CONCURSO PÚBLICO PREFEITURA MUNICIPAL DE ELDORADO MS



Documentos relacionados
O DOM DA DISLEXIA. Ronald D. Davis Rio de Janeiro, Rocco, 2004

Dificuldades de aprendizagem

MÉTODO DAS BOQUINHAS

DIFICULDADES ESPECÍFICAS DE LINGUAGEM E SUAS RELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM DALMA RÉGIA MACÊDO PIN TO FONOAUDIÓLOGA E PSICOPEDAGOGA

111 ENSINO FUNDAMENTAL

Profa. Ma. Adriana Rosa

Fonte:

e (Transtornos Específicos da Aprendizagem (TEA)) Dulcelene Bruzarosco Psicóloga/Terapeuta de Família e Casal.

Expressão Musical II. Universidade De Trás-Os-Montes e Alto Douro Educação Básica 1ºano,2ºsemestre,2012/1013. Docente: António Neves

Fundamentos Teóricos e Práticos. com TDAH e Dislexia

Dislexia. O que é? Distúrbios de Aprendizagem Prof. Dorival Rosa Brito

Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro Padre Alberto Neto CÓDIGO Sub-departamento de Educação Especial

PSICOPEDAGOGIA. DISCIPLINA: Desenvolvimento Cognitivo, Afetivo e Motor: Abordagens Sócio Interacionistas

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

No final desse período, o discurso por uma sociedade moderna leva a elite a simpatizar com os movimentos da escola nova.

Desenvolvimento cognitivo e motor na infância: necessidades de jogos e brincadeiras

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROJETO DE EXTENSÃO PRÁTICA DE ENSINO E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE

Patrícia Zambone da Silva Médica Fisiatra

Projeto: Música na Escola. O amor é a melhor música na partitura da vida e sem ele, você é um eterno desafinado.

1.º Ciclo do Ensino Básico Critérios de Avaliação

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FISICA NAS SÉRIES INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA LEILA REGINA VALOIS MOREIRA

ALUNOS ESPECIAS NA CONTEMPORANEIDADE: APRENDIZAGENS NO ENSINO DA MATEMÁTICA

EMENTAS DAS DISCIPLINAS

DISLEXIA: QUE BICHO É ESSE?

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Índice. 1. Definição de Deficiência Motora...3

FILGUEIRAS, Karina Fideles - FaE-UFMG GT: Alfabetização, Leitura e Escrita/n. 10 Agência Financiadora: não contou com financiamento

Deficiência Intelectual Síndrome de Down. Serviço de Atendimento Pedagógico às Necessidades Educacionais Especiais SEME

COLÉGIO VICENTINO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio Rua Rui Barbosa, 1324, Toledo PR Fone:

PNAIC. CEAD-UFOP: Coordenadora Geral: Profa. Dra. Gláucia Jorge Coordenador Adjunto: Prof. Dr. Hércules Corrêa

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ANTÓNIO FEIJÓ

Pedagogia. Comunicação matemática e resolução de problemas. PCNs, RCNEI e a resolução de problemas. Comunicação matemática

DISCIPLINA:DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM PROFESSOR(A):Deise Mª M. Barnabé deisemmb@gmail.com CELULAR:(47)

Escola de Educação Básica São Judas Tadeu. APAE Jaguariaíva/PR Modalidade de Educação Especial. Professora: Héber Fabiana Vieira de Souza Mello.

PARA UM DIAGNÓSTICO INFORMAL DA DISLEXIA*

25 de fevereiro e 25 de março e 22 de abril. 29 de abril e 20 de maio. 27 de maio e 17 de junho

ALFABETIZAÇÃO DE ESTUDANTES SURDOS: UMA ANÁLISE DE ATIVIDADES DO ENSINO REGULAR

Centro de Estudos Avançados em Pós Graduação e Pesquisa

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA GABINETE DA DEPUTADA LUZIA TOLEDO PROJETO DE LEI Nº 157/2010

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

DISLEXIA PERGUNTAS E RESPOSTAS

EDUCAÇÃO INFANTIL CURRÍCULO DE LINGUAGEM

BRINCAR E APRENDER: A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A DISLEXIA E A ABORDAGEM INCLUSIVA EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO. Sumário I) OBJETIVO 02. 1) Público alvo 02. 2) Metodologia 02. 3) Monografia / Trabalho final 02

Faculdade de Alta Floresta - FAF

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA PROJETO PEDAGÓGICO

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio

LIDERANÇA INTEGRAL CONTEÚDO

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/ NÚCLEO DE APOIO À INCLUSÃO DO ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

