Elementos fundamentais de um Sistema de orientação profissional

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Transcrição:

Elementos fundamentais de um Sistema de orientação profissional Gideon Arulmani, PhD. Existem muitas abordagens à orientação profissional. De um modo geral, no entanto, a orientação profissional é constituída por quatro componentes interligadas. Para mais fácil compreensão, estas quatro componentes podem ser encaradas como um Percurso de Descoberta Profissional, que é esquematicamente representado na figura abaixo. O Percurso de Descoberta Profissional p. 1 Compreender-se a si próprio Compreender o mundo do trabalho Desenvolvimento de alternativas profissionais Preparação profissional Segue-se uma visão geral do Percurso de Descoberta Profissional, centrada nas quatro componentes que importa abordar. Componente 1: Autocompreensão Sem orientação profissional, o instinto natural dos jovens será considerar várias profissões e fazer a sua escolha com base na que é mais atrativa e está em consonância com as perceções e atitudes prevalecentes sobre a vida profissional. Uma orientação profissional eficaz começa por ajudar os jovens a ter uma maior autoconsciencialização. A autodescoberta é o início da descoberta da sua profissão. A autocompreensão para efeitos de uma decisão profissional eficaz centra-se nos seguintes temas: Elementos cognitivos e perceções sobre o trabalho e a vida profissional Interesses, desejos e motivações Talentos e aptidões Compreender as perceções sobre a vida profissional São convicções fortes sobre o processo de seleção de uma profissão ou sobre o mundo do trabalho. O prestígio, por exemplo, é um fator que influencia fortemente a escolha profissional. Algumas profissões são percecionadas como «prestigiantes» e outras não. A maioria dos jovens e suas famílias na Índia, por exemplo, estão absolutamente seguros que Medicina é a profissão mais prestigiante, logo seguida por Engenharia. A concorrência nestas profissões «prestigiantes» é tão intensa, que os critérios de seleção se tornam irrealistas e frequentemente corruptos. Esta corrida a um número muito reduzido de profissões deixa para trás um elevado número de jovens que «não conseguem entrar». Também gera desinteresse por muitas outras profissões disponíveis e talvez até mais lucrativas. Como referimos anteriormente, as perceções sobre a aquisição de competências de trabalho, a persistência em alcançar metas profissionais e o assumir de responsabilidade pessoal são elementos cognitivos subjacentes que afetam o desenvolvimento profissional. Melhorar a autocompreensão implica ajudar os jovens a tomar consciência da forma como elementos cognitivos Página: 1

e perceções influenciam as orientações pessoais em matéria de escolha e desenvolvimento profissional. O que são Interesses? Os interesses são como vapor numa locomotiva. São essencialmente fatores de personalidade que motivam e impulsionam as pessoas. Os interesses pessoais são: atividades que chamam a sua atenção coisas que despertam a sua curiosidade assuntos que pretendem estudar melhor atividades que consideram úteis atividades de que desfrutam Importa referir dois pontos vitais sobre os interesses: Os interesses podem mudar. Regra geral, os orientadores profissionais podem contar com a probabilidade de grandes variações nos perfis de interesses até por volta dos 16 aos 18 anos. Só após esta fase (quando se aproximam da maioridade) é que os interesses começam a estabilizar. A intensidade de um interesse está estreitamente relacionada com: experiências pessoais com determinada atividade a perceção de que se consegue desempenhar bem uma atividade (autoeficácia) atitudes, bem como noções preconcebidas dos próprios e de pessoas importantes na sua vida (perceções da vida profissional, por exemplo) sobre uma determinada atividade À medida que as fases do desenvolvimento profissional vão sendo ultrapassadas, as experiências pessoais e as influências externas podem reforçar os interesses existentes ou provocar um desvio dos interesses para outra área de atividade. É um processo normal e natural. Uma orientação profissional atenta e centrada no indivíduo não prende os jovens a um grupo de interesses para os quais foram orientados em determinada fase da sua vida. Por outro lado, uma educação profissional eficaz ajuda os jovens a explorar os seus interesses antes de se comprometerem. Um grande interesse não significa necessariamente uma grande capacidade. É um ponto essencial a que o orientador profissional tem de estar atento. Um interesse numa determinada atividade indica que os jovens se sentem atraídos e retiram prazer desse interesse. Não significa necessariamente que sejam bons nessa atividade. O sucesso profissional é alcançado num ambiente competitivo de grande intensidade. O mero interesse e a motivação, por muito forte que ela seja, não garante que irão desenvolver um nível de competência suficientemente elevado que lhes permita enfrentar a concorrência. Ajudar a identificar os interesses pessoais é um aspeto essencial da orientação profissional. Ter consciência das atividades que os atraem contribui significativamente para melhorar a autocompreensão dos jovens. No entanto, para que a autocompreensão permita fazer escolhas profissionais eficazes, é preciso ir mais além. O que são Aptidões? Se os interesses são o vapor numa locomotiva, as aptidões podem representar o motor a capacidade efetiva de avançar e ter sucesso na execução de um conjunto específico de tarefas. As aptidões são a segunda componente da autocompreensão. As aptidões refletem: os talentos e capacidades de cada um o potencial de realização numa determinada área as áreas em que seriam naturalmente bons Página: 2

