Conteúdo Introdução... 4 Percepção sobre a economia e o comércio... 5 Gargalos da economia brasileira... 7 Consumo das famílias... 8 Ambiente regulatório... 9 Logística pública... 10 Mão de obra... 10 Conclusão... 12
Introdução O LIDE Santa Catarina é uma associação formada por lideranças empresariais do Estado, reunindo importantes agentes que tomam diariamente decisões de negócios. São empresários e executivos que decidem pelo investimento, contratação de mão de obra, demanda por crédito e todas as demais atividades que influenciam diretamente na economia do Estado e do país. Tendo em vista que estas decisões dependem, inevitavelmente, da percepção que os mesmos têm sobre a realidade em que estão inseridos, e que, dependendo do otimismo ou pessimismo, podem determinar o ritmo de crescimento da economia, a Fecomércio SC realizou uma pesquisa para captar a atual percepção dos líderes empresariais de Santa Catarina. A pesquisa foi realizada durante o almoço organizado pelo LIDE no dia 3 de junho, entrevistando um total de 82 líderes empresariais. A metodologia aplicada foi de pesquisa quantitativa por amostragem. A técnica de coleta de dados foi a de entrevista individual aplicada com base em questionário estruturado e desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas da Fecomércio SC. Assim feito, este material pretende compilar um retrato sobre a atual percepção dos empresários, além de, através do cruzamento desta percepção com dados oficiais, entender até que ponto as mesmas estão condizentes com o que estamos vivendo.
Percepção sobre a economia e o comércio Uma primeira informação levantada pela pesquisa foi perspectiva dos líderes empresariais sobre o atual momento da economia e do varejo catarinense. Em razão das duas variáveis estarem apresentando fraco desempenho desde o início de 2013, a percepção dos entrevistados ficou pessimista para a economia como um todo e regular para o comércio. 2 PIB var. trimestral (%) 1,5 1 0,5 0-0,5 2 trim 2013 3 trim 2013 4 trim 2013 1 trim 2014-1 Fonte: IBGE Volume de vendas (acumulado 12 meses) Brasil Santa Catarina 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Fonte: IBGE
Avaliação das Condições Atuais 1,2% 1,2% 1,2% Comércio Brasileiro 20,7% 48,8% 26,8% Economia do Brasil 8,5% 35,4% 43,9% 12,2% Fonte: Núcleo de Pesquisas / Fecomércio SC Ns/NR Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo Como é possível notar, mesmo com maior concentração de respostas regulares nos dois temas, na avaliação da economia o percentual de respostas negativas é maior (43,9%) do que na avaliação do comércio (apenas 21,9%). É considerável, inclusive, aqueles que avaliam de maneira positiva o atual momento do varejo (28%). Entretanto, no geral, prepondera uma avaliação neutra das atuais condições, ou seja, receio dos líderes empresariais que têm reflexo direto nas atuais baixas taxas de investimento da economia. Se, por um lado, na percepção das condições atuais preponderou uma avaliação conservadora, a expectativa dos empresários para o segundo semestre deste ano variou consideravelmente. É possível notar no gráfico abaixo que aqueles que consideravam a situação regular se dividiram radicalmente em torno das expectativas. Alguns passaram de regular para pessimistas e outros para otimistas. Porém, foram mais marcantes aqueles que trouxeram uma expectativa pessimista para o segundo semestre do ano (34,1% no comércio e 45,1% na economia). Expectativas para o 2º Semestre 1,2% Comércio Brasileiro 6,1% 28,0% 35,4% 29,3% 2,4% Economia do Brasil 12,2% 32,9% 29,3% 23,2% Fonte: Núcleo de Pesquisas / Fecomércio SC Ns/NR Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo Desta forma, com tais níveis de confiança das lideranças empresariais de Santa Catarina, é difícil imaginar uma reação mais forte, tanto da economia quanto do varejo, neste segundo semestre. Postergando a possibilidade de recuperação para 2015.
