ILUSTRÍSSIMO SENHOR PREGOEIRO DA EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA INFRAERO, DESIGNADO PELO ATO ADMINISTRATIVO Nº 3305/DFLC/SBSL/2014. Pregão Presencial n. 090/DFLC/SBSL/2014. SAUIPE ESTACIONAMENTOS LTDA., microempresa, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas sob o número 13.839.225/0001-88, sediada na Alameda das Algarobas, n. 85, loja 17, Caminho das Árvores, Município do Salvador Estado da Bahia, CEP: 41.820-500, por seu representante legal, vem, com fundamento no art. 41, 2º, da Lei n 8.666/93, IMPUGNAR o edital do certame em epígrafe, pelos motivos que passa a expor. I O EDITAL E OS VÍCIOS QUE O MACULAM. Visando a concessão de uso de áreas destinadas à exploração comercial de atividade de estacionamento de veículos, no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado São Luís/MA, publicou a EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA (INFRAERO), o edital de Pregão Presencial n. 090/DFLC/SBSL/2014. Interessada em participar da competição, a Impugnante obteve o inteiro teor do precitado documento e, após diligente leitura, verificou ilegalidades em sua regulamentação, a ensejar sua pronta anulação e consequente republicação sem os vícios que se vêm expor. É o que se passa a demonstrar. 1
II DA AUSÊNCIA DE DIVULGAÇÃO DO ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA-FINANCEIRA E DA SUMARIEDADE DO TERMO DE REFERÊNCIA. No caso vertente, o tipo licitatório adotado para julgamento é o de melhor oferta de pagamento ao Contratante, representada por um valor de repasse, que equivale ao valor de outorga do serviço. Sucede que a Comissão Licitante não disponibilizou o Estudo de Viabilidade Econômica, com as informações necessárias à aferição da exequibilidade do preço global mínimo fixado, bem como para estabelecer parâmetros voltados à definição da equação econômico-financeira do contrato, violando princípios básicos da licitação, como da legalidade, igualdade, vantajosidade, publicidade e julgamento objetivo. Não foram fornecidas pela Administração Pública qualquer informação tocante: (I) ao custo de capital empregado para outorga inicial e obras de adequações, (II) à memória de cálculo aplicada para se chegar ao valor exigido de outorga inicial de R$ 500.000,00, (III) ao fluxo médio mensal de veículos, (IV) o índice de furtos e roubos dentro do estacionamento, (V) a estimativa de faturamento bruto durante 12 meses. Neste diapasão, a incompletude do termo de referência, principalmente no tocante ao fluxo médio de veículos não permite aferir, por exemplo, se o aludido fluxo justifica a imposição pela Administração de utilização de dois caixas. Ocorre que, em que pese o conhecimento de todos os elementos elencados serem indispensáveis à apresentação de proposta hígida, adequada e condizente com a realidade, a Administração olvidou-se de divulgar as aludidas informações que deveriam ser colhidas mediante prévio Estudo de Viabilidade Econômica. Outrossim, ao veicular o edital ora impugnado a Administração Pública não supriu a aludida falha, eis que o termo de referência anexo ao edital, de igual modo, não contempla parâmetros quantitativos mínimos que possibilitem ao Licitante dimensionar com segurança os custos e possíveis ganhos com a prestação dos serviços licitados, e, por consectário lógico, a viabilidade do negócio. Como cediço, o termo de referência se destina à caracterização do objeto em todas as suas dimensões, servindo, a um só tempo, tanto para atender as necessidades da Administração Pública quanto os interesses dos particulares, especialmente no que toca à elaboração de suas propostas. É o que se extrai do art. 8º, II, do Decreto 3.555/00 que regulamenta o Pregão 2
Presencial, adiante transcrito: (...) termo de referência é o documento que deverá conter elementos capazes de propiciar a avaliação do custo pela Administração, diante de orçamento detalhado, considerando os preços praticados no mercado, a definição dos métodos, a estratégia de suprimento e o prazo de execução do contrato. (art. 8º, II, do Decreto 3.555/00) (g.n.) Essa definição é ampliada no artigo 9º, 2º do Decreto nº 5.450/2005, que regulamenta o pregão na modalidade eletrônica, conforme transcrito a seguir: O documento que deverá conter elementos capazes de propiciar avaliação do custo pela administração diante de orçamento detalhado, definição dos métodos, estratégia de suprimento, valor estimado em planilhas de acordo com o preço de mercado, cronograma físico-financeiro, se for o caso, critério de aceitação do objeto, deveres do contratado e do contratante, procedimentos de fiscalização e gerenciamento do contrato, prazo de execução e sanções, de forma clara, concisa e objetiva. (g.n.) Nesta linha de intelecção, Palavéri o conceitua como [...] o documento de natureza essencial, o que se pode verificar da sua própria definição, cabendo enfatizar que deverá estabelecer os elementos indispensáveis à formulação das propostas pelos interessados em participar da disputa [...]