Os impactos da atual crise econômica mundial sobre o padrão de desenvolvimento brasileiro



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Transcrição:

Os impactos da atual crise econômica mundial sobre o padrão de desenvolvimento brasileiro Priscila Martins¹ RESUMO A Crise de 1929 foi capaz de impulsionar alterações na organização do capitalismo mundial, redimensionando, por exemplo, a natureza da inserção internacional da economia brasileira, através da mudança qualitativa no padrão de desenvolvimento dessa economia que transitou do Modelo Primário Exportador para o Modelo de Substituição de Importações situação que permitiu ao país a internalização das capacidades industriais, especialmente a internalização das capacidades do setor considerado setor-chave da economia capitalista: o departamento de bens de capital. Considerando o atual padrão de desenvolvimento da economia brasileira (Modelo Liberal Periférico), o objetivo desse trabalho é contribuir para a compreensão das possíveis implicações da atual crise econômica mundial sobre esse padrão. Mais especificamente, a ideia central do trabalho é apresentar o andamento da pesquisa que vem sendo desenvolvida sobre as possíveis mudanças na inserção internacional da economia brasileira diante da atual crise econômica. Para isso, o trabalho pretende apresentar o conceito de padrão de desenvolvimento, proposta teórica para a compreensão do processo dialético de reprodução do capital numa formação social específica. A principal hipótese defendida neste trabalho é de que a atual crise econômica tem reforçado uma tendência passiva da economia brasileira no âmbito internacional, a qual se torna cada vez mais especializada na produção e exportação de produtos com baixo valor agregado. A metodologia do trabalho tem como base os dados empíricos da economia brasileira e o arcabouço teórico marxista e da economia política. Palavras-chave: Crise Econômica; Padrão de Desenvolvimento; Modelo Liberal Periférico. ¹ Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: prisciila_@live.com 1

1. Introdução A crise econômica atual não deixa dúvidas acerca do seu alcance e impacto na economia global. A persistência dos elevados níveis de desemprego, o agravamento das desigualdades sociais e as dificuldades de crescimento seguem castigando tanto os países centrais quanto os países da periferia do sistema. Além disso, tanto a evidente crise de hegemonia política das forças que sustentam o atual padrão de acumulação do sistema, quanto os abalos na crença dos mercados eficientes explicitam que essa não é uma simples crise cíclica do capitalismo, passível de ser solucionada dentro dos limites dados pelos instrumentos tradicionais de políticas macroeconômicas anticíclicas. Desde a eclosão da atual crise capitalista, que se deu na economia estadunidense, em 2007, muitas análises têm sido feitas sobre a natureza dessa crise. Dentro do debate, um número expressivo de estudos em economia se concentra na investigação do chamado processo de financeirização da economia capitalista. Sem muita intenção de apresentar e esclarecer o sentido do próprio conceito de financeirização, muitos desses estudos fragmentam de tal maneira a totalidade do movimento do capital que resumem a explicação da atual crise aos problemas explicitados pelas partes do sistema. Dessa maneira, confortáveis no paradigma científico cartesiano de fragmentar o todo, para mecanicamente explicar também os distintos fenômenos da realidade social, muitos economistas encerram a complexidade do sistema econômico dentro dos limites dados pelas partes do sistema. A questão da financeirização aparece ainda, em muitos desses estudos, como sinônimo de deformação do capitalismo, ou seja, a expansão do setor financeiro é entendida como uma barreira na trajetória normal de desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo. Com base nesse tipo de entendimento, muitas dessas análises propõem uma série de medidas frágeis para domesticar o setor financeiro a fim de impedir que ele avance no sentido de causar prejuízos à dinâmica do capital produtivo, ou seja, tais propostas advogam em defesa de um padrão financeiro economicamente e politicamente correto para o bom funcionamento do conjunto do sistema capitalista. Alguns economistas heterodoxos e teóricos marxistas defendem ainda a ideia do descolamento do setor financeiro do setor real da economia, na qual se sustenta uma 2

