Planejamento de tecnologia em logística considerando a inovação aberta: uma proposição teórica

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Transcrição:

Planejamento de tecnologia em logística considerando a inovação aberta: uma proposição teórica Mauro Caetano a (maurocaetano1912@gmail.com); Thomas Silva Oliveira a (oliveirathomas@yahoo.com.br) a Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia (FACE), Universidade Federal de Goiás (UFG), GO BRASIL Resumo O presente trabalho está inserido no contexto da inovação em logística, tema esse pouco explorado pela literatura e que demanda a realização de estudos específicos para essa área. A partir de uma revisão de literatura e análise teórica sobre as características da logística, bem como métodos apoio ao planejamento de tecnologias, são realizadas considerações para adoção de um método de planejamento de tecnologia disponível na literatura de modo particular em atividades logísticas. Proposições iniciais são realizadas no sentido de se explorar melhor o tema, sendo sugeridas pesquisas futuras que possam testar a aplicabilidade do método de planejamento aqui analisado no processo de inovação em logística. Palavras-chave: gestão da inovação; mapeamento de tecnologia; parcerias. 1 Introdução Planejar novas tecnologias constitui-se em uma atividade estratégica para o desenvolvimento de novos produtos e processos. Nessa atividade considera-se, no médio e longo prazo, a realização de investimentos em estudos e pesquisas que levem ao desenvolvimento de novas tecnologias e essas, por sua vez, são integradas a novos produtos e processos que, enfim, chegam ao mercado, materializando o que Schumpeter (1982) considera como inovação. Apesar da existência de métodos que auxiliem nesse planejamento de tecnologias, nota-se que sua sistematização se aplica basicamente ao desenvolvimento de novos produtos, como ocorre com métodos de planejamento que fazem uso do technology roadmapping (TRM), que consideram o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos para atender a mercados específicos (ALBRIGHT; KAPPEL, 2003; KOSTOFF; SCHALLER. 2001; PHAAL; FARRUKH; PROBERT, 2004). Aplicações no desenvolvimento de novos processos são pouco exploradas pela literatura, principalmente no que diz respeito a processos relacionados à logística e também que contemplem a inovação aberta. Caracterizada pela sua expressiva participação no produto interno bruto (PNB) brasileiro, entre 15 e 20%, e por ser uma atividade essencial para todo tipo de empresa (BALLOU, 2010), a logística congrega atividades que vão desde o processamento de pedidos por determinado cliente até o manuseio de produtos em determinado estoque e sua entrega no ponto de consumo. Ao longo de todas essas atividades existe a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias que possam melhorar o desempenho da logística como um todo e aumentar a competitividade das empresas. Nesse sentido, a partir de uma revisão específica de literatura (BRERETON et al., 2007), que envolva os temas planejamento de tecnologia e logística, foi realizada uma análise teórica de caráter indutivo (KARLSSON, 2009) para a realização de uma proposta de aplicação de um método de planejamento de tecnologia em logística que poderia preencher uma lacuna presente na literatura. Para tanto, foi utilizado como referência o método de planejamento de tecnologia proposto por Caetano e Amaral (2011), chamado de MTP method for technology push, aplicável em processos de inovação empurrados pela tecnologia. Ao final do trabalho são realizadas considerações finais sobre a aplicação desse método bem como sugestões de pesquisas futuras. 1

