Bovespa seduz empreendimentos de TI



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Transcrição:

Bovespa seduz empreendimentos de TI Valor Econômico Pg. B2 - Ricardo Cesar e João Luiz Rosa (18/04/2006) Não chega nem perto de ser uma bolha especulativa como a que o Vale do Silício, nos Estados Unidos, experimentou no fim dos anos 90. Mas para os padrões nacionais é inédito: em menos de três meses, entre dezembro de 2005 e março deste ano, duas empresas de tecnologia - o Universo Online (UOL), de internet, e a Totvs, de software -, entraram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), deixando o caminho aberto para outras companhias do setor. E elas estão vindo. As mais adiantadas são a Datasul, de software, e a CPM, de serviços tecnológicos: ambas já entraram com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), passo obrigatório para negociar ações na Bovespa. Mas há outras interessadas. Entre os nomes mais cotados estão a Politec, que cria sistemas e presta serviços, e a Tivit, braço de tecnologia do grupo Votorantim. A mineira RM Sistemas estava nessa lista, mas foi adquirida pela concorrente Totvs na semana passada, em um claro exemplo do que as empresas do setor podem fazer com os recursos obtidos em bolsa: acelerar a consolidação de um mercado ainda fragmentado e composto por empreendimentos de pequeno e médio portes. O negócio foi fechado por um valor que pode chegar a R$ 206 milhões, apenas 35 dias depois de a Totvs engordar seu caixa com R$ 270 milhões provenientes de sua oferta inicial de ações. Apesar do entusiasmo, é consenso entre analistas e empresários que não há uma onda de tecnologia na bolsa. "O que existe é uma liquidez internacional muito grande e um posicionamento interessante do Brasil, o que cria oportunidades para qualquer empresa que apresente resultados positivos e perspectivas de crescimento, e não apenas as de TI", diz Laércio Cosentino, presidente da Totvs. Mas é na área de TI que o mercado de capitais pode ter o efeito mais dramático, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, onde as companhias de tecnologia tornaram-se uma força nas bolsas. A Microsoft, que fatura cerca de US$ 40 bilhões,

valia ontem perto de US$ 277 bilhões na bolsa - números que fizeram do fundador Bill Gates o homem mais rico do planeta. Bem mais recente, o Google, com uma receita de US$ 6,1 bilhões, já vale US$ 124 bilhões. No Brasil, o cenário é incomparavelmente mais modesto. A Totvs valia ontem o equivalente a US$ 524 milhões. Juntas, Totvs (já incluída a RM Sistemas), Datasul, CPM, Tivit e Politec têm um faturamento de aproximadamente R$ 1,8 bilhão. Incluídos o UOL e o varejista virtual Submarino, que tem um forte componente de tecnologia e fez sua oferta pública no ano passado, o número chegaria a cerca de R$ 3 bilhões. É exatamente essa diferença de tamanho que talvez explique porque ir às bolsas é tão importante para as empresas do setor. Em geral, as companhias nacionais de software e internet têm muita dificuldade de obter financiamento em banco para expandir seus negócios, já que produzem um bem intangível e podem dar poucas garantias concretas. Outras formas de captação de recursos, como os fundos de investimento de risco, também são escassos no país. Por fim, as aquisições por multinacionais são pouco freqüentes por fatores que vão da atuação estritamente regional das empresas brasileiras ao alto grau de informalidade do setor no país. A bolsa vem preencher essa lacuna. "Pela primeira vez no Brasil, o mercado de capitais tornou-se uma fonte de financiamento para a expansão das companhias de tecnologia", diz Marcelo Epperlein, diretor-geral do UOL. "Com as taxas de juro que temos, o melhor é manter a empresa capitalizada, sem precisar buscar crédito em banco", afirma o executivo. No caso das empresas de software de gestão, há um fator adicional: com a crescente competição de multinacionais como SAP e Oracle, a possibilidade de se capitalizar na Bovespa começa a ser percebida como tábua de salvação. Além disso, quando uma rival local consegue dar esse passo, a pressão aumenta para as demais. É o que ocorre com a Datasul, depois que a Totvs conseguiu se capitalizar com uma boa estréia na Bovespa e comprou a RM Sistemas.