espécie de entendimento sobre a autonomia do setor financeiro em relação ao setor produtivo. No entanto, a dimensão financeira deve ser entendida enquanto expressão mais complexa e abstrata desse elemento mais geral que é o capital. Com base nisso, o entendimento acerca da atual crise econômica não deve ser dissociado do conhecimento sobre o processo de transformação estrutural permanente que se estabeleceu ao longo do período que antecede a eclosão da crise. A análise de Braga 2 (2013) sobre a natureza da atual crise econômica enriquece a crítica ao conceito usual de financeirização ao destacar que as esferas produtiva e financeira da economia se movimentam numa mesma direção, e por isso, apresentam antes de tudo uma relação simbiótica, ou seja, são elementos indissociáveis que compõem a lógica mais geral do processo de valorização do capital. É importante destacar a relevância da crítica a essa dicotomia capital financeiro versus capital produtivo, pois tal crítica permite a compreensão da impossibilidade do descolamento entre ambos, ou de qualquer forma de autonomia absoluta da esfera financeira em relação à esfera produtiva. Essa crítica enriquece a compreensão da crise atual como fenômeno que tem ampla relação com dinâmica mais geral do capitalismo contemporâneo e essa dinâmica traz em si a dominância do capital financeiro, mas tal dominância não deve ser encarada enquanto sinônimo de autonomia da esfera financeira da economia. 2. O conceito de padrão de desenvolvimento Alguns teóricos têm elaborado modelos de análise do processo de reprodução do capital nas formações sociais, esforço teórico considerável para o entendimento da dinâmica concreta das economias e, portanto, das suas especificidades enquanto lócus de acumulação do capital. É nesse sentido que a literatura sobre o tema padrão de desenvolvimento expressa a sua relevância enquanto caminho teórico para a compreensão do processo dialético de reprodução do capital numa formação social específica. 2 Para uma compreensão mais ampla sobre esse conceito ver o artigo Qual o conceito de financeirização compreende o capitalismo contemporâneo?, no qual Braga (2013) define a financeirização como o padrão sistêmico de riqueza do capitalismo contemporâneo. 3

Inicialmente convém fazer algumas observações sobre o conceito de padrão de desenvolvimento, com o intuito de diferenciá-lo de outros dois conceitos³ bastante discutidos também na literatura sobre desenvolvimento: a) o conceito de padrão de acumulação; b) o conceito de padrão de industrialização. Niemeyer (1993) apresenta uma sistematização sobre os três conceitos apresentados anteriormente, destacando tanto os níveis de abstração de cada um deles quanto o alcance dos mesmos. Os conceitos de padrão de acumulação e de padrão industrialização se apresentam num grau mais elevado de abstração. O primeiro por ter como intuito explicar etapas de desenvolvimento das forças produtivas, apresentando a forma de reprodução do sistema com base em categorias explicativas mais abstratas, tais como os esquemas de reprodução do capital de Marx e de Kalecki; e o segundo por buscar definir a natureza concreta do processo de industrialização da economia, focando muito mais no seu desenho produtivo e institucional. (Niemeyer, 1993, p.11). O conceito de padrão de desenvolvimento, por sua vez, se apresenta num menor nível de abstração, incorporando a forma da ação concreta do Estado, a atuação das distintas forças sociais e o nível histórico. O autor destaca que o conceito de padrão de desenvolvimento tem um maior potencial explicativo, e sugere alguns pontos teóricos a serem desenvolvidos no sentido de dar mais consistência a esse conceito. Assim destaca que, [...] o padrão de desenvolvimento apreende a ação concreta do Estado; entretanto, esta é determinada fundamentalmente por uma correlação de forças que estabelece alguns mecanismos seletivos, ao nível das instituições políticas. Tais mecanismos precisam ser trazidos para o interior da análise, fazendo parte da definição do conceito. Este é o desafio maior. (NIEMEYER, 1993, p. 17) Filgueiras (2013) apresenta o conceito de padrão de desenvolvimento capitalista, que compreende a ideia de desenvolvimento das forças produtivas e das relações socioeconômicas naquelas formações sociais em que o capital é o elemento que estrutura a base econômica. 3 Para uma maior compreensão sobre os conceitos de padrões de acumulação e industrialização ver na íntegra o artigo Padrões de acumulação, industrialização e desenvolvimento: elementos para uma atualização conceitual., de autoria de Niemeyer A. Filho. 4

