UM CONCEITO FUNDAMENTAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO. Prof. Alvaro Guimarães de Oliveira Rio, 07/09/2014.



Documentos relacionados
6 O SignificadO do LucrO

APURAÇÃO DO RESULTADO (1)

Vamos, então, à nossa aula de hoje! Demonstração de Fluxo de Caixa (2.ª parte) Método Indireto

Contabilidade Básica

No concurso de São Paulo, o assunto aparece no item 27 do programa de Contabilidade:

GASTAR MAIS COM A LOGÍSTICA PODE SIGNIFICAR, TAMBÉM, AUMENTO DE LUCRO

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC)

Prof. Cleber Oliveira Gestão Financeira

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE II

Aula de Apuração do Resultado (ARE) Prof. Pedro A. Silva (67)

ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL

Profa. Ma. Divane A. Silva. Unidade II CONTABILIDADE

CONTABILIDADE AVANÇADA CAPÍTULO 1: DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS

Neste artigo comentarei 06 (seis) questões da ESAF, para que vocês, que estão estudando para a Receita Federal, façam uma rápida revisão!!

NOÇÕES BÁSICAS DE CONTABILIDADE

DOAR DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS UMA REVISÃO DOS CONCEITOS MAIO / Autor - Manoel Moraes Jr

A Projeção de Investimento em Capital de Giro na Estimação do Fluxo de Caixa

2.1 Estrutura Conceitual e Pronunciamento Técnico CPC n 26

FCPERJ UCAM Centro. Contabilidade Empresarial DFC. Prof. Mônica Brandão

ANÁLISE DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Análise financeira da carteira de recebíveis

RESULTADO COM MERCADORIAS!!!

Os valores totais do Ativo e do Patrimônio Líquido são, respectivamente,

Unidade IV INTERPRETAÇÃO DAS. Prof. Walter Dominas

Inicialmente vamos entender a lógica em que a Contabilidade está alicerçada.

Conceito de Contabilidade

O que é Patrimônio? O PATRIMÔNIO: CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES 14/08/2015 O PATRIMÔNIO

DECIFRANDO O CASH FLOW

2ª edição Ampliada e Revisada. Capítulo 6 Grupo de contas do Balanço Patrimonial

ANÁLISE DE BALANÇOS MÓDULO 1

Ciclo Operacional. Venda

CONTABILIDADE BÁSICA

INSTRUMENTO DE APOIO GERENCIAL

Questões de Concursos Tudo para você conquistar o seu cargo público ]

INDICADORES FINANCEIROS NA TOMADA DE DECISÕES GERENCIAIS

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC

1-DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS BÁSICOS 1.1 OBJETIVO E CONTEÚDO

UNIDADE I INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 1.1 NATUREZA E DEFINIÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO

Interpretando a Variação da Necessidade de Capital de Giro

CONTABILIDADE E CUSTOS Atualizado em 14 de abril de 2009

COMO ANALISAR E TOMAR DECISÕES ESTRATÉGICAS COM BASE NA ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL DAS EMPRESAS

Logística Prof. Kleber dos Santos Ribeiro. Contabilidade. História. Contabilidade e Balanço Patrimonial

ABERTURA DAS CONTAS DA PLANILHA DE RECLASSIFICAÇÃO DIGITAR TODOS OS VALORES POSITIVOS.

Unidade II ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A CONTABILIDADE PÚBLICA E A CONTABILIDADE GERAL

CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS, IMPOSTOS, e FLUXO DE CAIXA. CONCEITOS PARA REVISÃO

INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1

CONTABILIDADE GERAL. Adquira esta e outras aulas em CONCURSO PÚBLICO PARA TÉCNICO DA RECEITA FEDERAL

Módulo 2 Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidades de Produção

Graficamente, o Balanço Patrimonial se apresenta assim: ATIVO. - Realizável a Longo prazo - Investimento - Imobilizado - Intangível

Contabilidade Empresarial Demonstrações Financeiras: O Balanço Patrimonial. Prof. Dr. Dirceu Raiser

Pessoal, ACE-TCU-2007 Auditoria Governamental - CESPE Resolução da Prova de Contabilidade Geral, Análise e Custos

