COMO A JUSTIÇA DO TRABALHO TEM SE POSICIONADO NO JULGAMENTO DOS PROCESSOS DE CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÕES? Davi Furtado Meirelles

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1 COMO A JUSTIÇA DO TRABALHO TEM SE POSICIONADO NO JULGAMENTO DOS PROCESSOS DE CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÕES? Davi Furtado Meirelles

2 - Evolução histórica da economia brasileira baseada em três ciclos econômicos: Era Vargas (de 1930 a 1945), Governo Juscelino Kubitscheck (1956 a 1960) e Período Militar (1964 a 1985). - Era Vargas: leis trabalhistas protecionistas, CLT, estrutura sindical assistencialista, início da industrialização do país (CSN, Petrobrás).

3 - Governo JK: manutenção da legislação trabalhista e sindical, mas apogeu da industrialização (grandes metalúrgicas no ABC e em São José dos Campos, ativação dos portos). - Período Militar: milagre econômico, valorização de empresas estatais (espírito nacionalista), protecionismo do produto nacional (caro ou pouco competitivo), intervenção na ação sindical.

4 - O Direito do Trabalho pouco evoluiu, ou modificou, nesse sistema liberal-capitalista (exceção do fim da estabilidade, com o FGTS). - No Governo Collor houve uma abertura desenfreada da economia brasileira (recessão, câmaras setoriais, informatização e robotização). - É nesse período que tem início a flexibilização do Direito do Trabalho no Brasil: trabalho temporário, contratação por prazo certo ou por tempo parcial, compensação de horários via banco de horas, terceirização.

5 - Definição de terceirização: é a contratação, por uma empresa, de outra, especializada, para a prestação de serviço, sendo a contratada a responsável pela mão-de-obra que irá executar os serviços, dentro ou fora da empresa contratante, o que caracteriza uma relação de trabalho atípica, já que a contratante não precisa contratar empregados para a realização de certas atividades, que poder ser eventuais ou permanentes.

6 - Até o advento da terceirização, as únicas formas de contratação atípica legalmente permitidas eram as do empreiteiro (artigo 455 da CLT) e do trabalho temporário (regulado pela Lei nº 6.019/74).

7 - As principais atividades que passaram a ser terceirizadas foram: serviços de segurança, de conservação e de limpeza; serviços de preparo e fornecimento de refeições nos restaurantes internos das empresas; serviços de assistência médica e odontológica; consultoria jurídica; serviços de contabilidade e auditoria; serviços de manutenção de elevadores, de máquinas e de equipamentos de informática; cursos e treinamentos; contratos de distribuição e entrega de mercadorias; serviços de transporte; etc.

8 - Conseqüências no plano individual: fraude aos direitos trabalhistas com a falsa terceirização; contratação de empresas inidôneas que não respondem pelos direitos regularmente assegurados; rebaixamento do padrão salarial e dos benefícios; inobservância das normas de segurança do trabalho; terceirização com objetivo de transferência de passivos trabalhistas, de transferência de riscos do negócio ao terceiro e seus contratados.

9 - Conseqüências no plano coletivo: pulverização da ação sindical; redução do número de empregos, desmobilização da luta sindical; embaraços às coalizões e a movimentos grevistas; dificuldade nas reivindicações e nas negociações coletivas, face à existência de vários patrões e de nenhum ao mesmo tempo.

10 - A terceirização pode ser vista como resultado de duas situações: a) a necessidade da empresa de redução dos custos da mão-de-obra, para adequar-se à competitividade do mercado globalizado, garantindo preços atrativos a seus produtos; e b) a concentração dos esforços do empreendedor na atividade principal da empresa, delegando para terceiros especializados a realização de atividades acessórias.

11 - A terceirização lícita deve observar os seguintes requisitos: a) idoneidade econômica da terceirizada; b) riscos assumidos pela terceirizada; c) especialização nos serviços a serem prestados; d) serviços dirigidos pela própria empresa terceirizada; e) utilização do serviço terceirizado apenas na atividademeio; f) necessidade extraordinária e temporária de serviço.

12 - A subordinação é o principal elemento diferenciador da terceirização lícita e da fraude (falsa terceirização). - Para fugir à caracterização da subordinação, temos assistido nos últimos anos a processos de quarteirização, de contratação de trabalhadores como pessoa jurídica ( pejotização ). - Não há uma legislação específica sobre a terceirização, que apenas é regulamentada pela jurisprudência da Súmula nº 331 do TST.

13 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (Revisão da Súmula nº Res. 23/1993, DJ Inciso IV alterado pela Res. 96/2000, DJ Nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI - Res. 174/ DeJT 27/05/2011) I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de ).

14 II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de ) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividademeio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

15 IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial.

16 V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei nº 8.666, de , especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

17 VI - A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

18 - Os abusos maiores na contratação de terceiros são vistos na administração pública (autorização do inciso II). - A responsabilidade subsidiária não consegue inibir a fraude na contratação terceirizada (a responsabilidade deveria ser solidária).

19 - A recente alteração do TST, para se adaptar ao entendimento do STF (no sentido de que a Lei das Licitações não permite a responsabilização da administração pública), torna a questão mais preocupante, pois haverá necessidade de comprovar culpa in vigilando do ente público, antes de responsabilizá-lo.

20 - Uma legislação sobre o tema deveria inibir esse tipo de contratação, que leva à precarização de direitos, permitindo em casos excepcionais (comprovada a notória especialização, para atividades reconhecidamente periféricas da preponderante da empresa, com responsabilização solidária do contratante; e mediante negociação coletiva com os sindicatos).

21 - Nos metalúrgicos do ABC todos os processos de reestruturação produtiva englobaram terceirização de atividades, mas todas foram previamente negociadas com o sindicato (houve garantia de direitos). - A Justiça do Trabalho tem procurado inibir a fraude na contratação terceirizada.

22 - Acórdãos: cooperativa fraudulenta; município que contrata terceiro, que contrata cooperativa; serviço de limpeza (contratação lícita) contratado diretamente com os trabalhadores, para depois inserir uma empresa interposta; terceirização de atividade-fim (cobrador); quarteirização.