Para ele, o desenvolvimento do capitalismo pode assumir diversas formas e ter diversas naturezas, independentemente do juízo de valor positivo ou negativo que possa ser feito dos seus resultados em termos sociais, ecológicos ou políticos. Portanto, essa visão difere da concepção de desenvolvimento restrita, necessariamente, à redução das desigualdades sociais, ao aumento da liberdade política ou sustentabilidade ambiental. Nesse sentido, a ideia de desenvolvimento compreende mudanças estruturais, sejam essas econômicas, sociais, culturais e ambientais, independentemente delas gerarem melhoras ou pioras em cada um desses planos. O conceito de padrão de desenvolvimento proposto por esse autor tem como base teórica a literatura marxista do desenvolvimento capitalista, e, portanto, incorpora elementos que levam em conta as relações entre as distintas forças políticas que disputam a hegemonia do Estado assim introduz, por exemplo, as noções de bloco no poder e de frações de classes. O bloco no poder, corresponde a uma composição, em uma determinada conjuntura, de diversas classes e frações de classes, liderada por uma delas, a qual assumirá uma posição hegemônica perante as demais que compõem o bloco no poder (FILGUEIRAS, 2013). Dessa maneira, o autor define padrão de desenvolvimento como, [...] um conjunto de atributos econômicos sociais e políticos que estrutura, organiza e delimita a dinâmica do processo de acumulação de capital, e as relações econômicas e sociais a ele subjacentes, existentes em determinado Estado (espaço) nacional durante certo período histórico. (FILGUEIRAS, 2013, p.8) Dentre os atributos que compõem esse conceito de padrão de desenvolvimento, o elemento bloco no poder é tido como o atributo precedente a todos os demais que compõem a categoria mais geral de análise, haja vista a capacidade que esse elemento político tem de expressar e ao mesmo tempo delimitar os demais atributos do padrão de desenvolvimento. Nesse sentido, Caracterizar o bloco no poder implica em identificar o conjunto de classes e/ou frações de classe dominantes, articuladas e sob a hegemonia e direção de uma delas, que dominam e dirigem o Estado. Essa hegemonia, para ter certa estabilidade, expressa a dominância e liderança de determinada fração do capital no processo de acumulação em curso, que inclui a sua capacidade de contemplar os interesses de outras frações do capital. Quando essa hegemonia incorpora, 5

marginalmente ou mais significativamente, interesses das classes subordinadas ou de algumas de suas frações, ela deixa de ser estrita ao bloco no poder e se amplia para além dele, abarcando o conjunto da sociedade (POULANTZAS, 1977 apud FILGUEIRAS, 2013, p.9). Convém destacar que identificar as classes e frações de classes que assumem a hegemonia e lideram o bloco no poder é relevante no processo de entendimento das bases de interesses que predominam no padrão de desenvolvimento de uma determinada formação econômica. Esses interesses se expressam, por exemplo, na dinâmica política do Estado, no que tange às políticas macroeconômicas e sociais. Os demais atributos que definem o padrão de desenvolvimento capitalista, além do bloco no poder e que estão intimamente relacionados a esse último, podem ser apresentados como: 1- A natureza e o tipo de regulação da relação capital-trabalho; 2- A natureza das relações intercapitalistas; 3- O modo como o Estado se articula com o processo de acumulação; 4- O processo de incorporação do progresso técnico, a capacidade endógena de geração de inovações e a existência, ou não, de uma política industrial e tecnológica. 5- O modo de financiamento da acumulação, que diz respeito à importância de instituições financeiras públicas e/ou privadas e/ou do financiamento externo. 6- A estrutura de propriedade e distribuição de renda e da riqueza, bem como o conteúdo das políticas sociais; 7-A natureza da inserção internacional do país; 8- As formas de organização e representação política das distintas classes e frações de classes. (FILGUEIRAS, 2013, p.9). 2.1 A crise de 2008 alterou estruturalmente o Modelo Liberal Periférico? A Grande Depressão de 1929 foi capaz de impulsionar transformações na organização do capitalismo mundial. Através do aumento da regulação econômica e da construção do Estado de Bem-Estar Social, as classes dominantes conseguiram acomodar ao longo de um período as contradições entre capital e trabalho, estabelecendo assim as bases de um novo padrão de acumulação. Nesse sentido, Em linhas gerais, a crise de 1929, sem dúvida, desempenhou um papel central no reforço de uma nova institucionalidade, tanto no âmbito do capitalismo, em sua generalidade, quanto no do Estado. A busca de alternativas para conter os efeitos da crise desemprego e deflação tendeu a reforçar as mudanças no plano institucional e na 6