1 Apresentação do Problema

RESOLUÇÃO CFC Nº /09. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

NBC T Subvenção e Assistência Governamentais Pronunciamento Técnico CPC 07

CURSO de CIÊNCIAS CONTÁBEIS - Gabarito

NOÇÕES BÁSICAS DE CAPITAL DE GIRO

ETEP TÉCNICO EM CONTABILIDADE MÓDULO 3 INFORMÁTICA PÓS MÉDIO

ATIVO Explicativa PASSIVO Explicativa

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

REDE DE ENSINO LFG AGENTE E ESCRIVÃO PF Disciplina: Noções de Contabilidade Prof. Adelino Correia Aula nº09. Demonstração de Fluxo de Caixa

Professor conteudista: Hildebrando Oliveira

. Natureza de saldo das contas

Gestão Capital de Giro

BALANÇO PATRIMONIAL / composição 1

Boletim. Contabilidade Internacional. Manual de Procedimentos

ASPECTOS AVANÇADOS NA ANÁLISE

1. Noções Introdutórias. Contabilidade é a ciência que estuda e controla o patrimônio em suas variações quantitativas e qualitativas.

Traduzindo o Fluxo de Caixa em Moeda Estrangeira

COMENTÁRIO ÀS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE REFERENTES À ESTRUTURA DO ATIVO CIRCULANTE E DO GRUPO DO PASSIVO RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS

O Plano Financeiro no Plano de Negócios Fabiano Marques

CAPÍTULO 2 MATEMÁTICA FINANCEIRA

Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas CCESA. Bacharelado em Ciências Contábeis CONTABILIDADE GERAL. Profª. Cristiane Yoshimura

Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos. "Uma arma verdadeiramente competitiva"

Sistema de contas. Capítulo 2 Sistema de contas

Para poder concluir que chegamos a: a) registrar os eventos; b) controlar o patrimônio; e c) gerar demonstrações

Artigo publicado. na edição Assine a revista através do nosso site. maio e junho de 2013

Artigo 02 Exercício Comentado - Débito e Crédito PROFESSORA: Ivana Agostinho

Fluxo de Caixa método direto e indireto

Como elaborar o fluxo de caixa pelo método indireto? - ParteI

CONTABILIDADE GERAL E GERENCIAL

08 Capital de giro e fluxo de caixa

BONIFICAÇÃO EM MERCADORIAS - EMBALAGENS E CONJUNTOS PROMOCIONAIS

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O INDICADOR : RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Prezado(a) Concurseiro(a),

Marketing Prof. Sidney Leone. Hoje Você Aprenderá: Ferramentas. Gestão Financeira: Planejamento Financeiro

CAP. 4b INFLUÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA

2ª edição Ampliada e Revisada. Capítulo 5 Balanço Patrimonial

INTRODUÇÃO À MATEMÁTICA FINANCEIRA

Contas. Osni Moura Ribeiro ; Contabilidade Fundamental 1, Editora Saraiva- ISBN

2ª edição Ampliada e Revisada. Capítulo 10 Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos

Cordilheira Escrita Fiscal 2.109A

Análise das Demonstrações Financeiras

Fundamentos de Contabilidade. Representação do Patrimônio. Professor Isnard Martins

Unidade IV PLANEJAMENTO E CONTROLE. Profa. Marinalva Barboza

4 Fatos Contábeis que Afetam a Situação Líquida: Receitas, Custos, Despesas, Encargos, Perdas e Provisões, 66

Contabilidade bem básica

Transcrição:

