SÍNDROME HELLP E FÍGADO GORDUROSO AGUDO NA GESTAÇÃO

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SÍNDROME HELLP E FÍGADO GORDUROSO AGUDO NA GESTAÇÃO UNITERMOS GRAVIDEZ; SÍNDROME HELLP; FÍGADO GORDUROSO; PRÉ-ECLÂMPSIA Luiza Machado Kobe Lauren Marquardt Burrmann Bruno Grund Frota Edson Vieira da Cunha Filho KEYWORDS PREGNANCY; HELLP SYNDROME; FATTY LIVER; PRE-ECLAMPSIA SUMÁRIO Síndrome HELLP e fígado gorduroso agudo da gestação são patologias obstétricas associadas a alta mortalidade materna e fetal. Esta revisão objetiva o diagnóstico diferencial e o tratamento de ambas doenças. SUMMARY HELLP syndrome and acute fatty liver of pregnancy are obstetric disorders related to high maternal and fetal mortality. This review aims to differential diagnosis and treatment of both diseases. INTRODUÇÃO Síndrome HELLP e fígado gorduroso agudo da gestação (FGAG) são doenças exclusivas da gravidez, com sintomatologia inespecífica e semelhante, porém com prevalência e prognóstico distintos. Ambas são associadas a desfechos obstétricos negativos e portanto devem ser manejadas com precisão e rapidez. SÍNDROME HELLP HELLP é um acrônimo que se refere a síndrome gestacional que engloba hemólise (H), elevação de enzimas hepáticas (EL) e plaquetopenia (LP). Embora até 15 a 20% das pacientes possam não apresentar hipertensão e/ou proteinúria, a Síndrome HELLP é considerada uma forma severa de pré-

eclâmpsia (PE), acometendo cerca de 10% das pacientes com PE e até 50% das pacientes com eclâmpsia 1. A etiologia é indeterminada e tem incidência aproximada de 0,2 a 0,6% de todas as gestações. História prévia de HELLP ou pré-eclâmpsia é um dos mais importantes fatores de risco 2. O surgimento do quadro ocorre predominantemente entre 26 e 38 semanas de gestação, porém há a possibilidade de manifestação no segundo trimestre e no pós parto. Apresenta formas variáveis de severidade, podendo nos casos mais graves levar a falência hepática, coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda, descolamento de placenta, óbito fetal e materno 3. INVESTIGAÇÃO A sintomatologia é inespecífica, variada e os sintomas podem até mesmo estar ausentes. A manifestação clínica mais comum é dor ou desconforto abdominal em região epigástrica ou em quadrante superior direito. Outros sintomas incluem náuseas e vômitos, cefaléia e mal estar. Hipertensão e proteinúria estão presentes em cerca de 80-90% das pacientes acometidas, portanto a alta suspeição da síndrome em pacientes com PE se faz necessária. Pacientes que manifestem tais sintomas no pós parto também devem ser investigadas. O diagnóstico é laboratorial e definido por: *Anemia hemolítica microangiopática -Esquizócitos no sangue periférico ou -Bilirrubinas totais >= 1,2 mg/dl ou -LDH >= 600 UI/L * Contagem de plaquetas <100000 células/microl * TGO >= 70 UI A trombocitopenia tende a ser o primeiro parâmetro a se alterar e apresenta relação direta com a gravidade da doença. Quanto maior a trombocitopenia mais grave é o quadro. Caso a paciente não se enquadre em todos os critérios definimos como HELLP parcial 4. TRATAMENTO Toda paciente com HELLP, seja parcial ou completa, necessita internação hospitalar e monitorização materna e fetal. Exames laboratoriais como provas de coagulação, função renal e hepática devem ser monitorizados a fim de antever um desfecho desfavorável. O foco do tratamento é a interrupção da gestação após estabilização materna e definição precisa da idade gestacional. A via de parto é de indicação obstétrica.

