A LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS E OS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR
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1 A LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS E OS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR INTRODUÇÃO SANTOS, Patrícia Marina da Silva Santos 1 (UFMT) TAMANHO, Susane 2 (UFMT) A legislação atual aponta a necessidade de acessibilidade como um dos meios de promoção da inclusão social. Este fato remete à complexidade que as mais variadas profissões vêm enfrentando quando se refere às pessoas com deficiência, considerando interações, convívio e a própria comunicação, seja ela visual, gestual ou escrita. Para que seja discorrido sobre o assunto em questão, faz-se necessário realizar um preâmbulo da atividade dos profissionais de segurança pública, nesse caso, mais especificamente, da Polícia Militar. Assim sendo o artigo 144 da Constituição Federal estabelece a função da Polícia Militar, a qual tem como objetivo a preservação da ordem pública, e o referido artigo enuncia que: Art A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 1988). Denota-se, desse modo, que a missão principal da Polícia Militar é defender a sociedade e para isso realiza ações, tais como, a execução do policiamento ostensivo, policiamento motorizado e diversas modalidades de policiamento para coibir a prática criminosa. Destaca-se, que para a prática das atividades de policiamento os servidores da segurança pública, policiais militares, relacionam-se diuturnamente com os cidadãos, estabelecendo sempre o processo de comunicação entre ambos, seja para a realização de uma abordagem policial, seja para a orientação e etc. 1 Major da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso. Bacharel em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar Costa Verde. Acadêmica do Curso de Educação Física. Universidade Federal do Estado de Mato Groso. Cuiabá. t_susane@hotmail.com. 2 Major da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso. Bacharel em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar Costa Verde. Acadêmica do Curso de Educação Física. Universidade Federal do Estado de Mato Groso. Cuiabá. pati.marina@hotmail.com. V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 113
2 E o que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem a ver com o serviço desempenhado pela polícia militar? Antes de responder esse questionamento é necessário ressaltar que a Lei nº , de 24 de abril de 2002, preconiza que: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002). Pelo que estabelece a legislação a Libras foi instituída como meio legal de comunicação e expressão para que dessa maneira possa existir a comunicação de pessoas oriundas de comunidades surdas do Brasil. A legislação demonstra a necessidade de acessibilidade como um dos meios de promoção da inclusão social de todos sem distinções ou preconceitos. Esta observação nos leva à complexidade que as mais variadas profissões vêm enfrentando quando se refere às pessoas com deficiência, considerando interações, inclusão social, convívio e a própria comunicação, seja ela visual, gestual ou escrita. A mesma legislação institui que: Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente (BRASIL, 2002). Sendo assim, o poder público deve garantir formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Libras, e ainda, as instituições públicas devem garantir o atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva promovendo uma educação inclusiva nos seus cursos de formação. V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 114
3 Para que o tratamento seja realizado de maneira digna e adequada no ano de 2010 a polícia militar incluiu em suas grades curriculares tanto do Curso de Formação de Oficiais (CFO) como no Curso de Formação de Soldados (CFSD) a disciplina de Libras, de acordo com o Plano de Curso, no CFO que tem duração de três anos a disciplina é ministrada em todos os anos, tendo uma carga horária de 30 horas/aulas por ano. Já no Curso de Formação de Soldados, que possui duração de cerca de 8 meses, de acordo com Plano de Curso, a carga horária da disciplina de Libras é de 30 horas/aulas. Em ambos os cursos os futuros oficiais e soldados da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso aprendem a Língua Brasileira de Sinais a fim de comunicarem-se com os portadores de deficiência auditiva, desenvolvendo assim o tratamento igualitário a todos os cidadãos. Ressalta-se que os alunos têm suas aulas voltadas para o aperfeiçoamento de técnicas para o desenvolvimento das atividades de policiamento atinentes a missão constitucional da Polícia Militar. OBJETIVOS 1. Demonstrar como ocorre a formação dos Alunos a Oficiais e Alunos Soldados da PMMT com relação ao trato com cidadãos não ouvintes; 2. Exemplificar a evolução do treinamento dos Alunos a Oficiais e Alunos Soldados da PMMT com relação ao trato com cidadãos não ouvintes. METODOLOGIA O presente artigo foi realizado através de estudo bibliográfico, observações e vivencias obtidas por ambas as autoras, uma vez que as respectivas autoras são policiais militares e ainda Instrutoras (professoras) em ambas as Escolas de Formação. DESENVOLVIMENTO Uma pesquisa feita na Polícia Militar do Estado do Paraná, de acordo com o Artigo intitulado: Percepções de policiais militares sobre a pessoa surda: um estudo a partir da capacitação em libras publicado na revista do VIII encontro da associação brasileira de pesquisadores em educação especial, na cidade de Londrina com policiais V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 115
