Processo d. 009.2007.001608-5/002 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque 'Acórdão Apelação Chiei - no. 009.2007.001.608-5/002 Relator: Eduardo José de Carvalho Soares - Juiz Convocado Apelante: Agropecuária Fazenda Pau Leite S/A - adv. Júlio César de!farias Lira Apelado: Banco do Nordeste do Brasil S/A- adv. Maria Fernanda Diniz Nunes Brasil e outros EMENTA: AÇÃO MONITÓRIA. CÉDULA RURAL PRESCRITA. COBRANÇA DO DÉBITO. PROCEDÊNCIA. APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR. PRESCRIÇÃO TRIENAL DAS PRETENSÕES EXECUTIVAS E DE COBRANÇA. INOCORRÊNCIA. DIREITO PESSOAL. PRAZO QUINQUENAL PARA COBRANÇA DE DÍVIDA LÍQUIDA. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 206, 5 0, 1 DO CC/2002. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA PARA REAVER O CRÉDITO. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.102. a DO CPC. MÉRITO. PROVA PERICIAL. DESNECESSIDADE DE REALIZAÇÃO. INDEFERIMENTO DO PLEITO. IMPUGNAÇÃO BASEADA APENAS EM SIMPLES DÚVIDAS QUANTO AOS CÁLCULOS APRESENTADOS. RECURSO APELATÓRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. Após o prazo de três anos do seu vencimento, a cédula rural perde seu valor de título executivo, devendo ser cobrado de forma ordinária. Eduardo Jos(cre - Juiz Convocado 1
Processo tf. 009.2007.001608-5;002 Segundo estabelece o inciso 1, 5 0 do art. 206 do CC/2002, prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; identificados. Vistos, relatados e discutidos estes autos acima Acorda a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, em REJEITAR as preliminares. No mérito, por igual votação, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta pela AGROPECUÁRIA FAZENDA PAU LEITE S/A contra sentença, proferida pelo juízo da Comarca de Taperoá, que, nos autos na Ação Monitória movida pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A, rejeitou os embargos monitórios e reconheceu o direito do ora apelado de cobrar à parte apelante o cumprimento da obrigação de pagar o valor de R$ 1.236.700,58 ( um milhão, duzentos e trinta e seis mil, setecentos reais e cinquenta e oito centavos). Nas razões recursais, o recorrente alega que o Banco do Nordeste ajuizou a presente ação monitória cobrando um débito originado da cédula rural pignoratícia e hipotecária, prefixo FIR - 96/075- x, emitida em 10.07.1996 no valor nominal de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), com vencimento para 31.10.2002, prorrogado para 31.10.2003, a qual se encontrava prescrita. Aduz, que a prescrição trienal fulminara tanto a pretensão executiva quanto à de cobrança da dívida, haja vista a previsão encartada no art. 60, do Decreto-Lei no 167/66, a qual determina a aplicação, à cédula de crédito rural, das normas de direito cambial (Lei Uniforme de Genebra) Eduardo Jos e vw io ares J Convocado 2
Processo ri. 009.2007.001608-5/002 Alega que a ação monitória em questão fora ajuizada em 23.11.2007, após o decurso do prazo prescricional, ocorrido em 31.10.2006. Por fim, aduz que nos cálculos apresentados pelo apelado não foram computados os repasses não efetuados nas datas aprazadas, bem como que a correção dos valores do saldo devedor infringiu as disposições avençadas, não tendo o recorrente participado de nenhuma das etapas de sua quantificação. Pugna pelo provimento do recurso, a fim de que seja decretada a prescrição da pretensão da cobrança ou, como pedido subsidiário, que seja determinada a produção de prova pericial, nos termos do art. 522 do CPC. Em sede de contrarrazões, a instituição financeira alega, em suma, a adequação do procedimento monitório face a ocorrência de prescrição impeditiva do ajuizamento da ação executiva. Assevera que, conforme legislação cambial específica (Lei Uniforme de Genebra), o prazo prescricional para propositura de ação de execução, com base em cédula de crédito rural, é de três anos, contados do vencimento do respectivo título, contudo defende a possibilidade, após o decurso do referido prazo, de ajuizamento de ação cognitiva para recebimento do crédito dentro do lapso de 05 anos, no caso de dívida líquida, conforme o 5 0, I do art. 205 do CC/2002 Aduz, que, no caso dos autos, a cédula rural encontrase prescrita apenas para fins de execução e que a ação monitória fora intentada dentro do prazo de 05 anos, haja vista que a prescrição do título ocorreu em 31.10.2003 e a referida ação fora ajuizada em 23.11.2007. Aduz, ainda, a desnecessidade da realização de perícia contábil, por considerar que para atualização da dívida é necessário um simples cálculo aritmético. Pugna pela manutenção da sentença recorrida. Eduardo Jos e Ta 70 Juiz Convocado 3
Processo n. 009.2007.001608-5/002 Instada, a Procuradoria de Justiça emitiu parecer (fls. 151/154) pelo desprovimento do recurso, Dr. Francisco Antônio de Sarmento Vieira. Deferido o pedido de gratuidade judiciária. É o relatório. VOTO DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO Busca a apelante o reconhecimento da prescrição da pretensão do autor/ recorrido de cobrar débito proveniente de cédula de crédito rural inexigível. Pela análise dos autos, verifico que não assiste razão à recorrida pelos fundárrientos que passo a expor. Observa-se às fls. 18/40, que a Fazenda Pau Leite adquirira financiamento rural junto ao Banco do Nordeste do Brasil, em 10 de julho de 1996, sendo na ocasião emitida a Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária FIR- 96/075-X, com vencimento em 31 de outubro de 2002. A referida cédula rural fora re-ratificada através de aditivo assinado em 21 de janeiro de 1998, o qual prorrogou a data do seu vencimento para 31.10.2003. Ocorre que, mesmo com a referida prorrogação, a apelada deixou de cumprir com a obrigação firmada. Verifica-se que o Banco do Nordeste do Brasil teria o prazo prescricional de 3 (três) anos para executar o mencionado titulo extrajudicial, conforme se depreende da leitura do art. 60 do Decreto- Lei no 167/66 e do art. 70 do decreto 57.663/66 (Lei Uniforme). Confiramos: DL 167/66 Eduardo Jos eret~ey-i" Juiz Convocado 4