2 Logística Há na literatura diferentes definições para o termo logística. Autores como Ballou (2010), Bowersox e Closs (2009), Dias (2008), Martins e Alt (2009), Viana (2009), bem como a Associação Brasileira de Logística (ASLOG) e o Instituto Brasileiro de Logística (IBRALOG) consideram a logística como a movimentação de materiais desde o seu ponto de origem até o consumidor final, ou seja, trata de atividades que envolvem toda a cadeia de suprimentos. Já Fleury, Wanke e Figueiredo (2000), bem como Slack, Chambers e Johnston (2009) tratam a logística de uma forma mais pontual. Esses últimos a definem como a movimentação de material não em toda a cadeia de suprimentos, mas, sim, a partir das atividades de operações em determinada empresa, passando pelo canal de distribuição até chegar ao consumidor final. A Figura 1 apresenta um panorama na relação da logística com demais conceitos tratados de forma similar pela literatura da área. Figura 1. Funções gerenciais na cadeia de suprimentos. Fonte. Slack, Chambers e Johnston (2009). De acordo com a Figura 1, pode-se notar que a definição de logística proposta por Slack, Chambers e Johnston (2009) refere-se à gestão do fluxo de materiais desde as operações, sejam elas a manufatura de determinado produto ou o fornecimento de determinado serviço, até os consumidores finais desses produtos ou serviços. Essa definição apresentada torna-se necessária para distinguir as definições de logística de, por exemplo, uma definição maior de cadeia de suprimentos, que trata do fluxo dos materiais ao longo de todas as suas operações, que vão desde a extração da matéria prima até o consumo final dos produtos ou serviços. Dessa forma, notam-se diferentes enfoques dado à logística pela literatura. Conforme apontado por Farris (1997), os estudos na área de logística, bem como a utilização do termo, foram desenvolvidos a partir da 2ª guerra mundial, em que a movimentação de tropas, suprimentos e armamentos servira como fonte de estudos para o tema. Entretanto, nota-se a existência de estudos sobre logística na área de economia de transportes, realizados nos Estados Unidos da América a partir de 1850. Kent e Flint (1997), em seu modelo de evolução do pensamento em logística, complementam os estudos de Farris (1997). De acordo com os autores, o desenvolvimento da logística foi iniciado na 2

identificação do fluxo de materiais desde o campo até a cidade, em que, desde o início do século XX até a II Guerra Mundial, o foco da logística estava no transporte de produtos agropastoris até o seu ponto final de venda. Os autores entendem que esse enfoque esteve presente desde a Idade Antiga, mas preferiram realizar esse recorte histórico que contemple o início de documentação da área. Como disciplina, a logística era ministrada por economistas, recebendo orientações da economia de transportes e da geografia. Já no final da década de 1950 buscou-se nas organizações a distinção de algumas áreas funcionais com vistas a definir quais eram as funções da logística. Dessa maneira, a distribuição física, que recebia uma maior atenção da área de marketing, finanças e produção (BALLOU, 2006; RUTNER; LANGLEY, 2000), foi separada das funções de armazenagem, gestão de estoques, manuseio e controle de mercadorias, que estavam mais próximas da área de engenharia de transportes devido aos níveis de eficiência exigidos durante os conflitos da II Guerra (KENT; FLINT, 1997). Durante os vários anos que se seguiram, a logística passou para diferentes áreas de domínio além dessas apresentadas até o surgimento na década de 1980 do conceito de Supply Chain Management (SCM), que também trouxe à tona temas como a logística reversa e gerenciamento de todo o canal de distribuição. Com isso, várias abordagens tem sido dadas para a logística. Fazendo uma análise específica da área e a sua estruturação, tem-se que a logística constitui-se por três atividades principais, sendo elas o transporte, que se refere aos vários métodos utilizados para movimentar produtos, seja via modal rodoviário, hidroviário, dutoviário, ferroviário ou aeroviário; a gestão de estoques, que trata da manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda de produtos; e o processamento de pedidos, que trata do relacionamento com agentes externos à empresa na realização das solicitações (BALLOU, 2010). Dessa forma, a partir da relação entre as definições apresentadas por Fleury, Wanke e Figueiredo (2000) e Slack, Chambers e Johnston (2009), que tratam das atividades realizadas após as operações, somadas às definições de Ballou (2010), considera-se a logística nesse trabalho como o gerenciamento das atividades de transporte, armazenagem de materiais e processamento de pedidos desde as atividades de produção de determinado produto ou serviço até o seu consumo final. Essa delimitação