. 1 Como se vê, a falta de critérios objetivos essenciais à estimativa detalhada de custos e ganhos com o serviço licitado inviabiliza a avaliação quanto à compatibilidade dos preços ofertados, pelo que se faz imperiosa a retificação do edital. Como se não bastasse, a ausência dos elementos supracitados configura, ademais, violação ao princípio da isonomia, que deve nortear o procedimento licitatório 2, na medida em que a empresa que atualmente 1 PALAVÉRI, Marcelo. Pregão nas licitações municipais. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p.37 2 Art. 3 o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. (Lei nº 8666/93) 3
está prestando o serviço licitado terá natural vantagem, no momento da oferta, por deter conhecimentos privilegiados relativos ao estacionamento, que não estão explicitados no edital, e que, portanto, permite-lhe ofertar uma proposta mais próxima do que efetivamente comporta o edital no caso concreto. Importante destacar que o termo de referência, no seu particular, pode se comparar ao imprescindível Projeto Básico exigído pela Lei 8.666/93 para obras e serviços, conforme se verifica do dispositivo adiante transcrito, que conceitua o aludido instituto: Art. 6º. Para os fins desta Lei, considera-se: (...) IX. Projeto Básico conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos: a) desenvolvimento da solução escolhida de forma a fornecer visão global da obra e identificar todos os seus elementos constitutivos com clareza; b) soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma a minimizar a necessidade de reformulação ou de variantes durante as fases de elaboração do projeto executivo e de realização das obras e montagem; c) identificação dos tipos de serviços a executar e de materiais e equipamentos a incorporar à obra, bem como suas especificações que assegurem os melhores resultados para o empreendimento, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução; d) informações que possibilitem o estudo e a dedução de métodos construtivos, instalações provisórias e condições organizacionais para a obra, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução; e) subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendendo a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e outros dados necessários em cada caso; f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados; (g.n.) Inolvidável, portanto, a aplicabilidade ao caso em tela da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acerca da necessidade de 4
previsão no edital dos elementos indispensáveis à compreensão do objeto da licitação, senão vejamos: Na verdade, a exigência contida no art. 7º, I e 2º, I, da Lei 8.666/93, da exigência da apresentação do projeto básico para a licitação de execução de obras e prestação de serviços não deve ficar concentrada só no aspecto formal. A finalidade dessa exigência é para que se tornem conhecidos os elementos suficientes à compreensão e realização do objeto da licitação por parte do poder público. Se, no edital, esses elementos estão presentes, atingindo os desígnios da lei, a publicidade do objeto da licitação está presente e aberto amplo espaço para o caráter competitivo do certame, sem implicar prejuízo algum para a lisura do negócio jurídico a ser celebrado e, conseqüentemente, não ser motivo para decretação de nulidade. Esta só deve ser pronunciada, em processo de licitação, quando evidenciado prejuízo ao certame pelo descumprimento dos princípios que a rege. (STJ, Resp 773.665/RS, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO Data de Julgamento: 19/09/2006, T1 - PRIMEIRA TURMA) (g.n.) Este tipo de imprecisão só corrobora a necessidade de modificação do ato convocatório neste particular, para que nele conste elementos e critérios objetivos que permitam ao Licitante formular proposta hígida, pois, do contrário, estar-se-á obrigando-o a formular proposta potencialmente inexequível, em grande afronta ao art. 48, II, da lei n 8.666/93. 