A estabilização materna envolve a administração cautelosa de fluidos, o controle da hipertensão, correção da coagulopatia (se presente) e a prevenção ou tratamento de convulsões. O manejo de crise hipertensiva está descrito no Cap. 30 desta Acta. Caso a paciente apresente sinais premonitórios e de eclâmpsia deve-se administrar sulfato de magnésio na dose inicial da 4 a 6 gramas EV em 20 minutos e após manter com dose de 1 a 2 gramas EV por hora até 24 horas após a interrupção da gestação 5. A transfusão de plaquetas está indicada sempre que o valor for inferior a 20.000/μL ou na presença de sangramento significativo e equimoses extensas. Se houver indicação de cesariana e a contagem for inferior a 50000/μL também se faz necessária. Nesses casos, evita-se a anestesia peridural ou subaracnóide, e opta-se por anestesia geral. O parto deve ser imediato após a estabilização nos seguintes casos: Casos graves com instabilidade hemodinâmica: CIVD, insuficiência renal, descolamento de placenta, infarto ou hemorragia hepática, edema pulmonar. Gestações >= 34 semanas Inviabilidade fetal Situação fetal não tranquilizadora O manejo conservador com adiamento do parto em até 48h pode ser tentado em pacientes estáveis e com idade gestacional entre 24 e 34 semanas a fim de se realizar duas doses de corticóide para maturação pulmonar 6. A recuperação começa a ocorrer entre 24 a 48 horas após a retirada da placenta, devendo-se atentar para possíveis sangramentos, edema agudo de pulmão, hematoma hepático e insuficiência renal. FÍGADO GORDUROSO AGUDO DA GESTAÇÃO Importante diagnóstico diferencial da Síndrome HELLP, o fígado gorduroso agudo da gestação (FGAG) é uma condição rara, caracterizada por infiltração microvesicular de gordura nos hepatócitos, falência hepática e encefalopatia. Associada a elevadas taxas de mortalidade materna e neonatal, de até 18% e 55%, respectivamente, tornam-se o diagnóstico precoce e tratamento adequado imprescindíveis para a melhora dos desfechos. Apresenta incidência variável de 1 em 7000 a 1 em 16000 partos e ocorre quase exclusivamente no terceiro trimestre gestacional, exceto por poucos casos descritos no segundo trimestre. Gestações múltiplas, gravidez de feto masculino, primiparidade e desnutrição materna são fatores de risco conhecidos. Sua etiologia não é totalmente elucidada, entretanto envolve anormalidades na betaoxidação mitocondrial de ácidos graxos e alterações genéticas fetais 7.

INVESTIGAÇÃO Embora o padrão ouro para o diagnóstico seja biópsia hepática, em serviços de emergência a doença é definida clinicamente por suas manifestações clínicas e alterações laboratoriais utilizando-se a imagem principalmente para diagnóstico diferencial. Os sintomas iniciais surgem, mais comumente, após as 36 semanas gestacionais e são inespecíficos, sendo mais prevalente entre as pacientes: náuseas e vômitos intensos, anorexia, dor abdominal em quadrante superior direito e epigastro, cefaléia, polidipsia e posteriormente icterícia não pruriginosa. Cerca de 50% das pacientes apresentam sinais de pré-eclâmpsia, sendo a Síndrome HELLP um importante diagnóstico diferencial. Se não diagnosticada precocemente a doença pode evoluir para insuficiência hepática, com consequente coagulopatia, hipoglicemia, encefalopatia portossistêmica e insuficiência renal, sendo o óbito fetal por acidose materna frequente neste estágio. Alterações laboratoriais incluem: aumento de transaminases (300-500UI/L), aumento de bilirrubinas (até 10mg/dl), aumento de fosfatase alcalina, hipoglicemia grave, hiperuricemia, aumento de uréia e creatinina, leucocitose, anemia discreta, hipofibrinogenemia e aumento do tempo de protrombina. Diferentemente da síndrome HELLP, hemólise e trombocitopenia são incomuns. A pesquisa de marcadores virais para hepatite permite afastá-las no diagnóstico diferencial. Métodos de imagem incluem ultrassonografia abdominal, podendo mostrar aumento da ecogenicidade hepática que é sugestivo de infiltração gordurosa no fígado, e tomografia computadorizada de abdome com diminuição da densidade hepática. Ambos os métodos mostram baixa sensibilidade na confirmação diagnóstica tendo sua importância na exclusão de outras patologias 8. A biópsia hepática confirma o diagnóstico ao evidenciar infiltração microvesicular de gordura nos hepatócitos, porém é incomum e só é realizada em casos duvidosos pela dificuldade de execução que a gestação impõe e pelo risco de sangramento. TRATAMENTO O foco do tratamento é estabilização materna e interrupção imediata da gestação, único fator capaz de interromper a deterioração hepática. Quanto à via de parto, a escolha decorre de indicação obstétrica visando a resolução mais rápida 9. Casos graves devem ser manejados em unidade de terapia intensiva e conforme a necessidade deverá ser feito reposição volêmica, correção de