torna-se relevante na análise desse trabalho para que não haja a pretensão de se discutir a cadeia de suprimentos como um todo. 3 Planejamento de tecnologia Antes de apresentar uma definição de planejamento de tecnologia, torna-se importante esclarecer que diversos autores consultados sobre o tema tratam o planejamento de tecnologia como uma das atividades relacionadas ao front end do desenvolvimento de novos produtos, que, nesse caso, poderia se referir ao desenvolvimento de novos processos (CLARK; WHELLWRIGHT, 1993; KHURANA; ROSENTHAL, 1998; MURPHY; KUMAR, 1997), ou ao front end da inovação (POSKELA; MARTINSUO, 2009) e às fases iniciais do processo de inovação (VARJONEN, 2006). Esses e outros autores apresentam também a importância do planejamento de tecnologia, mas não o define ou apresenta suas características particulares. Embora sejam reconhecidos como alguns dos autores mais referenciados sobre o processo de desenvolvimento de novos produtos, Clark e Whellwright (1993) também não são claros quanto às características do planejamento de tecnologia. Os autores tratam da necessidade das organizações definirem uma estratégia tecnológica, estabelecendo um foco para o desenvolvimento de suas tecnologias, as fontes para a sua capacitação tecnológica, o tempo e freqüência para o desenvolvimento tecnológico, entre outras ações, mas não apresentam uma definição clara para planejamento de tecnologia. Acredita-se que essa deficiência identificada no que diz respeito a uma definição de planejamento de tecnologia seja causada pela sua ampla área de aplicação, seja no front end da inovação ou no desenvolvimento de novos produtos. Para que se torne possível um correto entendimento do termo de acordo com a área de interesse desse trabalho, sugere-se uma análise da distinção nas características 3

desses dois termos apresentados, conforme descrito na Tabela 1, elaborada a partir do trabalho de Koen et al. (2001). A partir da Tabela 1 pode-se notar que as principais diferenças entre os termos estão relacionadas ao nível de riscos e incertezas que cada um deles apresenta. No front end da inovação esses riscos e incertezas são maiores do que no processo de desenvolvimento de novos produtos, o que demanda a utilização de instrumentos que busquem minimizar essas incertezas e riscos associados à inovação no caso do front end. Além disso, a natureza do trabalho no processo de desenvolvimento de novos produtos apresenta-se estruturada por um plano de projeto, que possibilita uma definição clara dos objetivos no planejamento, já no front end os trabalhos experimentais e, muitas vezes, sem objetividade, dificultam a gestão da inovação e, por isso, necessitam de uma sistemática de apoio ao planejamento de tecnologias. Natureza do trabalho. Data de comercialização. Financiamento. Expectativa de receita. Atividade. FRONT END DA INOVAÇÃO Experimental, muitas vezes caótico e difícil de planejar. Imprevisível. Há vários orçamentos na fase inicial, mas alguns projetos aprovados necessitam de novos financiamentos. Muitas vezes incerta e às vezes identificada com um grande nível de especulação. Individuais e em equipe para minimizar os riscos e otimizar os potenciais. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Estruturado, disciplinado, orientado por objetivos e com um plano de projeto. Definida. Orçado. Definida e muitas vezes com expectativa de crescimento a partir da análise de dados do produto. Equipes multifuncionais de desenvolvimento de produto ou processo. Fonte: Koen et al. (2001). A definição de planejamento de tecnologia utilizada nesse trabalho está próxima do conceito de front end da inovação, pois há aqui uma proposta de sistematização na redução das incertezas relacionadas à inovação como um todo. Busca-se a identificação de oportunidades de inovação, análise dessas oportunidades, geração e seleção de idéias de produtos e tecnologias necessárias, conforme as atividades propostas por Koen et al. (2001) para o front end da inovação. Nota-se na definição apresentada por Koen et al. (2001) a falta de uma descrição das atividades de planejamento de tecnologia. Portanto, adota-se nesse trabalho uma definição mais clara, a apresentada por Nauda e Hall (1991), como sendo a realização