Os talentos e as capacidades podem ser identificados por testes de aptidão. Um teste de aptidão pode focar-se em áreas específicas (destreza manual, competências administrativas, por exemplo). Os testes de aptidão podem ter uma base mais alargada (aptidões linguísticas, aptidões espaciais, por exemplo). O importante é reter que as aptidões refletem potencial. Por exemplo, após um teste de aptidão, Sameena, de 16 anos, descobriu que tem grandes aptidões linguísticas e uma baixa aptidão musical. Se receber a formação adequada, ser-lhe-á mais fácil dominar competências linguísticas que competências relacionadas com a aptidão musical. É ainda preciso ter em mente que uma profissão é fundamentalmente um grupo de competências ou de conjuntos de competências. Por outras palavras, a maioria das profissões requer combinações de aptidões. Uma profissão relacionada com a arquitetura, por exemplo, exige competências espaciais e lógicas. O perfil de aptidões de um bom designer de joalharia provavelmente caracteriza-se pela sensibilidade à cor, ao desenho e à forma e por competências motoras de precisão. Um diagnosticador brilhante, mas rude e insensível a sentimentos e emoções humanos, não se torna necessariamente um bom profissional médico. Uma conclusão se destaca destas reflexões: uma profissão é composta por um grupo de tarefas. A aptidão para saber executar bem o maior número de tarefas associadas a uma determinada profissão contribui para ter sucesso nessa profissão. Potencial: A Combinação de Interesse e Aptidão Uma profissão é composta por um grupo de tarefas. O interesse por, e uma aptidão para, saber executar bem o maior número de tarefas associadas a uma determinada profissão contribuem para ter sucesso nessa profissão. Os interesses e aptidões são ambos aspetos essenciais da autodescoberta. O enfoque em apenas uma destas duas facetas da personalidade é uma limitação presente em alguns sistemas de orientação profissional. Alguns sistemas baseiam-se na análise dos interesses, enquanto outros colocam a ênfase nos testes de aptidão. No nosso modelo, a análise dos interesses e aptidões para alcançar a autocompreensão não é uma questão mutuamente exclusiva. O orientador tem a missão de ajudar os jovens a descobrir os seus interesses e os seus talentos. Esta metodologia suscita uma questão crucial. Um inventário dos interesses permite traçar o perfil de interesses, enquanto um teste de aptidão ajuda a descobrir os talentos e capacidades pessoais. Uma análise mais detalhada pode revelar que alguns dos interesses identificados podem não corresponder ao perfil de aptidão. Analogamente, também é possível que os jovens não revelem interesse em profissões associadas a algumas das suas aptidões. Cabe aos orientadores profissionais, por conseguinte, a tarefa extremamente importante de ajudar quem pretende escolher uma profissão a encontrar o ponto de sobreposição entre os seus interesses e as suas aptidões. A figura abaixo apresenta de forma esquemática esta interação entre interesses e aptidões. A análise sistemática dos dados fornecidos pelos testes e da informação captada através de interações com os candidatos permitirá desvendar a ligação entre interesses e aptidões. A descoberta desta ligação ajudará a identificar áreas profissionais específicas que despertam o interesse deles e para as quais também possuem talentos. O exemplo seguinte ajuda a ilustrar este aspeto essencial (mas frequentemente ignorado) para promover a autocompreensão durante o processo de preparação profissional. No fim do teste, o perfil de interesses de Adam, um aluno do ensino pós-secundário, indicou que ele Página: 3

