COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS COM SILAGEM DE RESTOS CULTURAIS DE ABACAXI Apresentação: Pôster Almeida, B. T 1 ; Bahia, B.A. L 2 ; Pereira, A. N 3 ; Nogueira, A. S 4 Introdução O Nordeste é uma das regiões com a maior produção de ovinos do país, distribuídos em todo semiárido, marcadas por um longo período de estiagem e outras características edafoclimaticas que limitam a produção de áreas agrícolas, o grande desafio na pecuária do semiárido é a produção de alimentos de bom valor nutritivo para suprir as necessidades nutricionais dos animais no período de maior escassez de alimentos (SANTANA, 2012). Tem si utilizado, como alternativa, as palhadas de culturas anuais de verão e de inverno, os fenos de baixa qualidade, as silagens de capins passados, resíduos da colheita de sementes de plantas forrageiras, e do beneficiamento de grãos (ROSA,2001). Diante do exposto a realização do presente trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento ingestivo de ovinos alimentados com silagem de restos culturais do Abacaxizeiro amonizada com uréia (5% na base da MS) e sem amonização. Fundamentação Teórica A produção animal é determinada pelo consumo de matéria seca, valor nutritivo do alimento e resposta do animal, sendo que o consumo de matéria seca (CMS) é determinante na ingestão de nutrientes necessários ao atendimento das exigências de mantença e produção animal, daí a importância deste fator dentro de um sistema de produção (NASCIMENTO, 2009). Segundo Carvalho et al.,(2006) a quantidade de fibra da dieta tem forte influência no desempenho animal, quando em quantidades baixas reduz a atividade mastigatória diminuindo a produção de saliva e podendo favorecer a diminuição do ph do rumem. 1 Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal Baiano- Campus Santa Inês, E-mail: bia.tecagropec@hotmail.com 2 Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal Baiano- Campus Santa Inês, E-mail: brunoalb@gmail.com 3 Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal Baiano- Campus Santa Inês, E-mail: anbel@bol.com.br 4 Doutor em Zootecnia, Instituto Federal Baiano- Campus Santa Inês, E-mail: abdon.nogueira@si.ifbaiano.edu.br
Alimentos concentrados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com elevado teor de parede celular tendem a aumentar. O aumento do consumo tende a reduzir o tempo de ruminação por grama de alimento, fator provavelmente responsável pelo aumento de tamanho das partículas fecais, quando os consumos são elevados (SILVA, 2013). Existe diversos tratamentos visando melhorar o aproveitamento de forragens alguns são inviáveis devido custo. Dentre os tratamentos químicos utilizados, principalmente com palhas ou resíduos de culturas e, destacam-se o uso da amônia anidra (NH3) ou da uréia, processo denominado de amonização (ROSA, 2001). A adição de ureia em matériais fibrosos pode aumentar sua digestibilidade que está relacionada ao acréscimo do teor de nitrogênio total das forragens e ao seu efeito, rompendo ligações ésteres entre constituintes da parede celular (fração glicídica) e ácidos fenólicos com a despolimerização parcial da lignina (PIRES et al., 2004). Simultaneamente, ocorrem dois fenômenos na amonização da forragem tratada com uréia: ureólise, a qual transforma a uréia em amônia, onde, subseqüentemente, gera os efeitos nas paredes da célula da forragem (GARCIA e PIRES, 1998). De acordo com (WILLIANS et al., 1984), a urease produzida pelas bactérias ureolíticas, durante o tratamento de resíduos, é suficiente, quando a umidade não é limitante. Quando as forragens são muito secas e não podem ser umidecidas, a adição de urease seria necessária isso acontece por que fatores como a umidade e a temperatura, e suas interações, devem favorecer a atividade da bactéria e de sua enzima. Metodologia O