DE VARIEDADES COMPACTAS EM R s n+4n+5
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- Nina Esteves Camelo
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1 MERGULHOS LIVRES ISOMÉTRICOS DE VARIEDADES COMPACTAS EM R s n+4n+5 MARCOS GRILO ROSA Orientador: Francisco Brito Co-Orientador: Pedro Ontaneda Dissertação apresentada ao Departamento de Matemática da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Matemática.
2 i Para meu denguinho, Quei
3 Resumo Saber em que condições pode-se imergir ou mergulhar uma variedade em algum espaço euclideano foi um problema que ficou em aberto por um bom tempo. Em 1936, Whitney provou que qualquer variedade de Hausdorff e com base enumerável n-dimensional C V pode ser imersa em R 2n e mergulhada em R 2n+1. Se V não tem componentes fechadas, este resultado pode ser refinado para 2n 1 no caso das imersões e para 2n no caso dos mergulhos. Em 1954, John Nash provou, em seu artigo intitulado C 1 Isometric Imbeddings, que qualquer variedade riemanniana n-dimensional tem uma imersão isométrica C 1 em R 2n e um mergulho isométrico C 1 em R 2n+1. Dois anos depois, o mesmo Nash provou, em seu artigo intitulado The Imbedding Problem for Riemannian Manifolds que qualquer variedade compacta riemanniana C k tem um mergulho isométrico C k em R 3 n(n+1) para 3 k. Nesta dissertação apresentaremos uma versão para aplicações livres do Teorema de Nash sobre mergulhos isométricos de variedades compactas C (C a ) em R q. Esta versão encontra-se no artigo Embeddings and Dimensions in Riemannian Geometry publicado originalmente em russo por Gromov e Rokhlin. Eles provaram que toda variedade riemanniana compacta C (C a ) pode ser mergulhada livre e isometricamente em R n(n+1) 2 +4n+5. Palavras-Chave: Variedades Riemannianas, Aplicações Livres, Mergulhos Livres, Fibrados Vetoriais, Conjuntos Diferenciais. 2 +4n, ii
4 ABSTRACT To know where conditions can be immersed or be embedded a manifold in some euclideano space was a problem that was in open for a good time. In 1936, Whitney proved that any manifold of Hausdorff and with enumerable base n-dimensional C 1 V can be immersed in R 2n and embedded in R 2n+1. If V does not have closed components, this result can be fine for 2n 1 in the case of the immersions and for 2n in the case of the embeddings. In 1954, John Nash proved, in its intitled article C 1 Isometric Imbeddings, that any n-dimensional riemanniana manifold has a isometric immersion C 1 in R 2n and a isometric embedding C 1 in R 2n+1. Two years later, the same Nash proved, in its intitled article The Imbedding Problem will be Riemannian Manifolds that any compact manifold riemanniana C k has a isometric embedding C k in R 3 n(n+1) 2 +4n, for 3 k. In this dissertação we will present a version for free applications of the theorem of Nash on isometric embeddings of compact manifolds C 1 (C a ) in R q. This version originally meets in the article Embeddings and Dimensions in Riemannian Geometry published in russian for Gromov and Rokhlin. They had proved that all compact riemanniana manifold C 1 (C a ) can be embedding free and isometrically in R n(n+1) 2 +4n+5. Key Works: Riemannian Manifolds, Free Function, Free Embedding, Fibres, Diferential Sets. iii
5 Agradecimentos Agradeço a Deus, por tudo. Ao professor Francisco Brito, pela paciência, prestatividade, orientação precisa e segura. Muito obrigado, mesmo. Ao professor Pedro Ontaneda pela idéia inicial, assistência e muito mais. A Tânia, sempre prestativa. Ao Professor Carloman Carlos Borges, pelo apoio. Aos professores Haroldo Benatti e Maria Hildete, grandes incentivadores. Ao grande camarada Aldi, com sua seriedade inconfundível. A minha família, meu pai, minha mãe, meus irmãos e o grande Dick. A Dona Noêmia e Seu João. A todos aqueles que não lembro o nome agora. Em especial, a minha Jaqueline, por estar ao meu lado esse tempo todo. iv
6 Conteúdo 1 MERGULHOS LIVRES PRELIMINARES EXISTÊNCIA DE SEÇÕES APLICAÇÕES LIVRES CONJUNTOS DIFERENCIAIS CONJUNTOS ALGÉBRICOS EXISTÊNCIA DE SOLUÇÕES DE CONJUNTOS DIFER- ENCIAIS MERGULHOS LIVRES ISOMÉTRICOS MERGULHOS ISOMÉTRICOS EM DIMENSÕES SU- FICIENTEMENTE ALTAS MERGULHOS LIVRES LOCAIS ISOMÉTRICOS EM R s n+n MERGULHOS LIVRES ISOMÉTRICOS EM R s n+4n+5 48 REFERÊNCIAS 52 v
7 PREFÁCIO Saber em que condições pode-se imergir ou mergulhar uma variedade em algum espaço euclideano foi um problema que ficou em aberto por um bom tempo. Em 1936, Whitney provou que qualquer variedade de Hausdorff e com base enumerável n-dimensional C V pode ser imersa em R 2n e mergulhada em R 2n+1. Se V não tem componentes fechadas, este resultado pode ser refinado para 2n 1 no caso das imersões e para 2n no caso dos mergulhos. Além disso, se n não é uma potência de 2, qualquer variedade (de Hausdorff e com base enumerável) n-dimensional C pode ser mergulhada em R 2n 1. Em 1954, John Nash provou, em seu artigo intitulado C 1 Isometric Imbeddings, que qualquer variedade riemanniana n-dimensional tem uma imersão isométrica C 1 em R 2n e um mergulho isométrico C 1 em R 2n+1. Dois anos depois, o mesmo Nash provou, em seu artigo intitulado The Imbedding Problem for Riemannian Manifolds que qualquer variedade compacta riemanniana C k tem um mergulho isométrico C k em R 3 n(n+1) 2 +4n, para 3 k. Nesta dissertação apresentaremos uma versão para aplicações livres do Teorema de Nash sobre mergulhos isométricos de variedades compactas C (C a ) em R q. Esta versão encontra-se no artigo Embeddings and Dimensions in Riemannian Geometry publicado originalmente em russo por Gromov e Rokhlin. Eles provaram que toda variedade riemanniana compacta C (C a ) pode ser mergulhada livre e isometricamente em R n(n+1) 2 +4n+5. Nos capítulos 1 e 2, as variedades não são necessariamente riemannianas. Na seção 1.1, apresentamos algumas definições básicas e fixamos notações e terminologias. Fibrado vetoriais e seções estão presentes em toda a dissertação. Resultados sobre existência de seções aparecem na seção 1.2. Estes resultados serão utilizados, posteriormente, para demonstrar a existência de soluções unit arias de conjuntos algébricos. Na seção 1.3, apresentamos a definição de aplicação livre e provamos a existência de mergulhos livres (não necessariamente isométricos) de variedades n-dimensionais em R n(n+1) 2. No capítulo 2 lidamos com conjuntos diferenciais. Na seção 2.1 a idéia fundamental é construir subfibrados a partir de conjuntos algébricos. Com isso, podemos relacionar as soluções de um conjunto algébrico com seções do sub- 1