Gargalos da economia brasileira Para sabermos onde se localizam os principais focos de descontentamento das lideranças empresariais, a Fecomércio selecionou 10 itens que compõem o ambiente de negócios da economia nacional e solicitou a avaliação de cada um deles por parte dos entrevistados. O objetivo de tal questão é identificar quais são os principais elementos que explicam este pessimismo dos empresários. O gráfico abaixo demonstra esta questão, organizando os itens em ordem decrescente, dos mais otimistas para os menos. Avaliação quanto ao ambiente de negócios Mercado Consumidor 26,8% 9,8% 57,3% 6,1% Acesso à crédito/taxa de juros Ações da Concorrência 1,2% 20,7% 4,9% 13,4% 9,8% 28,0% 68,3% 50,0% 3,7% Leis e Regulamentações 7,3% 41,5% 39,0% 12,2% End. e Inad. Consumidores 9,8% 54,9% 19,5% 15,9% Logística 15,9% 48,8% 20,7% 14,6% Captação de MOb Qualificada 15,9% 48,8% 15,9% 19,5% Carga Trib. e Incentivos Fiscais 18,3% 52,4% 20,7% 8,5% Burocracia 19,5% 35,4% 30,5% 14,6% Mobilidade Urbana 31,7% 56,1% 3,7% 8,5% Piorou Muito Piorou Indiferente Melhorou Melhorou muito Fonte: Núcleo de Pesquisas / Fecomércio SC Estes são os itens que, em alguma medida, compõem o Custo Brasil, mostrando que, não obstante o robusto crescimento do mercado interno e das vendas nos últimos anos, o crescimento dos custos de outras variáveis influenciaram negativamente na percepção dos empresários. Desta maneira, para melhor avaliar estas questões, as percepções acima serão divididas por blocos que reúnam características similares.
abr/08 ago/08 dez/08 abr/09 ago/09 dez/09 abr/10 ago/10 dez/10 abr/11 ago/11 dez/11 abr/12 ago/12 dez/12 abr/13 ago/13 dez/13 abr/14 1. Consumo das famílias Em primeiro lugar, os itens que têm relação direta com o consumo das famílias mercado consumidor, acesso ao crédito/taxa de juros e endividamento e inadimplência apresentaram diferentes percepções. A evolução do mercado consumidor e o acesso ao crédito foram os itens melhores avaliados, sendo que o comportamento do endividamento e da inadimplência das famílias tiveram maiores percepções negativas. Entretanto, se formos analisar friamente com base em dados, as três variáveis deveriam ser bem avaliadas. O mercado consumidor cresceu muito nos últimos anos, o aceso ao crédito também melhorou (apesar de registrarmos neste ano um crescimento menor deste item) e o endividamento e a inadimplência também continuam controlados. Os dados abaixo demonstram este conjunto de itens. 50.000.000.000 45.000.000.000 40.000.000.000 35.000.000.000 30.000.000.000 Massa de rendimentos da economia brasileira (R$) Fonte: IBGE Taxa Selic - (% a.a.) 12 11 10 9 8 7 6 5 04/06/2014 04/04/2014 04/02/2014 04/12/2013 04/10/2013 04/08/2013 04/06/2013 04/04/2013 04/02/2013 04/12/2012 04/10/2012 04/08/2012 04/06/2012 Fonte: Banco Central
Endividados x Inadimplentes (SC) (PEIC) 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Endividados (%) Contas em atraso (%) Fonte: Fecomércio SC / CNC 2. Ambiente regulatório Já em relação ao ambiente regulatório onde estão inseridos os negócios, a avaliação da evolução das leis e regulações, da carga tributária e burocracia é bastante pessimista, principalmente em relação ao aumento da burocracia. Aqui vem à tona um elemento fundamental do Custo Brasil, a maneira como as leis ambientais, trabalhistas, fiscais e demais regulamentos encareceram de maneira exacerbada o custo gasto pelas empresas na operacionalização da carga tributária. Enquanto que outros países gastam contratando engenheiros, desenvolvedores de softwares, designers e inúmeros outros profissionais envolvidos diretamente no processo produtivo, no Brasil se contratam advogados e contadores, com o objetivo de apenas manter o negócio em funcionamento sem riscos de fiscalizações punitivas. Carga tributária (% do PIB) 37 36 35 34 33 32 31 30 36,42 35,85 34,52 34,69 34,85 35,13 35,3 34,14 34,41 33,49 32,53 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Fonte: IBPT
