TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA
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- Manuela Guimarães de Figueiredo
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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - IESC Departamento Medicina Preventiva Disciplina de Epidemiologia TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA
2 Transição Demográfica e Transição Epidemiológica Transição Demográfica Refere-se aos efeitos que as mudanças dos níveis de fecundidade e mortalidade provocam sobre o ritmo de crescimento populacional e sobre a estrutura por idade idade e sexo, traduzindo-se por um envelhecimento da população (maior proporção de idosos). Dinâmica populacional é resultante do comportamento da: 1-Fecundidade - capacidade reprodutiva de uma população. Taxa de fecundidade geral: n o de nascidos vivos x população de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) 2- Mortalidade - risco de morrer. Taxa de mortalidade geral: total de óbitos x população no meio do período 3- Movimentos Migratórios
3 FATORES DA DINÂMICA DEMOGRÁFICA Envelhecimento da população - comparação entre 3 grupos populacionais: jovens (<15 anos), segmento economicamente ativo (15-64 anos) e idosos (65 anos e +) Taxa de natalidade: n o de nascidos vivos (/ 1000 hab) pop. no meio do período Índice de envelhecimento: 65 anos e + (/ 1000) 0-14 anos Razão de dependência: 0-14 anos + 65 anos e anos
4 Etapas da transição demográfica Considerando-se a fecundidade e a mortalidade: Quando as taxas de fecundidade e mortalidade, principalmente infantil, são elevadas, a população é jovem e estável. Com a redução da mortalidade, principalmente por doenças infecciosas, não acompanhada da redução da fecundidade (permanece elevada), há ganho de vidas em todas as idades, o ritmo de crescimento populacional aumenta e a população permanece jovem. Quando a fecundidade começa a diminuir, mantido o decréscimo da mortalidade, é que efetivamente a população inicia o seu processo de envelhecimento, diminuindo o ritmo de crescimento populacional. Nos países industrializados, a transição demográfica foi lenta e gradual (fim do sec.xix e início do séc. XX); Melhorias sociais e econômicas No Brasil, o início da queda de mortalidade foi na década de 40 e da fecundidade, na década de 60;Tecnologia médica e sanitária. de 40 a 60 --> grande crescimento populacional no Brasil
5 EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO BRASIL Mudanças nos parâmetros demográficos no Brasil Mortalidade Começa a declinar a partir de Declínio muito rápido. Domínio e tratamento das doenças infecciosas e parasitárias. Programas de vacinação em massa. Melhoria nas condições sanitárias. O declínio muito rápido dos níveis de mortalidade aliado à manutenção dos altos níveis de fecundidade causou um aumento do volume populacional. Taxa de crescimento do Brasil durante a década de 60 próxima dos 3% ao ano. Fecundidade Permanece constante em níveis elevados até os anos 60. Queda da fecundidade - começa no final da década de 60 e início dos anos 70, acentuando-se durante a década de 80.
6 E sp erança d e vid a ao n ascer e taxa d e m o rta lid ad e in fan til, p or sexo e T axa g lob al d e fecu n d id ad e B rasil- 1980/2020 E S P E R A N Ç A D E V ID A T A XA D E M O R T A L ID A D E A N O A O N A S C E R IN F A N T IL ( n as c ido s vivo s) T o tal H o m e n s M u lh e re s T o tal H o m e n s M u lh e re s T A XA G LO B A L D E F E C U N - D ID A D E ,8 8 58,56 6 5, ,9 8 9,1 7 0,3 4, ,6 6 60,19 6 7, ,8 7 1,1 5 6,1 3, ,5 1 61,86 6 9, ,4 5 2,9 4 1,7 2, ,5 2 62,87 7 0, ,8 4 5,6 3 5,8 2, ,0 8 63,47 7 0, ,1 4 3,6 3 4,3 2, ,6 5 64,08 7 1, ,3 4 1,7 3 2,8 2, ,2 4 64,71 7 1, ,6 3 9,7 3 1,2 2, ,8 5 65,36 7 2, ,8 3 7,8 2 9,7 2, ,4 8 66,02 7 3, ,1 3 5,8 2 8,2 2,0 600 F on te: IB G E, D iretoria d e P es qu is as, D ep arta m e n to d e P op ulaç ão e In dic ad ores S oc iais, C om p on entes d a D in â m ic a D em og ráfic a. N ota: In dic a d ores im p líc itos n a pr ojeç ão prelim in ar d a p op u laç ão bras ileira, p elo m étod o d as c om p on en tes, p a ra o p eríod o 19 80/20 2 0, c om re vis ã o d e h ip ótes e d e d ec línio d a f ec u nd id ad e e Inc orp oraç ã o d o in dic ativo d o s ald o m igratório intern acion al.