8 fibrado associado (ao conjunto algébrico). Logo, a existência de soluções de conjuntos algébricos remete a existência de seções do subfibrado associado. Os resultados provados na seção 2.1 são consequências dos resultados da seção 1.2. Na seção 2.2 estabelecemos proposições que garantem a existência e a unicidade de soluções de conjuntos diferenciais. Utilizamos um importante resultado em Equações Diferenciais Parciais: o Teorema de Cauchy-Kowalewsky. No capítulo 3 as variedades são admitidas riemannianas. Na seção 3.1, mostramos que qualquer variedade compacta pode ser mergulhada isometricamente em R q, para q suficientemente grande. Destacamos a utilização do Teorema da Função Implícita de Nash. Na seção 3.2, estabelecemos a dimensão mínima para que haja mergulhos locais livres locais isométricos de variedades riemannianas compactas em espaços euclideanos. Destacamos a utilização do Lema de Janet juntamente com os resultados da seção 2.2 que garantem existem de soluções de conjuntos diferenciais. Na última seção, a 3.3, provamos o principal resultado desta dissertação. Recife, Janeiro de
9 1 MERGULHOS LIVRES Neste capítulo fixaremos notações e terminologias assim como, apresentaremos definições e alguns resultados que serão utilizados na demonstração do teorema para mergulhos livres. 1.1 PRELIMINARES Assumiremos conhecido o conceito de função C (ou C -função) f : R m R n. Uma função C f : R m R é analítica em a = (a 1,..., a m ) se puder ser definida exatamente por sua série de Taylor em alguma vizinhança U a contendo a, isto é, f(x) = i 1,...,i m=0 1 i i m f(a 1,..., a m ) i 1!... i m! x i (x 1 1 a 1 ) i 1... (x m a m ) i m 1... x im m onde x = (x 1,..., x m ) U a. Uma função C f : R m R n, f(x) = (f 1 (x),..., f n (x)) é analítica em a = (a 1,..., a m ) se cada função coordenada f i é analítica. Usaremos a notação função C a (ou C a -função) para referirmos a funções analíticas. Definição Um conjunto V é uma variedade n-dimensional se for um espaço topológico de Hausdorff com uma base enumerável e que satisfaz a seguinte condição: i) Para todo p V, existem uma vizinhança U de p e um homeomorfismo x : U W, onde W é um aberto de R n. Definição Uma estrutura diferenciável C (C a ) sobre uma variedade n-dimensional V é uma família {(x α, U α )} α A de aplicações C (C a ) x α : U α V W α R n, com U α aberto de V e W α aberto de R n, tal que: i) α A U α = V ; ii) Para todo α, β tal que U α U β, x α x 1 β C (C a ); : x 1 β (U α U β ) W α é iii) A família {(x α, U α )} α A é maximal relativamente às condições i) e ii). 3
10 Definição Uma variedade C (C a ) (ou C (C a )-variedade) é uma variedade com estrutura diferenciável C (C a ). Se p U α então o par (x α, U α ) é uma parametrização de p e chamaremos x α (p) = (x 1,..., x n ) de coordenadas do ponto p. Sejam V 1 e V 2 variedades C (C a ), m e n-dimensionais respectivamente. Uma aplicação f : V 1 V 2 é C (C a ) se para cada p V 1, dada uma parametrização (y α, W α ) de f(p), existe uma parametrização (x α, U α ) de p tal que y α f x 1 α é C (C a ) em x 1 α (p). Definição Sejam V variedade C n-dimensional e C (p) o conjunto de funções C definidas em algum aberto que contém p V. Definimos o espaço T p V tangente a V no ponto p V, o conjunto constituído de todas as aplicações X p : C (p) R que satisfazem para quaisquer α, β R, f, g C (p) as seguintes condições: i) X p (αf + βg) = α(x p f) + β(x p g); ii) X p (fg) = (X p f)g(p) + f(p)(x p g); iii) (X p + Y p )f = X p f + Y p f; iv) (αx p )f = α(x p f). Um vetor tangente a V em p é qualquer função X p T p V. O espaço tangente T p V possui uma estrutura de espaço vetorial n-dimensional e dada uma parametrização (x, U), com x(p) = (x 1 (p),..., x n (p)), p U, o conjunto { x 1,..., x n } é uma base para T p V que independe da parametrização (x, U). Definição Sejam V 1 e V 2 variedades C (C a ) e f : V 1 V 2 uma aplicação C (C a ). Para cada p V 1 e v T p V 1, escolha uma curva C (C a ) α : ( ɛ, ɛ) V 1, com α(0) = p, α (0) = v. A diferencial de f no ponto p é a aplicação d p f : T p V 1 T f(p) V 2 definida por d p f(v) = β (0), onde β = f α. A aplicação d p f é linear e não depende da escolha de α. Uma aplicação C (C a ) f : V 1 V 2 é uma imersão C (C a ) se d p f : T p V 1 T f(p) V 2 é injetiva para todo p V 1. Se a imersão C (C a ) f é um homeomorfismo então f é um mergulho C (C a ) e seu conjunto imagem f(v 1 ) é denominado subvariedade C (C a ) de V 2. 4
11 Uma métrica riemanniana C (C a ) g sobre uma variedade C (C a ) V é uma forma diferencial quadrática positiva C (C a ) definida sobre V, isto é, g é uma função C (C a ) que associa a cada ponto da variedade V uma forma quadrática definida em T p V. Usaremos, quando necessário, a notação g p para indicar a forma quadrática definida em T p V. Lembramos que dada uma forma quadrática Q podemos definir uma forma bilinear simétrica. Dado p V, sejam (x, U) uma parametrização de p, com coordenadas x(p) = (x 1,..., x n ) e { x 1,..., x n } uma base para T p V. As funções g ij (x 1,..., x n ) = x i (p), x j (p), 1 i, j n são chamadas de expressão da métrica riemanniana na parametrização (x, U). Uma variedade riemanniana C (C a ) é uma variedade C (C a ) com uma métrica riemanniana. Seja f : V 1 V 2, um mergulho C (C a ), com V 1, V 2 variedades C (C a ). Sendo g métrica em V 2, denotaremos por g(f) a métrica em V 1 induzida por f definida por: g(f)(v) = g(d p f(v)) para quaisquer v T p V 1, p V 1. Suponhamos que V 1 e V 2 possuam métricas g 1 e g 2 respectivamente. Um difeomorfismo f : V 1 V 2 é uma isometria se: g 1 (v) = g 2 (d p f(v)) para quaisquer v T p V 1 e p V 1. Uma família de abertos {U α } α A tal que α A U α = V é denominada cobertura de V. Uma cobertura {U α } α A é localmente finita se a interseção de qualquer subfamília infinita é vazia. O suporte de uma função f : V R é o fecho do conjunto de pontos p V para os quais f(p) 0, isto é, supp(f) = {p V ; f(p) 0}. Definição Uma partição da unidade C é uma coleção de funções C {λ i : V R} i N definidas sobre uma variedade C V tal que: i) λ i (p) 0, para todo p V ; 5