determinação das políticas em seu todo. (BALANCO; PINTO, 2007, p.35) Na economia brasileira, tal crise demarcou o fim do padrão de desenvolvimento associado ao Modelo Primário Exportador e o início do Modelo de Substituição de Importações, modelo esse que pode ser analisado levando em conta duas fases: a primeira fase conhecida como nacional-desenvolvimentista; e a segunda fase conhecida como internacional-desenvolvimentista. Transformações dessa magnitude implicaram em novas formas de condução da política econômica, voltadas para o desenvolvimento da industrialização e para uma nova forma de inserção internacional da economia brasileira, que deixou de ser uma economia meramente agroexportadora e passou à condição de economia industrializada, sem conseguir alterar, no entanto, as condições de dependência econômica. A inserção externa é um importante elemento para a compreensão da natureza do padrão de desenvolvimento de uma dada economia. Considerando o atual padrão de desenvolvimento da economia brasileira (Modelo Liberal Periférico), o presente trabalho discute as possíveis implicações da atual crise econômica mundial sobre esse padrão. A ideia central é apresentar as possíveis mudanças na inserção internacional da economia brasileira diante da atual crise econômica mundial. Inicialmente cabe destacar que não existe um consenso entre os estudiosos sobre qual o padrão de desenvolvimento brasileiro nas décadas (1990/2000/2010). Porém, no que tange ao Modelo de Substituições de Importações existe um consenso sólido entre os economistas, que considera que esse padrão de desenvolvimento entrou em crise nos anos 1980. Filgueiras et al (2010) afirma que o padrão de desenvolvimento que emergiu após o esgotamento do Modelo de Substituição de Importações foi o Modelo Liberal Periférico (a partir da década de 1990), o qual tem como base uma série de reformas estruturais liberalizantes da economia. As principais características da estrutura e dinâmica do atual padrão de desenvolvimento são apresentadas da seguinte maneira: 1) no âmbito da relação capitaltrabalho a presença da desregulamentação do mercado de trabalho e precarização do trabalho; 2) no âmbito das relações intercapitalistas o evidente aprofundamento do 7

processo de financeirização da economia; 3) no que tange à inserção internacional aumento da inserção internacional passiva; 4) enfraquecimento da participação do Estado na atividade econômica; 5) nas representações políticas houve o deslocamento das decisões relacionadas às disputas de classe para fora das instâncias formais parlamentares, sendo, portanto, tratadas como questões merecedoras de tratamento técnico por parte dos órgãos do governo. (FILGUEIRAS et al, 2010). Os teóricos do Modelo Liberal Periférico consideram que esse padrão trouxe consigo as seguintes características estruturais, que dizem respeito à dinâmica da economia brasileira: 1) vulnerabilidade externa estrutural; 2) inserção passiva no comércio internacional; 3) instabilidade macroeconômica e dificuldade de manutenção de taxas de crescimento mais elevadas. (FILGUEIRAS; GONÇALVES, 2007). É importante destacar que, para os teóricos do Modelo Liberal Periférico, esse padrão de desenvolvimento que se formou a partir dos anos 1990 ainda se encontra em pleno funcionamento no cenário econômico atual. Isso não significa dizer que tal padrão não experimentou modificações ao longo dos diversos governos, uma vez que houve variações no bloco no poder ao longo do tempo, o que permitiu, dentre outras coisas, mudanças em termos de políticas macroeconômicas e sociais nos distintos governos desde os anos 1990 até os dias atuais. Porém, no que tange à natureza desse padrão de desenvolvimento, naquilo que ele tem de essencial, é possível dizer que ele se mantém ao longo das três últimas décadas. A economia brasileira se defronta historicamente com um problema de dependência tecnológica e financeira, devido à natureza do capitalismo que se consolidou nessa formação social. Na década de 1990, com a constituição do modelo liberal periférico, essa dependência se acentua absurdamente devido à intensa abertura dessa economia iniciada no governo Collor e aprofundada ao longo do governo FHC, fatos que produziram significativas mudanças na inserção internacional do país e no aumento da sua vulnerabilidade externa estrutural. A partir de então, o déficit problemático na conta de serviços e rendas cresceu expressivamente por conta da natureza da política econômica que marcou os governos FHC I e II, o que, por sua vez, deteriorou ainda mais os resultados da conta de transações correntes, como é possível verificar no quadro abaixo. 8