7 IBGE Brasil: Evolução das Taxas Brutas de Mortalidade e de Natalidade: Pílula TBN TBM E TBN (Por mil Hab.) TAXA DE CRESCIMENTO VEGETATIVO Antibióticos TBM Esterilização Feminina Anos
8 Ritmo de Crescimento Populacional Taxas de crescimento anual - Brasil Estimativas de 1940 a 1996 e projeções para 2000, 2005, 2010, 2015 e % 3.0% 3.0% 2.5% 2.0% 1.9% 1.5% 1.0% 0.5% 0.9% 0.0% Na década de 1940, quando a taxa de mortalidade cai rapidamente de 25 para 21 óbitos por mil habitantes, o ritmo de crescimento vegetativo aumenta de 1,9% (44/ /1000 = 19/1000 = 1,9/100) para 2,3 % ao ano (44/ /1000 = 23/1000 = 2,3/100), pois a natalidade manteve-se alta.
9 Estrutura populacional por sexo e idade Estado do Rio de Janeiro 1940 a 2000 Pirâmide etária ERJ, 1940 Pirâmide etária ERJ, anos e + 70 a 74 anos 60 a 64 anos Masculino Feminino 80 anos e + 70 a 74 anos 60 a 64 anos Masculino Feminino 50 a 54 anos 50 a 54 anos 40 a 44 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 10 a 14 anos 0 a 4 anos 0 a 4 anos -14,0% -12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% Pirâmide etária ERJ, ,0 % -14,0 % -12,0 % -10,0 % -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0 % Pirâmide etária ERJ, ,0 % 14,0 % 16,0 % 80 anos e + 70 a 74 anos 60 a 64 anos Masculino Feminino 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 0 a 4 anos -12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 80 anos e + 70 a 74 anos Masculino 60 a 64 anos Feminino 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 0 a 4 anos -12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0%
10 Envelhecimento populacional - indicadores demográficos Tabela 1: Proporção de Idosos (65anos ou mais), segundo sexo, nos Municípios do Estado do Rio de Janeiro segundo Anos Censitários: Tabela 2: Razão de Dependência e Índice de Envelhecimento nos Municípios do Estado do Rio de Janeiro Segundo Anos Censitários Estatísticas Descritivas Municípios (n) População Total Média 4,71 5,28 6,34 6,95 Desvio padrão 1,00 1,84 1,38 1,53 Homens Média 4,46 5,29 5,89 6,38 Desvio padrão 1,03 1,15 1,34 1,46 Mulheres Média 4,90 5,98 6,74 7,46 Desvio padrão 1,01 1,23 1,45 1,63 Estatísticas Descritivas Municípios (n) Razão de Dependência Média 69,68 59,70 53,82 51,77 Desvio padrão 9,40 6,85 5,06 4,49 Razão de Dependência 0-14/15-64 Média 61,66 50,67 44,05 41,21 Desvio padrão 8,58 6,72 4,88 4,54 Razão de Dependência 65ou +/15-64 Média 8,02 9,03 9,77 10,56 Desvio padrão 1,86 2,00 2,20 2,37 Índice de Envelhecimento Média 13,14 16,96 22,55 26,13 Desvio padrão 3,18 6,49 6,12 7,41 (APUD: Costa, AJL Transições Demográfica e Epidemiológica -Fonte: IBGE)
11 Transição Epidemiológica (TE) Refere-se às modificações, a longo prazo, dos padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. O processo engloba três mudanças básicas: substituição, entre as primeiras causas de morte, das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas; deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos; e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra em que a morbidade é dominante.
12 Estágios da Transição Epidemiológica Estágio 1 - período das pragas e da fome: níveis de mortalidade e fertilidade elevados, predomínio de doenças infecciosas e parasitárias, desnutrição, problemas de saúde reprodutiva. Estágio 2 - período do desaparecimento das pandemias Estágio 3 - período das doenças degenerativas e provocadas pelo homem Estágio 4 - período do declínio da mortalidade por doenças cárdiovasculares, envelhecimento populacional, modificações no estilo de vida, doenças emergentes e ressurgimento de doenças Estágio 5 - período de longevidade paradoxal, emergência de doenças enigmáticas e capacitação tecnológica para a sobrevivência do inapto.
13 Nos países industrializados: Transição Epidemiológica declínio das taxas de mortalidade por algumas doenças crônicodegenerativas entre a população adulta de ambos os sexos, retardando o efeito da mortalidade por doenças crônico-degenerativas sem alterar a composição das causas básicas de morte. O conseqüente aumento da extensão da vida nesses países tenderia a provocar o aumento da invalidez e da dependência crescente de serviços sociais e de saúde, por largas parcelas da população. ex: seqüelas do acidente vascular cerebral e fraturas após quedas, as limitações provocadas pela insuficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica, as amputações e cegueira provocados pelo diabetes e a dependência determinada pela demência de Alzheimer. no presente, reemergência das doenças infectocontagiosas, em especial a tuberculose, ligada à AIDS, e resistência aos antibióticos (Smallman- Raynor & Phillips,1999; Waters, 2001).
