora faça uso de uma prótese, consta dos autos que o acusado se locomove com facilidade, sem necessidade de ajuda, levando uma vida normal. Não se verifica, destarte, a existência de graves consequências a tornar desnecessária a aplicação da pena imposta. No mais, a pena privativa de liberdade foi posta no patamar mínimo, fixando-se o regime inicial aberto e aplicando-se penas alternativas, tudo a desmerecer reparos. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo, mantendo-se, na íntegra, a r. sentença atacada. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº 0000858-56.2013.8.26.0396 5