Processo ri'. 009.2007.001608-5/002 Art. 60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensando, porém, o protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalista. Decreto no 57.663/66. Art. 70.Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (três) anos a contar do seu vencimento. Todavia, o apelado permaneceu inerte, deixando transcorrer o prazo para execução da cédula, cuja prescrição verificou-se em 31.10.2006, quando o título, além de perder sua exigibilidade, perdeu sua característica cambial, Porém, tal fato, corno bem enfatizou o parecer ministerial, não retirou do credor o direito de proceder a cobrança da dívida através das vias ordinárias, pois o que desapareceu foi a exigência do crédito via ação executiva e não a obrigação representada na cártula. 1110 pátrios: Sobre o assunto, segue o posicionamento dos tribunais CRÉDITO RURAL. Cédula de crédito pignoratícia e hipotecária. Prescrição. Regulase pela lei cambial a prescrição do crédito rural (art. 60 do DL 167/67). Precedentes. Recurso conhecido e provido para reconhecer a prescrição da pretensão executória. (REsp 225.276/PA, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 23/11/1999, Dl 17/12/1999, p. 380) CIVIL - CÉDULA DE CRÉDITO RURAL PRESCRITA - AÇÃO DE COBRANÇA - Eduardo Joded: Juir Convocado 5
Processo n. 009.2007.001608-5/002 POSSIBILIDADE - PRAZO. PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS. ARTIGO 206, 50, I, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. REGRA DE TRANSIÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ART. 2028 DO NCC. TERMO INICIAL. Passado o prazo de três anos a cédula rural perde seu valor de titulo executivo, devendo ser cobrado de forma ordinária. Tratando -se de lei que encurtou o prazo da prescrição, ela é aplicável às prescrições em curso, mas contando-se o novo prazo da data em que começou a vigorar. (TJMG - AC 1.0701.07.197067-0/001 Rel. Desembargador ANTÔNIO SÉRVULO - DJ 07/05/2008) (Grifo) Desta feita, após fulminada a pretensão executiva de valor constante em título rural, subsiste o direito de cobrar tal crédito de forma ordinária, através de ação monitória. Determina o art. 1.102.a do Código de Processo Civil: Art. 1.102.a - A ação monitoria compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel. Assim, perfeitamente cabível a via eleita pelo apelado para cobrança do crédito que lhe é devido. Ademais, não há que se falar em prescrição da pretensão de cobrar, uma vez que estabelece o inciso 1, 5 0 do art. 206 do CC/2002: Art. 206. Prescreve: 50. Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas liquidas Eduardo Jos d,,,,rp21~r Juiz Convocado 6
Processo n. 009.2007.001608-5/002 constantes de instrúmento público ou particular; Indubitável tanto a adequação da via eleita para cobrança da dívida quanto a tempestividade da ação judicial manejada, uma vez que a monitoria fora deduzida em 23.11.2007, após decorrido pouco mais de um ano da prescrição executiva da cédula rural, ou seja, dentro do lapso temporal acima transcrito, tendo corno objeto a cobrança de dívida líquida. MÉRITO Quanto à alegação de incorreção dos cálculos apresentados, a mesma não merece guarida, haja vista que a empresa apelante, em momento algum, juntou aos autos provas, planilhas, especificando concretamente os erros pretendidos. Ao contrário, requereu a realização de prova pericial baseado apenas na existência de dúvidas acerca dos cálculos realizados. Injustificável tal omissão, posto que na atualidade qualquer simples programa de computador efetua a atualização de valores, o que torna evidente a intenção protelatório do referido pedido. Logo, não há como ser atendido tal o pleito, razão pela qual INDEFIRO a realização de prova técnica. Pelo exposto, Rejeito as preliminares e, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO APELATÓRIO, mantendo incólume a sentença recorrida. É como voto. Presidiu a sessão a Excelentíssima Desembargadora Maria das Neves do Egito A. Duda Ferreira. Participaram do julgamento este Relator Eduardo José de Carvalho Soares (Juiz convocado, com jurisdição limitada, para substituir o Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque), Maria das Neves do Egito A. Duda Ferreira e Maria de Eduardo Jos("~"Ízi- Convocado 7
Processo n. 009.2007.001608-5/002 Fátima Morais B. Cavalcanti. Procuradora de Justiça. Presente à Sessão a Dra. Lúcia de Fátima Maia de Farias, Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível "Desembargador Luiz Sílvio Ramalho" do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba em João Pessoa, 28 de abril de 2011. Eduardo José de Carvalho Soares Relator -s Eduardo,los -e s Juiz COnvocado
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenadoria clucheiária) Registrado