12 ii) {supp(λ i )} i N forma uma cobertura localmente finita de V ; iii) λ i (p) = 1, para todo p V. i=1 Lembramos que dada uma cobertura aberta {U α } de uma variedade C (C a ) existe uma partição de unidade da variedade subordinada a {U α }. Além disso, em toda variedade C (C a ) é possível definir uma métrica riemanniana. Definição Sejam V, B variedades C e π : V B uma aplicação C. A tripla (V, B, π) é um fibrado vetorial C q-dimensional se: i) Para todo b B, π 1 (b) é um espaço vetorial real q-dimensional; ii) Para todo b B, existem uma vizinhança U de b e um difeomorfismo C ϕ : π 1 (U) U R q tal que a restrição p ϕ π 1 (b) é um isomorfismo linear, onde p é a projeção canônica de U R q sobre R q. Chamaremos V de variedade total, B de base do fibrado, π de projeção e π 1 (b) de fibra sobre o ponto b. Evidentemente que podemos definir fibrado vetorial C a. Neste caso, a variedade total V e a base do fibrado B são variedades de classe C a, o mesmo valendo para a aplicação projeção π e o difeomorfismo ϕ. Um fibrado vetorial C (C a ) q-dimensional (V, B, π) é euclideano se existe uma função, : V R tal que, é um produto interno sobre cada fibra π 1 (b), b B. Exemplo Construção do fibrado trivial. Seja B uma variedade C (C a ) n-dimensional. Dado b B, o produto {b} R q tem uma estrutura de espaço vetorial. De fato, basta definirmos as operações: i) (b, v) (b, w) = (b, v + w); ii) λ (b, v) = (b, λ v). 6
13 Verifiquemos que (B R q, B, π) é de fato um fibrado vetorial C (C a ) q - dimensional, onde π é a projeção do produto B R q sobre o primeiro fator. Notemos que, para todo b B, π 1 (b) = {b} R q e como já foi dito anteriormente, ({b} R q,, ) tem estrutura de espaço vetorial q-dimensional. Além disso, para todo b B, podemos tomar uma vizinhança U de b e a aplicação identidade i : π 1 (U) U R q, já que π 1 (U) = U R q. Sendo p : U R q R q a projeção usual, p i π 1 (b): π 1 (b) = {b} R q R q é um isomorfismo linear, pois p i(b, v) = v. O fibrado (B R q, B, π) é chamado de fibrado trivial. Exemplo Construção do fibrado tangente. Sejam V uma variedade C (C a ) n-dimensional e T p V o espaço tangente no ponto p V. Seja T (V ) = {(p, v); p V, v T p V } que possui uma estrutura diferenciável 2n-dimensional. De fato, dado um ponto (p, v) T (V ), podemos tomar como coordenadas deste ponto (x 1,..., x n, v 1,..., v n ), onde (x 1,..., x n ) são as coordenadas de p V e (v 1,..., v n ) as coordenadas de v T p (V ) na base { x 1,..., x n }. Seja π : T (V ) V a projeção canônica, π(p, v) = p. A tripla (T (V ), V, π) é um fibrado vetorial C (C a ) n-dimensional pois dado p V, π 1 (p) = T p V é um espaço vetorial n-dimensional. Além disso, sejam p V e U vizinhança de p. Podemos definir a aplicação identidade de π 1 (U) em U R n desde que identifiquemos T p V R n. Além disso, p ϕ π 1 (p) é um isomorfismo linear. O fibrado (T (V ), V, π) é chamado de fibrado tangente sobre V. Exemplo Outro exemplo de fibrado. Sejam V variedade n-dimensional e Q p (V ) o conjunto das formas quadráticas definidas sobre T p V. O conjunto Q p (V ) tem estrutura de espaço vetorial s n - dimensional, onde s n = n(n+1). A união Q(V ) de todos os espaços Q 2 p (V ) tem estrutura natural C (C a ). Podemos definir o fibrado vetorial s n -dimensional C (C a ) (Q(V ), V, π), onde π projeta uma forma quadrática em Q p (V ) no ponto p V. 7
14 Definição Seja (V, B, π) fibrado vetorial C (C a ) q-dimensional. Uma seção deste fibrado é uma aplicação s : B V contínua tal que s π(v) = v, para todo v V. Isto equivale a afirmar que s(b) π 1 (b), para todo b B. Uma seção s : B V é de classe C (C a ) se s for uma aplicação C (C a ). Podemos também, definir seções parciais, que são seções definidas sobre subvariedades de B. Um fato interessante é a existência de uma correspondência injetiva entre seções de um fibrado trivial (B R q, B, π) e as aplicações contínuas f : B R q. De fato, sendo C 0 (B, R q ) o conjunto das aplicações contínuas de B R q e S(B, B R q ) o conjunto das seções do fibrado trivial (B R q, B, π), definimos: s : C 0 (B, R q ) S(B, B R q ) f s(f) onde s(f)(b) = (b, f(b)). É claro que s(f) é uma seção pois suas funções coordenadas são contínuas. Diremos que f e s(f) são associadas entre si. É claro que se f é de classe C (C a ) então s(f) também é de classe C (C a ) e a recíproca também é verdadeira. Exemplo Exemplo de seções. No exemplo 1.1.3, pode-se perceber que se V é uma variedade riemanniana, sua métrica g é uma seção de (Q(V ), V, π). De fato, basta lembrar que g associa a cada ponto p V uma forma quadrática em T p V. O mesmo vale para (df) 2 : V Q(V ), onde df(p) = d p f e f : V R. Definição Seja (V, B, π) um fibrado vetorial C (C a ) q-dimensional e suponha que toda fibra π 1 (b) contém uma subvariedade F b k-dimensional. O conjunto {F b } b B é um subfibrado k-dimensional do fibrado (V, B, π) se em todo ponto b B, existem uma vizinhança U b de b e um difeomorfismo C (C a ) ϕ : π 1 (U b ) U b π 1 (b) tais que para qualquer ponto b U b : i) A fibra π 1 (b ) π 1 (U b ) é aplicada por ϕ sobre b π 1 (b); ii) A subvariedade F b é aplicada por ϕ sobre b F b. 8
15 Cada subvariedade F b é chamada de fibra sobre o subfibrado {F b } b B. A união de todas as fibras sobre o subfibrado b B F b é chamada de variedade total do subfibrado. Um subfibrado é vetorial se cada fibra F b é um subespaço vetorial de π 1 (b). Exemplo Exemplo de subfibrado. Sejam (B R q, B, π) fibrado trivial C (C a ) e F subvariedade k-dimensional C (C a ) de R q. O conjunto {F b = {b} F } b B é um subfibrado k-dimensional C (C a ). Podemos definir seção (seção parcial) de maneira análoga para subfibrados desde que a imagem da seção (seção parcial) esteja contida na variedade total do subfibrado, isto é, s : B b B F b é seção (seção parcial) se for contínua e se s(b) F b π 1 (b) (s B B ). Sendo E um espaço vetorial real, um subconjunto A E é um subespaço afim se para quaisquer vetores x, y A, o conjunto R = {(1 t)x+ty; t R} está contido em A. Lembramos que todo subespaço afim de E é um subespaço vetorial transladado. Definição Seja (V, B, π) um fibrado vetorial C (C α ). Um subfibrado {F b } b B é afim se para todo b B, a fibra F b é um subespaço afim do espaço vetorial π 1 (b). Se o fibrado vetorial (V, B, π) é euclideano, então todo subfibrado afim {F b } b B tem uma seção mínima s 0, no sentido que dada uma seção s, s 0 (b) s(b), para todo b B, onde v 2 = v, v. De fato, F b é um subespaço do espaço vetorial real q-dimensional π 1 (b). Logo, podemos escrevê-lo na forma F b = W b + k, onde W b é um subespaço vetorial r-dimensional, r q, e k é um vetor fixo de F b. Seja β = {w 1,..., w r } uma base ortogonal de W b. Definiremos s 0 (b) pela equação: s 0 (b) = k r i=1 k, w i w i, w i w i 9