de atividades de identificação dos investimentos e ações necessárias para lidar ou tirar proveito das mudanças tecnológicas de acordo com os objetivos da organização. A Figura 2 apresenta as atividades proposta pelos autores para o planejamento de tecnologia. Conforme apresentado na Figura 2, o planejamento inicia-se com as atividades de classificação das tecnologias existentes, em que são identificadas as tecnologias relacionadas à organização. Na sequência, realiza-se uma avaliação dessas tecnologias de acordo com as áreas de interesse da organização, havendo uma seleção das tecnologias prioritárias de acordo com os planos de negócio e de P&D. Realiza-se uma análise dessas tecnologias prioritárias e seu impacto na organização, no sentido de se elaborar um plano ações, com, por exemplo, o treinamento da equipe de engenharia, a realização de pesquisas ou o investimento em equipamento. Por fim, realiza-se um resumo dos recursos a serem utilizados nesse plano, que servirá de base para a uma reavaliação anual das tecnologias que dará origem a novas atividades de planejamento. O sucesso do planejamento de tecnologia, de acordo com Nauda e Hall (1991), está relacionado à definição sistemática das necessidades dos consumidores e identificação de uma postura competitiva 4

frente a essas necessidades, identificando as tecnologias do futuro, avaliando e monitorando a evolução de tecnologias chaves, de modo a alocar os recursos corretamente no planejamento atendendo aos interesses do negócio. Há diferentes métodos que podem ser utilizados para a realização do planejamento de tecnologia. Alguns deles dizem respeito a modelos de fases e atividades, como o método Stage-Gate (COOPER, 1990), bem como conjunto de atividades e fases propostas para o desenvolvimento de novos produtos, que busca estabelecer um fluxo de atividades de geração de idéias e análise dos seus impactos na organização (CLARK; WHEELWRIGHT, 1993; CLAUSING, 1993; COOPER, 2006; CREVELING; SLUTSKY; ANTIS, 2003). Trata-se de diferentes aplicações em que são selecionadas as melhores opções para o desenvolvimento de conceitos de tecnologia. Tais atividades são agrupadas em fases (stages) e intercaladas por momentos de decisão (gates). CLASSIFICAÇÃO Taxonomia de classificação Conhecimento tecnológico Áreas de interesse AVALIAÇÃO Áreas tecnológicas identificadas Indicadores das atuais tecnologias Planos do negócio e de P&D SELEÇÃO Áreas tecnológicas críticas Indicadores das atuais tecnologias Indicadores das forças da organização ANÁLISE Avaliações tecnológicas Impacto da tecnologia Recursos disponíveis ELABORAÇÃO DO PLANO Planos de melhoria tecnológica Reavaliação anual das tecnologias. RESUMO DA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS Figura 2. Atividades do planejamento de tecnologia. Fonte. Adaptado de Nauda e Hall (1991). No trabalho apresentado por Lee et al. (2007), específico para P&D, os autores sugerem uma estrutura sistemática para o planejamento de tecnologias, aplicável na esfera governamental para setores industriais. Esses e outros trabalhos sugerem a utilização de métodos que são operacionalizados através da utilização de informações tanto de mercado quanto de produtos e tecnologias. Um dos métodos que propõem o planejamento de tecnologia considerando uma estratégia technology push, ou tecnologia empurrada, e que considera a inovação aberta é apresentado por Caetano e Amaral (2011). Os autores propõem uma sistemática para mapear mercado, produto e tecnologia, utilizando-se do conceito de TRM, e considerando a adoção de parcerias tanto na elaboração do mapa de oportunidades de inovação quanto no desenvolvimento das tecnologias e produtos identificados. A aplicação dessa sistemática é realizada através do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011). A Figura 3, que se constitui no resultado da execução do método, apresenta os principais elementos propostos pelos autores que são considerados no planejamento da tecnologia e que são expostos em um mapa dos caminhos tecnológicos. 5

