CANTIGAS DE RODA, RODAS CANTADAS E BRINCADEIRAS EM RODA: UMA ESCRITA COM DIFERENTES AUTORES(AS)



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Transcrição:

CANTIGAS DE RODA, RODAS CANTADAS E BRINCADEIRAS EM RODA: UMA ESCRITA COM DIFERENTES AUTORES(AS) Everton Arruda Irias E.P.G. Paulo Freire O desenvolvimento deste trabalho aconteceu no primeiro semestre de 2012, na E.P.G. Paulo Freire, localizada no bairro Soberana, na cidade de Guarulhos. As turmas envolvidas foram os 1 os Anos D, E e F, do Ensino Fundamental de nove anos. A rede educacional da cidade de Guarulhos mantêm Escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental I, e EJA. Em se tratando de Ensino Fundamental I, nesta escola, as turmas são distribuídas em três períodos (Manhã, Intermediário e Tarde), com carga horária diária de 4 horas. Os 1º Anos envolvidos neste trabalho frequentavam o período da tarde. Nestas circunstâncias descritas, a disciplina Educação Física é contemplada com uma aula semanal, apenas para alunos e alunas do Ensino Fundamental I. O processo de problematização da manifestação corporal nas aulas Educação Física, presente neste trabalho, durou dez semanas, portanto, dez aulas. A Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos possui como parâmetro curricular um caderno denominado Quadro de Saberes Necessário (QSN), onde as expectativas de aprendizagem são divididas por eixos e não por disciplinas. Entretanto, considerando que a tematização dos conteúdos oriundos da manifestação corporal abordada nesta descrição, tentou seguir os pressupostos norteadores do currículo cultural da Educação Física, e que também sou Professor Efetivo da rede municipal de São Paulo, o suporte pedagógico adotado também esteve presente nos diversos documentos e referenciais didáticos que embasam esta teoria curricular. Tendo em vista os alicerces que mantêm uma tematização pautada no currículo cultural, dentre eles: a consideração da cultura de chegada dos alunos e alunas; a justiça curricular; a descolonização do currículo; a ancoragem social dos conhecimentos; e o afastamento do daltonismo cultural, iniciamos o desenvolvimento do trabalho considerando que as diferentes vozes presentes no ambiente escolar deveriam ser representadas. Cabe salientar neste momento que a escola tinha como objetivo a organização de um Projeto denominado A arte e o brincar no espaço educativo, contemplado no Projeto

Pedagógico, e traçou como uma das metas em seu Plano de Ação (documento que também dialoga com o Projeto Pedagógico da instituição), a aproximação da comunidade local ao ambiente escolar. Desta maneira, ressaltando mais um alicerce do currículo cultural, o trabalho desenvolvido esteve conectado aos objetivos educacionais e ao Projeto Pedagógico da escola. Para definir a manifestação corporal que seria tematizada, foi realizada uma conversa com as crianças, tentando levantar as manifestações corporais conhecidas pelas mesmas, e algumas presentes no entorno. Nesta conversa, pôde-se observar uma grande aproximação dos alunos e das alunas com representações provenientes das Brincadeiras e das Danças. Desta forma, considerando todo o espaço escolar que abrangia, dentre outros ambientes, uma pequena quadra, outro pequeno espaço aberto para qualquer atividade, um pátio, e uma sala de informática bem equipada, foi sugerido e aceito pelas turmas que iniciássemos o estudo de Cantigas de roda. Continuando com o mapeamento, a partir da apresentação de três imagens, algumas questões foram propostas aos alunos e alunas para que fossem respondidas coletivamente e, neste momento, as respostas foram registradas, também, na lousa. As crianças foram indagadas quanto ao que estava sendo apresentado nas imagens, quais pessoas que costumavam realizar a atividade apresentada nas figuras, e quais as diferentes formas de brincar desta atividade. Analisando as respostas, que ofereciam algumas das representações dos(as) alunos(as) acerca das Cantigas de roda, não foi possível observar, em nenhuma das turmas, uma grande ênfase em algum marcador social. Entretanto, as respostas oferecidas acabaram por ampliar a manifestação corporal estudada. Seguindo a conceituação oferecida por Silveira (2009), e a representação das crianças sobre as diferentes maneiras de realizar a atividade que estava sendo apresentada nas imagens, iniciamos o estudo não só mais de Cantigas de roda, mas também de Rodas Cantadas e Brincadeiras de roda. No entanto, para facilitar a leitura, utilizarei ao longo dos diferentes momentos do texto apenas uma das denominações, que estará representando as outras duas, mesmo reconhecendo suas diferenças. A partir deste mapeamento, foi possível delinear como objetivo do trabalho reconhecer e tornar como valiosas as características e qualidades dos(as) representantes dos diversos grupos culturais expressas pelas manifestações da cultura corporal. Dando continuidade ao processo, nas aulas seguintes vivenciamos as diferentes maneiras de brincar de Rodas cantadas, apontadas pelas crianças. Como as turmas não apontaram as mesmas formas de brincar, as vivências tornaram-se diferenciadas para cada