experimento foi conduzido de Março a Julho de 2016, no Setor de Caprino-Ovinocultura do Instituto Federal Baiano de Educação Ciência e Tecnologia Baiano- Campus Santa Inês. Os restos culturais da cultura do abacaxi foram adquiridos de produtores rurais do município de Santa Inês, onde 30 dias após colheita do fruto, foram arrancadas e transportadas para o IF Baiano, ficando exposta ao sol durante 15 dias, em seguida a forragem foi triturada em picadeira e ensilada, uma parte amonizada com ureia a 5% da MS, e a outra ensilada sem o uso de ureia, compactada com os pés em tambores de plásticos com capacidade para 200 kg, os silos foram abertos após 60 dias, durante o período de coleta era amostrada a oferta e as sobras. Para o comportamento ingestivo foram utilizados 10 ovinos machos inteiros da raça santa Inês com peso médio de 25,49 ± 9,0kg, confinados em baias individuais (1 x 0,80m), o fornecimento da dieta foi ajustado para 10 % de sobra, sendo fornecido duas vezes ao dia, as 08:00
da manhã e às 16:00 da tarde, as sobras pesadas na manhã do dia seguinte, o trabalho teve duração de 15 dias, 10 dias de adaptação à dieta e as instalações e 5 dias de coleta, os animais foram mantidos sobre iluminação artificial durante a noite. No 11 e 15 dia do trabalho os animais foram submetidos a observação visual para determinação do comportamento ingestivo, registrando os tempos despendidos com alimentação, ruminação e ócio, sendo observados a cada dez minutos por um período de 24 horas, conforme metodologia de (JOHNSON e COMBS,1991). A média do tempo de mastigação merícica por bolo ruminal e a média do número de mastigações merícicas, foram observadas durante dois períodos, registrando três valores distribuídos nos horários de 10 às 12h, 14 às 16h e 18 às 20h, utilizando cronômetro digital. Os resultados referentes aos fatores do comportamento ingestivo foram obtidos utilizando-se as seguintes equações: EIMS = CMS/TI, EIFDN= CFDN/TI em que EIMS (g MS ingerida/h) e EIFDN (g FDN ingerida/h) = eficiência de ingestão; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo diário de FDN; TI = tempo gasto em ingestão diariamente. ERUMS = CMS/TRU, ERUFDN = CFDN/TRU em que ERUMS (g MS ruminada/h) e ERUFDN (g FDN ruminada/h) = eficiência de ruminação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo diário de FDN; TRU (h/dia) = tempo gasto em ruminação diariamente. TMT= TI + TRU em que TMT (min/dia) = tempo de mastigação total. As amostras de sobras e fornecido foram analisadas no laboratório de nutrição Animal do IF Baiano, sendo processadas e submetida à análise de Matéria Seca (MS), Fibra em Detergente Neutro (FDN), segundo metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), os procedimentos estatísticos foram analisados com o auxílio do programa SAEG, sendo aplicado ao teste de Tukey a 5% de significância. Resultados e Discussões tratamentos (Tabela I). O tempo de alimentação (TAL) e ruminação (TRU) não diferiu (P >0,05) entre os TABELA I. Parâmetros de comportamento ingestivo de ovinos com silagem de restos culturais de abacaxi amonizada. Fonte: Própria Parâmetros Amonizada Não amonizada Valor P Coeficiente de Variação Alimentação (min/dia) 318,96 A 295,38 A 0,5173 25,95 Ruminação (min/dia) 388,68 A 438,48 A 0,1299 16,91 Ócio (min/dia) 732,42 A 706,14 A 0,6267 16,49