fev/05 jul/05 dez/05 mai/06 out/06 mar/07 ago/07 jan/08 jun/08 nov/08 abr/09 set/09 fev/10 jul/10 dez/10 mai/11 out/11 mar/12 ago/12 jan/13 jun/13 nov/13 abr/14 3. Logística pública No tópico Logística pública, que envolve tanto a logística intermunicipal quanto a mobilidade urbana, temos sérios problemas. A mobilidade urbana foi a pior avaliada pelos líderes empresariais, demonstrando o nível de congestionamentos e as péssimas condições no transporte público brasileiro. Pesquisa divulgada em 2013 pelo IPEA demonstrou que, em 2012, o tempo gasto no deslocamento casa-trabalho pelos moradores de regiões metropolitanas no Brasil foi, em média, de elevadíssimos 40,8 minutos. Se somado ao tempo trabalho-casa, os brasileiros que moram em regiões metropolitanas gastam em média 1 hora e 22 minutos no trânsito. Ou seja, o desgaste é grande e as possibilidades de qualificação da mão de obra são pequenas. Ao passo em que tivemos uma grande expansão no crédito direcionado para a compra de veículos individuais, não foram realizados investimentos na mesma magnitude na infraestrutura de transporte e nos modelos de transporte público. Assim sendo, o aumento do tempo e a piora das condições de deslocamento de mercadorias e pessoas têm elevado o custo operacional das empresas e reduzido a produtividade dos trabalhadores, repercutindo diretamente na baixa percepção dos mesmos sobre estes itens. 4. Mão de obra Outro item mal avaliado e também importante nos custos das empresas é a captação de mão de obra qualificada. Produto do crescimento do setor de comércio e serviços que absorveram um grande contingente de pessoas que estavam desempregadas nos últimos 10 anos, hoje contamos com uma taxa de desemprego extremamente reduzida, considerada de pleno emprego. Com isso, aumentou muito a dificuldade para se encontrar mão de obra qualificada e até mesmo de baixa qualificação. 12 10 8 6 4 2 0 Taxa de desemprego (%) Fonte: IBGE
Com isso, o custo para a captação da mão de obra teve um grande incremento, sem, no entanto, um acompanhamento do crescimento da produtividade do trabalho. Ou seja, hoje se paga mais por quem produz menos. Salário X Produtividade 220 Salário Real Produtividade 180 140 100 60 2006 2006 2007 2007 2008 2008 2009 2009 2010 2010 2011 2011 2012 2012 2013 2013 Fonte: IBGE / Elaborado pela Assessoria Econômica da Fecomércio SC Este fator, aliado à pequena existência, por parte dos empresários, de programas de cargos e salários que estipulem metas e melhorem as condições de mensurar adequadamente a remuneração dos empregados, fez com que o custo do trabalho disparasse e influenciasse negativamente a percepção dos líderes empresariais de Santa Catarina.
Conclusão O resultado da Pesquisa demonstra os fundamentos da atual falta de confiança dos empresários catarinenses em relação ao crescimento da economia brasileira. Apesar de vivermos ainda um otimismo em torno da inserção de um enorme contingente de pessoas ao mercado consumidor, os elementos associados ao Custo Brasil estão na origem do pessimismo empresarial. Falta de infraestrutura, legislação inadequada, carência de mão de obra e burocracia elevada determinam os problemas do ambiente de negócios nacional. Com isso, um novo cenário se abre na economia brasileira: o da necessidade urgente da realização de grandes reformas estruturais na economia. Reforma tributária, trabalhista e política, grandes projetos viáveis de infraestrutura e redução da burocracia desmedida são aspectos indispensáveis para a melhoria do ambiente de negócios, retomada da confiança do setor privado e ampliação dos seus investimentos. Somente assim, com participação ativa do setor privado, é que o país pode atingir um novo patamar de crescimento sustentável, mantendo e ampliando a inclusão social através do consumo e resolvendo os problemas na estrutura econômica.