Quadro 1: Transações correntes da economia brasileira (1990 2010/ US$ Bilhões) ANO BALANÇA COMERCIAL (FOB) SERVIÇOS E RENDAS TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS TRANSAÇÕES CORRENTES 1990 10,8-15,4 0,8-3,8 1991 10,6-13,5 1,6-1,4 1992 15,2-11,3 2,2 6,1 1993 13,3-15,6 1,6-0,7 1994 10,5-14,7 2,4-1,8 1995-3,5-18,5 3,6-18,4 1996-5,6-20,3 2,4-23,5 1997-6,8-25,5 1,8-30,5 1998-6,6-28,3 1,5-33,4 1999-1,2-25,8 1,7-25,3 2000-0,7-25,0 1,5-24,2 2001 2,7-27,5 1,6-23,2 2002 13,1-23,1 2,4-7,6 2003 24,8-23,5 2,9 4,2 2004 33,6-25,2 3,2 11,7 2005 44,7-34,3 3,6 14,0 2006 46,5-37,1 4,3 13,6 2007 40,0-42,5 4,0 1,6 2008 24,8-57,3 4,2-28,2 2009 25,3-52,9 3,3-24,3 2010 20,2-70,4 2,8-47,4 Fonte: Banco Central do Brasil A inegável melhora nas contas externas da economia brasileira de 2003 até meados de 2007 empolgou a grande maioria dos economistas brasileiros, levando-os a acreditar que a economia brasileira estava blindada em relação aos choques exógenos. (GONÇALVES, 2012, p.1). Dessa maneira, pode-se dizer que a aparência do movimento do capitalismo brasileiro impediu que muitos economistas levassem em conta a essência desse mesmo processo e, portanto, tais economistas tornaram-se incapazes de fazer a distinção entre dois elementos importantes para compreender a natureza da dinâmica da economia brasileira: a vulnerabilidade externa conjuntural e a vulnerabilidade externa estrutural, [...] vulnerabilidade externa conjuntural reflete a capacidade de resistência no curto prazo em função das opções de política e dos custos do ajuste externo. A vulnerabilidade externa estrutural, por seu turno, reflete a capacidade de resistência no longo prazo; portanto, ela expressa características estruturais da economia como: estrutura produtiva, padrão de comércio exterior, eficiência sistêmica, dinamismo tecnológico, robustez financeira e institucional. (GONÇALVES, 2012, p.1) 9

Os indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural da economia brasileira, a exemplo da balança comercial (gráfico 1), demonstram os impactos imediatos da crise nessa economia, revelando as dificuldades da mesma em resistir aos movimentos críticos da conjuntura internacional. Gráfico 1: Exportação, importação e saldo comercial brasileiro em US$ bilhões (1990-2012) Fonte: Banco Central Como se pode constatar, ainda no gráfico 1, o expressivo aumento no saldo comercial ao longo do primeiro mandato do governo Lula (2003 a 2006) foi sem dúvida um fator conjunturalmente importante para a melhora da economia brasileira, fato que empolgou a grande maioria dos analistas a respeito da capacidade de resistência dessa economia no longo prazo. A considerável queda do saldo comercial, que apresentava um comportamento ascendente desde 2003, aparece imediatamente após a deflagração da crise nos EUA, o que deixa evidente o impacto da crise nessa economia. Assim, O papel crucial das exportações para o funcionamento do modelo neoliberal periférico cada vez mais evidente no período do governo Lula, faz com que o crescimento econômico do país fique na dependência cada vez maior do comércio internacional portanto, em grande medida, à revelia das decisões internas. Isto significa que a dinâmica do mercado interno fica fortemente condicionada à capacidade da economia de exportar e obter superávits comerciais, de modo a reduzir a vulnerabilidade externa e, assim, abrir espaço para o seu crescimento sem ter ameaça imediata de nova crise cambial. Essa dinâmica, do ponto de vista estrutural, agrava a dependência externa do país, cuja economia fica com seu desempenho estreitamente atrelado aos ciclos do comércio internacional colocando em questão 10