UM CONCEITO FUNDAMENTAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO Prof. Alvaro Guimarães de Oliveira Rio, 07/09/2014. Tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas têm patrimônio, que nada mais é do que o conjunto de bens (B), direitos (D) e obrigações (O). Os bens apresentam valores positivos que demonstram a riqueza financeira dos seus proprietários. Por exemplo: Caixa, Estoque, Material de Escritório, Ativos Fixos, etc. Os direitos são, também, valores positivos que são adicionados à riqueza financeira dos seus proprietários. Exemplos: Duplicatas a Receber, Aplicações em Títulos do Governo, em CDBs, Debentures, etc. Entretanto, as obrigações representam valores a pagar, ou seja, valores negativos que reduzem as riquezas financeiras dos devedores. Exemplo: Empréstimos Bancários, Fornecedores, Impostos a Pagar, Contas a Pagar, etc. Diante do que vimos o patrimônio não tem um valor porque representa um conjunto de itens com valores positivos e negativos e por isso não indica o valor total da riqueza, número importantíssimo para o controle das atividades de negócios, tanto das pessoas físicas quanto, principalmente, das pessoas jurídicas ou empresas. Entretanto, quando consideramos que os bens são valores positivos e as obrigações são valores negativos, chegamos ao conceito de patrimônio líquido (PL), através da equação fundamental da contabilidade: B + D - O = PL Para facilitarmos o entendimento completo do conceito de Patrimônio Líquido Financeiro (PLF) vamos imaginar que uma empresa qualquer AGO tenha o seguinte patrimônio: B: Caixa 20.000 Estoque 50.000 Imóvel 40.000 110.000 D: 100.000 O: Empréstimos Bancários 80.000 Fornecedores 40.000 120.000 1

2 Se quisermos saber qual o valor da empresa AGO basta usarmos a equação do PL: 110.000 + 100.000 120.000 = 90.000 Ou seja, o valor da AGO é igual ao do seu PL: 90.000 Esta equação fundamental da contabilidade pode ser transformada na equação do balanço, simplesmente colocando, do mesmo lado, os valores positivos e,do outro o montante das obrigações mais a diferença entre eles: B + D = O + PL ou 110.000 + 100.000 = 120.000 + 90.000 Esta equação do balanço pode ser apresentada e é, tradicionalmente, deste modo: Caixa 20.000 Empréstimos 80.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 90.000 Total 210.000 Total 210.000 O valor da AGO é dado pelo valor do seu patrimônio líquido: 90.000. O que significa este valor? Seria o valor nominal da empresa? Não é. Seria o valor real dela? Também não é, porque o valor real é encontrado assim: Valor nominal o valor da correção monetária. Seria o seu valor líquido? Também não é porque o valor líquido é, geralmente, calculado deste modo: Valor Bruto o imposto de renda devido. Seria então o valor de mercado? Também não, porque o valor de mercado é o valor pago pela compra de um determinado item. De fato, o valor do patrimônio líquido expressa o valor contábil da empresa. E isto significa o resultado da realização de todos os itens da empresa de acordo com os valores registrados contabilmente. Ou seja, o Caixa seria aumentado com os respectivos valores de venda do Estoque e do Imóvel pelos seus respectivos valores registrados contabilmente e, em seguida, a empresa pagaria seus Empréstimos e Fornecedores de acordo com os seus registros contábeis. Desta

maneira, o resultado, destas operações, seria o saldo de 90.000, isto é, o valor do patrimônio líquido da empresa. Um valor que jamais será atingido, serve apenas de ponto de partida para avaliação da evolução econômico-financeira da empresa ou para negociação dela. As transações operacionais das empresas apresentam três tipos de operações: a) Financeiras a) Financeiras; b) Econômico-financeiras e c) Econômico-financeiras pendentes. As operações financeiras são aquelas que, quando registradas contabilmente, afetam a posição financeira da empresa, mas não o valor do seu patrimônio líquido. Exemplo: Um empréstimo bancário de 50.000. A posição financeira da AGO, após o registro desta operação, seria a seguinte: Caixa 70.000 Empréstimos 130.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 90.000 Total 260.000 Total 260.000 Conforme podemos perceber a posição financeira da AGO foi afetada. O Caixa que era 20.000 passou para 70.000 e o saldo de Empréstimos pulou de 80.000 para 130.000 e, como os valores das demais contas não foram alterados, por força da equação do fundamental da contabilidade, o valor do patrimônio líquido permaneceu o mesmo, evidentemente. b) Operações Econômico-Financeiras Podemos dizer que as operações econômico-financeiras são aquelas que aumentam ou diminuem o valor da empresa. Ou seja, quando registradas afetam não só a posição financeira da empresa, como também o valor do seu patrimônio líquido. 3

