PODER JUDICIÁRIO RS

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1 Página 1 de 7 Número do processo: Comarca: Comarca de Porto Alegre Data de Julgamento: Relator: Eduardo Delgado PODER JUDICIÁRIO RS ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ED Nº /Cível Vistos. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL MILITAR. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. CONSELHO DE DISCIPLINA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ART. 125, 4º E 5º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Tratando-se de ação na qual se busca a declaração de nulidade de ato administrativo disciplinar, aplicada a servidor estadual militar, a competência para processamento e julgamento da ação é da Justiça Militar Estadual, consoante o disposto no art. 125, 4º e 5º, da Constituição da República. Art. 113 CPC. Precedentes jurisprudenciais. Negado seguimento ao agravo de instrumento. Agravo de Instrumento Terceira Câmara Cível Nº Comarca de Porto Alegre LUIS CARLOS DIAS CARDOZO AGRAVANTE ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVADO DECISÃO MONOCRÁTICA

2 Página 2 de 7 Trata-se de agravo de instrumento interposto por LUIS CARLOS DIAS CARDOZO contra a das fls e v., proferida nos autos da ação ajuizada em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Estes foram os termos da decisão hostilizada: (...) Diante do exposto, reconhecendo a incompetência absoluta deste Juízo, DECLINO da competência e determino sejam os autos remetidos à JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. (...). Em suas razões recursais (fls. 2-7), menciona sua exclusão dos quadros da Brigada Militar, com a pena aplicada baseada no art. 100, VI - exclusão a bem da disciplina -, da Lei Complementar Estadual nº /97. Refere o ajuizamento de ação declaratória de nulidade de ato administrativo, para fins de reintegração no cargo. feito. Assevera a Competência da Justiça Estadual para o processamento e julgamento do Transcreve entendimento jurisprudencial. Pugna pela concessão de medida liminar com vistas à suspensão da decisão a qual reconheceu e determinou a remessa dos autos à Justiça Militar Estadual, com a fixação da competência da Justiça Estadual Comum. Ao final, busca o provimento do recurso, nos termos pleiteados liminarmente. É o relatório. Decido. Passo a efetuar o julgamento de forma monocrática, amparado pelo artigo 557 do CPC, tendo em vista que o desiderato seria o mesmo, seja nesta forma, seja através de julgamento pelo colegiado. Ademais reiterados julgados o STJ pela admissão do julgamento pelo relator na forma monocrática, nos casos em que há entendimento pacificado no Órgão fracionário. De início, cumpre referir à precariedade da formação do recurso ora interposto.

3 Página 3 de 7 Compulsando os autos, depreende-se que o Sr. Luis Carlos Dias Cardozo, ex-servidor militar, foi considerado culpado pelo Conselho de Disciplina, sendo-lhe aplicada a pena de licenciamento e exclusão, a qual restou publicada no Diário Oficial do Estado (fl. 08). Em síntese, busca o agravante a concessão do efeito suspensivo da decisão a qual reconheceu a incompetência absoluta e declinou da competência, com vistas à fixação da competência para o processamento e julgamento da demanda na Justiça Estadual Comum. Não se olvida respeitáveis entendimentos diversos, contudo, entendo que a competência para processamento e julgamento da presente ação é da Justiça Militar Estadual. Senão vejamos. Assim dispõe o art. 125, 4º e 5º, da Constituição da República, com redação dada pela EC nº 45/04, verbis: Art Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (...) No mesmo sentido a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: Art Compete ao Tribunal Militar do Estado, além das matérias definidas nesta Constituição, julgar os recursos dos Conselhos de Justiça Militar e ainda: I prover, na forma da lei, por ato do Presidente, os cargos de Juiz- Auditor e os dos servidores vinculados à Justiça Militar; II decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, na forma da lei;

4 Página 4 de 7 III exercer outras atribuições definidas em lei. No caso, consoante os parcos elementos dos autos cópia parcial da ação declaratória -, bem como do cotejo dos dispositivos constitucionais citados, denota-se a competência da Justiça Militar para processar e julgar as ações relativas a atos disciplinares militares. Assim, tratando-se de ação judicial na qual a matéria debatida diz respeito à anulação de ato disciplinar militar, como a presente, a competência para processamento e julgamento é da Justiça Militar. Acerca do tema, convém citar o seguinte precedente da Terceira Seção do e. STJ: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. POLICIAL MILITAR. CRIMES DE DESOBEDIÊNCIA E ABANDONO DE POSTO. PRISÃO EM FLAGRANTE. REMOÇÃO. ATO DISCIPLINAR MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. 1. Embora o servidor militar possa ser removido por interesse da administração, na hipótese dos autos evidencia-se que o ato administrativo foi motivado pelas transgressões militares cometidas pelo autor, configurando verdadeiro ato disciplinar. 2. Em regra, compete à Justiça Militar processar e julgar atos disciplinares militares, nos termos do 4º do art. 125 da Constituição da República. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais, o suscitante. (CC /MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 06/04/2009) No mesmo norte, os julgados das Câmaras integrantes do Colendo Segundo Grupo Cível: AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA DEMANDA. A competência para processar e julgar demanda cível, tendente à desconstituição de sanção administrativo disciplinar, consistente na exclusão do servidor da Brigada Militar, a bem da disciplina, é da Justiça Militar Estadual, nos termos dos 4º e 5º, do art. 125 da Constituição Federal., na redação que lhe atribuiu a E.C. nº 45/2004. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº , Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo

5 Página 5 de 7 Uhlein, Julgado em 07/10/2011) AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL MILITAR. REINTEGRAÇÃO AO CARGO. - Ação de reintegração ao cargo de policial militar cumulada com indenização ajuizada com base em sentença proferida pela Justiça Militar que anulou ato de licenciamento do autor da Brigada Militar. - Pretensão que constitui corolário lógico da anulação do referido ato e que, como tal, deve ser buscada na execução do julgado da Justiça Especial. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº , Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 02/12/2010) SERVIDOR PÚBLICO. BRIGADA MILITAR. PRETENSÃO DE ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. CONSELHO DE DISCIPLINA. INSTAURAÇÃO. PROCESSO DISCIPLINAR QUE TRANSFERIU O AUTOR PARA A RESERVA REMUNERADA. EPISÓDIOS DE EMBRIAGUEZ E INCOMPATIBILIDADE COM SEUS PARES. COMPETÊNCIA. Inteligência do art. 125, 4º e 5º, da CF- 88, com a redação determinada pela EC nº 45/04 (Reforma do Judiciário). As normas constitucionais e legais que regem a competência dos órgãos judiciários têm aplicação imediata. A nova regra de competência produz efeitos imediatos, a partir da publicação da EC nº 45/04, atingindo os processos em curso, tendo em vista a estatura constitucional da previsão, conferindo-lhe imutabilidade para excepcionar qualquer outro regramento. A legislação infraconstitucional nada poderá inovar a respeito. Por isso, a matéria alusiva ao poder disciplinar reservado aos comandantes militares está agora no âmbito da competência absoluta da Justiça castrense, que deverá decidir sobre a nulidade da instauração do Conselho de Disciplina contra o autor. SENTENÇA ANULADA. COMPETÊNCIA DECLINADA. (Apelação Cível Nº , Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 30/07/2009) AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA ABSOLUTA EM RAZÃO DA MATÉRIA. JUSTIÇA MILITAR. PRETENSÃO DE REINTEGRAÇÃO. AÇÃO JUDICIAL QUE ENVOLVE ATO DISCIPLINAR MILITAR. ART. 125, 4, DA CF/88. MATÉRIA PACIFICADA NO STJ. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. INTELIGÊNCIA DO ART. 557 DO CPC. A questão debatida nos autos da ação ordinária diz respeito à pretensão de reintegração no cargo de policial militar, matéria que desborda da competência da Justiça Comum, pois, nos termos do 4 do art. 125 da Carta Magna, com redação dada pela EC n 45/2004, a

6 Página 6 de 7 competência para ações judiciais que envolvam ato disciplinar militar é do juízo militar, razão pela qual deve ser mantida a decisão que declinou a competência para a Justiça Militar. Precedentes. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº , Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 09/10/2009) DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SOLDADO DA BRIGADA MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ATO DISCIPLINAR MILITAR. EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004. Competência da Justiça Militar para ações judiciais contra atos disciplinares militares, conforme o 5º, do art. 125 da CF, com redação dada pela EC 45/2004. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO. COMPETÊNCIA DECLINADA DE OFÍCIO, INCLUSIVE COM DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS PRINCIPAIS PARA JUSTIÇA MILITAR. (Agravo de Instrumento Nº , Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, Julgado em 06/04/2005) Por outro lado, tratando-se de competência em razão da matéria, portanto, absoluta, pode ser conhecida em qualquer tempo e grau de jurisdição, nos termos do disposto no caput do art. 113 do CPC: Art A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção. (...) Sobre o tema, a lição de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart 1 : (...) Porque fixada em razão do interesse público, a incompetência absoluta pode ser reconhecida a qualquer momento no processo e em qualquer grau de jurisdição, a requerimento da parte que deve alegar a questão em preliminar na contestação (art. 301, II), ou na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos ou mesmo de ofício pelo juiz (art. 113). Trata-se, portanto, de defeito insanável e incorrigível, não sujeito à preclusão e passível de reconhecimento a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, mesmo de ofício. (...). Por fim e pelas razões expostas, impõe-se a manutenção da decisão.

7 Página 7 de 7 Ante o exposto, nego seguimento ao recurso, por manifesta improcedência. Diligências legais. Porto Alegre, 07 de março de Des. Eduardo Delgado, Relator. mpr 1 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento. 8ª edição revista e atualizada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 43.