2- Objetivo 3- Método 4- Resultados 5-Conclusões

Critérios de seleção e utilização do livro didático de inglês na rede estadual de ensino de Goiás

O USO DE SOFTWARE EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE CRIANÇA COM SEQUELAS DECORRENTES DE PARALISIA CEREBRAL

A CRIANÇA BILÍNGUE: INFLUÊNCIAS DO BILINGUISMO SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ESCOLA PAN AMERICANA DA BAHIA. Profa. Conchita Kennedy Dantas

Comunicação para Todos Em Busca da Inclusão Social e Escolar. Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS. Resumo

Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos

A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN. FELDENS, Carla Schwarzbold ¹; VIEIRA, Cícera Marcelina ²; RANGEL, Gilsenira de Alcino³.

EDUCAÇÃO INFANTIL. PRÉ I Professoras Caroline e Ana Lucia Habilidades vivenciadas no 2º bimestre 2011

Dislexia Atenção aos Sinais

PSICOPEDAGOGIA: Sujeito, Família e Escola seus novos saberes

PROJETO BRINQUEDOTECA: BRINCANDO E APRENDENDO

Estudo e aplicação dos critérios de elaboração e aplicação das avaliações internas previstos no Plano de Ensino-Aprendizagem

PROJETO DE LEITURA E ESCRITA LEITURA NA PONTA DA LÍNGUA E ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS

ORGANIZAÇÃO DO ENSINO DE DISCIPLINA / CRÉDITO RESUMO INTRODUTÓRIO

PROGRAMA ATIVIDADE MOTORA ADAPTADA

METAS DE APRENDIZAGEM (3 anos)

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO INCLUSIVA 400h. Estrutura Curricular do Curso Disciplinas

ESTUDO DE CASO PSICOPEDAGÓGICO

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

Transtornos Globais do Desenvolvimento e Dificuldades de. Curso de Formação Pedagógica Andréa Poletto Sonza Março/2010

Sumário. 1. Criar condições favoráveis para uma aprendizagem bem-sucedida 23. Introdução 11. Os marcos teóricos de referência 14

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

ESTRATÉGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Profa. Me. Michele Costa

PROJETO DE LEI N DE 2009 (Do Sr. Marcondes Gadelha) O Congresso Nacional Decreta:

ENTREVISTA Alfabetização na inclusão

JOGOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Olímpia Terezinha da Silva Henicka e Dariléia Marin

A ABORDAGEM DA GEOMETRIA COM CRIANÇAS NA PRÉ-ESCOLA: NÍVEL II

PROJETO DE LEI N.º 3.394, DE 2012 (Do Sr. Manoel Junior)

Projeto recuperação paralela Escola Otávio

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Ensino Técnico Integrado ao Médio FORMAÇÃO PROFISSIONAL. Plano de Trabalho Docente 2014

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PSICOLOGIA DA FACULDADE ANGLO-AMERICANO

GUIA DE SUGESTÕES DE AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Projeto de Acessibilidade Virtual RENAPI/NAPNE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL CURSO: PEDAGOGIA PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO EDUCACIONAL

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Transcrição:

QUESTÃO 01 DISLEXIA - UM ESTUDO DE CASO CLÍNICO COM PARCERIA DA ESCOLA Marta Carolina dos Santos Resumo: O presente artigo relata o estudo de caso de uma criança com queixa escolar. Descreve a aplicação da avaliação psicopedagógica e as técnicas de intervenção psicopedagógicas e pedagógicas, a interpretação da avaliação, o processo reeducativo e os resultados do trabalho multidisciplinar. Além do estudo de caso, apresenta-se uma análise introdutória do conceito de Dislexia descrita por pesquisadores desde suas primeiras abordagens sobre o tema. O objetivo deste estudo é divulgar a necessidade de identificar com clareza casos como desta criança na educação pública e a possibilidade de tratar com atenção adequada buscando a parceria entre a clínica psicopedagógica e a escola. Palavras-chaves: educação, saúde, dislexia, diagnóstico, tratamento e intervenção. Segundo o neuropsiquiatra americano Samuel T. Orton (1940), a dislexia é o resultado de um distúrbio do desenvolvimento que altera a estabelecimento normal da dominância hemisférica para a linguagem, para Orton, seria uma alteração da lateralidade hemisférica com implicações na orientação direcional e na memória visual. Outro pesquisador, Mac Donald Critchley (1968), define dislexia como transtorno da aprendizagem da leitura que ocorre apesar de uma inteligência normal, da ausência de problemas sensoriais e neurológicas, de uma instrução escolar adequada, de oportunidades socioculturais suficientes, além disso, depende de uma perturbação de aptidões cognitivas fundamentais, muitas vezes de origem constitucional. De acordo com Debray & Bursztein, a dislexia é uma dificuldade duradoura na aprendizagem da leitura e a aquisição de seu automatismo em crianças normalmente inteligentes, escolarizadas e isentas de distúrbios sensoriais. Estima-se sua freqüência entre 5% a 10% dos escolares nos U.S.A. Davis e Braun (1994), contrariando os conceitos relacionados a dislexia no começo e metade do século XX, afirmam que a dislexia é produto do pensamento e uma forma especial de reagir ao sentimento de confusão e pode ser corrigida. Para Davis e Braun, a dislexia é um tipo de desorientação causada por uma habilidade cognitiva natural que pode substituir percepções sensoriais normais por conceituações, dificuldades com leitura, escrita, fala e direção, que se originam de desorientações desencadeadas por confusões com relação aos símbolos. De acordo com DAVIS (1994), a dislexia se origina por um talento perceptivo. Diante das definições e procedimentos específicos de avaliação diagnóstica da dislexia, optou-se em realizar uma avaliação multidisciplinar, buscando a visão de especialistas da saúde e educação através da avaliação psicopedagógica convergente. Descreve-se o relato apresentando as partes envolvidas na abordagem, primeiramente o histórico da criança encaminhada, depois a queixa escolar, a linha de investigação psicopedagógica, as avaliações, a interpretação dos resultados e finalmente os encaminhamentos.

1. A criança: Y.L.R. tem sete anos e seis meses de idade, freqüenta a primeira série do ensino fundamental numa escola pública municipal. Freqüentou a pré-escola e desde aquele ano observou que suas habilidades e desempenho apresentavam abaixo do esperado para sua idade. Foi informado à família através de avaliação descritiva a dificuldade constatada durante o ano letivo. A família observou que Y.L.R. apresentava dores de cabeça e tonturas. Ao ingressar na 1ª série do ensino fundamental, observou que os sintomas de dores de cabeça continuaram principalmente após ter se esforçado para escrever ou na tentativa de ler. Foi realizado exame oftalmológico e foi constatada a necessidade de utilizar óculos. Mesmo usando óculos há dois meses continuou a apresentar os sintomas de dores de cabeça e tonturas. Teve muito apoio e orientação da família e muito interesse nas atividades escolares. Foi encaminhado ao atendimento psicopedagógico depois de ter tido reforço pedagógico desde fevereiro de 2005. Iniciou o atendimento psicopedagógico no início de junho daquele mesmo ano. Y.L.R. é filho único e mora com sua mãe, avós, tios e primos. Seus pais são separados e não tem muito contato com o pai. Segundo relato da mãe, seu irmão, tio de Y.L.R., apresentou grandes dificuldades de aprendizagem escolar na infância, tendo sido atendido por psicólogos e psicopedagogo. 2. Queixa Escolar A queixa escolar relatada pela professora e família foram: grandes dificuldades no domínio da leitura e escrita, apresentando omissões de letras ou distorções, escrita freqüentemente invertida. Lentidão para escrever não acompanhando os conteúdos propostos na 1ª série. Pulam-se palavras ou linhas na leitura ou na escrita. Durante a aula em sua produção escrita aparecem letras de tamanhos muito diferentes. 3. Linha de Investigação A Epistemologia Convergente é uma linha de estudos utilizada no campo da psicopedagogia, que busca a convergência dos diferentes aspectos que constituem o sujeito: epistemofilico, epistemológico, epistêmico. Avaliações Específicas para Diagnóstico de Problemas de Leitura. Aspecto Epistemofílico: aplicou-se anamnese assistida, anamnese descritiva, observando seu desenvolvimento a partir de relatos médicos e pessoas na família que apresentaram alguma semelhança nas dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento. Aspecto Epistemológico: aplicou-se as provas piagetianas, provas de competência fonológica, avaliação de habilidades perceptivas, psicomotoras, Reversal test e Piaget Read, Teste de vocabulário verbal e IDT. Aspecto Epistêmico: aplicou-se provas projetivas Coleção papel de carta de Leila Chamat, provas projetivas Jorge Visca, Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem e Entrevista Operativa Centrada no Brinquedo, buscando analisar as relações vinculares com o meio familiar, social e com a aprendizagem. 4. Descrição dos resultados Constatou-se que no desenvolvimento cognitivo apresentou déficit nos aspectos lógicomatemáticos, pouco domínio das unidades numéricas e em estabelecer correspondência termo a termo, conservar e quantificar, no entanto, apresenta facilidade para estabelecer