classe. Fizeram parte da vivência, no geral, as brincadeiras de roda: Ciranda-cirandinha, Se eu fosse um peixinho, Lencinho branco, Dança das cadeiras, Roda-roda (Caranguejo), Atirei o pau no gato, Papagaio loiro, Batata-quente, Lagartixa, Borboletinha, Escravos de Jó e Abecedário. Durante as vivências, as crianças, coletivamente, foram ressignificando as brincadeiras, criando novas formas de realizá-las. As crianças, no mapeamento, disseram alguns nomes de brincadeiras de roda que, no momento da vivência, não souberam explicar como eram realizadas. Dessa maneira algumas brincadeiras como Roda Gigante, Dança da galinha, Bate o pé no chão, Dança do cachorro, acabaram não sendo vivenciadas. Aproveitando as diferentes representações dos(as) alunos(as) sobre a manifestação corporal estudada, depois de finalizada a vivência das rodas cantadas de cada turma, duas crianças, de cada classe, foram levadas ao outro 1º Ano para explicar duas ou três brincadeiras em roda de sua turma. Estas brincadeiras também foram vivenciadas. Vale salientar que, concomitantemente ao período de vivência, as professoras de classe utilizavam as letras de algumas das cantigas de roda para auxiliar no processo de alfabetização dos(as) alunos(as). Para aprofundar e ampliar o estudo desta manifestação corporal, assistimos a alguns vídeos, presentes no site Mapa do Brincar 1, que apresentavam diferentes rodas cantadas sendo desenvolvidas em distintas regiões do Brasil. Além disso, foi proposta e aceita pelas crianças, em todas as turmas, a elaboração de algumas questões para serem respondidas pelos familiares e responsáveis, a fim de conseguirmos novas representações acerca das brincadeiras em roda. As questões foram elaboradas coletivamente e, com a ajuda das professoras de classe, foram digitadas e encaminhadas para casa de cada aluno(a). As respostas trazidas, na aula posterior, foram socializadas com cada turma. Vale dizer que nem todos(as) os(as) alunos(as) trouxeram as questões respondidas. Considerando que, no currículo cultural, o mapeamento é realizado a todo momento, a socialização das respostas possibilitou a verificação de novas representações das crianças para aspectos relacionados às brincadeiras de roda, através do confronto com as representações dos familiares. Em uma das perguntas, a grande maioria dos(as) entrevistados(as) afirmou que, quando crianças, realizavam as brincadeiras de roda na rua. Quando confrontadas com esta afirmação, boa parte das crianças afirmou ser a rua, na atualidade, um local perigoso por conta dos carros, e impossibilitado para brincadeiras e, pôde-se constatar através do 1 Mapa do brincar é um projeto de iniciativa do jornal Folha de São Paulo, que reúne cerca de 750 brincadeiras de todo o país. O endereço eletrônico é: http://mapadobrincar.folha.com.br

diálogo que, nos 1 os Anos D e E, muitos dos(as) alunos(as) não brincavam na rua. Um dos alunos do 1º Ano E teve a seguinte afirmação: Hoje em dia a rua é perigosa por causa dos carros e pedófilos ; enquanto uma outra aluna da mesma sala disse: Meu pai veio do Norte, e no Norte não tem perigo de brincar na rua porque lá não passa carro, só carroça. Os(As) alunos(as) do 1º Ano F não apresentaram uma representação tão evidente e marcante, pois a grande maioria afirmava brincar na rua, algo um pouco mais restrito nas outras duas classes. Tais diálogos trouxeram a possibilidade de delinear-se um novo objetivo, que seria o de desvelar os discursos relacionados à rua como um local perigoso, principalmente para brincar. Apoiado no papel de professor etnógrafo 2 oferecido pelo currículo cultural, fui à busca de materiais e dados que pudessem aprofundar e ampliar meus próprios conhecimentos acerca das transformações sociais e culturais que aconteceram neste meio denominado rua. Neste momento o professor Ariosto, da EMEF Raimundo Correia (escola em que ministro aula na Prefeitura de São Paulo), foi um grande colaborador no processo, por fornecer alguns de seus conhecimentos. Enquanto isso, nas aulas de todas as turmas, resgatávamos vagarosamente esta discussão. Em uma determinada aula, contando com fotos de ruas do bairro Soberana em determinados momentos da história (das ruas de terra até o asfalto), cedidas gentilmente pela professora Soraya do 1º Ano F, dialogamos sobre as transformações ocorridas nas ruas, o motivo destas mudanças, quais pessoas foram prejudicadas e quais foram favorecidas, e como seria possível brincar na rua hoje em dia. Um vídeo mostrando uma Rua de Lazer também foi apresentado para os(as) aluno(as). Durante o diálogo, chamou atenção a fala de uma das alunas do 1º Ano D: As crianças foram prejudicadas porque antigamente os pais podiam brincar na rua só que hoje em dia nós não conseguimos brincar mais. Apesar deste discurso sobre s perigos da rua não ter sido tão evidente em todas as turmas, como dito anteriormente, esta discussão acabou ocorrendo em todos os 1 os Anos. A entrevista com os familiares e responsáveis revelou também novas maneiras de brincar em roda. Tais brincadeiras, com o apoio da explicação fornecida pelos(as) entrevistados(as) na folha das respostas, foram vivenciadas nas aulas, em suas respectivas 2 Segundo Neira (2009), na condição de etnógrafo a prática e a produção coletiva exigem que todos os envolvidos estejam municiados de dados obtidos por meio de instrumentos elaborados coletivamente como observações, relatos, narrativas, constatações, entrevistas, questionários ou leituras orais dos signos pertencentes à prática corporal.