gfdn/bolo 5,31 A 4,92 A 0,5173 25,95 MT min/kgfdn 1869,4 A 480,92 A 0,3203 258,08 Parâmetros seguidos pelas mesmas letras na mesma linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de tukey a 5% de significância. Normalmente os tempos desprendidos para alimentação e ruminação variam em função do consumo de matéria seca, ou seja, quanto maior o consumo, maior o tempo de alimentação e menor o tempo de ruminação, como não houve diferença entre o consumo de matéria seca (P >0,05), (Tabela II), este resultado contribuiu para que não houvesse variação do TAL e TRU. TABELA II Parâmetros de comportamento ingestivo de ovinos com silagem de restos culturais de abacaxi amonizada. Fonte: Própria Parâmetros Amonizada Não amonizada Valor P Coeficiente de Variação CMS (g/dia) 509,2 A 665,2 A 0,0694 30,64 EALMS (gms/h) 90,38 A 138,17 B 0,0098 32,15 EAFDN(gFDN/h) 56,34 A 56,70 A 0,9657 32,49 ERUMS (gms/h) 90,41 A 138,17 B 0,0098 32,15 ERUFDN (gfdn/h) 64,59 A 84,94 A 0,0835 33,09 Parâmetros seguidos pelas mesmas letras na mesma linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de tukey a 5% de significância. A eficiência de alimentação com base na matéria seca (EAMS) sofre a influência do tempo gasto com alimentação, no presente trabalho não obteve diferença estatística (P >0,05), porém a diferença no tempo de alimentação de 5,31h e 4,93h para as silagens amonizadas e não amonizada respectivamente, pode ser ocasionada pelo nível de FDN (fibra em detergente neutro) da silagem amonizada de 71,52 % na MS e 61,62 % na MS para a convencional, quanto maior o nível de FDN menor a energia liquida da dieta, fazendo com que os animais aumentem o tempo de alimentação buscando suprir as exigências nutricionais. Observou-se diferença significativa na eficiência de ruminação expressa em gramas de materia seca por hora (ERUMS, g MS/h) (P <0,05), com 227,09 gms/h para a silagem amonizada e 213,50 gms/ silagem não amonizada. A eficiência de ruminação do FDN foi de 132,26 gfdn/h e 124,24 gfdn/h para a silagem amonizada e não amonizada, respectivamente, não apresentou diferença significativa (P>0,05). Normalmente materiais de baixa qualidade inicial respondem melhor a amonização, o teor de umidade e a atividade de uréase presentes na planta podem influenciar na resposta a aplicação da uréia.
Conclusões A utilização da técnica de amonização não influenciou no comportamento ingestivo para os parâmetros avaliados de eficiência de alimentação e ruminação, não justificando a amonização quando utilizada para produção de silagem de restos culturais de abacaxi sobre as mesmas condições experimentais. Referências CARVALHO, S. et al, 2006, Comportamento ingestivo de cabras Alpinas em lactação alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutroprovenienteda forragem, R. Bras. Zootec., v.35, n.2, p.562-568. GARCIA, R. e PIRES, A.J.V. Tratamento de volumosos de baixa qualidade para utilização na alimentação de ruminantes. In: CONGRESSO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE ZOOTECNIA, Viçosa, 1998. Anais... Viçosa:AMEZ, 1998. p. 33-60. JOHNSON, T. R.; COMBS, D. K. Effects of prepartum diet, inert rumen bulk, and dietary polythylene glicol on dry matter intake of lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 3, p. 933-944, 1991. NASCIMENTO, P. M. L do, FARJALLA, Y.B, NASCIMENTO, J.L. Consumo voluntário de bovinos, 2009. PIRES, A.J.V, et al. Degradabilidade do bagaço de cana-de-açúcar tratado com amônia anidra e, ou, sulfeto de sódio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, p.1071-1077, 2004. ROSA, B, FADEL, R. Uso de amônia anidra e de ureia para melhorar o valor alimentício de forragens conservadas. Simpósio Sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas. Maringá: UEM/CCA/DZO, 2001. 319P. SANTANA JÚNIOR, H.A, et al. Correlação entre digestibilidade e comportamento ingestivo de novilhas suplementadas a pasto, 2012. SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 2. ed. Viçosa: Imprensa Universitária, 2002. SILVA, L.M. 2013, Comportamento ingestivo de cordeiros alimentados com casca de mandioca. Itapetinga, 2013. WILLIANS, P.E.V. et al. Ammonia treatment of straw via hydrolysis of urea. I. Effects of dry matter and urea concentrations on the rate of hydrolisis of urea. Animal Feed Science Technology, v.11, n.2, p. 115-124, 1984.