p. 3 Interesses e aptidões o ponto de sobreposição Aptidão sem interesse Interesses Aptidões O ponto de sobreposição Interesse sem aptidão Ajudar os candidatos a descobrir o ponto de sobreposição entre os interesses pessoais e as aptidões é um aspeto importante da orientação profissional estava profundamente interessado em atividades relacionadas com programação informática, em trabalhar com cores e desenhos e em inventar novos produtos a partir das suas ideias. O seu perfil de aptidões indicou que os seus maiores talentos estavam associados a capacidades espaciais (competências relacionadas com a gestão e manipulação de espaços bidimensionais e tridimensionais) e a competências motoras de precisão, e que as suas capacidades de lógica, raciocínio e análise eram significativamente menores. A profissão de programador de software corresponde aos interesses de Adam. No entanto, a aptidão nuclear requerida para esta profissão é a capacidade lógica e de raciocínio um conjunto de competências para as quais Adam possui uma aptidão relativamente menor. Por outro lado, o perfil de Adam revela uma ligação mais estreita entre o seu interesse pelo desenho e a sua maior aptidão para competências espaciais. Embora Adam possa seguir a profissão de engenheiro de software e trabalhar arduamente no sentido de desenvolver as suas competências lógicas, é provável que tenha de lutar por ascender a elevados níveis de excelência. Por outro lado, as suas hipóteses de sucesso e satisfação serão provavelmente mais elevadas se decidir tornar-se um designer de moda. A informática é uma solução que resulta sobretudo dos interesses de Adam, enquanto o design de moda resulta dos seus interesses e das suas aptidões. Componente 2: Compreender o mundo do trabalho Página: 4

O mundo do trabalho é a outra face da moeda de uma educação profissional eficaz. Numa definição simplista, o mundo do trabalho é o conjunto das oportunidades de trabalho que se abrem aos jovens. Três importantes atividades ajudam os jovens a compreender o mundo do trabalho: Possibilidades alargadas A escolha profissional está frequentemente limitada às profissões que os jovens conhecem ou de que já ouviram falar. A orientação profissional abre novas possibilidades aos jovens e alarga os seus horizontes de escolha. Ajuda os jovens que pretendem escolher uma profissão a compreender as características específicas das possibilidades de desenvolvimento profissional a nível local, nacional e, se possível, internacional. Vias para o Desenvolvimento Profissional A orientação profissional mostra aos jovens como aceder a uma profissão específica e como crescer nessa profissão. Apresenta-lhes as características de uma profissão, a previsão do seu âmbito de desenvolvimento, os critérios de elegibilidade para o acesso, os procedimentos de admissão, etc. A figura abaixo apresenta uma visão geral das componentes importantes de uma unidade de informação profissional. Componentes da Informação Profissional/Informações sobre o mercado de trabalho Uma unidade de informação profissional compreende as seguintes categorias: A designação da profissão Uma breve definição da profissão Uma ideia sobre a principal área de aptidões de interesses que a informam O percurso para aceder e progredir na profissão As perspetivas futuras desta profissão Informação sobre cursos que dão acesso a esta profissão. Também ajuda os jovens a compreender os diferentes sistemas de formação disponíveis. Fontes de informação sobre profissões Alguns países possuem um sistema designado a nível central ou estadual para a recolha e divulgação de informações sobre o mercado de trabalho ou sobre as profissões. Esse sistema não existe em muitos outros países. Muitas vezes é o orientador profissional quem recolhe e gere uma base de dados com informação sobre as profissões. Estas são algumas das fontes de informação possíveis: Jornais diários/revistas: Anúncios de contratação, informações sobre exames de admissão e notícias sobre as políticas do setor são regularmente publicados nas colunas dedicadas a carreiras profissionais e nos suplementos sobre educação dos jornais diários nacionais. A maioria das informações locais sobre carreiras profissionais está frequentemente disponível apenas através dos jornais da região. Publicações especializadas: Os trabalhos e informações técnicos e científicos sobre orientação profissional são divulgados em publicações especializadas dedicadas ao setor e avaliados pelos pares. Internet: A Internet também oferece sítios web especializados sobre profissões. Contudo, importa confirmar a fiabilidade das informações apresentadas na Internet antes de as usar. Outras fontes: Instituições da administração pública no âmbito de educação e trabalho. Página: 5