14 Transição Epidemiológica No Brasil : TE não tem ocorrido de acordo com o modelo experimentado pela maioria dos países industrializados e mesmo por vizinhos latino-americanos como o Chile, Cuba e Costa-Rica. Alguns aspectos caracterizam este novo modelo: não há transição mas superposição entre as etapas onde predominam as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas; a reintrodução de doenças como dengue e cólera, ou o recrudescimento de outras como a malária, hanseníase e leishmanioses indicam uma natureza não unidirecional denominada contra-transição ; o processo não se resolve de maneira clara, criando uma situação em que a morbi-mortalidade persiste elevada por ambos os padrões, caracterizando uma transição prolongada ; as situações epidemiológicas de diferentes regiões em um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização epidemiológica).
15 Gráfico 5: Mortalidade proporcional por quatro causas de óbito selecionadas Capitais brasileiras a ,0% 37,5% DIP Neoplasias Circulatório Externas 25,0% 12,5% 0,0% CAUSAS DIP 45,7% 43,5% 35,9% 25,9% 15,7% 11,4% 6,3% Neoplasias 2,7% 3,9% 5,7% 8,1% 9,7% 11,2% 14,3% Circulatório 11,8% 14,5% 14,2% 21,5% 24,8% 30,8% 32,0% Externas 2,6% 2,4% 3,3% 4,8% 7,5% 7,7% 14,3%
16 T axas de mortalidade por Doenças Infecciosas e Parasitárias, por sexo 150 Nordeste e Sudeste a 1995 (biênios) 100 ta x a s/ / / / / / / / /95 nordes te hom ens nordes te m ulheres s udes te hom ens s udes te m ulheres
17 T axas de mortalidade por Neoplasias, por sexo Nordeste e Sudeste a 1995 (biênios) ta xas/ / / / / / / / /95 nordes te hom ens nordes te m ulheres s udeste hom ens s udeste m ulheres
18 T axas de mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório, por sexo Nordeste e Sudeste a 1995 (biênios) ta x a s/ / / / / / / / /95 nordeste homens nordeste m ulheres sudeste hom ens sudeste m ulheres
19 Perfil de saúde dos idosos no Brasil Os estudos de morbidade em idosos são mais confiáveis do que os de mortalidade por: abordarem conjuntamente as incapacidades e refletirem de modo mais adequado o impacto da doença sobre as famílias, o sistema de saúde e, principalmente, a qualidade de vida dos idosos. Os indivíduos idosos são portadores de múltiplos problemas No Rio de Janeiro, Veras & Coutinho (1994), em amostra aleatória de 242 indivíduos com 60 anos ou mais, de baixo poder aquisitivo, submetidos a entrevista domiciliar: altas prevalências de má visão (42%), má audição (17%) e problemas dentários (63%); surpreendentemente elevados déficits cognitivos significativos (30%) e depressão (35%).
20 Perfil de saúde dos idosos no Brasil Na região metropolitana de Belo Horizonte, (Fundação João Pinheiro, 1993), em uma amostra aleatória de 625 indivíduos com 60 anos ou mais, demonstrou freqüência ainda maior de problemas crônico-degenerativos referidos e revelou proporção impressionante de transtornos afetivos, ambos provavelmente refletindo na deterioração da qualidade de vida dessa população. Proporção de problemas de saúde referidos por idosos - Região Metropolitana de Belo Horizonte % coluna pressão alta insônia visão reumatismo circulação angústia stress depressão coração varizes
21 Envelhecimento populacional X Custo O envelhecimento populacional pode passar a representar mais um problema que uma conquista da sociedade, na medida em que os anos de vida ganhos não sejam vividos em condições de independência e saúde. Isto geralmente implica em custos elevados para o sistema de saúde: os idosos internam com mais freqüência e o tempo de permanência é maior. A situação econômica e a falta de acesso aos serviços de saúde são os principais problemas enfrentados pelos idosos na América Latina.
22 Perfil de saúde dos idosos no Brasil Com as transições demográfica e epidemiológica, destacando-se os progressos da medicina maior a proporção de pessoas que vivem até 65 ou 70 anos de idade no Brasil Entretanto, permanece inalterada a época que surgem as doenças e incapacidades os anos de vida ganhos só fazem aumentar a proporção de incapacitados e doentes aumenta o custo do sistema de saúde; Alternativas para minimizar o impacto do envelhecimento populacional sobre o sistema de saúde e assistência social: aumentar a capacidade dos sistemas de o apoio formal e informal aos idosos e compressão da morbidade possibilidade de adiar o surgimento de doenças e seqüelas, mantendo fixa a expectativa de vida, e reduzindo assim o tempo vivido entre o início das doenças ou incapacidades e a morte.
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