Agravo de Instrumento nº Comarca de Sorocaba Agravante: José Antonio Caldini Crespo Agravada: Câmara Municipal de Sorocaba

Transcrição

1 fls. 144 Agravo de Instrumento nº Comarca de Sorocaba Agravante: José Antonio Caldini Crespo Agravada: Câmara Municipal de Sorocaba Vistos. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão proferida nos autos de ação anulatória de ato legislativo (processo nº ), copiada às fls. 28/34, que indeferiu tutela de urgência para que fosse determinada a suspensão dos efeitos do Decreto Legislativo nº da Câmara de Vereadores de Sorocaba, que cassou o mandato de Prefeito Municipal de JOSÉ ANTONIO CALDINI CRESPO, por infração ao artigo 4º, incisos VI, VIII e X, do Decreto-Lei 201/67. De início, o agravante requereu a distribuição por dependência aos autos de agravo de instrumento nº Nas razões recursais, sustenta que o processo de votação de cassação de seu mandato como prefeito encontra-se eivado de ilegalidades, pois (i) o impedimento do vereador Anselmo Neto teve por base o Regimento Interno da Câmara Municipal, em violação à Súmula Vinculante 46, que dispõe que o estabelecimento das normas de processo e julgamento dos crimes de responsabilidade são de

2 fls. 145 competência legislativa privativa da União; (ii) não foi observado o quórum necessário para votação do impedimento; (iii) há prova documental de que o vereador impedido (Anselmo Neto) não foi seu procurador; e (iv) houve cerceamento de defesa, pois, após o ingresso de novo julgador (vereador suplente), não se permitiu a leitura das peças processuais. Afirma que a tutela ora pleiteada tanto poderia ser fundamentada com base nos requisitos do artigo 300, do CPC/2015 (tutela de urgência) quanto com base nos requisitos do artigo 311, inciso II, do CPC/2015 (tutela de evidência). Requer a antecipação da tutela recursal para que se determine a suspensão dos efeitos do Decreto Legislativo nº 1544 da Câmara de Vereadores de Sorocaba e, ao final, pede o provimento do recurso. Originalmente, os autos foram distribuídos à Relatoria da Excelentíssima Desembargadora Heloísa Martins Mimessi, com assento na 5ª Câmara de Direito Público, em razão da prevenção ao Agravo de Instrumento de nº (fl. 76). No entanto, conforme despacho de fls. 83/89, houve recomendação, por parte da Excelentíssima Desembargadora, de redistribuição dos autos a esta C. 8ª Câmara de Direito Público, em razão do reconhecimento da conexão, em primeiro grau, entre a ação de anulatória de nº e o mandado de segurança de nº

3 fls e da matéria discutida em ambos os processos, referentes à anulação da votação que culminou na cassação do mandato de Prefeito Municipal do ora agravante, anotando-se, todavia, inexistência de oposição, por parte da Relatoria, quanto à eventual devolução dos autos, sem a necessidade de suscitação de conflito de competência. O agravante peticionou às fls. 78/82, requerendo a manutenção da distribuição do recurso de agravo à C. 5ª Câmara de Direito Público, reiterando o pedido às fls. 91/98. A Câmara Municipal de Sorocaba também se manifestou nos autos, requerendo a remessa do feito a esta C. 8ª Câmara de Direito Público, para julgamento conjunto com os autos de Agravo de Instrumento nº , nos termos do artigo 286, inciso III, c.c. 55, 3º, do CPC/2015 (fls. 129/133). Por determinação da presidência da Seção de Direito Público, foram os autos redistribuídos a esta C. 8ª Câmara de Direito Público, ressalvada a possibilidade de desafiar a competência (fl. 142). Pois bem. Tendo em vista a manifestação da Excelentíssima Desembargadora ad quem, no sentido de, caso haja entendimento diverso por esta C. 8ª Câmara de Direito Público, não haver oposição a que os autos nos sejam devolvidos,

4 fls. 147 independentemente suscitação de conflito, para que não se postergue mais o conhecimento da causa (fl. 88), recomenda-se a devolução dos autos à C. 5ª Câmara de Direito, em razão da prevenção ao Agravo de Instrumento nº À evidência, encontram-se, em trâmite, os seguintes processos judiciais cuja matéria refere-se à cassação do mandato de Prefeito Municipal de Sorocaba: (i) Mandado de Segurança nº (segredo de justiça) impetrado por JOSÉ ANTONIO CALDINI CRESPO e outro, que visa à declaração da ilegalidade da abertura do processo de cassação mandato do impetrante como Prefeito Municipal de Sorocaba, originando, em razão do indeferimento da liminar, a interposição do Agravo de Instrumento de nº , distribuído livremente à C. 5ª Câmara de Direito Público, em 07/07/2017; (ii) Mandado de Segurança nº , impetrado por ANSELMO ROLIM NETO, buscando a anulação da sessão de julgamento que culminou na cassação do mandato de JOSÉ ANTONIO CALDINI, por ter sido impedido de votar, originando, em razão do indeferimento da liminar, a interposição do Agravo de Instrumento de nº , distribuído livremente à C., em 31/08/2017; e (iii) Ação Anulatória de Ato Legislativo nº , ajuizada por JOSÉ ANTONIO CALDINI CRESPO, que objetiva o reconhecimento da nulidade do