16 Este é o ponto mais próximo do vetor nulo, pois, dados c 1,..., c r R temos que r r k c i w i 2 k, w i r = k w i, w i w i (c i k, w i w i, w i )w i 2 = = k r i=1 i=1 k, w i w i w i, w i w i 2 + i=1 r i=1 i=1 (c i k, w i w i, w i )w i 2 k Na segunda igualdade usamos o fato de que k a cada w i. A seção s 0 é de classe C (C a ). r i=1 r i=1 k, w i w i, w i w i 2 k, w i w i w i, w i w i é ortogonal Definição Seja (V, B, π) um fibrado vetorial euclideano C (C a ). Um subfibrado {E b } b B é esférico se para todo b B, cada fibra E b é uma esfera contida em algum subespaço afim do espaço euclideano π 1 (b). Seja {F b } b B um subfibrado afim do fibrado euclideano (V, B, π). Suponha que sua seção mínima s 0 : B b B F b satisfaça a desigualdade s 0 (b), s 0 (b) < 1, para todo b B. Sejam S b a esfera unitária de π 1 (b) e E b = F b S b. Cada E b é uma esfera unitária contida no subespaço afim F b. O conjunto de todas as esferas E b constitui o subfibrado esférico {E b } b B. Seja C r (V 1, V 2 ) o conjunto das funções C r f : V 1 V 2, com V 1 e V 2 variedades C r, r = 1,...,, incluindo também o caso analítico. Sejam, φ = {φ i, U i } i A uma família de cartas sobre V 1 localmente finita; K = {K i } i A família de subconjuntos compactos de V 1, com K i U i ; ψ = {ψ i, U i } i A família de cartas sobre V 2 ; ɛ = {ɛ i } i A família de números positivos. Sendo f C r (V 1, V 2 ), com f(k i ) V i, vamos definir N(f; φ, ψ, K, ɛ) = {g C r (V 1, V 2 ); g(k i ) V i, D k (ψ i fφ 1 i )(x) D k (ψ i gφ 1 i )(x) < ɛ i, x φ i (K i ), k = 0,..., r} onde D k representa a derivada de ordem k. 10
17 Definição Chamaremos N(f; φ, ψ, K, ɛ) de vizinhança C r forte de f. A topologia gerada por vizinhanças C r fortes é chamada de topologia C r forte. De maneira análoga, podemos definir topologia C r forte para o conjunto das métricas definidas em uma variedade V C r. Definição Sejam B W subvariedade de uma variedade C (C a ) W e (V, B, π) fibrado vetorial C (C a ). Suponhamos que f : V W é um mergulho C (C a ) que satisfaz as seguintes condições: i) y f(v ) B, s(y) = 0 π 1 (y), onde s : B V é uma seção; ii) f(v ) é uma vizinhança aberta de B em W. Diremos então que o par (f, (V, B, π)) é uma vizinhança tubular de B. Por abuso de linguagem, diremos apenas que f(v ) é uma vizinhança tubular de B. Os seguintes teoremas topológicos serão utilizados: Teorema (Teorema de Aproximação de Whitney) Sejam V 1, V 2, variedades n e k-dimensionais, respectivamente, k 2n. Toda aplicação C f : V 1 V 2 pode ser C aproximada por imersões C. Teorema (Teorema do Mergulho de Whitney) Toda variedade n- dimensional C pode ser C -imersa em R q, q 2n e C -mergulhada em R q, q 2n + 1. Este teorema pode ser refinado para 2n 1 no caso das imersões e para 2n no caso dos mergulhos. Além disso, se n não é uma potência de 2, qualquer variedade n-dimensional C pode ser mergulhada em R 2n 1. Teorema Toda variedade n-dimensional C sem componentes fechadas pode ser C -mergulhada em R q, q 2n 1. 11
18 1.2 EXISTÊNCIA DE SEÇÕES Nesta seção apresentaremos resultados importantes sobre existência de seções. Tais resultados serão utilizados para garantir a existência de soluções de conjuntos algébricos. Proposição Toda seção de um subfibrado de um fibrado vetorial C com base compacta pode ser C 0 -aproximada por seções C deste subfibrado. Proposição Toda seção C de um subfibrado de um fibrado vetorial C a com base compacta pode ser C a -aproximada por seções C a deste subfibrado. As demonstrações destas duas proposições podem ser encontradas em Norman Steenrod, The Topology of Fibre Bundles, página 25, [7]. Agora apresentaremos mais duas proposições sobre a existência de seções. Proposição Seja (V, B, π) um fibrado vetorial C (C a ). Para qualquer subfibrado {F b } b B de (V, B, π) e para quaisquer pontos b 0 B e s 0 F b0, existe uma vizinhança U b0 de b 0 e uma seção parcial C (C a ) s : U b0 V do subfibrado {F b } b B tal que s(b 0 ) = s 0. Demonstração. Da definição de subfibrado, dado um ponto b 0 B, existem uma vizinhança U b0 de b 0 e difeomorfismo C (C a ) ϕ : π 1 (U b0 ) U π 1 (b 0 ). Defina s : U b0 f Ub0 {0} ϕ 1 π 1 (U b0 ) V b f(b) = (b, 0) s(b) = ϕ 1 (b, 0) Observe que s é uma seção parcial C (C a ), pois s é contínua e pela definição 1.1.9, s(b) F b. cqd Proposição Seja (V, B, π) um fibrado vetorial C (C a ), com B variedade compacta n-dimensional. Então todo subfibrado k-dimensional {F b } b B, k n, tem uma seção C (C a ). Se B não tem componentes fechadas então a proposição é verdadeira para k = n 1. 12
19 Demonstração. Pela proposição 1.2.1, basta construirmos uma seção C 0. Sejam {F b } b B subfibrado de (V, B, π) e seja {V j } uma cobertura de B. Para cada ponto x B, escolha uma vizinhança U x de x tal que U x esteja contido em alguma vizinhança V j. Por ser compacto, podemos escolher uma subcobertura finita para B, digamos {U 1,..., U m }. Seja A 0 = {x 0 }, onde x 0 é um ponto arbitrário de B e A n = U n A n 1. Vamos definir s 0 : A 0 V, s 0 (x 0 ) = 0 π 1 (x 0 ). Suponhamos definidas s i seções, i < n tal que s i Ai 1 = s i 1. Vamos escolher uma vizinhança V k que contenha U n. Seja C n = U n A n 1. Observe que C n é fechado em U n pois U n é fechado em B, que é compacto. Defina h : C n V, h(x) = π(s n 1 (x)). Vamos estender h a uma aplicação h 1 : U n V. Seja h 2 uma aplicação contínua tal que, para x U n, π(h 2 (x)) = x. Então π h 2 é contínua, e h 2 Cn = s n 1 Cn. Se definirmos s n (x) = s n 1 (x) para x A n 1 e s n (x) = h 2 (x) para todo x A n A n 1, segue que s n é contínua sobre A n. Defina g(x) = s n (x) para todo x A n A n 1. Como B = inta n n segue que g é contínua. cqd Seja {F b } b B subfibrado de um fibrado trivial (B R q, B, π). Para cada x F b, sejam p x a projeção ortogonal do espaço tangente T x (B R q ) sobre o espaço tangente T x (F b ) T x ({b} R q ) e p b a projeção usual de B R q sobre a fibra {b} R q. Seja s : B B R q uma seção parcial C de um subfibrado {F b } b B, onde B B, é aberto. Sendo d b s : T b B T s(b) (B R q ) d s(b) p b : T s(b) (B R q ) T pb s(b)({b} R q ) p s(b) : T s(b) (B R q ) T f(b) (F b ) onde d b s e d s(b) p b são, respectivamente, a diferencial de s no ponto b e a diferencial de p b no ponto s(b), podemos definir a aplicação linear R b = p s(b) d s(b) p b d b s 13
