DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Competência da Justiça Militar Parte 1 Prof. Pablo Cruz
A jurisdição é repartida em competências, com o objetivo de melhor operacionalizar a administração da Justiça. Segundo a doutrina, competência é o limite e a medida da jurisdição, é uma delimitação do poder jurisdicional. Competência, nesse contexto, é a quantidade de poder conferida por lei a um juiz ou a um tribunal. Na fixação da competência criminal devemos observar os critérios relacionados à matéria, à pessoa, à função e ao território.
Dizer que essas três regras de competência (material, pessoal e funcional) são de cunho absoluto, significa afirmar que elas são improrrogáveis (ou seja, não podemos admitir que um juiz absolutamente incompetente venha, por qualquer razão, a se tornar competente); assim, uma vez vulneradas essas regras os atos então praticados estarão eivados de nulidade absoluta (insanáveis). A competência territorial tem natureza relativa, isto é, trata-se de regra de competência prorrogável, que conduzirá à nulidade relativa (sanável). Segundo a maioria da doutrina, a competência territorial também seria conhecida de ofício pelo juízo, ou seja, no Processo Penal não só as hipóteses de competência absoluta, mas também
as hipóteses de competência relativa seriam conhecidas de ofício pelo juízo. Isso ocorreria por força do artigo 147 do Código de Processo Penal Militar, que nos diz que o juiz poderá, até a entrega da prestação jurisdicional, declarar-se incompetente de ofício. Como esse dispositivo não estabelece qualquer distinção entre competência em razão da matéria, competência territorial, competência por prerrogativa da função e competência funcional, entende-se (majoritariamente) que a regra do artigo 147 do CPPM (art. 109 do CPP) estender-se-ia a toda e qualquer competência, inclusive à competência territorial, que tem natureza relativa.
Declaração de incompetência de ofício Art. 147. Em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer a existência de causa que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos e os remeterá ao juízo competente.
Portanto, essa seria uma grande distinção a separar o Processo Civil do Processo Penal comum e militar, visto que no Processo Civil o juízo incompetente relativamente, para que se declare incompetente, carece de provocação das partes, enquanto no Processo Penal não haveria necessidade dessa provocação, uma vez que ele poderia, de ofício, declarar-se incompetente (mesmo que relativamente). Por conta desse diferencial entre Processo Civil e Penal, há autores, como GERALDO PRADO e AFRÂNIO SILVA JARDIM, que chegam a mencionar que no Processo Penal todas as regras de competência seriam absolutas, visto que todas podem ser conhecidas de ofício pelo juízo. No entanto,
essa assertiva é minoritária, pois em que pese esse ponto de contato entre competência absoluta e relativa, outras diferenças subsistiriam a legitimar essa distinção. Essas diferenças seriam: As regras de competência absoluta se mostram improrrogáveis (não convalidáveis com o decurso do tempo), enquanto as de competência relativa se mostram prorrogáveis (convalidáveis com o decurso do tempo); As regras de competência absoluta geram nulidade absoluta do processo, enquanto as de competência relativa geram nulidade relativa.
Portanto, uma vez que se manteriam conservadas essas diferenças, a distinção entre competência absoluta e relativa continua sendo adequada. E nesse sentido o Supremo Tribunal Federal, nos diz, categoricamente, que a competência por prevenção (competência territorial) tem natureza relativa. Súmula 706 STF- É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção.
Outro ponto de destaque é o cuidado ao se ler o artigo 508 do Código de Processo Penal Militar. Este dispositivo afirma que a incompetência do juízo anularia somente os atos decisórios. Se estivermos diante de uma hipótese de incompetência relativa não teremos maiores dificuldades porque, como os atos processuais, até então praticados, são plenamente sanáveis, nada exigiria que eles viessem a ser ratificados e essa ratificação retroagiria à data da realização do ato. Porém, se estivermos diante atos de competência absoluta deveríamos concluir que tais atos estariam eivados de nulidade absoluta ou seja, esses atos mostrar-se-ão completamente insanáveis.
