ANO 3 NÚMERO R$ 14,90

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1 ANO 3 NÚMERO R$ 14,90 Verão e festas: dicas de vinhos e harmonizações Os Best Buys da estação Cobertura completa do RWFF 2014 Gin: a febre que quer invadir o Brasil Vertical de champagne de 1996 até 1959 Carmenère: 20 anos O sucesso dos vinhos do Brasil Viagens: China, Priorato, Provence e Côte d Azur 95

2 Especial Provence / Côte d Azur Luxo cor-de-rosa no sul da França Rosés são vinhos frescos, leves, descomplicados e alegres. São os chamados vinhos do prazer Por Marcelo Copello Poucos vinhos no mundo têm seu consumo tão associado ao entorno, como os rosés da Provence são associados aos balneários da Côte d Azur, no sul da França. Lá, o vinho rosé é estilo de vida, um vin de plaisir (vinho de prazer). Não por acaso, a Provence é especializada na elaboração de vinho rosé, que corresponde a 88% da produção total da região. O perfil destes vinhos é sempre jovem, leve, fresco, descomplicado e alegre. A qualidade média é muito boa, mas raros são os que buscam a excelência, já que a demanda é por simplicidade. Em recente viagem ao sul da França, BACO visitou o crème de la crème, dois ícones que mostram até onde pode chegar a qualidade dos vinhos rosados Domaines Ott e Château d Esclans. Domaines Ott Fundada no século XIX por Marcel Ott, a Domains Ott ( foi comprada em 2004 pelo grupo Roederer, o mesmo que detém marcas como os champagnes Cristal e Deutz e Ramos Pinto, em Portugal. Na direção da vinícola, contudo, ainda estão alguns membros da família, como Jean-François Ott, que nos recebeu no Clos Mireille, uma das três propriedades da empresa, além dos Château de Selle Couer e Château Romassan. As três propriedades, que somam quase 200 hectares, produzem um portfólio extenso, mas a produção não é grande, 700 mil garrafas, 50% exportadas. Segundo Jean- François Ott, a demanda por exportar mais é grande, mas estrategicamente a empresa mantém metade de sua produção no mercado doméstico, pois a Côte d Azur é uma importante vitrine para eles. O Clos Mireille fica literalmente na beira da praia e tem vinhedos a poucos metros do mar, com solos de argila com xisto, expostos a muito vento e umidade, terroir fundamental para produção de grandes rosados (veja o boxe sobre como são elaborados os rosados provençais e, a seguir, a prova feita no local). 96

3 ROSADOS Rosé Coeur de Grain Clos Mireille 2013, Elaborado com vinhas jovens de Grenache, Cinsault e Syrah. Cor de pêssego muito clara, quase um branco. Aroma delicado com notas de melão, rosas, pêssegos. Paladar de deliciosa acidez, crocante, equilibrada, com boa maciez, 13,5% de álcool, longo e delicioso. Nota: 91 pontos Rosé Coeur de Grain Château de Selle 2013, Elaborado com vinhas de 20 anos de Granache (dominante) e pequenas parcelas de Cinsault, Cabernet Sauvignon e Syrah. Cor ligeiramente mais rosada que o anterior, igualmente clara, com tons de pêssego. Aroma com mais especiarias, uma nota picante e toques de ervas frescas. Palato fresco, com ótima acidez, embora ligeiramente mais baixa que o anterior, 13% de álcool. Mais estrutura, mais profundidade e largo. Nota: 92 pontos Rosé Coeur de Grain Château Romassan 2013, Elaborado com 60% Mourvèdre, Cinsault e um pouco de Grenache. Um rosé da região de Bandol, famosa por seus tintos e rosados mais estruturados e gastronômicos. Aroma um pouco mais sério e fechado, frutado, com frutas mais maduras, especiarias e uma nota terciária. Paladar de leve a médio corpo, com 13% de álcool e acidez marcada. O rosé mais estruturado da prova, com um toque de rusticidade. Um rosé de inverno ou para a mesa. Nota: 89 pontos Rosé Coeur de Grain Château Romassan 2010, Elaborado com 60% Mourvèdre, Cinsault e um pouco de Grenache. Cor pêssego mais carregado, ainda claro. Aroma bem mais denso e intenso que o 2013, rico, com notas de evolução. Paladar macio, 13% de álcool, acidez mais baixa, cai um pouco no final. Um rosé maduro, mas ainda está equilibrado e delicioso. Rosé Coeur de Grain Château de Selle 2008, Elaborado com vinhas de 20 anos de Granache (dominante) e pequenas parcelas de Cinsault, Cabernet Sauvignon e Syrah. Cor alaranjada, tangerina. Aroma rico, com notas de pêssegos bem maduros, flores secas. Paladar bem mais macio, 13,5% de álcool, mais equilibrado e longo que o Château Romassan Já um pouco oxidado, está decaindo, mas com dignidade. BRANCOS Blanc de Blancs Clos Mireille 2013, Côtes de Provence (Franco Suissa - Elaborado com 70% Sémillon e 30% Rolle (Vermentino). Palha claro e brilhante, aroma frutado, frutas maduras tostadas de sol, muito frescor, com nota salgada. Paladar leve, 12,5% de álcool, quase magro, ao mesmo tempo tem acidez e é longo e equilibrado, Nota: 86 pontos. Os vinhos brancos da Domaine Ott custam R$ 255,00 Os vinhos rosés da Domaine Ott custam R$ 270,00 97