20 Definição A seção s é regular se para todo b B a aplicação linear R b é injetiva. Exemplo Exemplo de seção regular. Seja {F b = {b} N} b B subfibrado de (B R q, B, π), onde N é uma subvariedade de R q. Se f : B R q é uma imersão C (C a ), então a seção associada a f, s(f) = (b, f(b)), do fibrado trivial (B R q, B, π) é uma seção regular C (C a ). Uma seção C s de {F b } b B é regular se, e somente se, a aplicação associada é um mergulho C. Proposição Seja (B R q, B, π) um fibrado trivial C (C a ) onde B é uma variedade C (C a ) n-dimensional. Seja {F b } b B subfibrado k-dimensional, k n. Então para cada ponto b B, existe uma vizinhança B de b e uma seção parcial regular C (C a ) s : B B R q. Demonstração. Decorre do comentário anterior e do Teorema do Mergulho de Whitney (ver teorema 1.1.2). Para o próximo teorema sobre seções regulares, precisamos do Teorema da Transversalidade de Thom. Antes apresentamos a seguinte definição. Definição Sejam V 1, V 2 variedades C (C a ) e seja N subvariedade de V 2. Diremos que uma aplicação C (C a ) f : V 1 V 2 é transversal a N se para todo p V 1 : i) ou f(p) / N ii) ou d p f(t p V 1 ) + T f(p) N = T f(p) V 2 se f(p) N. A condição ii) é chamada condição da transversalidade. A seguir, enunciamos o teorema clássico de Thom: Teorema (Teorema da Transversalidade de Thom) Seja f : V 1 V 2 uma aplicação diferenciável e seja N uma subvariedade de V 2. Então e- xiste arbitrariamente próxima a f uma aplicação g : V 1 V 2 transversal a N. Além disso, se a condição da transversalidade de f é satisfeita para todos os pontos de um conjunto fechado F V 1, então podemos escolher g de tal maneira que f F = g F. 14
21 A seguinte versão do Teorema da Transversalidade de Thom para seções também é válida. Teorema (Teorema da Transversalidade de Thom para seções) Sejam (V, B, π) um fibrado vetorial C (C a ) e s : B V uma seção deste fibrado. Seja A uma subvariedade de V. Então existe arbitrariamente próxima de s uma seção t : B V transversal a A. Além disso, se a condição da transversalidade de f é satisfeita para todos os pontos de um conjunto fechado F B, então podemos escolher t de tal maneira que s F = t F. As demonstrações destes dois teoremas podem ser encontradas em [2]. Proposição Sejam (B R q, B, π) fibrado trivial C com base compacta C (C a ) n-dimensional. Então toda seção C de um subfibrado C (C a ) k-dimensional, k 2n, pode ser C aproximada por seções regulares C (C a ) deste subfibrado. Demonstração. A versão C a desta proposição pode ser reduzida a versão C pela proposição Se o subfibrado é do tipo {F b = {b} F } b B, onde F é uma subvariedade de R q, então a proposição segue do Teorema de Aproximação de Whitney (ver teorema 1.1.1). De fato, seja s : B b B F b seção C de {{b} F } b B. Pelo Exemplo 1.1.5, existe uma função C f : B R q tal que s(b) = (b, f(b)). Pelo Teorema de Aproximação de Whitney, f pode ser aproximada por imersões C. Pelo Exemplo 1.2.1, concluímos que s pode ser aproximada por seções regulares C. O caso geral é um pouco mais complicado e decorre do Teorema da Transversalidade de Thom. 1.3 APLICAÇÕES LIVRES Nesta seção demonstraremos uma versão do Teorema de Nash para aplicações livres. Para provarmos este teorema, precisaremos de algumas definições: Definição Seja f : V R q uma aplicação C 2, com V variedade C 2 n- dimensional. Dado p V, sejam (x, U) sua parametrização com coordenadas 15
22 x(p) = (x 1,..., x n ). O plano osculador de V no ponto p V pela aplicação f é o espaço vetorial determinado pelo conjunto de vetores: { f(p), 2 f(p) } 1 i j n x i x i x j Usaremos a notação T 2 p (f) para representar o plano osculador de V no ponto p V pela aplicação f. O plano osculador T 2 p (f) não depende da escolha de coordenadas. Definição Mantendo as mesmas condições da definição 1.3.1, a aplicação f é livre se a dimensão de T 2 p (f) é igual a s n + n. Em outras palavras, a aplicação f é livre se o conjunto de vetores que determinam T 2 p (f) é LI. A primeira conseqüência direta da definição é que toda aplicação livre é uma imersão diferenciável. De fato, sendo f livre e como já foi dito, o conjunto de vetores que determinam Tp 2 (f) é LI. Em particular, { f(p) x 1,..., f(p) x n } é LI, o que é suficiente para f ser uma imersão diferenciável. A segunda conseqüência direta da definição é que nenhuma variedade n- dimensional pode ser aplicada livremente em R sn+n 1. Basta notar que o número máximo de vetores de um conjunto LI em R s n+n 1 é s n + n 1. Exemplo Construção de um mergulho livre de R n em R sn+n. Seja, ϕ : R n R n+sn (x 1,..., x n ) ϕ(x 1,..., x n ) = (x 1,..., x n ; x 1 x 1,..., x i x j,..., x n x n ), i j A aplicação ϕ é livre pois, sendo (x, U), com x(p) = (x 1,..., x n ), coordenadas de p, então ϕ(p) x i = (0,..., 1,..., 0; 0,..., 0, x 1, 0,..., 0, x i 1 0,..., 0, 2x i, x i+1,..., x n, 0,..., 0) ϕ(p) x 1 x 1 = (0,..., 0; 2, 0,..., 0, 0,..., 0) 16
23 ϕ(p) x 1 x n = (0,..., 0; 0,..., 0, 1, 0,..., 0) 2 ϕ(p) x 2 x 2 = (0,..., 0; 0, 0,..., 0, 2, 0,..., 0, 0,..., 0) ϕ(p) x 2 x n = (0,..., 0; 0, 0,..., 0, 0, 0,..., 1, 0,..., 0, 0) ϕ(p) x n x n = (0,..., 0; 0,..., 0, 2) constituem um conjunto LI, isto é, dim T 2 p (ϕ) = n + s n, onde dim indica dimensão. Logo ϕ é um homeomorfismo e portanto, um mergulho livre. Para a demonstrção do teorema sobre mergulhos livres, precisamos de duas observações. Observação 1. Sejam f : V R q uma aplicação livre e N subvariedade de V, dim N = r n. Então, f N ainda é uma aplicação livre. Para ver isto, sejam p N, (x, U), com x(p) = (x 1,..., x n ), uma parametrização de p U, onde U é aberto em V, tal que N U = {q; x i (q) = 0, i = r + 1,..., n}. Em particular, ( x, N U), com x(p) = (x 1,..., x r ) é uma parametrização de p em N. Como f é livre, temos que, f(p),..., f(p) x 1 x n 2 f(p),..., 2 f(p),..., 2 f(p), 1 i j n x 1 x 1 x i x j x n x n constituem um conjunto LI. Em particular, os vetores f(p),..., f(p) x 1 x r 2 f(p),..., 2 f(p),..., 2 f(p), 1 i j n x 1 x 1 x i x j x r x r 17