5 fls. 148 Decreto Legislativo nº da Câmara de Vereadores de Sorocaba, originando, em razão do indeferimento da tutela provisória, a interposição do presente Agravo de Instrumento de nº , distribuído por prevenção à C. 5ª Câmara de Direito Público, em 06/09/2017. Com efeito, O Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em seu Título II Competência, no Capítulo das Regras de Competência Jurisdicional, seção II da Prevenção, artigo 105, dispõe que: A Câmara ou Grupo que primeiro conhecer de uma causa, ainda que não apreciado o mérito, ou de qualquer incidente, terá a competência preventa para os feitos originários conexos e para todos os recursos, na causa principal, cautelar ou acessória, incidente, oriunda de outro, conexa ou continente, derivadas do mesmo ato, fato, contrato ou relação jurídica, e nos processos de execução dos respectivos julgados. (Destaquei).

6 fls. 149 No caso, assiste razão o agravante, nos termos da manifestação de fls. 91/98, quanto à necessidade de manutenção da competência, por prevenção, à C. 5ª Câmara de Direito Público, que primeiro conheceu da causa relativa à legalidade da instauração do processo de cassação do mandato de Prefeito Municipal, do qual decorreram os demais atos sucessivos (sessão de julgamento e publicação de Decreto Legislativo), os quais são objetos das ações supracitadas. Notadamente, o resultado do julgamento dos autos de Agravo de Instrumento nº , primeiro a ser distribuído e que tem por objeto a suspensão do processo instaurado pela Câmara Municipal de Sorocaba, repercutirá no resultado do presente recurso, visto que, em caso de provimento daquele agravo, o Decreto Legislativo ora impugnado, a princípio, não produzirá efeitos. Assim, vislumbra-se a possibilidade de que sejam prolatadas decisões conflitantes ou prejudicadas, o que vai de encontro aos princípios da efetividade e celeridade processuais. Portanto, verifica-se que a C. 5ª Câmara de Direito Público foi a primeira Câmara a conhecer da causa que gerou referidos processos e, portanto, encontra-se preventa para o julgamento do feito. Anote-se, desde já, o reconhecimento da prevenção também para o julgamento dos autos de Agravo de

7 fls. 150 Instrumento nº Vale ressaltar que o art. 102 [atual art. 105] do Regimento Interno não cuida da modificação de competência entre órgãos judiciários, mas da distribuição do serviço dentre de um mesmo órgão judiciário (o Tribunal); e estabelece a prevenção em termos mais amplos que a lei processual civil ou penal, cumprindo duas finalidades relevantes: contribui para a coerência dos julgamentos e facilita a análise da turma julgadora, já familiarizada com os fatos da causa. A disposição beneficia a câmara preventa, que recebe um processo sobre matéria conhecida ao invés de outro versando fato e direito novo, sem ofensa ao juiz natural estabelecido por sorteio por ocasião da primeira distribuição. É por isso que a prevenção deve ser vista com largueza e flexibilidade, pois atende ao interesse da jurisdição, do jurisdicionado e mesmo dos desembargadores que compõem o tribunal (TJSP, Conflito de Competência n , Turma Especial do Direito Público, j , rel. Des. Torres de Carvalho). Em outras palavras, a definição dos critérios de conexão e de prevenção em Segundo Grau são mais amplos, afirmando o Regimento Interno uma e outra, açambarcando também as demandas 'derivadas do mesmo ato, fato, contrato ou relação jurídica', dentre as demais hipóteses determinantes da prevenção (TJSP, Conflito de Competência n , Grupo Especial da Seção de Direito Privado, j , rel. Des. João Carlos Saletti) (in Apelação nº , Rel. Des. Gilson Delgado Miranda, j. em 14/06/2016). Desta forma, por se tratar de hipótese de prevenção, nos termos do artigo 105 do Regimento Interno, carece, portanto, a presente turma julgadora de competência para

8 fls. 151 análise da pretensão aduzida nestes autos, competindo à C. 5ª Câmara de Direito Público deste E. Tribunal de Justiça, de fato, a apreciação do presente Agravo de Instrumento. Diante do exposto, encaminham-se os autos ao Excelentíssimo Des. Presidente da Seção de Direito Público, com sugestão de devolução dos autos à C. 5ª Câmara de Direito Público, sendo juiz certo a Desembargadora Heloísa Martins Mimessi, ante a observação da desnecessidade de suscitação de conflito de competência pela própria Relatoria originária (fl. 88). Int. São Paulo, 25 de setembro de Antonio Celso Faria Relator