Se considerarmos que a AGO vendeu o seu Estoque total por 80.000 à vista e teve uma despesa de frete para a entrega das mercadorias de 5,000, à vista, a sua posição financeira passaria a ser a seguinte: 4 Após Venda do Estoque: Caixa 150.000 Empréstimos 130.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 120.000 Evidentemente a posição financeira foi mudada: o Caixa passou de 70.000 para 150.000 e o saldo do Estoque foi zerado. Houve uma entrada de Caixa da ordem de 80.000 que, imediatamente, aumentou o patrimônio líquido, neste mesmo valor. E na entrega do Estoque o patrimônio líquido foi reduzido em 50.000, o valor de custo do estoque vendido. Finalmente, o patrimônio líquido foi aumentado para 120.000, em função do lucro de 30.000 relativo à esta operação de venda. Em seguida, em função do pagamento da despesa de frete de 5.000 pela entrega das mercadorias vendidas, o Caixa foi reduzido para 145.000 e, consequentemente o patrimônio líquido foi, também, diminuído para 115.000. Após a Despesa de Frete: Caixa 145.000 Empréstimos 130.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 115.000 Enquanto tínhamos só operações financeiras este modelo de balanço atendia perfeitamente as nossas necessidades de informações. Contudo, com o surgimento

de operações econômico-financeiras, responsáveis por receitas e despesas, não nos satisfaz mais. Por exemplo, não há informação explícita sobre o resultado econômico do período e nem de como foi obtido. Desta maneira, o modelo deverá ser modificado para alimentar os dirigentes empresarias com as importantíssimas informações de lucro do período e como foi construído. A solução encontrada para este problema foi a transformação do balanço num balancete e a apuração periódica de resultados econômicos. Foi observado que operações, cujos registros aumentam o patrimônio líquido, são consideradas receitas e as que o diminuem são despesas. O problema para registrarmos as receitas e despesas no próprio balanço, permanecendo os saldos do ativo e passivo iguais, foi resolvido com a fixação do patrimônio líquido no inicio do exercício. Desta maneira, ao registrarmos as receitas e despesas os totais do ativo e do passivo continuariam absolutamente iguais. Vamos utilizar o nosso exemplo acima: Caixa 20.000 Empréstimos 80.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 90.000 Total 210.000 Total 210.000 Consideremos que o total do Estoque foi vendido por 80.000 e que a entrega destas mercadorias vendidas teve uma despesa de frete de 5.000. a) Venda da Mercadoria: D Caixa C Receitas: Venda de Mercadorias 80.000 5

6 Balancete da AGO (a) Caixa 100.000 Empréstimos 80.000 Receitas de Vendas 80.000 Devemos fazer as seguintes observações: 1) Quando o Patrimônio Líquido é fixado passa a funcionar de acordo com o Regime da Competência do Exercício e, neste caso, passa a ser considerado como o Patrimônio Líquido Contábil (PLC). E o balanço se transforma no balancete que é, na realidade, um balanço cujo resultado não foi ainda apurado. 2) O valor da venda de 80.000 entrou e aumentou o patrimônio líquido no mesmo valor. Contudo, como este está fixado, a única maneira de equilibrar o balanço é registrar este aumento e o associar à causa dele: Receitas de Vendas. 3) Este balancete nos diz que até o presente momento a empresa está apresentando um resultado de 80.000; 4) Apesar do valor do patrimônio liquido já ser 170.000, este balancete está mostrando o patrimônio líquido do inicio das operações 90.000. Só demonstrará o valor de 170.000 se, no final do período, o lucro for igual a 80.000. b) Entrega das Mercadorias Vendidas D Custo das Mercadorias Vendidas C Estoque 50.000

7 Balancete da AGO (b) Caixa 100.000 Empréstimos 80.000 Receitas: de Vendas 80.000 Despesas: CMV 50.000 Algumas observações esclarecedoras: 1) A entrega das mercadorias provoca redução no patrimônio líquido igual ao valor de custo delas: 50.000; 2) Como o patrimônio líquido está fixo, torna-se necessário registrar o CMV das mercadorias entregues, no ativo, como a causa da sua redução e, com isso, os totais do ativo e passivo permanecerão iguais; 3) Ao contrário do que se pensa, não é o custo das mercadorias que provoca diminuição do patrimônio líquido, mas a entrega delas. Na realidade custo, de qualquer natureza, não altera o patrimônio líquido. c) Despesa de Frete D Despesa de Frete C Caixa 5.000 Balancete da AGO (c) Caixa 95.000 Empréstimos 80.000 Receitas: de Vendas 80.000 Despesas: CMV 50.000 Frete 5.000