a viabilidade de novos ciclos de crescimento econômico sustentado. (FILGUEIRAS, 2010, p.48). Cabe destacar que a entrada da economia chinesa na OMC teve papel relevante na melhora conjuntural da economia brasileira, tendo em vista que a mesma assumiu a condição de principal parceira comercial do Brasil, demandando commodities agrícolas e minerais, e ao mesmo tempo alterando a dependência da economia brasileira em relação aos mercados dos EUA. Nunca é demais mencionar os efeitos políticos no bloco no poder do atual padrão de desenvolvimento brasileiro, pois toda essa dinâmica permitiu o fortalecimento no interior do Estado de duas frações do capital, quais sejam: o agronegócio e os capitais que atuam na indústria extrativa mineral. A balança de serviços e rendas da economia brasileira é historicamente deficitária, o que impõe uma série de problemas para o balanço de pagamentos dessa economia. No período imediato à eclosão da crise, houve um aprofundamento do déficit na balança de serviços e rendas da economia brasileira, que de 2008 a 2012, saiu de um déficit de 57,3 bilhões de dólares e atingiu o déficit de 76,5 bilhões de dólares situação que ampliou os impactos negativos no saldo das transações correntes e consequentemente, estimulou o aumento da vulnerabilidade estrutural dessa economia. A análise sobre a natureza do padrão liberal periférico permite entender que a inserção internacional da economia brasileira tem se dado cada vez mais no sentido de um distanciamento do padrão de competitividade internacional assentado no desenvolvimento de produtos de conteúdo tecnológico elevado, ou seja, ao que tudo indica tal padrão tem levado a economia brasileira a se adequar a certo patamar na divisão internacional do trabalho, e a consequência disso tudo é o aumento da vulnerabilidade externa estrutural, ainda que uma melhora conjuntural se apresente no curto prazo. A contra face desse processo de melhora conjuntural e piora estrutural da economia pode ser percebida observando a participação da indústria do país no PIB. A redução persistente da participação da indústria no PIB, desde a consolidação do Modelo Liberal Periférico, tem levado alguns economistas a analisar as possíveis relações desse fenômeno com a dinâmica do atual padrão de desenvolvimento, abrindo espaço, 11

inclusive, para a discussão sobre o fenômeno da desindustrialização precoce nessa economia. É importante destacar que os indicadores de vulnerabilidade externa estrutural, a exemplo dos indicadores de saldo comercial por intensidade tecnológica, fornecem uma visão mais profunda acerca das vulnerabilidades da economia brasileira, pois captam as fragilidades tecnológicas e de competitividade subjacentes ao atual padrão de desenvolvimento. O gráfico 2 mostra o comportamento da pauta de exportações da economia brasileira no que diz respeito aos produtos industriais e não-industriais, desde a eclosão da crise econômica até o ano de 2012, sinalizando a redução considerável dos produtos industriais e o aumento da participação dos produtos não-industriais no mesmo período. Tais resultados sobre o comportamento do setor industrial têm movido discussões entre aqueles que acreditam que a economia brasileira está passando por um processo de desindustrialização e reprimarização da pauta de exportações, e aqueles que negam a manifestação desses fenômenos. Gráfico 2: Participação (%) dos produtos industriais e não industriais na pauta de exportações da economia brasileira (2008-2012) Fonte: SECEX/MDIC A discussão sobre a reprimarização da pauta de exportações pode não apontar para um consenso entre os economistas. No entanto, não há como negar esse movimento de aumento do peso dos produtos não-industriais acompanhado de redução do peso dos 12