24 também constituem um conjunto LI. Portanto, f N também é uma aplicação livre. Observação 2. Uma aplicação ϕ suficientemente perto de uma aplicação livre f, na topologia forte C 2, é ainda livre. Desta observação, segue que uma variedade C (C a ) que pode ser aplicada livremente em R q pode ser C (C a ) mergulhada livremente em R q. De fato, pelo Teorema de Aproximação de Whitney (ver teorema 1.1.1), para q 2n + 1, qualquer aplicação contínua f : V 1 V 2, pode ser aproximada por mergulhos, onde V 1 e V 2 são variedades C (C a ) n e q-dimensionais respectivamente. Como uma aplicação livre f é contínua, então f pode ser C 2 -aproximada por mergulhos. Pela observação 2, concluímos que uma variedade C (C a ) que pode ser C (C a ) aplicada livremente em R q, pode ser C (C a ) mergulhada em R q. Teorema Toda variedade C (C a ) n-dimensional pode ser C (C a ) mergulhada livremente em R s n+2n. Demonstração. Pelos comentários feitos na observação 2, basta provarmos que toda variedade C (C a ) V n-dimensional pode ser C (C a ) aplicada livremente em R n+sn. Para isto, provaremos dois fatos: 1. V pode ser C (C a ) aplicada livremente em R q, para algum q. 2. A existência de uma aplicação livre C (C a ) f : V R q, q > s n + 2n implica a existência de uma aplicação livre C (C a ) de V em R q 1. Parte 1. Pelo Teorema de Whitney, V pode ser vista como uma subvariedade de um espaço euclideano W. Pelo exemplo 1.3.1, podemos construir uma aplicação C (C a ) livre f : W R q, para q suficientemente grande. Pela observação 1, f V é uma aplicação livre C (C a ). Parte 2. Seja f : V R q uma C (C a )-aplicação livre, q > s n + 2n. Sejam: Σ p : esfera unitária do espaço osculador T 2 p (f); Σ : subvariedade de V R q que consiste de todas as esferas {p} Σ p, p V ; π(σ): imagem de Σ pela projeção canônica π : V R q R q ; 18
25 Note que π(σ) é um subconjunto de S q 1 que consiste de todos os vetores unitários pertencentes a Tp 2 f. Dado x (S q 1 π(σ)) R q, seja R x o subespaço gerado por x e (R x ) o subespaço ortogonal a R x. Seja π x : R q (R x ), onde π x é a projeção de R q sobre (R x ). Afirmamos que π x f é uma aplicação livre, para todo x S q 1 π(σ), isto é, mostraremos que { (π x f(p)), 2 (π x f(p)) }, 1 i j n x i x i x j é um conjunto LI. De fato, usando a Regra da Cadeia e usando o fato de π x ser linear, temos que (π x f(p)) x i = π x(f(p)) x i f(p) x i = π x ( f(p) x i ); Logo, o conjunto 2 (π x f(p)) x i x j = x i ( π x f(p) x j ) = x i (π x f(p) x j ) = = π x(f(p)) x i 2 f(p) x i x j = π x 2 f(p) x i x j { (π x f(p)), 2 (π x f(p)) }, 1 i j n x i x i x j gera o espaço π x (T 2 p f). Sendo assim, { π x f(p) x i, 2 π x f(p) x i x j }, 1 i j n é LI se, e somente se dim (π x (T 2 p f)) = s n + n se, e somente se π x T 2 p f: T 2 p f π x (T 2 p f) é injetiva se, e somente se {0} = Ker(π x T 2 p f) = T 2 p f Ker(π x ) se, e somente se 19
26 x T 2 p f. onde, Ker(π x ) = {v R q ; π x (v) = 0}. Note que Ker(π x ) = R x e se x T 2 p f então T 2 p f Ker(π x ) = R x, já que R x é o subespaço gerado por x. Por fim, x Tp 2 f se, e somente se x π(σ). É claro que se x Tp 2 f então x π(σ). A verificação da recíproca é percebida pelo fato de que x S q 1. Logo, se x π(σ), x não pode pertencer a Tp 2 f, pois x é unitário e π(σ) consiste de todos os vetores unitários pertencentes a Tp 2 f. Portanto, π x f é uma aplicação livre. Por fim, notemos que S q 1 π(σ) é diferente do vazio. De fato, π(σ) é a imagem de uma variedade C (C a ) Σ de dimensão s n + 2n 1 < q 1 por uma aplicação C (C a ). Logo π(σ) tem medida nula em S q 1 e portanto S q 1 π(σ). cqd 20
27 2 CONJUNTOS DIFERENCIAIS Neste capítulo as variedades não possuem necessariamente métrica riemanniana. 2.1 CONJUNTOS ALGÉBRICOS Sejam V variedade n-dimensional C (C a ) e c i : V R q, b i : V R, i = 1,..., m aplicações C (C a ). Definição Um sistema algébrico Σ de equações algébricas lineares q- dimensional de classe C (C a ) sobre uma variedade C (C a ) V é um sistema de equações da forma c i (v), f(v) = b i (v) i = 1,..., m, para todo v V, onde f : V R q é uma aplicação C (C a ) que desempenha o papel de incógnita. Usaremos a notação c i, f = b i, i = 1,..., m para indicar que em cada ponto v V, tem-se c i (v), f(v) = b i (v) i = 1,..., m, Denotemos este sistema por Σ(v). Assim, podemos pensar em Σ como sendo uma família, parametrizada por V, de m equações lineares em q variáveis. Se os vetores {c 1 (v),..., c m (v)} constituem um conjunto LI, dizemos que o sistema é regular e tem posto m. Suponhamos que V tem uma cobertura aberta {U α } α A e que para cada α A, um sistema regular algébrico Σ α de equações lineares de classe C (C a ) q-dimensional e posto m esteja definido sobre U α. Assim, denotando as equações de Σ α por c i,α, f α = b i,α, i = 1,..., m, as funções c i,α, f α, b i,α possuem domínio U α. Suponhamos ainda que os sistemas {Σ α } α A são dois a dois consistentes, isto 21
28 é, para todos α 1, α 2 A tais que U α1 U α2, os sistemas Σ α1 (v), Σ α2 (v) têm as mesmas soluções para todo v U α1 U α2. Definição O conjunto de sistemas {Σ α } α A descrito acima é um conjunto algébrico C (C a ) q-dimensional de posto m. Para cada v V, seja A v o conjunto de todos os índices α A tal que v U α. Uma solução do conjunto algébrico {Σ α } α A é uma função ϕ : V R q tal que para cada v V, o vetor ϕ(v) satisfaz as equações dos sistemas Σ α (v), para todo α A v. O conjunto algébrico {Σ α } α A é homogêneo no ponto v V se os sistemas Σ α (v) são homogêneos para todo α A v, ou seja, c i (v), f(v) = 0, i = 1,..., m O conjunto algébrico é homogêneo se for homogêneo em todos os pontos v V. O nosso próximo passo é mostrar que dado um conjunto algébrico {Σ α } C (C a ) de dimensão q e posto m, pode-se obter um subfibrado afim {F v } v V, de dimensão q m, do fibrado trivial (V R q, V, π). A fibra F v sobre o ponto v V do subfibrado afim {F v } v V é dada pelo conjunto de vetores (v, x) {v} R q tais que π satisfaz as equações dos sistemas Σ α (v), para todo α A v, onde π é a projeção sobre R q. Ou seja, cada vetor (v, x) {v} R q pertence a fibra F v se a igualdade c i,α (v), π(v, x) = b i,α (v) i = 1,..., m é verificada, para todo α A v. A fibra F v é um subfibrado afim pois contém o subespaço afim {(v, λx + (1 λ)y)} λ R, onde (v, x), (v, y) {v} F v. Note que a dimensão de F v é q m, pois, por definição, os Σ α são regulares. O subfibrado afim {F v } v V, que acabamos de descrever é associado ao conjunto algébrico {Σ α }. As seções deste subfibrado afim são associadas às soluções do conjunto algébrico {Σ α }. 22