8 Algumas observações esclarecedoras: a) Evidentemente, despesa provoca redução no patrimônio líquido, mas como o patrimônio está fixo a contabilidade a registra no ativo que é onde se registram as aplicações de recursos e, desta maneira, a causa da redução é identificada e os totais, de ativo e passivo, permanecerão iguais. b) Embora o PLC esteja registrando o valor de 90.000, o montante do PLF é 115.000, conforme a equação abaixo: 135.000 + 100.000-120.000 = 115.000 O CONCEITO DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO Se observarmos um balancete podemos perceber que, devido à fixação do patrimônio líquido e o critério de apuração de resultados periódicos, toda vez que surgir uma receita ou despesa, esta demonstração terá dois tipos de patrimônios: patrimônio líquido e patrimônio líquido contábil (PLC), contudo só é apresentado, graficamente, o PLC. A literatura contábil não distingue, claramente, o patrimônio líquido do patrimônio contábil. Nela, constantemente, encontramos um como sinônimo do outro. No entanto, no nosso trabalho como analista econômico-financeiro de empresas negociadas em bolsas de valores chegamos à conclusão que é muito importante que definamos, claramente, estes conceitos. A falta desta distinção levará os analistas a cometerem erros crassos. Em função da nossa experiência como analista econômico-financeiro criamos o conceito de patrimônio líquido financeiro (PLF) e o expomos pela primeira vez no nosso primeiro livro Contabilidade Financeira para Executivos editado pela Fundação Getúlio Vargas em 1993. A posição financeira de uma empresa é constituída de bens, direitos e obrigações. Vejamos o exemplo a seguir: Caixa 20.000 Empréstimos 80.000 Imóvel 40.000 PLF 90.000

Total 210.000 Total 210.000 E o valor dela é determinado através da equação fundamental da contabilidade: B + D - O = Patrimônio Líquido Financeiro 100.000 + 100.000 120.000 = 90.000 Uma posição é considerada financeira quando é formada com dinheiro, itens que possam ser transformados em dinheiros e obrigações que são pagas em dinheiro, portanto, o patrimônio líquido extraído desta posição é um Patrimônio Líquido Financeiro. Uma característica única do patrimônio líquido financeiro é que será afetado, imediatamente, pelo registro contábil de operações econômico-financeiras ou econômico-financeiras pendentes. Por outro lado, a necessidade de fixação do patrimônio líquido para que as receitas e despesas sejam registradas na mesma demonstração, mantendo a igualdade dos totais do ativo e passivo, transformou o patrimônio líquido financeiro no patrimônio líquido contábil. O patrimônio líquido contábil funciona de acordo com o regime de competência do exercício. Receitas só serão incorporadas nele quando forem consideradas realizadas e as despesas só serão deduzidas quando forem consumidas ou quando as receitas a que estão relacionadas forem consideradas realizadas. Em função do que acabamos de afirmar vamos observar estes conceitos no nosso exemplo acima. Caixa 20.000 Empréstimos 80.000 Imóvel 40.000 Patrimônio Líquido 90.000 Total 210.000 Total 210.000 Num balanço inicial, isto é, sem receitas e despesas, o PLF e o PLC são iguais. A diferença vai começar a existir quando surgirem receitas e despesas e os resultados 9

econômicos são apurados periodicamente. Se os resultados forem apurados instantaneamente não haverá, neste caso, distinção entre PLF e PLC. Após a Venda da Mercadoria: Balancete da AGO (a) Caixa 100.000 Empréstimos 80.000 Receitas de Vendas 80.000 Agora temos um balancete e em função da fixação do patrimônio líquido e apuração de resultados econômicos periódica temos dois tipos de patrimônio com valores diferentes: PLC: 90.000 PLF: 190.000 + 100.000 120.000 = 170.000 A diferença entre eles são as Receitas de Vendas: que só serão consideradas no PLC no resultado econômico do final do período. E no PLF já alteraram o Caixa no montante de 80.000. A conta Receitas de Vendas apresentada no balancete está apenas indicando quanto o PLF foi aumentado com as vendas. Após Entrega das Mercadorias Vendidas Balancete da AGO (b) Caixa 100.000 Empréstimos 80.000 Receitas: de Vendas 80.000 Despesas: CMV 50.000 Com o registro da entrega das mercadorias vendidas o PLC continua o mesmo, mas o PLF foi reduzido para: 240.000 120.000 = 120.000. Ou seja, vemos 10