Mercado Segmento X Produto P1 Tecnologia core Tecnologia A Tecnologias complementares Tecnologia B Tecnologia C Tecnologia D Tecnologia E Mercadológicos Dados sobre o mercado Desenho industrial e produção em escala Recursos Tecnológicos Projeto Elétrico Projeto Hidráulico Tratamento de resíduos. Financeiros Capital. Parceiros Colaboradores PF1 PM1 PT2 Cooperadores PT1 PT3 PT4 Figura 3. Elementos considerados no planejamento de tecnologia. Fonte. Adaptado de Caetano e Amaral (2011). Conforme demonstrado na Figura 3, nota-se que na definição das tecnologias a serem desenvolvidas, que será integrada em determinado produto e esse, por sua vez, chegará a determinado segmento X do mercado, considera-se tanto a tecnologia a ser desenvolvida dentro da organização, a tecnologia core, quanto aquelas que serão desenvolvidas em outras organizações parcerias, os colaboradores e cooperadores, que na Figura 3 são caracterizados como parceiros mercadológicos (PM), parceiros financeiros (PF), ou parceiros tecnológicos (PT). Esses parceiros são classificados de acordo com a possibilidade de provimento dos respectivos recursos necessários, como apresentado no exemplo da Figura 3, conhecimentos sobre projetos elétricos ou hidráulicos que o parceiro tecnológico poderia prover (CAETANO; AMARAL, 2011). 4 Proposição teórica Considerando a definição de logística adotada nesse trabalho e o planejamento de tecnologia a partir do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011), abaixo são identificadas as possibilidade de aplicação desse método para as atividades logísticas. Para as três principais atividades logísticas, transporte, armazenagem de materiais e processamento de pedidos, a aplicação do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011) poderia ser iniciada com a identificação de quais seriam os possíveis grupos mercados a serem explorados, sendo esses caracterizados como um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta, troca e comercialização de produtos (KOTLER, 1998). Um possível mercado, utilizado como exemplo nesse caso, seria um grupo de consumidores X, que esteja localizado no exterior, por exemplo, e que consumam determinado produto Y. O passo seguinte seria identificar as possibilidades de fazer com que Y chegue até X. A partir desse instante as três atividades seriam então analisadas separadamente. Analisando como exemplo as atividades de transportes, a aplicação do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011) poderia ser iniciada com a identificação de possíveis meios de movimentar produtos desde a sua 6

unidade de produção até o seu consumo final. Isso poderia ser feito através de diferentes modais convencionais, como o rodoviário, aquaviário, ferroviário, aeroviário ou dutoviário. Para cada um desses poderiam ser identificados instrumentos e competências necessárias para o desenvolvimento dessa possibilidade, como o conhecimento máquinas ou a engenharia de determinado meio de transporte. Os instrumentos e competências, caracterizados aqui como tecnologia tangível e intangível, respectivamente, demandariam investimentos de recursos financeiros, conhecimento de mercado e conhecimentos tecnológicos que viabilizariam o seu desenvolvimento, seja internamente na organização para o caso de tecnologias core quanto externamente nos parceiros para o caso de tecnologias complementares. Esses investimentos então seriam levantados junto a possíveis parceiros, que seriam classificados como colaboradores ou cooperadores. A diferença entre ambos as está relacionada ao seu grau de envolvimento e compromisso com os objetivos da parceria, conforme apresentado por Thompson e Sanders (1998). A Figura 4 apresenta um esquema para o fluxo de resultados na aplicação do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011) para a atividade de transportes que, nesse caso, diferentemente da proposta apresentada no método original, é apresentado de modo contínuo para uma simplificação da sua aplicação. PM1 Tecnologia A PM2 Tecnologia B PF1 PF2 Tecnologia C Tecnologia D Tecnologia G Novo meio de transporte Consumidores X do produto Y PT1 Tecnologia E PT2 Tecnologia F Parceiros conforme o recurso Tecnologias complementares Tecnologia core Produto Mercado Figura 4. Mapa tecnológico para transportes em logística. Fonte. Os autores. De acordo com a Figura 4, nota-se que com a aplicação do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011) identificaria qual