3 Evidenciado, pois, o repúdio à ausência de elementos objetivos indispensáveis à apresentação da proposta, requer a Impugnante seja sanado também este grave vício de que padece o instrumento convocatório, mediante a apresentação de Termo de Referência respaldado por prévio Estudo de Viabilidade Econômica, sob pena de nulidade do certame licitatório em comento. 3 Art. 48. Serão desclassificadas: I - as propostas que não atendam às exigências do ato convocatório da licitação; II - propostas com valor global superior ao limite estabelecido ou com preços manifestamente inexeqüiveis, assim considerados aqueles que não venham a ter demonstrada sua viabilidade através de documentação que comprove que os custos dos insumos são coerentes com os de mercado e que os coeficientes de produtividade são compatíveis com a execução do objeto do contrato, condições estas necessariamente especificadas no ato convocatório da licitação. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) 5
III DAS INCONGRUÊNCIAS CONSTANTES NO EDITAL QUANTO AO PRAZO DE VIGÊNCIA. Noutra quadra, é possível verificar que existem divergências entre o prazo de vigência contratual estabelecido no corpo do instrumento convocatório e o prazo de vigência fixado no ANEXO II - (MODELO) CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE PREÇOS. Como se observa, o edital estima o preço global em R$ 11.300.000,00 (onze milhões e trezentos mil reais), para o período de 120 (cento e vinte) meses, no item 6.5, alínea b (p.12), a seguir transcrito: 6.5. Os valores estimados para o objeto desta licitação e o percentual mínimo a ser aplicado sobre o faturamento bruto mensal auferido correspondem a: a) Preço Mínimo Mensal - R$ 90.000,00 (noventa mil reais); b) Preço Global - R$ 11.300.000,00 (onze milhões e trezentos mil reais), para o período de 120 (cento e vinte) meses; Contraditoriamente, todavia, no ANEXO II - (MODELO) CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE PREÇOS, localizado na página 35 do instrumento convocatório, o preço global é fixado para o período de 180 (cento e oitenta) meses: Apresentamos a V.Sa. nossa proposta para a utilização de Áreas Destinadas à Exploração Comercial de Estacionamento de Veículos no Aeroporto Internacional de São Luis/Marechal Cunha Machado São Luis /MA, nos seguintes termos: a) Preço mensal de R$ ( ); b) Preço global de R$ ( ),para o período de 180 (cento e oitenta) meses; (omissis) (g.n) 6
Vê-se, pois, que a divergência entre os prazos de vigência previstos retira do edital elemento indispensável à formulação de propostas pelos interessados, devendo ser sanado este vício para indicar efetivamente, qual é o prazo de vigência contratual a ser considerado pelos licitantes quando da apresentação da proposta de preços. IV DA OBSCURIDADE DO EDITAL COM RELAÇÃO ÀS TARIFAS MENSAIS A SEREM COBRADAS NA ÁREA VIP E NA ÁREA COMUM Cumpre ainda a Sauipe Estacionamentos trazer à baila obscuridade constante no edital com relação ao valor mensalidades a serem cobradas na área vip e na área comum. No âmbito do pedido de esclarecimentos apresentado, apontou-se que a tabela de preços anexa ao Termo de Referência prevê que a futura Contratada deverá cobrar dos mensalistas o mesmo valor de R$ 100,00 (cem reais), tanto para a área comum, quanto para a área VIP. Sucede que, conforme item 6.3 do Termo de Referência, a área VIP poderá abranger os serviços de: Valet Park, Serviço VIP, Lavagem de veículos a seco, criação de estacionamento segmentado para opção de longa permanência, serviços de micropintura, autosserviços expressos, borracharia, manobrista, estética automotiva, exposição automotiva, dentre outros, sempre mediante prévia solicitação do concessionário e devidamente autorizado pela Infraero. Desse modo, coube à Sauípe Estacionamentos questionar qual a justificativa para que não haja distinção entre os valores mensais fixados para a área VIP e a área comum, já que, se os preços forem equivalentes, nada 7