4 Especial Provence / Côte d Azur Blanc de Blancs Clos Mireille 2012, Côtes de Provence (Franco Suissa - Elaborado com 70% Sémillon e 30% Rolle (Vermentino). Parece bem mais maduro que o Além de um ano mais velho, é de uma safra mais quente. É fermentado em madeira e esta aparece mais aqui que na safra Paladar bem levinho, mas ao mesmo tempo tem estrutura e acidez, é longo e equilibrado, com a mesma nota salgada. TINTOS Rouge Bandol Château Romassan 2010, Elaborado com 95% Mourvedre, de vinhas velhas (com mais de 60 anos), com pequenas quantidades de Cinsault, Grenache e Syrah. Rubi-granada entre claro e escuro. Nariz intenso e selvagem, anunciando um paladar austero, com notas de fruta ácida, madeira, muitas especiarias, nota animal de carne. A boca não corresponde ao anunciado no nariz, é macio, encorpado, com acidez moderada, 12,5% de álcool. Nota: 85 pontos Rouge Bandol Château Romassan 2011, Elaborado com 95% Mourvedre de vinhas velhas (mais de 60 anos), com pequenas quantidades de Cinsault, Grenache e Syrah. Rubi violáceo entre claro e escuro. Aroma de fruta mais madura, nota animal de caldo de carne, muitas especiarias, ervas aromáticas. Paladar com muitos taninos, ainda novo, 14% de álcool, nervoso, secante, deve envelhecer bem. Château d Esclans Sacha Lichine é figura bem conhecida no trade de vinho. Este bordalês (sua família detém o Chateau Prieuré-Lichine) foi educado nos EUA e tem como lema life show be easy to drink (a vida deveria ser fácil de beber). Seus muitos sucessos como empreendedor incluem ter elevado o rosé ao luxo, através de um de seus projetos, o Château d Esclans. A propriedade é muito antiga, remontando ao século XIII, mas a atual construção em estilo de vila toscana em plena Provence é mais recente, do século XIX. No château há uma capela e nela, acima do altar, a estátua de dois anjos sussurando (veja a foto na página Jean-François Ott. seguinte). Estes anjos inspiraram o nome e rótulo do rosé Whispering Angel (anjo sussurante), best-seller da empresa. O estilo geral é de rosés modernos, com muita fruta, madeira, alto preço, sem perder a qualidade e elegância. Veja a prova feita no Château. Whispering Angel 2013 (Interfood, R$ 163,90) Elaborado com Grenache, Cinsault, Rolle (Vermentino), Tibouren, Syrah, Carignan e Mourvèdre. Cor-de-rosa muito claro. Aroma expressivo, com notas de frutas vermelhas doces, florais, rosas, violetas. Paladar macio, longo, com algum açúcar residual, acidez boa, longo, muito bem elaborado, ótimo para aperitivo. Château d Esclans 2013 (Interfood, R$ 226,90) Elaborado com Grenache, Rolle (Vermentino), Syrah, Tibouren e Cinsault. Parte do mosto é fermentada em barris de carvalho de 600 litros e o restante em tonéis de inox. Cor rosaclaro. Aroma intenso e fresco, com notas de madeira, frutas vermelhas maduras, especiarias doces. Paladar leve e estruturado por acidez presente, muito boa, macio, sentem-se taninos. Tem estrutura, frescor e muita personalidade. Nota: 90 pontos Les Clans 2013 (Interfood, R$ 435,90) Elaborado com Grenache e Rolle (Vermentino) de vinhas velhas. De cor muito clara, quase um vinho branco, brilhante. 98

