D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA DE IMÓVEL. DECLARAÇÃO DE FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO POSTERIOR À INSCRIÇÃO DO CRÉDITO EM DÍVIDA ATIVA. PRESUNÇÃO DE FRAUDE. ART. 185 DO CTN. NECESSIDADE DE CONCOMITÂNCIA DA INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR. Conquanto a declaração da fraude nas execuções fiscais não dependa de prévio registro de penhora sobre o bem alienado nos órgãos responsáveis e de prova da má-fé do terceiro adquirente sendo inaplicável ao caso a Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça, a legislação também prevê como requisito o estado de insolvência do devedor, que não foi demonstrado. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº (N CNJ: ) BRASILIFT EQUIP DE MOVIMENTACAO DE CARGAS LTDA VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE IRAÍ AGRAVANTE AGRAVADO D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A Vistos. A Lei nº 9.756/98, que deu a atual redação ao art. 557 do CPC, dá poderes de julgamento monocrático ao relator. Prevê o caput do art. 557: O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com 1

2 súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. E diz o 1º-A do art. 557: Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. Não há dúvida acerca da possibilidade de julgamento liminar do recurso, pelo relator, quando em manifesto confronto, seja com súmula ou com jurisprudência do respectivo tribunal ou de Tribunal Superior. Ou, ainda, quando manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicado, hipótese em que poderá o relator negar-lhe seguimento. E o entendimento majoritário deste Tribunal é no sentido de que a matéria pode, ainda, ser pacífica na respectiva Câmara, sem que necessite o ser em todo o Tribunal. Assim como o julgamento poderá se dar liminarmente quando a jurisprudência for dominante no respectivo tribunal, em que pese o 1º-A do art. 557 assim não o refira expressamente. Tal conclusão, pois, chega-se facilmente pela analogia do disposto no caput do mesmo dispositivo de lei. E mesmo porque uma das principais finalidades do julgador, por óbvio, é a desobstrução das pautas e a celeridade processual. por outros fundamentos. Nego seguimento, ao recurso, mantendo a decisão, ainda que Conquanto a declaração da fraude nas execuções fiscais não dependa de prévio registro de penhora sobre o bem alienado nos órgãos responsáveis e de prova da má-fé do terceiro adquirente 1 sendo 1 Art Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda 2

3 inaplicável ao caso a Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça 2, a legislação também prevê como requisito a insolvência do devedor, a qual não foi demonstrada neste caso. Dita o parágrafo único do art. 185 do Código Tributário Nacional que não se aplica a presunção de alienação fraudulenta quando forem reservados pelo devedor bens ou rendas suficientes para pagamento da dívida. E no caso concreto, não há provas nos autos de que o imóvel sobre o qual recaiu a penhora seja o único bem passível de constrição. É só ver que não houve pedido de penhora sobre o faturamento da empresa. Neste sentido: AGRAVO. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO NA FORMA MONOCRÁTICA, FORTE NA REGRA DO ART. 557 DO CPC. Tratando-se de matéria compreendida entre as hipóteses do art. 557 do CPC, havendo orientação jurisprudencial deste Tribunal de Justiça, bem como entendimento do STJ acerca do tema, autorizado estava o Relator ao julgamento singular. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. FRAUDE À EXECUÇÃO. NÃO CARACTERIZADA. OFERTA DE BENS À PENHORA PELO DEVEDOR. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 593, II, DO CPC E 185, PARÁGRAFO ÚNICO DO Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.(redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) 2 AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL APÓS A INSCRIÇÃO DOS DÉBITOS EM DÍVIDA ATIVA. FRAUDE À EXECUÇÃO. O Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do REsp /PR, firmou entendimento de que, nas execuções fiscais, o reconhecimento de fraude à execução independe da existência de registro da penhora do bem alienado ou de prova de má-fé do terceiro adquirente, bastando que a alienação tenha sido posterior à citação do devedor ou à inscrição em dívida ativa - caso efetivada, respectivamente, antes ou depois da vigência da LC nº 118/2005 -, sem que reservados bens suficientes ao pagamento do débito. Inaplicabilidade da Súmula 375 às execuções fiscais. Caso concreto em que a transferência da propriedade imobiliária ocorreu posteriormente à inscrição dos débitos em dívida ativa e na vigência da Lei Complementar nº 118/05, caracterizando-se, portanto, fraude à execução. RECURSO PROVIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº , Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em 23/05/2013) 3

4 CTN. Não preenchidos os requisitos para a caracterização de fraude à execução, conforme os artigos 593, II, do CPC e 185, parágrafo único do CTN, não há como se declarar a ineficácia da alienação do imóvel em questão em relação ao credor, porque não demonstrado o estado de insolvência do alienante. Hipótese em que o devedor nomeou bens à penhora, com valor superior à execução quando firmado o termo de penhora, não demonstrando o credor a inexistência de outros bens para reforço em face do valor atualizado da execução. Precedentes do TJRS e STJ. Agravo desprovido. (Agravo Nº , Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Zietlow Duro, Julgado em 16/05/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ALIENAÇÃO DE BEM POSTERIOR À INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA. ART. 185 DO CTN. Tratando-se de execução fiscal de crédito tributário, não se aplicam os arts. 593 e 615-A, 3º do CPC, nem o enunciado nº 375 da Súmula do STJ, em razão da existência de regra especial que regula a matéria (art. 185 do CTN). A averbação de restrição ou penhora não é requisito indispensável para a caracterização de fraude. A mera alienação de bens pelo demandado, quando inscrito em dívida ativa por débito capaz de reduzi-lo a insolvência (posteriormente à LC nº 118/05) é suficiente para tornar o ato ineficaz perante o credor. O interesse público sobrepõe-se à boa-fé do adquirente, sendo desnecessária a prova de consilium fraudis para o reconhecimento da ineficácia do negócio jurídico entabulado. Precedente do STJ em Recurso Especial Representativo de Controvérisa (RESP nº /PR, processado na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil). AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Almir Porto da Rocha Filho, Julgado em 19/12/2012) APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO FISCAL. FRAUDE. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. CONFIGURA-SE A FRAUDE À 4

5 EXECUÇÃO QUANDO, AO TEMPO DA ALIENAÇÃO OU DA ONERAÇÃO, CORRIA CONTRA O DEVEDOR DEMANDA CAPAZ DE REDUZÍ-LO À INSOLVÊNCIA. NO CASO EM APREÇO, QUANDO DA AQUISIÇÃO DO BEM PELO EARGANTE, SEQUER HAVIA SIDO AJUIZADA A EXECUÇÃO FISCAL. BOA-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE QUE SE PRESUME. À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. (Apelação Cível Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francisco José Moesch, Julgado em 16/05/2012) Obviamente, caso verificada a insolvência, poderá ser novamente postulada a penhora e a declaração de fraude na alienação do imóvel. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso, mantendo a decisão atacada, ainda que por outros fundamentos. Comunique-se. Intimem-se. Porto Alegre, 14 de julho de DES.ª MARILENE BONZANINI, Relatora. 5