PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante ELIANE RIBAS VICENTE sendo agravados FRANCESCA DA ROCHA RIBAS e JOSÉ ANTONIO RIBAS. ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial, nos termos que constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e ALVARO PASSOS. São Paulo, 22 de novembro de Neves Amorim RELATOR Assinatura Eletrônica 1

2 Agravante: Eliane Ribas Vicente Agravado: Francesca da Rocha Ribas Parte: José Antônio Ribas Comarca: São Paulo / 9ª Vara da Família Processo nº Voto n EMENTA: RECONVENÇÃO NULIDADE DE TESTAMENTO DECADÊNCIA - DECISÃO QUE DETERMINOU A REALIZAÇÃO DE PERÍCIA PARA VERIFICAÇÃO DA CAPACIDADE DO FALECIDO QUANDO DA CELEBRAÇÃO DO TESTAMENTO DESNECESSIDADE INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 1859 DO CÓDIGO CIVIL PRAZO DE CINCO ANOS PARA IMPUGNAÇÃO DA VALIDADE DO TESTAMENTO QUE CONTEMPLA AS HIPÓTESES DE NULIDADE E ANULAÇÃO DECISÃO REFORMADA PARA AFASTAR A PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL ARGUIÇÃO DE DECADÊNCIA QUE DEVE SER ENFRENTADA PELA INSTÂNCIA INFERIOR. DECISÃO REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a decisão proferida a fls. 604/608 dos autos originais, aqui copiada a fls.35/39, que, em Ação Declaratória, deixou de apreciar o pedido de extinção da Reconvenção fundado em alegação de decadência. Insurge-se a agravante narrando que, em testamento cerrado, seu finado pai deixou para si o direito ao recebimento de

3 expurgos inflacionários. Não obstante, a agravada promove ação contra o Banco Bradesco S/A, perquirindo para si o montante relativo aos expurgos. A ora agravante, então, promoveu a presente demanda e, citada, a agravada propôs reconvenção, discutindo a validade do testamento. Ocorre que a validade do testamento já havia sido objeto de ação anteriormente proposta pelo outro herdeiro, tendo a agravada ratificado o pedido e participado da demanda como litisconsorte ativa. Essa demanda foi julgada extinta mediante a homologação de acordo. Menciona a agravante que os motivos e fatos que justificaram aquela demanda anulatória do testamento são exatamente os mesmos que ensejam agora a reconvenção, repetindo-se até mesmo os documentos que instruem a inicial. Aduz que seu finado pai era plenamente capaz quando elaborou o testamento e que tal pode ser atestado pelo Tabelião que redigiu o documento. Menciona que o Ministério Público opinou pela extinção da reconvenção ante a coisa julgada existente, Além disso, opinou pelo reconhecimento da decadência, o que de fato, ocorre. O testamento foi registrado há mais de cinco anos, tendo decorrido o prazo para sua impugnação. Argumenta que a decadência é matéria prejudicial e, como tal, deve ser reconhecida até mesmo de ofício, nada justificando a postergação da decisão a seu respeito. Sustenta que a realização de perícia fere os princípios de economia processual e celeridade. Requer seja acolhida a preliminar de decadência, extinguindo-se a reconvenção ou, subsidiariamente, seja determinada a imediata apreciação pela MM. Juíza de primeiro grau da alegação de decadência antes da realização da prova pericial. A agravada Francesca peticionou nos autos antes que fosse

4 apreciado o pleito liminar (fls. 121/152). Determinada a paralisação da demanda em primeira instância (fls. 154/155), a agravada opôs embargos de declaração (fls. 159/163), que restaram rejeitados (fls. 176/179). O MM Juízo recorrido prestou informações (fls. 183/188) A agravada opôs novos embargos de declaração (fls. 190/193), também rejeitados (fls. 195/198). Regularmente processado o recurso, vieram aos autos as contrarrazões (fls. 208/218). A agravante peticionou a fls. 221/225 e a agravada interpôs agravo regimental (fls. 227/238). É o relatório. O recurso merece parcial provimento. Aplica-se à hipótese dos autos o disposto no artigo 1859 do Código Civil: Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro. Ao dissertar sobre o artigo acima transcrito, Mauro Antonini leciona (in Código Civil Comentado, 5ª ed., Manole, p. 2261):

5 Ao se referir à argüição de invalidade do testamento, sem fazer diferenciação, o artigo contempla as hipóteses de nulidade e anulação. Se pretendesse referir-se exclusivamente às hipóteses de anulabilidade, não teria sido empregada a expressão genérica impugnação da validade. No plano da invalidade estão os negócios jurídicos nulos e anuláveis. Nesse sentido, as lições de Zeno Veloso (Comentários ao Código Civil. São Paulo, Saraiva, 2003, v. XXI, p. 21); e Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto, atualizadora da obra de Washington de Barros Monteiro (Curso de direito civil, 35. ed. São Paulo, Saraiva, 2003, v. VI, p. 127). Fixando prazo decadencial para argüição de nulidade absoluta, o artigo estabelece exceção à regra geral de o ato nulo não convalescer pelo decurso do tempo (art. 169). O testamento nulo, portanto, pode ser sanado se a nulidade não for argüida em cinco anos. Desse modo, é mesmo desnecessária a realização da perícia pois, ainda que constatada a incapacidade do autor da herança quando celebrado o testamento, tal fato não altera o prazo decadencial para a impugnação da validade do testamento. Como já ressaltado, o prazo de cinco anos contempla as hipóteses de nulidade (p. ex. celebração de testamento por absolutamente incapaz) e anulação.

6 Destarte, afastada a ordem de realização da perícia, ante sua desnecessidade, caberá à MM. Juíza recorrida apreciar a alegação de decadência. A matéria no caso é, sem dúvida nenhuma, matéria de ordem pública e tem influência na própria subsistência da reconvenção, já que seu eventual acolhimento poderá determinar a extinção do feito com julgamento de mérito nos termos do artigo 269, IV, do CPC. Assim, pelo meu voto, dou parcial provimento ao recurso para que seja apreciada em primeiro grau a alegada decadência. NEVES AMORIM Desembargador Relator