impediria que os usuários da área comum exigissem a prestação dos mesmos serviços atinentes à área VIP. No tocante a esse ponto, respondeu a INFRAERO que: Deverá ser observado o disposto no subitem 6.1.6 do Termo de Referência, razão pela qual foi considerada desnecessária a distinção dos valores entre as áreas. Como se observa, o subitem 6.1.6 do Termo de Referência estabelece que: Os estacionamentos mais próximos aos Terminais de Passageiros devem ser destinados exclusivamente aos usuários horistas, buscando sempre o aumento do fluxo de veículos nesta modalidade. Mediante a simples leitura do subitem supratranscrito, verifica-se que não há qualquer pertinência entre o subitem 6.1.6 e o questionamento da Sauipe Estacionamentos, visto que não é possível inferir do teor do aludido dispositivo editalício se os serviços prestados para a área VIP e para a área comum são passivos de distinção ou não. Com efeito, a questão permanece obscura, já que a resposta apresentada pela Administração, não serviu ao propósito de esclarecer a questão suscitada. Ora, Ilustre Pregoeiro, evidentemente, os serviços a serem oferecidos na área VIP demandariam a contratação de mão de obra especializada e a compra de equipamentos específicos que subsidiasse a sua respectiva prestação, de modo que a cobrança da mesma tarifa aos mensalistas da área vip e da área comum é nitidamente desarrazoada, já que, como cediço, os serviços diferenciados e mais custosos devem ser remunerados distintamente. Assim sendo, tendo em vista que a INFRAERO, data vênia, não prestou os devidos esclarecimentos quanto à ausência de divergência entre as tarifas da área comum e da área VIP, e que os serviços diferenciados e mais custosos merecem tarifas adequadas aos maiores gastos com mão de obra especializada e materiais, faz-se imperiosa a reforma das tabelas dos preços a 8
serem praticados ou, ao menos, a apresentação de justificativa plausível para a aludida similitude. V DA OBSCURIDADE DO EDITAL COM RELAÇÃO AO PRAZO DE REAJUSTE DAS TARIFAS. Por fim, cumpre trazer à baila que o edital, igualmente, revelou-se obscuro com relação ao prazo para entrada em vigor das Tabelas de Preços B e C, após aceite da INFRAERO quanto às adequações descritas no subitem 9.2 do Termo de Referência que prevê: 9.2 Deverá ser implantado, executado e custeado pelo concessionário, mediante apresentação de projeto a ser validado pela Infraero, as seguintes melhorias, de acordo com o cronograma abaixo: 9.2.1 Até o 12º mês de vigência contratual; a) Cobertura para pedestres. b) Instalação de módulos sombreadores em 330 (trezentas e trinta) vagas. 9.2.2 A área onde serão instalados os módulos sombreadores deverá ser classificada como ÁREA VIP, e serão adotados os preços da Tabela C (anexo I). Conforme disposto no 9.4, respeitado o limite máximo de 12 (doze) meses, a conclusão das adequações descritas no subitem 9.2, precedente, deverá ser informada à Infraero, que terá até 5 (cinco) dias úteis para dar o aceite e autorizar a entrada em vigor das Tabelas de Preços B e C, anexo I do Termo de Referência. Sucede que a redação do item 9.4 do Termo de Referência é obscura, não sendo possível extrair: I) se as adequações forem concluídas antes desse prazo, as Tabelas de Preços B e C poderão sofrer o reajuste 9
também antes de completados 12 (doze) meses, e II) se a contagem do prazo de 12 (doze) meses inicia-se após a conclusão das adequações ou se, obrigatoriamente, teremos que aguardar o período de 12 meses. Diante do exposto, é relevante que todas as essas informações faltantes no conteúdo do Edital venham à luz, permitindo-se aos interessados a elaboração e apresentação de propostas sérias e ajustadas à execução do contrato. Plasmada está, por conseguinte, a irregularidade constante no edital, que deverá, bem por isso, ser retificado, com o esclarecimento das questões atinentes às matérias retroapontadas, sob pena de inominável burla à lei. É o que se espera acontecer no caso vertente. VI - CONCLUSÃO. Ante o exposto, na salvaguarda dos seus interesses, bem assim se desincumbindo do dever legal de pugnar pela observância da estrita legalidade, a Impugnante pede e espera seja a presente conhecida e provida a fim de afastar do instrumento convocatório as ilegalidades aqui devidamente apontadas. Realizadas as alterações, que naturalmente induzem a uma modificação substancial no corpo do edital, requer a Impugnante, em consonância com o art. 21, 4, da Lei 8.666/93, a republicação do edital, com a abertura de prazo para conhecimento e elaboração de propostas de acordo com as novas condicionantes da licitação. Requer, ao fim, seja a Impugnação recebida no efeito suspensivo, sobrestando-se a continuidade do certame, inclusive da assentada designada para recebimentos dos documentos de habilitação e propostas. P. deferimento. São Luís, 22 de setembro de 2014. SAUIPE ESTACIONAMENTOS LTDA. 10