Diante disso, sendo o primeiro ato decisório praticado pelo juiz no processo o recebimento da inicial, supondo que seja nulo esse recebimento, serão nulos todos os demais atos processuais, pois todos os atos processuais subsequentes têm como premissa o recebimento da denúncia. Nesse contexto afirma o art. 508 do CPPM (mesma disposição do artigo 573, parágrafo primeiro do CPP comum): Anulação dos atos decisórios Art. 508. A incompetência do juízo anula sòmente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Quanto aos atos instrutórios, estes não precisariam ser desconsiderados, podendo ser aproveitados, porque embora os atos instrutórios não tenham sido realizados perante um juízo rigorosamente competente, é certo que todos esses atos foram realizados publicamente, na presença de um juiz (incompetente), de um promotor (possivelmente sem atribuição), mas na presença também da defesa. Então, em se tratando de atos instrutórios, não seria razoável desconsiderá-los inteiramente, portanto eles poderão ser ratificados.
Justiça Militar Federal x Justiça Militar Estadual È importante memorizar que a Justiça Militar da União pode julgar civis e militares que praticarem crimes militares, enquanto a Justiça Militar Estadual só tem competência para julgar os militares estaduais nesses delitos. Enquanto a Justiça Militar da União só tem competência criminal, não podendo julgar causas civis, a Justiça Militar Estadual, além da competência criminal, detém competência judicial civil para julgar atos disciplinares militares.
Justiça Militar Federal x Justiça Militar Estadual Visando facilitar o registro, afirmamos que a Justiça Militar da União, julga civis, mas não julga causa civis, já a Justiça Militar Estadual, julga causas civis, mas não julga civis.
Justiça Militar da União Justiça Militar Estadual - Julga crimes militares - Julga crimes militares - Julga Civis e Militares - Julga Militares do Estado - Competência em razão da matéria. - Competência em razão da matéria e da pessoa.
Justiça Militar da União *Não tem competência Civil Justiça Militar Estadual * Tem competência civil, acrescentada pela EC 45/04, onde se conferiu o julgamento para ações judiciais contra atos disciplinares militares.
Justiça Militar da União Justiça Militar Estadual Órgão Jurisdicional - Conselho de Justiça: > 04 militares oficiais; Órgão Jurisdicional - Conselho de Justiça: Juiz de direito do Juízo Militar Juiz-Auditor (juiz concursado): Aqui, tanto o juiz militar quanto o este possui competência singular? conselho podem julgar R.: Não. separadamente. Todos os crimes militares são julgados Sendo que compete ao juiz de direito pelo respectivo conselho, ou seja, julgar singularmente os crimes o juiz-auditor não possui militares cometidos: competência singular. # contra civis; # ações judiciais contra atos disciplinares militares. Ao conselho de justiça cabem os demais.
Justiça Militar da União Justiça Militar Estadual Órgão Jurisdicional Órgão Jurisdicional - Aqui o Presidente é o Oficial de posto mais elevado. Em caso de - Presidente é o juiz de direito. igualdade de posto será o oficial mais antigo. - O conselho pode ser permanente ou especial, Vejamos as diferenças: # O conselho permanente delibera por 03 meses (sorteia os militares da região), sendo que tem competência para julgar crimes cometidos por: Civis, soldados, cabos, sargentos (qualquer militar, menos oficial). # O conselho de justiça especial cabe julgar os crimes cometidos por Oficiais. (artigo 16 da Lei da Organização da Justiça Militar 8.457/92).
Justiça Militar da União Justiça Militar Estadual - Ministério Público Militar (ramo do - Ministério Público Estadual Ministério Público da União ao lado do: MPDFT, MPT e MPF). MPM: MPE: *1ª instância: Promotores de justiça 1ª Instância promotor de justiça militar e Procuradores 2ª instância: depende dos estados, *2ª instância: Atuam os Subprocuradores e o Procurador-Geral da exerce é o Tribunal de Justiça Militar, sendo que em 03 (RS, MG e SP) quem Justiça Militar da União perante o nos outros o próprio Tribunal de STM, que é o órgão de 2ª instância. Justiça. Defensoria Pública da União Defensoria Pública Estadual [1] BRASILEIRO, Renato. Competência criminal. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 129/130.
Art. 9º, II, b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; + Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)