GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA TERCEIRIZAÇÃO
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1 GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA TERCEIRIZAÇÃO Trabalho temporário Cooperativas de trabalho Conforme a Lei /2017 2ª edição 2017
2 CAPÍTULO 1 TERCEIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA 1.1 CONCEITO E DISTINÇÃO A terceirização pode ser entendida como a transferência de certas atividades da empresa tomadora (ou contratante) a empresas prestadoras de serviços especializados. A terceirização, como se pode notar, envolve uma relação trilateral entre o empregado, a empresa prestadora de serviço (empregador) e a empresa tomadora (contratante dos serviços). Entre a empresa tomadora (contratante) e a prestadora de serviço é firmado um contrato de natureza civil ou empresarial (contrato de prestação de serviços). Diversamente, entre a empresa prestadora de serviço e o empregado é firmado o contrato de trabalho. O vínculo de emprego, assim, existe entre o empregado e a empresa prestadora de serviço, mas aquele presta o serviço à empresa tomadora (contratante). 13
3 TERCEIRIZAÇÃO Gustavo Filipe Barbosa Garcia A terceirização não se confunde com a intermediação de mão de obra, a qual, em regra, é vedada pelo sistema jurídico, uma vez que o trabalho não pode ser tratado como mercadoria, o que seria contrário ao seu valor social e à dignidade da pessoa humana 1. Nesse sentido, conforme a Súmula 331, item I, do TST: I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de ). Ainda assim, também apresenta conotação trilateral o trabalho temporário, em que a empresa tomadora contrata a empresa de trabalho temporário para que sejam fornecidos trabalhadores temporários, pelo prazo e nas hipóteses excepcionalmente admitidas pelo sistema jurídico 2. A rigor, a terceirização se distingue do trabalho temporário, pois enquanto aquela diz respeito à prestação de determinados serviços por empresa especializada, neste há o fornecimento de mão de obra à tomadora por meio de empresa interposta (ou seja, pela empresa de trabalho temporário) Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, p Cf. CAVALCANTE JUNIOR, Ophir. A terceirização das relações laborais. São Paulo: LTr, p Cf. JOÃO, Paulo Sergio. O que muda com o projeto de lei sobre trabalho temporário e terceirização. Consultor Jurídico, 24 de março de 2017: Terceirização pressupõe especialização nos serviços e autonomia na sua execução. A diferença fundamental 14
4 Cap. 1 TERCEIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA 1.2 ÂMBITO INTERNACIONAL A análise da terceirização, em especial quanto à sua licitude, aos seus limites e aos seus efeitos, está intimamente relacionada com o valor social do trabalho, que não pode ser tratado como mercadoria, sob pena de afronta à dignidade da pessoa humana. Nesse enfoque, no âmbito da doutrina social da Igreja, merece referência a Encíclica Mater et Magistra, de João XXIII, do ano de 1961, ao assim prever: 18. Dizem respeito, primeiramente, ao trabalho que deve ser considerado, em teoria e na prática, não mercadoria, mas um modo de expressão direta da pessoa humana. Para a grande maioria dos homens, o trabalho é a única fonte dos meios de subsistência. Por isso, a sua remuneração não pode deixar-se à mercê do jogo automático das leis do mercado; pelo contrário, deve ser estabelecida segundo as normas da justiça e da equidade, que, em caso contrário, ficariam profundamente lesadas, ainda mesmo que o contrato de trabalho fosse livremente ajustado por ambas as partes (destaquei) 4. entre o regime jurídico do trabalho temporário e a prestação de serviços é que no primeiro caso há cessão de mão de obra e, no segundo, o objeto é a prestação de serviços especializados a cargo e responsabilidade da empresa prestadora. Disponível em: - -muda-pl-trabalho-temporario-terceirizacao>. Acesso em: 07 abr Disponível em: < Acesso em: 07 abr
