TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n , da Comarca de São Paulo, em que é Agravante Wagner Barbosa, sendo Agravado Antônio Eustaquio Alves: ACORDAM, em 14 a Câmara Direito - Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao(s) recurso(s), v.u. ", de conformidade com o relatório e voto do Relator, que integram este acórdão. Participaram do julgamento os(as) Desembargadores(as) Thiago de Siqueira, Ligia Araújo Bisogni e Cardoso Neto. Presidência do(a) Desembargador(a) Pedro Ablas. São Paulo, 15 de abril de Thiago de Siqueira Relatora)

2 VOTO N AGRAVO DE INSTRUMENTO N COMARCA DE SÃO PAULO REINTEGRAÇÃO DE POSSE AGVTE.: WAGNER BARBOSA AGVDO.: ANTÔNIO EUSTAQUIO ALVES (ESPÓLIO) Liminar - Reintegração de posse - Contrato de permissão para distribuição e comercialização de produtos - Ajuizamento da ação com base em notificação extrajudicial feita para desocupação do imóvel referido nesse contrato, no prazo de trinta dias, não atendida pelo réu - Alegação de invalidade desta notificação por ter sido feita mediante outorga de procuração, vindo o mandante a falecer antes de sua apresentação em cartório - Assertiva que não comporta ser acolhida - Incidência, nesta hipótese, da regra prevista no art 674 do Código Civil, que faculta ao mandatário concluir o negócio já começado mesmo estando ciente da morte do mandante, havendo perigo na demora - Notificação feita com fulcro nas cláusulas 2.3 e 5.9 do contrato - Deferimento da liminar que deve ser mantido - Alegação de se cuidar de contrato de locação que configura matéria a ser apreciada pelo MM. Juiz da causa - Recurso do réu improvido. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão (fls. 9 destes autos) que deferiu liminar em ação possessória ajuizada contra o agravante. Insurge-se, o agravante, alegando que o embasamento da liminar é a notificação extrajudicial exibida pelo agravado, a qual, ARTES GRÁFICAS - TJ

3 porém, foi firmada pelo advogado do autor, na qualidade de procurador, sendo a mesma apresentada ao Oficial de Registro de Títulos e Documentos, para surtir seus efeitos, em 11 de agosto de 2008, data em que o outorgante já havia falecido, tendo sua morte ocomdo no dia 26 de julho de 2008, cessando de pleno direito o mandato do signatário da notificação, conforme dispõe o art. 682, ü do Código Civil. Sustenta que diante da falta de notificação válida, o contrato celebrado não pode ser considerado denunciado, não havendo, assim, que se falar de posse não permitida, caracterizando esbulho possessório e, ainda, que a relação existente entre as partes não é uma relação possessória, mas sim locatícia, a ser discutida sob a égide da Lei n 8.245/91. Recurso preparado, recebido com a concessão de efeito suspensivo e sem apresentação de contraminuta. É o relatório. A irresignação do agravante não merece ser acolhida. É certo que o art. 682, inc. II, do Código Civil prevê como uma das causas da extinção do mandato a morte de uma das partes. Entretanto, prevalece no caso vertente, tendo-se em vista o alegado pelo agravante, o disposto no art. 674 do Código Civil, o qual reza que: "Embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, deve o mandatário concluir o negócio já começado, se houver perigo de demora ". Monteiro: A este propósito assim leciona Washington de Barros "Embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, deve o mandatário concluir o negócio já começado, se houver perigo na demora (art. 674 do Cód. Civil de 2002) ". "A morte, interdição e mudança de estado são causas de extinção do mandato (art. 682 do Cód. Civil de 2002); entretanto, se o negócio estiver iniciado e houver perigo na demora, deverá o mandatário concluílo, em homenagem à lealdade. O perigo a que se refere o texto não é só o relativo

4 ao mandante, ou seus sucessores; compreende também o daqueles com os quais contrata o mandatário ". "Dispositivo similar ao do art. 674 do Código Civil de 2002 encontra-se na lei processual: o procurador que renunciar ao mandato judicial continuará, durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante desde que necessário para evitar-lhe prejuízo (Cód. Proc. Civil, art. 45). Idêntica disposição consta na Lei n , de 4 de julho de 1994, art. 5 o, 3 o " (in "Curso de Direito Civil - Direito das Obrigações"', vol. 5, Ed. Saraiva, pág. 203). Na hipótese vertente, vê-se que a procuração foi firmada pelo mandante Antônio Eustáquio Alves em data de 11 de julho de 2008, vindo o mesmo a falecer no dia 28 deste mesmo mês e ano (fls. 25 e 36 destes autos). A notificação extrajudicial dirigida ao agravante com base nesta procuração foi apresentada em Cartório no dia 11 de agosto de 2008, vindo a ser recebida pelo agravante no dia 20 seguinte, o que se afigurou admissível, nos termos do dispositivo legal supra citado. O perigo de demora, nestas circunstâncias, era evidente, porquanto se não fosse efetivada a notificação extrajudicial com base na procuração já firmada pelo mandante antes de seu falecimento, isto implicaria em retardar a rescisão do contrato nela mencionado, por mais de trinta dias. Cuida-se aqui, ademais, de contrato rotulado de "Contrato de Permissão Para Distribuição e Comercialização de Produtos", tendo sido a notificação extrajudicial do agravante feita com fulcro nas cláusulas 2.3 e 5.9 desse contrato, que facultam ao primeiro contratante (Antônio Eustáquio Alves) solicitar a desocupação do ponto comercial cedido ao segundo contratante, com antecedência de trinta dias, bem como a rescisão contratual pela vontade das partes, quando o primeiro contratante será reintegrado na posse liminarmente. Ressalte-se, outrossim, que o contrato foi firmado pelo prazo de doze meses, findado aos 27 de abril de Em face disso, a concessão da liminar em favor do agravado não comporta ser afastada, configurando a alegação do agravante a

5 propósito da verdadeira natureza jurídica desse contrato, vale dizer, de se cuidar de contrato de locação, matéria que ainda deverá ser apreciada pelo douto Magistrado. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. Siqueira Refator