INFORMAÇÃO N.º 259 Período de 12 a 18 de fevereiro de 2016 PRINCIPAL LEGISLAÇÃO DO PERÍODO Período sem legislação relevante. JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA A FISCAL PODERES DO RELATOR RECLAMAÇÃO PARA A CONFERÊNCIA Código de Processo nos Tribunais Administrativos ( CPTA ) Tribunal Constitucional Acórdão de 18 de Fevereiro de 2016 RESUMO: Não julga inconstitucional a norma do artigo 27.º, n.º 1, alínea i), do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, interpretada no sentido de que a sentença proferida por tribunal administrativo e fiscal, em juiz singular, com base na mera invocação dos poderes conferidos por essa disposição, não é suscetível de recurso jurisdicional, mas apenas de reclamação para a conferência nos termos do n.º 2 desse artigo.
PROCEDIMENTO DE REVISÃO - PRINCÍPIO DA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA Lei Geral Tributária ( LGT ) Tribunal Central Administrativo Sul Acórdão de 4 de Fevereiro de 2016 RESUMO: I. Segundo o n.º 1 do artigo 20º da Constituição da República Portuguesa (em consonância com o previsto no n.º 1 do artigo 6º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem), «[a] todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.». II. O artigo 86.º, n.º 4 da LGT ao não permitir que, quando a liquidação tiver por fundamento o acordo obtido no processo de revisão da matéria tributável, na impugnação do ato tributário de liquidação, em que a matéria tributável tenha sido determinada com base em avaliação indireta, possa ser invocada qualquer ilegalidade desta, não viola o princípio da tutela jurisdicional efetiva contido no artigo 20º da Constituição da República Portuguesa, já que não pode considerar-se o sujeito passivo vinculado pelo acordo que seja obtido, sempre que não se demonstre que o representante agiu dentro dos limites dos seus poderes de representação e não agiu em sentido contrário a estes poderes. IVA MÉTODOS INDIRETOS Código do Imposto Sobre o Valor Acrescentado ( IVA ) Tribunal Central Administrativo Sul Acórdão de 4 de Fevereiro de 2016 RESUMO: I. A Reclamação da fixação da matéria tributável e do imposto para a Comissão de Revisão ao abrigo do CPT constituía condição prévia para poder sindicar a quantificação da matéria tributável em sede de impugnação judicial da consequente liquidação (cf. artigos 84.º, n.º 3, 89.º, n.ºs 1 e 2, e 136.º, n.º 1, do CPT). II. A regra geral do apuramento da matéria tributável dos contribuintes é a do apuramento com base na respetiva declaração destes. A AT só pode recorrer ao apuramento através de correções ou através de métodos indiretos quando o contribuinte não cumpre os deveres de cooperação a que está obrigado, designadamente o de ter a contabilidade organizada nos termos da lei comercial e fiscal e porque essa presunção de veracidade só cessa se se verificarem erros, inexatidões ou outros fundados indícios de que ela não reflete a matéria tributável efetiva do contribuinte (cfr., ao tempo, os artigos 76 e 78 do CPT). Mas, como quem tem a seu favor uma presunção estabelecida na lei está dispensado da prova do facto presumido (cfr. os artigos. 349º e 350º nº 1 do CC), o contribuinte, se tiver a sua escrita organizada conforme as exigências legais, não precisa de provar que são verdadeiros os dados dela decorrente. III. E, nos termos deste artigo 82 do CIVA, a legitimidade da AT para proceder à liquidação adicional do IVA, depende da verificação de certos requisitos legais, que são: a indicação, nas declarações dos sujeitos passivos, de um imposto inferior ou de uma dedução superior aos devidos; e a demonstração, i.é, a declaração externadora justificativa de tal facto. SISA - ISENÇÃO Código de Imposto Municipal de Sisa e do Imposto Sobre Sucessões e Doações ( CIMSISD ) Supremo Tribunal Administrativo Acórdão de 3 de Fevereiro de 2016 RESUMO: I - De acordo com o disposto no n.º 1 do art. 16.º do CIMSISD, a isenção de sisa prevista no n.º 3 do art. 11.º daquele Código caduca se, tendo o adquirente declarado que o prédio adquirido se destinava a revenda, veio a dar-lhe destino diverso. II - Para que a aquisição de um prédio que se destine à instalação de um empreendimento turístico beneficie da isenção de sisa prevista no art. 20.º do Decreto-Lei n.