o mercado a ser explorado e que demandaria esforços no desenvolvimento de novos meios para transportar os produtos a serem consumidos. O desenvolvimento desse novo meio, por sua vez, demandaria o desenvolvimento de tecnologias que poderiam ser desenvolvidas internamente na empresa, no caso da tecnologia core, ou então externamente com a realização de parcerias a partir de necessidades específicas, como os recursos financeiros, mercadológicos ou tecnológicos que os parceiros poderiam prover. Essa mesma lógica seria então aplicada às atividades de armazenagem de materiais e processamento de pedidos, em que seriam identificadas, respectivamente, formas de se armazenar os produtos entre a produção e o consumo e como as solicitações por produtos poderiam partir dos consumidores finais e chegarem até a unidade de produção que despacharia esses produtos. Com isso, a aplicação do MTP (CAETANO; AMARAL, 2011), poderia ser aplicada também no desenvolvimento de novos produtos ou serviços relacionados às atividades logísticas de uma empresa, 7

proporcionando que essa área possa fazer uso de um instrumento que oriente seu processo de inovação com o planejamento de novas tecnologias. 5 Considerações finais O trabalho apresenta uma possibilidade de utilização de um método previamente existente de planejamento de tecnologia que possa ser aplicável no desenvolvimento de novos produtos ou serviços em logística. Isso possibilitará que empresas de diferentes setores, que tenham na logística uma função chave de agregação de valor aos seus produtos, inovarem também em seus processos de modo que a organização como um todo possa se beneficiar das vantagens da inovação. Apesar de demonstrar possíveis resultados na elaboração do planejamento de tecnologias para a área de logística, em que são considerados, além de possíveis produtos e serviços a serem desenvolvidos, bem como novas tecnologias a serem desenvolvidas, definição de recursos necessários e identificação de possíveis parceiros que possam participar do processo de inovação, essa proposição poderia ser enriquecida com a partir da realização de pesquisas futuras com aplicações empíricas que contemplassem não apenas as atividades de planejamento de tecnologia, mas também o desenvolvimento dessas tecnologias, sua integração em novos produtos e serviços e chegada desses ao mercado. Referências Albright, R.E.; Kappel, T.A. Technology roadmapping: roadmapping the corporation. Research- Technology Management, Arlington, v.46, n.2, p.31-41, Mar./Apr., 2003. Ballou, Ronald H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2010. Ballou, R. H. The evolution and future of logistics and supply chain management. Produção, v. 16, n. 3, pp. 375-386, Set./Dez., 2006. Brereton, P.; Kitchenham, B.A., Budgen, D., Turner, M., Khalil, M., 2007. Lessons from applying the systematic literature review process within the software engineering domain. Journal of Systems and Software, 80, 571-583. Bowersox, Donald J; Closs, David J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas. 2009. Caetano, Mauro; Amaral, Daniel Capaldo. Roadmapping for technology push and partnership: a contribution for open innovation environments. Technovation, 31, pp. 320-335, 2011. Clark, K.B.; Wheelwright, S.C. Managing new product and process development: text and cases. New York: Free., 1993. Clausing, D. Total quality development: a step-by-step guide to world-class concurrent engineering. New York: American Society of Mechanical Engineers, 1993. Cooper, R.G. Stage-gate system: a new tool for managing new products. Business Horizons, New York, v.33, n.3, p.44 54, May/June., 1990. Cooper, R. G. Managing technology development projects. Research Technology Management, Arlington, v.49, n.6, p.23-31, Nov./Dec., 2006. Creveling, C.M.; Slutsky, J.L.; Antis, D. Design for six sigma: in technology & product development. New Jersey: Prentice Hall., 2003. Dias, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: uma abordagem logística. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2008. Farris, M.T. Evolution of Academic concerns with Transportation and Logistics. Transportation Journal, vol. 37, no1, pp. 42-50, 1997. 8

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