Relatórios de estudo de vários organismos profissionais (OCDE, por exemplo) e empresas de consultoria (McKinsey, por exemplo) sob a forma de inquéritos sobre os salários, inquéritos sobre a atividade económica, etc. Os grandes empregadores também publicam informação com frequência. As pessoas que trabalham na área de interesse, por exemplo, funcionários, empregadores, vizinhos, antigos colegas de escola e familiares também são boas fontes de informação. Feira do Emprego Trata-se de um evento que permite aos jovens confrontados com a escolha de uma profissão interagir com profissionais. Uma feira do emprego inclui um conjunto de atividades como palestras, demonstrações ou mostras, que são organizadas para os alunos por profissionais de todos os quadrantes. Objetivos principais de uma Feira do Emprego: Dar oportunidade aos candidatos a uma profissão de: Encontrar-se com profissionais; ouvir um relato direto sobre as suas carreiras profissionais. Tomar contacto com profissões menos conhecidas. Alargar a sua exposição ao mundo do trabalho. Aprender com os oradores, que podem ser os seus modelos de inspiração. Bem como: Dar oportunidade à comunidade dos progenitores de participar como: Oradores, partilhando informação sobre as suas próprias carreiras profissionais Convidados, para alargar a sua própria compreensão sobre o mundo do trabalho. Componente 3: Alternativas Profissionais As atividades referidas orientaram os candidatos na definição dos seus interesses e talentos pessoais, ajudaram a identificar perceções sobre as profissões e forneceram conhecimentos sobre o mundo do trabalho. Na fase que culmina este processo, o orientador e o candidato devem colaborar na descoberta de um pequeno grupo de opções que corresponda ao perfil individual. Demasiadas opções impedem o candidato de desenvolver um enfoque claro e direcionado para o desenvolvimento profissional. Opções insuficientes não permitem flexibilidade no desenvolvimento profissional. O número ideal de alternativas profissionais para os candidatos entre os 15 e os 20 anos é de 3 a 4 profissões. Importa recordar que as alternativas profissionais podem ter um espetro amplo na fase do desenvolvimento profissional em que os alunos ainda frequentam o ensino secundário. Um jovem aluno do 10.º ano, por exemplo, pode concluir que as suas opções profissionais são Engenharia, Ciências do Comportamento e Design. A exploração de profissões, longe de ser um compromisso com um percurso profissional, mantém-se como objetivo nesta fase. Criar um quadro exploratório é uma tarefa importante dos orientadores profissionais. As alternativas profissionais continuam a ser importantes à medida que o desenvolvimento avança. Das três profissões escolhidas no ensino secundário, uma pode ser selecionada como opção final. Nos níveis de educação seguintes (depois do póssecundário, por exemplo), o jovem poderá concentrar-se em Ciências do Comportamento. Importa notar que uma opção Os orientadores e os candidatos trabalham em conjunto numa lista de profissões, usando a informação sobre os interesses, as aptidões e o mundo do trabalho. As Alternativas Profissionais são um pequeno grupo de opções profissionais que correspondem ao potencial dos jovens. Página: 6