29 Basta observamos que dada uma solução f : V R q, podemos associar uma seção s(f) : V v V F v, definida por s(f)(v) = (v, f(v)). Como para todo v V, s(f)(v) = (v, f(v)) satisfaz as equações do sistema algébrico {Σ α (v)}, α A v, então (v, f(v)) F v, e portanto, s(f) realmente é uma seção de {F v } v V. Usando o fato descrito na seção 1.1, de que todo subfibrado afim de um fibrado euclideano admite uma seção mínima C (C a ), podemos afirmar então, que todo conjunto algébrico tem uma solução mínima, isto é, uma solução, digamos f 0, tal que f 0 (v), f 0 (v) f(v), f(v), para qualquer solução f e para todo v V. A solução f 0 é única e de classe C (C a ). Suponhamos que a solução f 0 satisfaça a desigualdade f 0 (v), f 0 (v) < 1, para todo v V. Do subfibrado afim {F v } v V associado ao conjunto algébrico Σ α, podemos encontrar um subfibrado esférico {E v } v V, constituído pelos vetores unitários {F v } v V, conforme já descrito no Capítulo 1. O subfibrado {E v } v V também é associado ao conjunto algébrico {Σ α } e tem dimensão igual a q m 1. As seções deste subfibrado esférico são ditas associadas as soluções unitárias do conjunto algébrico, isto é, com as soluções f que satisfazem a equação f(v), f(v) = 1, para todo v V. Definição Seja {Σ α } α A um conjunto algébrico. Uma solução C unitária f de {Σ α } α A é regular se para cada v V o conjunto de vetores {c j,α (v), f(v), f(v) x i }, j = 1,..., m, i = 1,..., n é um conjunto LI, para todo α A v, onde x(v) = (x 1,..., x n ) são as coordenadas de v. Soluções regulares de um conjunto algébrico são associados com seções regulares do subfibrado esférico associado. De fato, basta observar o Exemplo e que se f é solução regular então { f(v) x i }, i = 1,..., n é LI, ou seja, f é imersão. Soluções unitárias regulares de um conjunto algébrico são associados com seções regulares do subfibrado esférico associado. Com esta observação e 23
30 com os comentários feitos anteriormente, obtemos quatro resultados cujas demonstrações são conseqüências de proposições já demonstradas. Proposição Para m q, todo conjunto algébrico C (C a ) de dimensão q e posto m que é homogêneo em v V tem uma solução unitária em uma vizinhança de v. Demonstração. Seja {Σ α } α A um conjunto algébrico C (C a ) de dimensão q e posto m homogêneo em v V. Pelos comentários feitos anteriormente, podemos construir um subfibrado esférico {E v } v V do fibrado trivial (V R q, V, π). Pela proposição 1.2.3, existe uma seção parcial C (C a ) s : U v V R q, onde U v é uma vizinhança de um ponto arbitrário v V. Vamos escolher exatamente o ponto v V para o qual o conjunto algébrico é homogêneo. Como as seções do subfibrado esférico são associadas com soluções unitárias do conjunto algébrico, encontramos a solução desejada. cqd Proposição Para q m > n, todo conjunto algébrico homogêneo C (C a ) de dimensão q e posto m definido sobre um compacto n-dimensional tem uma solução unitária C (C a ). Se V não tem componentes fechadas então a proposição é verdadeira para q m = n. Demonstração. Vamos seguir o mesmo raciocínio anterior. Seja {Σ α } α A um conjunto algébrico C (C a ) de dimensão q e posto m homogêneo em v V. Pelos comentários feitos anteriormente, podemos construir um subfibrado esférico {E v } v V do fibrado trivial (V R q, V, π). Como o subfibrado esférico tem dimensão q m > n, pela proposição 1.2.4, existe uma seção C (C a ) s : B V R q. Novamente usamos o fato de que as seções do subfibrado esférico são associadas com soluções unitárias do conjunto algébrico e portanto, encontramos a solução desejada. Se a variedade não tem componentes fechadas, a proposição também garante o resultado para q m = n. cqd 24
31 Proposição Para q m > n, todo conjunto algébrico C (C a ) de dimensão q e posto m definido sobre uma variedade C (C a ) n-dimensional e homogêneo em v V tem uma solução unitária regular C (C a ) em uma vizinhança de v. Demonstração. Segue o mesmo raciocínio anterior utilizando a proposição Proposição Para q m > 2n, todo conjunto algébrico homogêneo C (C a ) de dimensão q e posto m definida sobre um compacto n-dimensional tem uma solução unitária regular C (C a ). Demonstração. Segue da proposição EXISTÊNCIA DE SOLUÇÕES DE CONJUNTOS DIFERENCIAIS Começaremos esta seção apresentando a definição de r-jet. Sejam V 1 e V 2 variedades C (C a ) e C r (V 1, V 2 ) o conjunto das funções C r f : V 1 V 2. Vamos definir uma relação de equivalência, determinando que f, g C r (V 1, V 2 ) são equivalentes em v V 1 se todas as suas derivadas parciais em v de ordem menor do que ou igual a r são todas iguais. Usaremos a notação J r v f para representar a classe de equivalência de f em v. Definição Com as notações acima, diremos que J r v f é um r-jet de f no ponto v. Usaremos a notação J r v (V 1, V 2 ) para representar o conjunto de todos os r-jets no ponto v, de aplicações f C r (V 1, V 2 ). Dado um sistema de coordenadas em uma vizinhança de v, podemos tomar como coordenadas de um r-jet de f no ponto v as coordenadas usuais de f(v) e as coordenadas de suas derivadas parciais de ordem menor ou igual a r. Isto nos permite introduzir uma estrutura de espaço vetorial no conjunto J r v (V 1, V 2 ). Seja J r (V 1, V 2 ) a união de todos os Jv r (V 1, V 2 ), para todo v V. (x, U) e (y, W ) cartas para V 1 e V 2. Vamos definir a aplicação, θ : J r (U, W ) J r (x(u), y(w )) Sejam 25
32 θ(j r v f) = J r f(v)yfx 1 que é uma bijeção. Sendo J r (x(u), y(v )) um aberto do espaço vetorial J r (R n, R q ) que é isomorfo a um espaço euclideano de dimensão finita (ver [5]), então podemos tomar (θ, J r (U, W )) como uma carta para J r (V 1, V 2 ). Usando essas cartas, podemos construir uma topologia para J r (V 1, V 2 ). Além disso, J r (V 1, V 2 ) tem uma estrutura natural C (C a ). Para maiores detalhes, consultar [5]. Sejam V variedade n-dimensional C (C a ) e f : V R q e π : J r (V, R q ) V a projeção natural, definida por π(jv r f) = v. Então, a tripla (J r (V, R q ), V, π) é um fibrado vetorial C (C a ). Definiremos agora uma versão truncada de um 2-jet de uma aplicação f : V R q no ponto v V. Para isto, introduziremos uma segunda relação de equivalência em C 2 (V, R q ). Diremos que f, g C 2 (V, R q ) são equivalentes em v V se todas as derivadas parciais de primeira e segunda ordem no ponto v são iguais com exceção da derivada parcial 2 x n x n, ou seja, não se exige que aconteça 2 f(v) x n x n = 2 g(v) x n x n. De agora em diante, passaremos a