º 423/83, de 5 de Dezembro, é necessário, para além do mais, que, no momento da aquisição (que é aquele em que ocorre o facto tributário), esteja já reconhecida (por despacho ministerial publicado no Diário da República), ainda que a título prévio, a utilidade turística do empreendimento, sendo irrelevante para o efeito o reconhecimento ulterior. III - A admitir-se como possível a convolação da isenção prevista no n.º 3 do art. 11.º do CIMSISD em isenção prevista no art. 20.º do Decreto-Lei n.º 423/83 (o que fazemos apenas para efeitos de exposição), a mesma seria inviável se, à data em que foi adquirido o prédio, não estavam reunidos os pressupostos para que esta operasse (designadamente, o destino à instalação de um empreendimento turístico e o reconhecimento da utilidade turística deste). IRS - MAIS VALIAS - SUJEITO PASSIVO NÃO RESIDENTE Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares ( IRS ) - Supremo Tribunal Administrativo Acórdão de 3 de Fevereiro de 2016 RESUMO: I - As disposições do Tratado CE, que rege a União Europeia prevalecem sobre as normas de direito ordinário nacional, nos termos definidos pelos órgãos do direito da União, desde que respeitem os princípios fundamentais do Estado de direito democrático. II - É incompatível com o direito comunitário, porquanto limita os movimentos de capitais que o artigo 56 do Tratado CE consagra, o
disposto no nº 2 do artigo 43 do CIRS, por não aplicação aos residentes fora do território nacional a limitação de tributação a 50% das mais valias realizadas que estatui para os residentes no território nacional. B CIVIL GRUPO DE SOCIEDADES - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE COLETIVA Código das Sociedade Comerciais ( CSC ) Tribunal da Relação de Lisboa Acórdão de 28 de Janeiro de 2016 RESUMO: Num grupo de sociedades em que uma delas é destinada à aquisição de produtos aos fornecedores para serem partilhados com as restantes sociedades do grupo e que vem a ficar sem bens nem meios para cumprir sozinha as dívidas aos fornecedores por essa aquisição, existe abuso de personalidade coletiva, que permite a sua desconsideração e a responsabilização das restantes sociedades do grupo pelo pagamento aos fornecedores dos produtos assim adquiridos e que estas últimas passaram a utilizar. DIREITO DE PROPRIEDADE - DIREITO À INDEMNIZAÇÃO - EXPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA Código Civil ( CC ) Supremo Tribunal de Justiça Acórdão de 19 de Janeiro de 2016 RESUMO: I - A consagração e respeito pelo direito de propriedade privada correspondem a uma trave mestra e, verdadeiramente, estruturante do nosso sistema jurídico. II - Embora tal direito não goze de proteção constitucional em termos absolutos, o mesmo está garantido como um direito de não ser arbitrariamente privado da propriedade e de ser indemnizado no caso de desapropriação. III - O pagamento da justa indemnização devida por expropriação por utilidade pública comporta duas dimensões importantes: (i) - uma ideia tendencial de contemporaneidade, pois, embora não sendo exigível o pagamento prévio, também não existe discricionariedade quanto ao adiamento do pagamento da indemnização; (ii) - justiça de indemnização quanto ao ressarcimento dos prejuízos suportados pelo expropriado, o que pressupõe a fixação do valor dos bens ou direitos expropriados. IV - A via de facto é aquela que se caracteriza não pela prática de um ato expropriativo a que faltam algum ou alguns requisitos legais de validade, mas por um ataque grosseiro à propriedade por meio de factos materiais onde não se pode encontrar nada que corresponda ao conceito de expropriação. V - Contra a via de facto dispõe o particular por ela afetado, quer dos meios de defesa da propriedade e posse previstos no CC, quer dos meios de proteção jurisdicional oferecidos pela legislação processual administrativa, uma vez que a via de facto coloca a Administração Pública numa posição idêntica à do simples particular, ficando aquela privada da posição de supremacia em que se encontraria no ato expropriatório. VI - Estando inviabilizada a restituição ao titular do respetivo direito de propriedade de imóvel ocupado por via de facto pela Administração Pública, na prevalência (art. 335.º, n.º 2, do CC) do colidente interesse público e em homenagem ao princípio da intangibilidade da obra pública, não poderá o formulado pedido de pagamento de indemnização àquele titular deixar de ser considerado como verdadeiro sucedâneo do pedido de restituição em que se decompõe a ação de reivindicação. VII - Esta, sem prejuízo dos direitos adquiridos por usucapião, não prescreve pelo decurso do tempo.
