RELATÓRIO FINAL ALFABETIZAÇÃO 2010
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- Kevin Guilherme Avelar Carlos
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1 RELATÓRIO FINAL ALFABETIZAÇÃO 2010 Débora Rana Introdução Participar da seleção do Prêmio Victor Civita, pela segunda vez, é uma experiência bastante interessante, pois permite estabelecer relações entre os trabalhos apresentados. Este ano não tivemos um projeto premiado entre os 10 na área de alfabetização, mas 4 trabalhos foram classificados entre os 50 finalistas. Quadro geral dos trabalhos encaminhados Este ano recebemos 349 trabalhos destinados à área de alfabetização, envolvendo alunos de 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Os dados de 2010 apontam uma porcentagem muito maior de professoras, com atuação em escolas da rede pública na área urbana. Os gráficos abaixo mostram as porcentagens que revelam as tendências aqui apontadas:
2 Continuando a análise das tendências, outra que também permanece é o da localização da proveniência dos projetos. A região Sudeste aparece em primeiro lugar com destaque para os estados de São Paulo (133 trabalhos), seguido por Minas Gerais (30). Em segundo lugar, vem a região Sul representada pelos estados de Santa Catarina (33), Rio Grande do Sul (31) e Paraná (31). As demais regiões aparecem com quantidades semelhantes. O gráfico abaixo mostra em porcentagem o que está dito aqui. Participação por região Com relação ao grau de escolaridade deve-se destacar o elevado número de professores (138) com curso de pós-graduação que concorreram para esta edição do Prêmio. As porcentagens são as seguintes:
3 53 Grau de escolaridade Superior completo Superior incompleto Ensino Fundamental ou menos Ensino médio Pósgraduação Avaliação dos projetos Houve uma redução no número de projetos desclassificados (39) em relação ao ano passado. O que demonstra um avanço no preparo e na atenção por parte do professor participante. Refiro-me ao preparo e à atenção porque os critérios de desclassificação são os que constam no regulamento, portanto desde a inscrição deveriam ser de conhecimento de todos. Um dos principais motivos de desclassificação dos trabalhos foi devido ao não cumprimento do prazo determinado pelo regulamento. O gráfico oferece uma visão em porcentagem: Razões da desclassificação Fora do prazo O projeto não havia sido Não finalizado foi realizado por professo r Excedeu o número de página s Com produção de criança s Cópi a Projeto desenvolvido em escola Não não anexou regular o projeto Os projetos não classificados foram analisados com foco em critérios mais gerais e em critérios mais específicos da área. Critérios Gerais utilizados para categoria dos não classificados Não detalhamento das etapas do desenvolvimento do projeto Ausência de objetivos e expectativas de aprendizagem Indefinição dos conteúdos de ensino e aprendizagem
4 Incoerência entre objetivos e seleção de conteúdos Ausência de instrumentos e indicadores de avaliação Ausência de informação quanto às aprendizagens dos alunos Projeto apoiado numa visão redutora de interdisciplinaridade que compromete o foco do trabalho Escrever um projeto didático pressupõe saber organizar um trabalho que estabeleça, antecipadamente, propósitos educativos e sociais. Isto quer dizer que todo o desenvolvimento do projeto precisa estar afinado com estes dois eixos. Assim como em 2009, ainda podemos observar nos projetos objetivos muito amplos e desarticulados dos conteúdos que, em geral, também são em grande número para o tempo de realização do trabalho. No entanto, nessa análise pude observar maior presença de instrumentos e indicadores de avaliação. Grande parte dos professores preocupou-se em colocar o mapa de desenvolvimento das hipóteses de escrita dos alunos. Este dado, em se tratando de trabalhos na área de alfabetização, é essencial e, ao que parece, isso já foi percebido por boa parte dos professores. É importante destacar também que, tal como em 2009, muitos projetos concorrentes na área de alfabetização não tratavam de