critérios para classificar e inclusão de classes demonstrando estar em fase intermediária entre pré-operatória e operatório concreto. Observou nas avaliações perceptivas leve tremor e tonturas. Lentidão no planejamento motor de letras e números, bem como copiar símbolos e perceber posições opostas nos símbolos. Apresentou velocidade para escrever abaixo da média, demonstrando certa hipoatividade para executar tarefas de documentação. Idade mental de acordo com idade cronológica conforme produções de seus desenhos e linguagem verbal argumentando com lógica suas respostas, conforme sua idade cronológica. Nos testes específicos de linguagem (IDT/PCFF/CPC L.S. CHAMAT) apresentou grandes dificuldades em memória e seqüência de palavras, dificuldades com rimas. Grandes dificuldades em memorizar letras e números. Na linguagem oral apresentou centralização do pensamento, o que é natural na sua idade. Na EOCA apresentou pouca iniciativa para criar e lentidão para executar uma tarefa, apesar de planejá-las com desenvoltura, perdia facilmente a linha de pensamento. Na anamnese constatou-se que aprendeu a falar e a andar tardiamente, o que merece maior atenção para seu ritmo de aprendizagem e aquisição de habilidades, relata a mãe que nas últimas horas que antecederam o parto teve muitas dores de cabeça e tonturas. 4.1. Interpretação das avaliações aplicadas Conforme avaliações aplicadas, o diagnóstico poderia ser descrito como Atraso Global de Desenvolvimento (AGD), porém neste caso a expressão verbal para responder a questionamentos deveria apresentar déficits, ou seja, utilizar um pensamento inanimista para justificar uma afirmação ou não ser capaz de planejar uma tarefa com independência de acordo com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA). Outro ponto avaliado foi o desenho que expressou certo retraimento, mas segundo os estágios de desenvolvimento do domínio da expressão gráfica está de acordo com sua idade. Estes detalhes da avaliação descartaram a hipótese de ser Atraso Global de Desenvolvimento; pode-se pensar numa possível inibição intelectual causada pela falta de domínio na percepção visual e orientação espacial; a dificuldade de equilíbrio que possivelmente influenciou a habilidade para andar. Segundo informações apresentadas no site da Associação Nacional de Dislexia, relatam as inibições intelectuais e o retraimento de crianças disléxicas causadas pelos sintomas nos primeiros contatos com a escolarização, até mesmo na pré-escola, bem como atraso no desenvolvimento motor desde a fase de engatinhar, sentar e andar, atraso na aquisição da fala. Segundo a Associação Nacional de Dislexia, a criança poderá apresentar grandes dificuldades no conhecimento matemático, principalmente no que se refere a aritmética. Além da avaliação psicopedagógica, se fez necessário adquirir uma avaliação neurológica para observar com rigor os sintomas de dores de cabeça e tonturas, além de oportunizar ter um mapeamento de seu cérebro, através dos exames neurológicos. 5. Encaminhamento: De acordo com as avaliações aplicadas e o conteúdo manifesto nas tarefas executadas, aliados aos sintomas de ordem funcional solicito um encaminhamento ao neuropediatra para avaliação e parecer quanto aos sintomas (dores de cabeça e tonturas). Recomenda-