abordada anteriormente em termos globais continua a representar oportunidades de escolha. Ciências do Comportamento, por exemplo, abarca uma vasta gama de profissões (Psicologia Clínica, Desenvolvimento Infantil, Gestão de Recursos Humanos, por exemplo). Ajudar os jovens a tomar consciência do âmbito destas escolhas contribui para lhes conferir uma maior maturidade profissional. Desenvolvimento de Alternativas Profissionais Os orientadores e os candidatos trabalham em conjunto numa lista de profissões, usando a informação sobre os interesses, as aptidões e o mundo do trabalho. Os orientadores normalmente chamam a atenção dos candidatos para as secções da lista de profissões que apresentam profissões associadas aos seus interesses e aptidões. É nesta fase do processo de descoberta profissional que o papel dos orientadores se torna especial e vital. Num nível mais superficial, os orientadores devem apenas ajudar os candidatos a entender a lista de profissões e explicar a natureza, o âmbito e as perspetivas futuras de cada profissão. Num nível mais profundo, os orientadores podem ter de ajudar o candidato a refletir sobre as suas reações a cada profissão. É nesta altura que o efeito de fatores com probabilidade de impedir os jovens de fazer escolhas eficazes se manifesta claramente. Trabalhar estas questões é central para ajudar os candidatos a encontrar alternativas profissionais adequadas. O desenvolvimento de alternativas profissionais num contexto em que os candidatos enfrentam uma situação de pobreza e desfavorecimento socioeconómico requer certos cuidados especiais. As condições socioeconómicas prevalecentes criam perceções profissionais e concetualizações da autoeficácia que impedem os jovens desfavorecidos de sequer considerar alternativas profissionais para si próprios. O papel dos orientadores nesta situação ultrapassa a mera enunciação de opções profissionais adequadas. O objetivo é ajudar os jovens a desenvolver alternativas profissionais viáveis. A análise de fatores como as perceções sobre as profissões e a autoeficácia são particularmente importantes quando se trabalha com jovens desfavorecidos. As intervenções de orientação devem abordar as perceções negativas sobre as profissões e reforçar a autoeficácia da preparação para uma profissão. É muito importante que as alternativas profissionais criadas nesta fase do processo de orientação possam ser implementadas a curto ou a longo prazo. Por outras palavras, os jovens desfavorecidos precisam de ter um objetivo de longo prazo que é o seu objetivo de desenvolvimento profissional efetivo. Também precisam de objetivos profissionais de curto prazo, que possam funcionar como ponte entre o estatuto de desfavorecido e o desenvolvimento profissional de longo prazo. A criação cuidadosa de alternativas profissionais nesta fase cria os alicerces para a construção de uma ponte com o desenvolvimento profissional (debatida no Conjunto de Competências 4, abaixo) de candidatos vítimas de pobreza e desfavorecimento. Componente 4: Preparação profissional Uma vez feitas as escolhas e identificadas as alternativas, chega a hora de os candidatos iniciarem uma preparação profissional sistemática. A preparação para o acesso a uma profissão tem duas componentes. Um aspeto da preparação profissional está diretamente relacionado com uma carreira específica e estreitamente associado à preparação dos exames de admissão, desempenhos académicos, etc. Nós centramos a nossa preocupação nos aspetos fundadores, mais profundos, que são essenciais para todos os candidatos, independentemente das profissões que tiverem escolhido. As atividades referidas nesta secção focam-se em três áreas específicas relacionadas com uma preparação profissional eficaz. O Plano de Desenvolvimento Profissional Página: 7

Trata-se de um plano de desenvolvimento profissional claramente enunciado, a desenvolver pelos candidatos em conjunto com os orientadores, com o objetivo de saber mais sobre cada uma das alternativas profissionais escolhidas. Inclui a definição das profissões, o desenvolvimento de uma descrição pormenorizada do percurso rumo a essas profissões, a elaboração de uma lista com os critérios de elegibilidade, exames de admissão, endereços e datas importantes, e prazos que é necessário cumprir. É importante recordar que são os candidatos que desenvolvem o plano profissional não os orientadores! Literacia de competências e Experiência de trabalho Promover a literacia de competências é um aspeto essencial da preparação profissional. A literacia de competências é o processo que ajuda os candidatos a adquirir experiência laboral através de estágios e colocações em empresas. Os progenitores são uma rede valiosa que pode ser usada para planear programas de estágio. Em situações de grupo, os alunos podem partilhar as suas experiências de estágio com o resto da classe, o que, por seu turno, é uma forma de divulgar informação. «Start Small and Grow Tall» Esta é talvez a atitude mais importante que os jovens podem desenvolver. Todas as carreiras profissionais começam por baixo. É essencial que os jovens aceitem este facto. No entanto, nem todas as carreiras profissionais têm de ficar estagnadas. Com um planeamento cuidadoso e uma preparação profissional sistemática, é possível «começar por baixo («start small»)... mas evoluir até ao topo («grow tall»). Por conseguinte, reforçar a consciencialização dos candidatos e dos seus progenitores para este facto é um objetivo essencial dos orientadores profissionais. Página: 8