5 TERCEIRIZAÇÃO Gustavo Filipe Barbosa Garcia Na mesma linha, na esfera da Organização Internacional do Trabalho, criada em 1919, destaca-se a seguinte previsão de sua Constituição e Anexo (Declaração de Filadélfia, referente aos fins e objetivos da Organização, de 1944): A Conferência reafirma os princípios fundamentais sobre os quais repousa a Organização, principalmente os seguintes: a) o trabalho não é uma mercadoria (destaquei) 5. Em razão desse mandamento universal, proíbe-se, em regra, a intermediação de mão de obra, na qual a empresa intermediária apenas fornece trabalhador à empresa tomadora. Como mencionado anteriormente, essa prática não se confunde com a terceirização, em que certas atividades são transferidas pelo contratante a empresas prestadoras de serviços determinados e específicos, permitindo que aquele se dedique aos principais aspectos de seu objetivo social Disponível em: < work/doc/constituicao_oit_538.pdf>. Acesso em: 07 abr Cf. MANNRICH, Nelson. A modernização do contrato de trabalho. São Paulo: LTr, p. 117: Quando se fala em atividade econômica, não há vinculação, necessariamente, à ideia de lucro, mas de produção de bens e serviços. Daí a necessidade de a empresa contratada possuir certa especialidade, uma atividade - no contrato social, há indícios de mera intermediação ilegal ou tiva. A ilegalidade não decorre diretamente de expressa vedação 16
6 Cap. 1 TERCEIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA 1.3 PARÂMETROS CONSTITUCIONAIS A Constituição Federal de 1988, ao tratar dos princípios fundamentais, dispõe que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; o pluralismo político (art. 1º). No âmbito dos direitos fundamentais de natureza social, o art. 7º da Constituição Federal de 1988 arrola os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de assegurar outros direitos que visem à melhoria de sua condição social. Observa-se, assim, o reconhecimento do princípio da proteção, inerente ao Direito do Trabalho, notadamente quanto à prevalência da norma mais favorável ao empregado 7. Portanto, a correta interpretação do sistema jurídico indica que a relação de emprego, a qual é disciplinada pelo Direito do Trabalho, merece ênfase e recebe prioridade constitucional, por ser o vínculo que efetivamente garante os direitos trabalhistas, legal, mas, indiretamente, do nosso sistema jurídico, seja do con- obra, seja do conceito de empregado (art. 3º da CLT), devendo- -se considerar, também, o art. 9º, da CLT. 7. Cf. RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. Tradução e revisão técnica: Wagner D. Giglio. Tradução das atualizações: Edilson Alkmim Cunha. 3. ed. São Paulo: LTr, p
7 TERCEIRIZAÇÃO Gustavo Filipe Barbosa Garcia permitindo a redistribuição de renda e que se alcance a justiça social. A garantia da relação de emprego é essencial para que o modo de produção capitalista observe os limites necessários à preservação da dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho. Dessa forma, apesar da existência de outras modalidades de relações de trabalho (como o autônomo, o eventual, o voluntário e o estagiário), o vínculo de emprego é apto a conferir, em termos globais, à coletividade de trabalhadores o tratamento jurídico necessário à concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, previstos no art. 3º da Constituição Federal de 1988, quais sejam: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Frise-se ainda que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170 da Constituição Federal de 1988). Do mesmo modo, a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça social (art. 193 da Constituição da República). Logo, a terceirização de serviços, embora fundada na livre iniciativa, objetivando alcançar mais eficiência, produtividade, redução de custos e 18
8 Cap. 1 TERCEIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA competitividade à empresa 8, não pode ser admitida em contrariedade ao valor do trabalho, à dignidade humana e à justiça social. Isso justifica a previsão no sistema jurídico de certos limites quanto à terceirização, bem como de exigências quanto a essa modalidade de prestação de serviços a terceiros. 8. Cf. MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: Malheiros, p. 22: O objetivo principal da terceirização não é apenas a redução de custos, mas empresa. Esta pretende com a terceirização a transformação de tamento do processo produtivo, com a transferência de numerário para aplicação em tecnologia ou no seu desenvolvimento, e também em novos produtos. 19
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