UOL e Totvs abriram o caminho para uma lista de interessados encabeçada pela CPM e a Datasul Acredita-se que o movimento ascendente no mercado de capitais esteja só começando. "As empresas mais preparadas de cada setor estão entrando na bolsa, o que gera um círculo positivo", diz Marcelo Safadi, diretor financeiro da Eccelera, empresa de investimentos do grupo venezuelano Cisneros. O executivo acredita que o ritmo continuará forte por cerca de três anos. "Existem empresas para até mais que isso", afirma. "O problema é que aí começam a entrar companhias menos preparadas, o que cria o risco de uma bolha." Essa é uma pergunta que o mercado começa a se fazer: até que ponto o movimento é saudável para os investidores e as empresas? No geral, empresários e analistas tendem a concordar que há mais aspectos positivos do que negativos no fato de as companhias de TI terem se enamorado pela Bovespa. A maioria das empresas que ensaia esse movimento é madura e algumas só não entraram antes porque as condições do mercado se alteraram repentinamente. "O movimento foi adiado em cinco ou seis anos pelo estouro da Nasdaq e pelas condições adversas do mercado", diz Jacqueline Lison, analista da corretora Fator. "Nesse meio tempo, muitas empresas não sobreviveram. As que chegaram agora passaram por uma depuração. Houve uma seleção natural." Isso explica porque as companhias estão entrando no Novo Mercado, no qual as regras de governança corporativa são mais rígidas. É uma situação bem diferente da febre pontocom, ocorrida nos EUA. Em 1999, houve 457 ofertas iniciais de ações no mercado americano, a maioria de companhias de internet e tecnologia, segundo a consultoria Caslon Analytics. Do total, 117 dobraram de valor no primeiro dia de negociação. Ficaram na memória dos investidores casos como o da Globe.com, que viu suas ações estrearem a US$ 9 para encerrarem o pregão inaugural a US$ 97 - uma

valorização de 866%. A VA Linux saiu de US$ 30 para US$ 238 no primeiro dia, enquanto a Akamai Technologies foi de US$ 26 a US$ 145. Muitas dessas empresas fecharam as portas ou foram adquiridas. Nenhuma recuperou o valor de mercado que tinha à época. Resultado: em 2001, o número de debutantes em bolsas nos EUA caiu para 78. No Brasil, o perigo de que a entrada de companhias pouco preparadas provoque uma bolha de TI não está descartado, mas é considerado pouco provável. "Lançar ações sempre envolve riscos. É do jogo", diz um analista que prefere não ser identificado. "Pode haver alguma empresa de tecnologia que não tenha um bom resultado na bolsa, mas nada diferente do que temos em outros setores." Por enquanto, os desafios da bolsa para as empresas de TI são de outra natureza. Boa parte delas é desconhecida e faltam analistas especializados nos bancos. Algumas instituições estão atribuindo esse papel aos consultores de telecomunicações - um setor bem diferente de TI. Talvez por causa desse desconhecimento do mercado, o movimento em torno de alguns papéis é morno. A holding de empreendimentos de TI IdeiasNet registrou, em média, 64 negócios diários neste mês, enquanto a fabricante de computadores Itautec fechou, na média, dois negócios por dia. A novata Totvs está em um patamar mais elevado: 164 negócios. Ainda assim, existe uma enorme distância entre as companhias mais líquidas, como a Petrobras, que fechou 3.483 negócios por dia. Para as empresas de TI, que estão vencendo a barreira de entrada na bolsa, está será a próxima lição: manter-se em evidência. Bolsa pode favorecer consolidação A bolsa de valores pode ser uma aliada das empresas brasileiras na briga por uma fatia do mercado de exportação de softwares e serviços de tecnologia. O motivo óbvio é que as companhias que fizerem bem-sucedidas ofertas iniciais de ações estarão

capitalizadas para enfrentar a concorrência internacional. Mas há um outro aspecto importante. No ano passado, a Associação Brasileira das Empresas Exportadoras de Software e Serviço (Brasscom) contratou a consultoria AT Kearney para levantar os pontos fortes e fracos do país na oferta de programas "offshore". Trata-se de um mercado em que os sistemas são encomendados pelas matrizes das grandes multinacionais para desenvolvedores localizados em países mais baratos, como a Índia, que se tornou referência mundial da área. Uma das principais conclusões do trabalho é que as companhias brasileiras de tecnologia são muito pequenas para competir no mercado internacional. A AT Kearney acredita que uma onda de fusões e aquisições seria bem-vinda para formar empresas nacionais com musculatura financeira para concorrer com as indianas. A Bovespa começa a se revelar o caminho mais promissor para viabilizar esse processo. (RC)