registrado um lucro de 30.000 (80.000-50.000) que se fosse apurado, agora, seria incorporado ao PLC inicial 90.000 - que seria atualizado para o valor atual de 120.000. Após a Despesa de Frete Balancete da AGO (c) Caixa 95.000 Empréstimos 80.000 Receitas: de Vendas 80.000 Despesas: CMV 50.000 Frete 5.000 Evidentemente, após o pagamento da despesa de frete, no valor de 5.000, o Caixa foi reduzido, neste valor, e o PLF também. Como o PLC está fixo, a despesa de frete será registrada no ativo, onde se registram as aplicações de recursos, indicando a causa da redução desta redução do PLF. A FIXAÇÃO DO PATRIMÕNIO LÍQUIDO FINANCEIRO INICIAL Vimos que o PLF oscila de acordo com as receitas e despesas. As receitas registram os acréscimos no PLF e as despesas os decréscimos. Para evitar estas oscilações constantes e, principalmente, com o objetivo de registrá-las durante um determinado período (1 ano por exemplo) para demostrar como o seu resultado econômico foi obtido e, também, atualizar o PLC do final do período, a solução encontrada foi fixar o PLF do inicio do período, transformando-o no PLC, e estabelecer que só poderia ser movimentado de acordo com o Regime da Competência do Exercício. Evidentemente que este congelamento, do valor do PLC, não impede a alteração do PLF, cuja movimentação depende das operações financeiras da empresa, isto é, do movimento dos bens, direitos e obrigações. Apenas permite que receitas e despesas sejam periodicamente registradas até o final de um período qualquer, 11

predeterminado, quando serão comparadas, entre si, para obtenção do resultado econômico, do período, que será incorporado ao PLC inicial. Claramente, enquanto o resultado econômico não for apurado e incorporado ao PLC, igualando o seu montante ao do PLF, haverá sempre diferença entre os seus respectivos valores. Podemos afirmar que a apuração de resultados econômicos, no final de um período, caso não haja nenhum registro contábil de operações econômicofinanceiras pendentes, permitirá que os montantes do PLF e do PLC sejam absolutamente iguais. Vamos utilizar o balancete do nosso exemplo até aqui: Balancete da AGO (c) Caixa 95.000 Empréstimos 80.000 Receitas: de Vendas 80.000 Despesas: CMV 50.000 Frete 5.000 Consideremos o balancete, acima, como o do final de um período e apuremos o resultado dele: Caixa 95.000 Empréstimos 80.000 Imóvel 40.000 PLC 115.000 Capital Inicial(1) 90.000 Lucro do Período 25.000 Total 235.000 Total 235.000 (1) Capital, PLC e PLF são iguais, quando se inicia uma empresa. PLC 115.000 PLF 135.000 + 100.000 120.000 = 115.000 12

13 E, desta maneira, está comprovada a nossa afirmação acima. c) Econômico-Financeiras Pendentes As operações econômico-financeiras pendentes são operações com características próprias: afetam o PLF imediatamente, contudo em função da competência do exercício, só são consideradas realizadas à medida que seus benefícios são consumidos ou que as receitas beneficiadas, diretamente com o seu consumo, sejam realizadas. São econômico-financeiras pendentes: a) Despesa Antecipadas b) Despesas Diferidas c) Despesas Futuras Semelhante às operações econômico-financeiras, as econômico-financeiras pendentes provocam diferenças entre PLF e PLC, até o momento em que são consideradas, totalmente, na apuração do resultado do período. A IMPORTÂNCIA DA DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS Por tudo que vimos acima, podemos concluir que a distinção entre os conceitos de Patrimônio Líquido Contábil e Patrimônio Líquido é muito importante para a contabilidade. Com estas definições as conclusões sobre a situação econômico-financeira das empresas serão mais corretas e, portanto, mais confiáveis. É lamentável que as demonstrações financeiras atuais sejam omissas em relação a este importante conceito PLF da contabilidade.