turmas. Assim como foram realizadas algumas das rodas cantadas observadas no vídeo. No geral, foram vivenciadas as seguintes brincadeiras de roda trazidas pelos familiares, e até então não apontadas pelos(as) alunos(as): Cobra-cega, Passa anel, Baratinha voou, Cai no poço, Roda de Imitação, Telefone sem fio, Lagarta Pintada e Roda Piranha. Com relação às rodas cantadas observadas nos vídeos, vivenciamos aquelas que marcaram mais para as turmas, ou seja, aquelas que as crianças lembravam: A cobra não tem pé, Cipozim, O pé de chuchu nasceu, Olha o macaco na roda. Continuando o aprofundamento e a ampliação, em uma das aulas a senhora Valdenísia (mais conhecida na escola como Dona Val), responsável pela limpeza da escola, foi convidada para conversar com os(as) alunos(as) sobre a manifestação corporal em questão. A convidada era moradora antiga do bairro, e migrante de uma cidade Nordestina. Em conversa prévia com a Dona Val antes mesmo do diálogo da mesma com as crianças, percebi que a funcionária da escola teve, em sua infância, grande contato com as brincadeiras. Para a conversa, os(as) alunos(as) elaboraram coletivamente algumas perguntas para serem feitas à convidada. Dentre essas perguntas, foi sugerido e aceito pelas crianças indagá-la sobre sua opinião quanto a realizar brincadeiras de roda na rua. Durante a conversa, Dona Val expôs seu ponto de vista quanto a este assunto, afirmando que a rua não é o local adequado para as crianças brincarem. Além disso, revelou algumas das Rodas Cantadas realizadas em sua infância. Ao final, explicou detalhadamente a brincadeira em roda chamada Lá vai a bola, que foi vivenciada pelas crianças. Com o 1º Ano D, a convidada também participou da vivência. Todo o processo de problematização das Cantigas de roda/rodas cantadas/brincadeiras em roda foi registrado através de fotos, vídeos e registros escritos feitos pelo professor. Com relação aos registros escritos, estes permitiram que fosse realizada uma avaliação através de uma escrita autopoiética, como apontada por Escudero (2011), onde as leituras e análises feitas sobre cada aula permitiam traçar novos objetivos ou ações a serem desenvolvidas. Além disso, ao final do processo foram utilizados outros mecanismos de avaliação. Em um deles, foi proposta e aceita pelas turmas a criação de uma roda cantada. Depois de muito diálogo, as crianças do 1º Ano D criaram, coletivamente, a roda cantada denominada A baratinha voou na minha sopa, e os(as) alunos(as) do 1º Ano E criaram a brincadeira em roda chamada Joãozinho e Maria. No 1º Ano F, houve muita dificuldade no diálogo e nos momentos de decisão coletiva, o que impediu a elaboração da brincadeira. As brincadeiras em roda criadas foram vivenciadas

pela sua respectiva turma. O outro mecanismo avaliativo utilizado foi a elaboração de algumas perguntas às crianças, de maneira que fossem respondidas coletivamente. Nas respostas obtidas, registradas também na lousa, foi possível perceber, em todas as turmas, que as crianças ainda consideravam a rua como um local perigoso, no entanto: no 1º Ano D também reconheciam que existem algumas crianças que conseguem fazer desse espaço um local de brincadeiras; no 1º Ano E, consideravam que brincar na rua também era legal; e no 1º Ano F, acreditavam que as brincadeiras em roda poderiam ser feitas na calçada. Além disso, em todas as turmas, os(as) alunos(as) se apropriaram de outras brincadeiras em roda, principalmente daquelas trazidas pelas pessoas e pelas tecnologias envolvidas no processo. Isso ficou bastante evidente no 1º Ano E. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SILVEIRA, R. T. Rodas Cantadas. www.rodascantadas.com.br/principal em 15 de junho de 2009. NEIRA, M.G..; NUNES, M.L.F. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Phorte, 2009. ESCUDERO, N. T. G. Avaliação da aprendizagem em educação física: uma escrita autopoiética. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. São Paulo: FEUSP, 2011. GUARULHOS. Secretaria Municipal de Educação. Quadro de Saberes Necessários. Guarulhos: SME/Guarulhos, 2010. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Orientações Curriculares e Proposições de Expectativas de Aprendizagem para o Ensino Fundamental: Ciclo II: Educação Física. São Paulo: SME/DOT, 2007.