usar também as notações D i f(v), D ij f(v) para indicar, respectivamente, as derivadas parciais f(v) f(v) x i, x i x j de f no ponto v, onde v tem como coordenadas x(v) = (x 1,..., x n ). Isto não nos impedirá de utilizar a notação anterior. Observe que se duas funções f, g são equivalentes no sentido da primeira relação de equivalência, então f, g também são equivalentes no sentido da segunda relação de equivalência. Usaremos a notação jvf 2 para representar a classe de equivalência de f no sentido da segunda relação de equivalência. Definição Com as notações acima, diremos que j 2 vf é um 2-jet truncado de f no ponto v. Usaremos a notação j 2 v(v, R q ) para representar o conjunto de todos os 2-jets truncados no ponto v, de aplicações f C 2 (V, R q ). Do mesmo modo para r-jet, podemos tomar como coordenadas de um 2-jet truncado de f no ponto v as coordenadas usuais de f(v) e as coordenadas de suas derivadas parciais de primeira e segunda ordem, excetuando-se as coordenadas de D nn f(v). Isto nos permite introduzir uma estrutura de espaço vetorial no conjunto j 2 v(v, R q ), e por conseguinte, j 2 v(v, R q ) tem estrutura de um espaço euclideano. 26
33 Seja j 2 (V, R q ) a união de todos os j 2 v(v, R q ), para todo v V. O conjunto j r (V, R q ) tem uma estrutura natural C (C a ) e sendo π : j 2 (V, R q ) V a projeção natural, definida por π(j 2 vf) = v, a tripla (j 2 (V, R q ), V, π) é um fibrado vetorial C (C a ). A prova destes fatos é análoga ao caso J r (V, R q ). Por fim, observemos que a definição de 2-jet truncado permite a seguinte decomposição: J 2 (V, R q ) = j 2 (V, R q ) R q. Segue então que o fibrado (J 2 (V, R q ), j 2 (V, R q ), π) é trivial, onde π é a projeção de cada fibra j 2 vf R q sobre j 2 vf. Neste momento, assumiremos que a variedade C (C a ) V é da forma V = V 0 ( a, a), onde V 0 é uma variedade compacta C (C a ) (n 1)-dimensional e a é um número real positivo. Identificaremos a variedade V 0 {0} com V 0 de maneira usual. Seja (x 0,α, U 0,α ) sistema de coordenadas de V 0. Tomando U α = U 0,α ( a, a) e x α (p, c) = (x 0,α (p), c), onde (p, c) U 0,α ( a, a), obtemos um sistema de coordenadas para V, dado por (x α, U α ). Este sistema de coordenadas é chamado de sistema especial de coordenadas. Logo, em coordenadas especiais, a última coordenada é sempre distinguida, isto é, independe do sistema especial. Definição Um sistema especial de equações diferenciais de dimensão q e classe C (C a ) sobre V é um sistema da forma c i (j 2 vf), D nn f(v) = b i (j 2 vf) i = 1,..., m (1) onde c i : j 2 (V, R q ) R q, b i : j 2 (V, R q ) R são funções C (C a ) e f : V R q é uma aplicação C (C a ) que desempenha o papel de incógnita. Diremos que uma função f é uma solução deste sistema especial se for definida em uma vizinhança U V com valores em R q, isto é, f : U R q, tal que f satisfaça as equações da definição Sejam (x 1,..., x n 1, x n ) as coordenadas especiais de v V = V 0 ( a, a). Diremos que uma função f : U R q, é uma solução formal do sistema especial se sua expansão em série de Taylor em x n satisfaz formalmente as equações da Definição Neste caso, a expansão em série de Taylor é dada pela expressão: r f(v) x r r! x r n n i=0 27
34 onde v V 0 {0}. Vamos acrescentar ao sistema da Definição 2.2.3, os seguintes dados iniciais: f U = f 0 e D n f U = f 1, onde f 0 : U R q e f 1 : U R q são funções C (C a ). Definição Diremos que o sistema da Definição é regular com respeito aos dados iniciais f 0 e f 1 se o conjunto de vetores {c i (j 2 v(f 0 +x n f 1 ))}, i = 1,..., m, é um conjunto LI, onde x n é a n-ésima coordenada de v V 0 ( a, a). Exemplo Exemplo de sistema especial de equações. Um exemplo simples de sistema especial de equações diferenciais é o sistema cujas funções c i são constantes, definidas por c i (jvf) 2 = e i, onde e i é o i-ésimo vetor da base canônica de R q. Consideraremos, neste caso, m = q. Este sistema também é regular com respeito a quaisquer dados iniciais. Além disso, o sistema pode ser reduzido a seguinte equação: D nn f(v) = (b 1 (j 2 vf),..., b q (j 2 vf)) No caso geral, é natural tentar reduzir o sistema da Definição para a forma simples descrita acima, ao resolvê-la para D nn f. Isto equivale a resolver o sistema abaixo, considerando como incógnita a função ϕ : V R q : c i, ϕ = b i onde i = 1,..., m e c i : j 2 (V, R q ) R q, b i : j 2 (V, R q ) R são funções C (C a ). Este sistema definido sobre a variedade j 2 (V, R q ) é de dimensão q e de classe C (C a ). Diremos que este sistema é associado com o sistema da definição Seja S(f 0, f 1 ) o subconjunto de j 2 (V, R q ) definido da seguinte maneira: S(f 0, f 1 ) = {j 2 vf ; f = f 0 + x n f 1, v V }, onde x n é a n-ésima coordenada especial de v V 0 ( a, a). Suponhamos agora que a variedade V 0 tem uma cobertura 28
35 aberta {U α } α A. Além disso, suponha que para cada α A, um sistema especial S α de equações diferenciais de classe C (C a ) q-dimensional esteja definido sobre U α ( a, a). Suponha também que sejam dadas funções C (C a ) f 0 : V R q e f 1 : V R q. Denotaremos por Σ α o sistema algébrico associado com S α. Assumiremos que em alguma vizinhança do conjunto S(f 0, f 1 ) os sistemas Σ α formam um conjunto algébrico. Definição Com as hipóteses acima, diremos que os sistemas S α e o par f 0 e f 1 constituem um conjunto diferencial de dimensão q e de classe C (C a ) sobre V. Usaremos a notação [{S α }, f 0, f 1 ]. Chamaremos de dados iniciais as funções f 0 e f 1 e de conjunto algébrico associado ao conjunto {Σ α } α A. Uma função f : V 0 R q é uma solução do conjunto diferencial [{S α }, f 0, f 1 ] se as condições iniciais f V0 = f 0 e D n f V0 = f 1 forem satisfeitas e se f é uma solução do sistema S α sobre todo conjunto U α ( a, a). Admitiremos sem demonstração o seguinte teorema: Teorema [Teorema de Cauchy-Kowalewsky] Sejam dados os seguintes sistemas de equações em derivadas parciais de funções desconhecidas u 1,..., u n com respeito às variáveis independentes t, x 1,..., x n : n i u i t n i k u j = F i (t, x 1,..., x n, u 1,..., u n,..., t k 0 x k 1,...) 1... x k n n i, j = 1,..., n; k 0 + k k n = k n j ; k 0 < n j Para t = t 0 considere as condições iniciais k u i t k = φ(k) i (x 1,..., x n ) k = 0, 1,..., n i 1 Suponhamos que todas as funções F i são analíticas em alguma vizinhança do 29
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