hipoglicemia e correção de coagulopatias com reposição de plasma fresco, crioprecipitado e plaquetas. A recuperação clínica e laboratorial inicia logo após o parto com resolução plena entre 1 a 4 semanas, normalmente sem sequelas 10. CONCLUSÃO Síndrome HELLP pode ser de difícil distinção clínica de FGAG uma vez que ambas ocorrem em período gestacional semelhante e compartilham várias características clínicas. A distinção de ambas é útil para estabelecimento diagnóstico, entretanto, a conduta será similar, pois ambas requerem interrupção da gestação para a cura. A avaliação laboratorial é útil para diagnóstico diferencial, sendo o prolongamento de TP e KTTP, hipoglicemia grave e elevação de creatinina mais comuns em FGAG do que em HELLP, e plaquetopenia e hemólise, mais característicos de HELLP, assim como a hipertensão associada. Ambas as doenças possuem elevada mortalidade e morbidade materna e fetal e as pacientes com FGAG podem desenvolver rapidamente insuficiência hepática e encefalopatia. REFERÊNCIAS 1. Joshi D, A. James A, Quaglia A, et al. Liver disease in pregnancy. Lancet 2010;375:594-605. 2. Than NN, Neuberger J. Liver abnormalities in pregnancy. Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2013 Aug;27(4):565-75. 3. Sibai BM. HELLP syndrome. [Database on internet] 2016 May 25 [updated 2016 Jun]. In: UpToDate. Available: http://www.uptodate.com/contents/hellp-syndrome. 4. Mihu D, Costin N, Mihu CM, et al. HELLP syndrome- a multisystemic disorder. J Gastrointestin Liver Dis. 2007 Dec;16(4):419-24. 5. Acauan Filho BJ, Cunha Filho EV, Steibel G, et al. Obstetrícia de plantão: da sala de admissão ao pós parto. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2012. 6. American College of Obstetricians and Gynecologists; Task Force on Hypertension in Pregnancy. Hypertension in pregnancy. Report of the American College of Obstetricians and Gynecologists Task Force on Hypertension in Pregnancy. Obstet Gynecol. 2013;122(5):1122-31. 7. Bacak SJ, Thornburg LL. Liver failure in pregnancy. Crit Care Clin. 2016 Jan;32(1):61-72. 8. Bacq Y, Lee RH. Acute fatty liver of pregnancy. [Database on internet] 2015 Aug 10 [updated 2016 Jun]. In: UpToDate. Available: http://www.uptodate.com/contents/acute-fatty-liver-of-pregnancy. 9. Bacq Y. Acute fatty liver of pregnancy. Semin Perinatol. 1998; 22(2):134-40. 10. Shekhar S, Diddi G. Review article: liver disease in pregnancy. Taiwan J Obstet Gynecol. 2015 Oct;54(5):475-82.