4 do 18º Batalhão de Polícia Militar constatou as mudanças proporcionadas após o curso de Libras feito pelos policiais militares, de acordo com o artigo escrito destaca-se que: No início do curso constatou-se que um percentual elevado dos participantes não tinham convívio com pessoa surda (90%). Questionados, ao final do curso, se consideravam que após a realização do mesmo, haviam tido alguma mudança no entendimento sobre a pessoa surda, a resposta foi exatamente 90% que sim, o restante, os 10% mencionaram que não, pois já conheciam a deficiência por terem amigos ou familiares com surdez. Ressalta-se aqui a grande importância que o curso de Libras teve para a maioria dos participantes, evidenciando que o convívio com a pessoa surda é um fator determinando para desmitificar conceitos (JÚNIOR; RODRIGUES, 2013, p. 763). O estudo demonstra de forma clara e simples, a mudança de percepção dos policiais militares em relação a pessoa surda. Os mesmos passaram a entendê-la como um sujeito ativo nas relações sociais, que possui a sua dignidade, que precisa ser respeitada de forma plena e que tem uma cultura e língua próprias. Por esse fato, deve ser levado em consideração para organização dos serviços públicos que devem se adaptar às necessidades especiais dos cidadãos. Para exemplificar as mudanças realizadas os policiais declararam que: O curso foi essencial para entender que a deficiência auditiva não impede que a pessoa surda possa exercitar sua vida em toda sua plenitude ; Minha expectativa foi atendida e até superada, pois o que aprendi com o curso, levarei não apenas pro trabalho, mas pra vida ; Percebi que as pessoas surdas merecem ser integradas a sociedade, com maior respeito, pois são cidadãos ; Eles são capazes de realizar qualquer profissão ; Pensava que era muito difícil aprender a língua de sinais e hoje penso diferente, pois consigo ter um diálogo mínimo com uma pessoa surda ; Aprendi muito e criei uma grande admiração pelo surdo, pois chegar ao nível de conhecimento, tendo que enfrentar os obstáculos, isso é motivador ; Aprendi que a barreira do som pode ser facilmente vencida quando há interesse e reconheço que as atividades profissionais não são barreiras para os não ouvintes ; a professora possui uma metodologia de ensino magnífica, mantendo sempre a atenção de todos e de forma descontraída, transmitindo conhecimento ; Pude perceber como é importante nos comunicar normalmente, compreendi a relevância deste curso. (JÚNIOR; RODRIGUES, 2013, p. 764). Observa-se que a mudança de percepção dos policiais militares com relação a população com deficiência auditiva, foi bastante considerável evidenciando assim que as dificuldades podem ser vencidas e o atendimento aos cidadãos não ouvintes melhorou. V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 116
5 Nesse viés, de formação continuada e capacitação dos profissionais da área de segurança pública a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), que é regida pelo Ministério da Justiça e por meio do projeto Bolsa Formação possibilita aos policiais (civis e militares), guardas municipais, bombeiros, peritos e agentes penitenciários inscreverem-se, de maneira gratuita, para realizar vários cursos a distância adquirindo assim, um preparo mais focado para encarar os desafios da profissão, objetivando sempre o atendimento igualitário a todos os cidadãos. busca: Dentre os cursos oferecidos existe o curso de Libras que em sua ementa Modalidade: Curso a distância / Carga Horária: 60h/aula Apresentação Este curso, voltado aos agentes da Segurança Pública Nacional, visa à promoção da acessibilidade das pessoas surdas e sua inclusão social, por meio da comunicação em Libras. As vídeo-aulas apresentam conteúdo teórico-prático contextualizado aos aspectos da cultura e da comunidade surdas e ao trabalho realizado pelas forças que compõem a Segurança Pública, favorecendo a construção de uma aprendizagem significativa e de acordo com as políticas públicas de inclusão e acessibilidade brasileiras. Dada as características da comunicação viso-espacial, a aprovação do curso está condicionada além do desempenho na prova escrita e da qualidade de participação nos fóruns, obrigatoriamente, ao envio de dois vídeos de caráter avaliativo. Público de Interesse O curso se destina aos profissionais da área de segurança pública e aos profissionais administrativos que atuam nessas instituições. Recomendações Recomenda-se que você tenha disponibilidade de 5 a 7 horas por semana para leitura dos módulos e materiais complementares, pesquisas, realização de exercícios e interação com tutor e demais estudantes. Saiba mais sobre o curso lendo a trilha do curso, disponível nos materiais complementares. Conteúdo Programático Módulo 1 Língua Brasileira de Sinais: conceitos importantes Módulo 2 Parâmetros básicos da Libras Módulo 3 Estrutura linguística Módulo 4 Cultura, comunidade e Identidade surdas (Rede Nacional de Educação a Distância em Segurança Pública, 2014, p. 29). Deste modo, pode-se verificar que tanto a âmbito nacional como no estadual, existe a preocupação de capacitar e qualificar os profissionais de segurança pública, os quais necessitam estar aptos a tratarem todos os cidadãos de maneira igualitária, corroborando assim, mais uma vez, com os preceitos legais. V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 117
6 Por derradeiro, é importante destacar que a qualificação e capacitação dos agentes de segurança pública, é extremamente importante para que a sociedade. Tendo em vista que, sempre podemos receber um serviço de qualidade e que tenha um tratamento cordial e respeitoso, faz-se necessário que, o público não-ouvinte possa estabelecer um grau mínimo de comunicação com os profissionais em questão. REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de Disponível em: < Acesso em: 19 abr Planalto. Lei nº , de 24 de abril de Disponível em: Acesso em: 19 abr Ministério da Justiça. Secretaria Nacional De Segurança Pública. Rede Nacional de Educação a Distância em Segurança Pública. Relação de Cursos. Disponível em: Acesso em: 19 abr JÚNIOR, L. de O.; RODRIGUES, L. Percepções de policiais militares sobre a pessoa surda: um estudo a partir da capacitação em LIBRAS. Acesso em: T /AT pdf. > Acesso em: 19 abr V. 1, N. 1, Saberes discentes: a Libras na formação docente 118
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