se uma avaliação da fonoaudióloga apresentando dificuldades na pronúncia e posicionamento da língua e dos dentes para expressar sons e fonemas. 6. Conclusões: Na escola Y.L.R. passou a ter uma atenção mais intensa da professora regente. Ela o observava e ao seu lado um colega o ajudava a manter a escrita na posição e linha corretamente. Muitos jogos de memorização visual, auditiva e gestual foram aplicados durante a aula. A professora ofereceu a leitura labial outro recurso valioso para a criança. Todos participaram das atividades com entusiasmo tornando possível para todos independente de suas aptidões pessoais, o entusiasmo e o interesse em participar destes momentos que contribuíram para o aprimoramento ou desenvolvimento destas habilidades a cada aluno. No consultório, Y.L.R. passou a receber orientações para melhorar sua habilidade perceptual, melhorando consideravelmente sua compreensão no que se refere às letras, sons, fonemas, símbolos, utilizando a escrita e o desenho espontâneo para expressar desejos e necessidades que devido ao retraimento eram difíceis de serem manifestadas. A partir do 2 semestre a abordagem com a criança esteve centrada nas habilidades perceptivas, gestão mental e abordagem metacognitiva. Durante as sessões foi estabelecido como objetivo o resgate da auto-estima, a conquista de vínculos com pessoas fora do contexto familiar e o vínculo afetivo com o contexto escolar, melhorando conseqüentemente a relação vincular com a aprendizagem. No espaço de reeducação pode-se observar que ao longo das sessões, dominou o reconhecimento de dezesseis letras do alfabeto, as demais letras estão sendo apresentadas através de recursos pedagógicos e psicopedagógicos. Observou melhoras no reconhecimento de palavras em situações de jogos lúdicos. A comunicação verbal foi manifestada com mais ênfase expressando com clareza seus desejos e necessidades. Porém, paralelamente aos avanços na linguagem verbal, houve manifestações de instabilidade emocional decorrentes da frustração em relação ao desempenho escolar e cobrança da família. Embora tenha evoluído durante a reeducação psicopedagógica, responde com ritmo diferente no espaço escolar. Está sendo trabalhado com a família a compreensão do sintoma levando em consideração que os casos ligados aos transtornos ou atrasos, síndromes ou inibições na aprendizagem, requerem a aceitação da família e a própria criança de suas limitações iniciais, levando-a acreditar em melhorar seu desempenho através do autoconhecimento de suas reais possibilidades de superação. A proposta é continuar oportunizando atendimento psicopedagógico, acompanhar seus avanços com o grupo e a relação vincular com a aprendizagem e com os professores. Quanto ao parecer escolar, embora se tenha oferecido atividades e meios estratégicos para acompanhar os conteúdos curriculares, Y. necessita rever alguns conteúdos, mas a aceitação da criança e o acolhimento dos educadores, favoreceram e estimularam a criança a recomeçar e Ter acesso ao conhecimento real. Atualmente, Y.L.R. venceu o retraimento, comunicando-se melhor com seus colegas, participando e percebendo a realidade com mais entusiasmo, escrevendo e lendo com mais confiança, apesar de seu esforço e apesar dos erros. Continua ocorrendo algumas inversões na escrita, mas ele consegue se corrigir, identificando a inversão, o que antes

era uma tarefa quase impossível para ele. Concluo que não basta apenas identificar o sintoma, é necessário adaptar-se a situação e buscar parceria, um trabalho solitário na clínica será difícil, mas um trabalho pelo qual, profissionais se empenham, dedicando-se um pouco mais, será possível lidar com a diversidade da aprendizagem escolar. O papel da família e da escola em aceitar as propostas de intervenção e participação, buscando uma abordagem coletiva, valorizando os avanços de cada aluno, conforme seu ritmo de aprendizagem é a base fundamental para a inclusão social e o sucesso do atendimento psicopedagógico. Bibliografia DAVIS, Ronald D. O Dom da Dislexia: o novo método revolucionário de correção da dislexia e outros transtornos de aprendizagem. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1994. CAPOVILLA, Alessandra G.S. SUITER, Ingrid. CAPOVILLA, Fernando C. Avaliação e Intervenção Metafonológica em Distúrbio de Linguagem Escrita. São Paulo: ABPp, 2004; 64 : 57-66. HOUT, Anne Van. ESTIENNE, Françoise. Dislexias: descrição, avaliação, explicação, tratamento. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001. DE MAMANN, Cleussi de F. Processo Diagnóstico: avaliação psicopedagógica bateria de testes. Itajaí: in apostila, 1998. SANTOS, Marta Carolina dos. Estudo de Caso à partir da Epistemologia Convergente. Itajaí: monografia, 1999. SANTOS, Marta Carolina dos Santos. Relatórios e Estudos de Casos Clínicos: uma leitura multidisciplinar no espaço psicopedagógico. Gaspar: artigos,2005. CAPOVILLA, Alessandra G.S. CAPOVILLA, Fernando C. Alfabetização: Método fônico. 3ªedição. São Paulo: Editora Memnon, 2004. www.dislexia.com.br Estrutura 14,00 1. A criança - 6,00 2. Queixa Escolar - 6,00 3. Linha de Investigação - 6,00 4. Descrição dos resultados - 6,00 5. Encaminhamento - 6,00 6. Conclusões - 6,00 QUESTÃO 02 RELATÓRIO PSICOLÓGICO Fonoaudiológico 10,00 Estrutura 8,00 Queixa 8,00 Finalidade 8,00 Metodologia 8,00 Conclusão 8,00