C LABORAL CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO REFORMA Código do Trabalho ( CT ) Supremo Tribunal de Justiça Acórdão de 14 de Janeiro de 2016 - RESUMO: I O contrato celebrado entre um médico e um Centro Hospitalar, em que aquele exerce, para além das funções médicas no âmbito da sua especialidade, as de Diretor Clínico e de Coordenador dos serviços da Ré, e nesta qualidade, presta não só os cuidados médicos, mas garante, nomeadamente, toda a coordenação médica, implementa a política de qualidade na área da sua responsabilidade, elabora e valida relatórios clínicos quando solicitados por qualquer entidade, representa a Ré perante entidades externas para resolução de conflitos na área dos serviços clínicos, analisa os curricula médicos e emite parecer para a admissão de novos médicos, propõe a compra dos equipamentos médicos mais adequados e assegura a gestão e coordenação dos recursos humanos, tem a natureza jurídica de um contrato de trabalho. II A qualificação como contrato de trabalho deriva do facto de o médico, em tais circunstâncias, estar inserido na estrutura organizacional da Ré, receber orientações e instruções desta, com vista a assegurar, para além das funções próprias da sua especialidade, o funcionamento e atividade regular da Ré nas áreas assistenciais e na coordenação dos serviços de Enfermagem, de Imagiologia, Farmácia e Medicina Física e de Reabilitação. III Resulta também do facto de, neste caso, o médico cumprir um horário, estar em regime de exclusividade e auferir um valor mensal fixo, a título de retribuição, como contrapartida pela atividade prestada. IV No contexto dos autos, o facto de o trabalhador ter completado 70 anos de idade, após ter sido despedido e optado, na Ação de impugnação da ilicitude desse despedimento, por indemnização em substituição da reintegração, não tem a virtualidade de fazer caducar o contrato de trabalho, nem de o converter em contrato de trabalho a termo, nos termos do artigo 348.º do Código do Trabalho de 2009. INSTITUTO PÚBLICO - SUBSÍDIO DE ISENÇÃO DE HORÁRIO DE TRABALHO Código do Trabalho ( CT ) Supremo Tribunal de Justiça Acórdão de 14 de Janeiro de 2016 - RESUMO: I. Os institutos públicos integram a administração indireta do Estado, sendo o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) um instituto público sujeito à tutela governamental. II. Constituindo a isenção de horário de trabalho o regime em regra correspondente ao exercício de funções dirigentes, a compensação correspondentemente devida já está incluída na remuneração (mais elevada) fixada para os cargos de direção/chefia, sem que por isso seja devido qualquer suplemento remuneratório específico. III. O suplemento remuneratório por prestação de trabalho em regime de isenção de horário de trabalho não pode deixar de ser considerado como uma despesa referente ao funcionamento dos serviços do INAC, pelo que depende de lei que a autorize, de aprovação governamental e ainda da respetiva inscrição e cabimento orçamental.
NOTÍCIAS DE INTERESSE GERAL O Conselho de Ministros aprovou: i) O Decreto-Lei que consagra alteração do prémio do Sorteio Fatura da Sorte, passando os prémios atribuídos a ser constituídos por Certificados do Tesouro Poupança Mais, com valor equivalente ao prémio anterior. ii) O Decreto-lei que repõe o regime transitório de acesso à pensão antecipada de velhice, que vigorou em 2015, pelo período necessário à reavaliação do regime de flexibilização. Reconhece-se o direito à antecipação da idade a beneficiários com, pelo menos, 60 ou mais anos de idade e, pelo menos, 40 anos de carreira contributiva, e estabelece que o deferimento da pensão antecipada carece de audição prévia do beneficiário. iii) A criação de uma medida excecional de apoio ao emprego através da redução da taxa contributiva a cargo da entidade empregadora, em 0,75 pontos percentuais, relativa às contribuições referentes às remunerações devidas nos meses de fevereiro de 2016 a janeiro de 2017. iv) A proposta de lei que transpõe a Diretiva 2014/62/UE relativa à proteção penal do euro e de outras moedas contra a contrafação. Esta Diretiva estabelece um quadro comum das infrações penais em matéria de falsificação da moeda, bem como das sanções aplicáveis quando sejam praticadas tais infrações. Recordamos que termina no presente mês o prazo para o cumprimento das obrigações declarativas referidas nas Noticias da Semana n.º 257. Na eventualidade de necessitar de qualquer esclarecimento adicional a respeito das matérias abordadas na presente informação, ou de outras com elas relacionadas, queira por favor endereçar a sua questão para os seguintes contactos: MARLA BRÁS Advogada Tel.:(+351) 21 195 22 39 marlabras@ajsa.pt O presente documento tem fins exclusivamente informativos. O seu conteúdo não constitui aconselhamento jurídico nem implica a existência e uma relação entre advogado e cliente. A reprodução total ou parcial do respetivo conteúdo depende de autorização expressa da AJ&A.