5 Anatomia de um autêntico rosé Existem dois processos básicos para elaboração de rosados. O mais comum em todo o mundo é a chamada sangria. Este método consiste em sangrar um tinto, ou separar um pouco do mosto de um tinto ainda tomando cor, para produzir de um lado rosado e de outro um tinto mais escuro e concentrado. O outro e mais nobre método é o de pressurage direct, no qual desde o vinhedo, o objetivo é fazer um rosado. Este é o método obrigatório para os rosados da Provence. Fazer um rosé desde o vinhedo é um processo completamente diferente de fazer um vinho tinto. Vejamos as diferenças: As uvas tintas para elaboração de rosados precisam ser colhidas antes. Buscam-se castas e clones que proporcionem bagos maiores (quanto maior o bago menos cor no vinho). Busca-se plantar em solos mais férteis, para que os bagos sejam maiores. As folhas são manejadas para proteger bagos do sol (o oposto dos tintos). Tiram-se a grama e ervas do vinhedo para não haver competição pela água, de modo que os cachos e bagos sejam maiores. Prefere-se produzir mais uvas por hectare (rendimentos altos) e depois pressionar menos, obtendo um menor rendimento na prensa, extraindo menos cor. Para cada 170 kg de cachos são obtidos 100 litros de vinho. Colheita e seleção são manuais, pois as uvas precisam estar muito sadias e frescas. As uvas são prensadas com 100% de engaços, pois os engaços protegem as películas, de modo a extrair menos cor. Primeiramente extrai-se um mosto flor, sem prensa. O líquido escorre naturalmente pelo peso dos próprios cachos. Este será o melhor vinho. Depois faz-se uma primeira prensagem delicada, de duas horas. Todo o vinho que sobra é descartado e vai para destilação. Coeur de Grain (coração do grão) é como chamam a parte do meio da uva, a mais nobre, que vai para os melhores vinhos e que sai no mosto flor. As fermentações são curtas, entre 8-15 dias (em tintos pode passar de um mês). Nos aromas também lembra um vinho branco, com notas de frutas brancas maduras, pera, notas de madeira, frutas vermelhas, toques florais. Paladar de ótima estrutura, bom volume de boca, largo, percebem-se os taninos, boa maciez, equilibrada com ótima acidez, longo. Excelente, impressiona. Nota: 92 pontos Detalhe da capela, com os anjos sussurando Garrus 2012 (não disponível no Brasil) Elaborado com Grenache de vinhas velhas e Rolle (Vermentino), com dez meses em barricas. Capela do Château d Esclans Este é o topo de gama da empresa, de produção muito pequena e preço alto. Cor rosa-claro com veza, acidez-maciez em perfeito equilíbrio. É menos expressivo e volumoso que o Les Clans, mas chama a atenção por notas alaranjadas. Aroma muito fino, no qual a madeira aparece bem integrada e delicada, com notas de brioches, que lembram um champagne sem as bolhas. Paladar de firme le- sua equação perfeita entre delicadeza e estrutura. Nota: 93 pontos 99