industriais na composição da pauta de exportações da economia brasileira, especialmente a partir da crise econômica. 3. Considerações finais Os impactos da crise de 2008 sobre a economia brasileira apresentam-se nas distintas dimensões do Modelo Liberal Periférico, não se restringindo à inserção internacional dessa economia. No entanto, esse texto procurou apresentar apenas os impactos da crise sobre a economia brasileira no que tange à sua inserção internacional. Os indicadores econômicos evidenciam a natureza do desenvolvimento recente do país, que tem se consolidado cada vez mais no sentido de uma inserção internacional passiva. O arranjo político-econômico que tem orientado o processo de acumulação nessa economia, nas duas últimas décadas, provoca longo prazo o aumento da vulnerabilidade externa estrutural, ainda que no curto prazo, em alguns momentos, proporcione redução da vulnerabilidade externa conjuntural. A acelerada reprimarização da pauta de exportações, mais evidente a partir do segundo governo Lula, tendo em vista a participação da China nos fluxos do comércio internacional, especialmente como principal demandante de commodities da economia brasileira, tem criado sérias dificuldades para a competitividade da indústria de transformação. A competitividade dos produtos industriais brasileiros no comércio internacional se vê extremamente prejudicada pelo câmbio valorizado, de tal modo que a mesma perde espaço, a cada ano, no PIB do país bem como na pauta de exportações. Ao que tudo indica, levando em conta os indicadores macroeconômicos, a situação frágil da indústria brasileira, as dificuldades de se implementar uma política industrial e tecnológica para a economia brasileira, dentre outros elementos no cenário atual dessa economia, é possível dizer que a crise econômica de 2008, que se arrasta até os dias de hoje, não foi capaz de promover mudanças estruturais no padrão liberal periférico, ou seja, as características desse padrão (vulnerabilidade externa estrutural, inserção passiva no comércio internacional, instabilidade macroeconômica e dificuldade de manutenção de taxas de crescimento mais elevadas) ainda continuam caracterizando a dinâmica da 13

economia brasileira. Contrariamente ao que aconteceu com essa economia na crise de 1929, quando a mesma respondeu de outra forma e conseguiu avançar rumo à internalização das capacidades industriais, a situação do Brasil na crise atual não implicou em uma mudança estrutural do seu padrão de desenvolvimento. 4. REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. Base de dados macroeconômicos. Série Histórica do Balanço de Pagamentos. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 30 de setembro de 2013. BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA e COMÉRCIO EXTERIOR. Estatísticas de comércio exterior. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>. Acesso em: 14 de setembro 2013. BALANCO, Paulo; PINTO, Eduardo. Os anos dourados do capitalismo: Uma tentativa de harmonização entre as classes. Pesquisa & Debate, SP, volume 18, número 1 (31) p. 27-47, 2007. BARROSO, Aloísio, SOUZA, Renildo, organizadores. A Grande Crise Capitalista Global 2007-2013: gênese, conexões e tendências. São Paulo: Anita Garibaldi, 2013. BRAGA, José Carlos. Qual conceito de financeirização compreende o capitalismo contemporâneo? In: BARROSO, Aloísio, SOUZA, Renildo. A Grande Crise Capitalista Global 2007-2013: gênese, conexões e tendências. São Paulo: Anita Garibaldi, 2013. FERNANDES, Florestan. Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. FILGUEIRAS, Luiz. A natureza do atual padrão de desenvolvimento brasileiro e o processo de desindustrialização. Coleção Pensamento Crítico, Rio de Janeiro, vol.4, p.1-62, 2013. FILGUEIRAS, Luiz; GONÇALVES, Reinaldo. A Economia Política do Governo Lula. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007. FILGUEIRAS, Luiz; PINHEIRO, Bruno; PHILIGRET, Celeste; BALANCO, Paulo. Modelo Liberal-Periférico e Bloco no poder: política e dinâmica macroeconômica nos governos Lula. In: CORECON. Os anos Lula: contribuições para um balanço crítico 2003-2010. Rio de Janeiro: Garamond, 2010. FILGUEIRAS, Luiz et al. O desenvolvimento econômico recente: desindustrialização, reprimarização e doença holandesa. Desenbahia, Bahia, v. 9, n. 17, p. 119-154, 2012. 14

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