Espectro da Vigilância de Doenças Provenientes de Alimentos



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Transcrição:

Espectro da Vigilância de Doenças Provenientes de Alimentos Romulo Colindres, MD, MPH GSS Nível 1 Rio de Janeiro, Setembro 2005

Objetivos Revisar pontos básicos da vigilância Definição Passos Propósito Compreender o espectro da vigilância sobre doenças provenientes de alimentos

Definição de vigilância Coleta, análise, interpretação e disseminação de dados, de forma sistemática e contínua, para ação de saúde pública Coleta Ação de saúde pública Disseminação Análise Interpretação

Passos na vigilância Avaliação do sistema de vigilância Investigação Pesquisa Ação de saúde pública Definição de caso Esquema de amostras Ferramenta de coleta de dados Disseminação Relatórios Alertas Publicações Coleta Transferência de dados Base de dados Entrada de dados Plano de análise Análise Interpretação Real vs. artificial Comparações e explicações Tempo Pessoa Lugar

Propósito da vigilância Vigilância não é a simples coleta de números e elaboração de relatórios anuais Vigilância é conduzida para melhor controlar uma doença e deve levar a uma ação de saúde pública Detecta surtos Mensura magnitude, gravidade, carga e tendências da doença Melhora compreensão da doença Programar guias e políticas de vigilância

Espectro da vigilância de doenças entéricas Implementa capacidade e infraestrutura Vigilância integrada da cadeia alimentar Vigilância com suporte de laboratórios Predominância de patógenos provenintes de alimentos: Salmonella não-typhi, Campylobacter Mudança epidemiológica Vigilância de síndromes Inexistência de vigilância formal Predominância de patógenos provenientes da água: Vibrio cholerae, S. typhi Fonte: WHO, 2002

Pirâmide da vigilância Caso é relatado Laboratório identifica patógeno Amostra é submetida ao laboratório Médico solicita amostra Paciente vai ao médico Paciente apresenta sintomas

Pirâmide da vigilância * Casos humanos comparados a dados de animais/ alimentos * Caso é relatado * Laboratório identifica patógeno * Amostraésubmetidaa laboratório * Médico solicita amostragem * Médico relata caso * Paciente vai ao médico * Paciente com sintomas Vigilância integrada Vigilância com suporte de laboratórios Vigilância de síndromes Inexistência de vigilância formal

Inexistência de vigilância formal Cenário País politicamente instável, guerra recente, Capacidade Surtos grandes ou raros podem ser detectados Saúde pública não tem prioridade Assistência internacional normalmente presente

Inexistência de vigilância formal Exemplo Liberia atingida pela guerra: infra-estrutura de saúde precária Jun 2003: ONGs detectaram aumento nos casos de pessoas com diarréia Ao fim 18.000 casos de cólera foram relatados. OMS e MSF apoiaram o Ministério da Saúde com medidas de controle Fonte: WHO, 2003

Vigilância de síndromes Síndrome: grupo de sinais e sintomas indicativos de um diagnóstico comum Paralisias flácidas agudas (PFA-polio) Diarréia aquosa (cólera) Desinteria (Shigella, VTEC) Útil na detecção de surtos entéricos Pouco útil na vigilância de doenças entéricas: muitos patógenos presentes com os mesmo sintomas

Vigilância de síndromes Requerimentos Coleta, análise e interpretação de dados de síndrome Uso de definição de caso padrão Não há vigilância com suporte de laboratórios Capacidade Diferenciar entre diarréia aquosa e desinteria Tendências podem ser acompanhadas ao longo do tempo Populações de alto risco podem ser identificadas Surtos podem ser identificados

Vigilância de síndromes Monitorização das Doenças Diarréicas Agudas no Brasil A MDDA consiste em coleta, consolidação e análise de dados mínimos: Idade, procedência, data do início dos sintomas, data do atendimento, plano de tratamento. Visando Detectar surtos e recomendar medidas oportunas de prevenção, controle e avaliação do impacto das ações.

Vigilância de síndromes Exemplo Casos de Diarréia por Semana Epidemiológica - Rio Branco - 2003, 2004 e 2005 1,400 1,200 Número de Casos 1,000 800 600 400 200 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 2003 2004 2005 Semana Epidemiológica

Vigilância com suporte de laboratórios Diagnóstico feito com base em resultados de laboratório Usado para: Salmonella Campylobacter E. coli Muito útil na vigilância de doenças entéricas Já que muitos patógenos apresentam sinais e sintomas semelhantes, laboratórios ajudam a identificar e diferenciar causas

Vigilância com suporte de Requerimentos Coleta, análise e interpretação de dados de laboratório laboratórios Capacidade Patógenos causadores de doença podem ser identificados e priorizados Definição de casos-padrão Métodos de laboratório padrão Garantia de qualidade do laboratório Compartilhamento de dados com saúde pública/ epidemiologistas Tendências específicas de cada patógeno podem ser determinadas ao longo do tempo Surtos podem ser detectados Alimentos de alto risco podem ser identificados

Vigilância com suporte de laboratórios Exemplo A Itália utiliza vigilância com suporte de laboratórios para controle de doenças provenientes de alimentos

Vigilância com suporte de laboratórios Exemplo A Itália investiga surtos e identifica fonte de alimento, mas não compara rotineiramente dados humanos aos de alimentos

Vigilância integrada da cadeia alimentar Analisa dados ao longo de toda a cadeia alimentar para identificar fontes e avaliar intervenções Tipos de dados: Humano Alimentos Animal Pode incluir vigilância ativa em postos de vigilância sentinela do país

Vigilância integrada da cadeia alimentar Requerimentos Disponibilidade e comparação de dados de animais, alimentos e humanos Suporte dos laboratórios Capacidade Surtos e suas origens podem ser identificados Ligações podem ser identificadas entre doenças humanas e fontes de alimento/ animais Frequentemente utiliza vigilância ativa e postos de vigilância Eficiência de políticas de segurança dos alimentos pode ser avaliada

Vigilância integrada da cadeia Na Dinamarca, vigilância é conduzida rotineiramente analisando espécimens humanos, de alimentos e animais alimentar Exemplo 0.4 0.3 0.2 Salmonela em porcos e humanos, Dinamarca, 1995-1999 20 15 10 Tendências em doenças humanas são comparadas a tendências em animais e alimentos Medidas de controle direcionadas a animais e alimentos são avaliadas 0.1 0-0.1-0.2-0.3 1995 1996 1997 1998 1999 Porco Casos Humanos Fonte: Hald T, Andersen JS. 2001 5 0-5 -10-15

Postos de Vigilância Exemplo USA FoodNet Foodborne Diseases Active Surveillance Network (Rede de Vigilância Ativa sobre Doenças Provenientes da Alimentação) em 10 postos para Salmonella, Shigella, Campylobacter, E. coli O157, Listeria, Yersinia, Vibrio, Cryptosporidium, Cyclospora Vigilância Ativa com base em laboratórios Inspeção de laboratórios clínicos Inspeção de médicos clínicos Inspeção da População Estudos epidemiológicos

Em que posição você se encontra? Que tipo de vigilância está instituída em seu país? Qual é o papel dos dados de laboratório na vigilância de doenças provenientes de alimentos no seu país? Vocês compartilham informação entre laboratórios de animais, alimentos e humano? O que você pode fazer para melhorar a vigilância de doenças provenientes de alimentos em seu país?

Perguntas