conteúdos específicos da área. Mesmo não havendo mais as classes de alfabetização, a análise revela que permanece o entendimento de que todas as propostas realizadas com alunos que ainda não lêem ou escrevem convencionalmente, pertencem à categoria alfabetização no Prêmio Victor Civita. Assim, muitos são os projetos cujo conteúdo passa longe da alfabetização e acaba na discussão, desfocada, de algum tema. Veja a diversidade: Tempo o relógio Quem sou eu Alimentação O circo Sexualidade Reciclagem A casa Trânsito Drogas Informática Xadrez Cuidado bucal Sustentabilidade Brincadeiras Consciência negra Animais Formação de pais Cidadania Copa África Por fim, mas não menos importante, destaco a grande variação nas concepções de ensino e de aprendizagem na área, muitas vezes presentes no mesmo trabalho. Ensinar letras, sons e listas de palavras, assim como aprender por treino e memorização são as práticas mais presentes quando se trata de práticas voltadas à reflexão e à análise do sistema de escrita. Ainda não está revelado
5 que o professor compreende que para aprender a escrever o aluno precisa de oportunidades para ler e escrever por si numa ação compartilhada onde o que pensa possa ser questionado e revisto constantemente. Embora as considerações feitas pareçam tender para um lado mais pessimista, o panorama não é bem esse. Foi possível observar na análise dessa mostra de trabalhos que os programas de formação têm contribuído muito com o avanço nas práticas alfabetizadoras dos professores, com destaque para o Programa Ler e Escrever, com muitas citações no Estado de São Paulo. Critérios específicos utilizados para classificação dos trabalhos Foco nos conteúdos definidos dentro da área de alfabetização Clareza na definição dos conteúdos de leitura: comportamento leitor, capacidades de leitura, propósito leitor e modalidades de leitura Clareza na definição dos conteúdos de produção de texto Atenção às etapas envolvidas na produção de textos Propostas de atividades direcionadas à análise e reflexão sobre o sistema de escrita Presença de acompanhamento da evolução das hipóteses de escrita dos alunos Documentação das produções dos alunos Documentação das propostas do professor Fundamentação teórica do trabalho realizado Qualidade da articulação interna do projeto: justificativa, objetivos, conteúdos, etapas e avaliação Muitos projetos se perdem na definição dos objetivos e conteúdos de ensino e aprendizagem, tomando como critério de avaliação a promoção de alegria, felicidade e o desenvolvimento da imaginação como fatores decisivos da promoção da aprendizagem. Muitas vezes, nesse cenário o tema passa a ter mais importância que o conteúdo propriamente dito. Aprender nem sempre é um processo que traz felicidade, ao contrário disso, o aluno passa por muitas instabilidades que exigem uma sólida formação do professor para apoiar os alunos no enfrentamento dos desafios. O que vai ajudar os alunos a se alfabetizarem é um trabalho intencional e planejado de inúmeras situações de leitura e escrita que deverão vivenciar, articuladas às boas intervenções feitas pelo professor. Portanto, pensar, refletir, trocar com o outro, mudar de ideia são oportunidades urgentes que as crianças precisam ter. Sem dúvida, a formação continuada (espaço permanente de reflexão) é imprescindível para o professor se preparar para esta
6 tarefa. Quando não há este espaço, o professor fica isolado nas suas tentativas de avançar, sem possibilidade de refletir junto aos seus pares. Este foi um dos aspectos positivos nesta edição do Prêmio, muitos professores, que hoje já participam de formações continuadas, revelam seus processos na melhoria da organização e condução dos seus projetos. Do ponto de vista dos conteúdos, muitos foram os projetos de leitura recebidos. Neles, a leitura já ganhou seu lugar como atividade permanente nas escolas, os alunos conhecem muitos títulos e de boa qualidade. Isso revela que os professores estão atentos aos critérios de seleção dos livros que lêem para os alunos. Diante de tantos projetos de leitura, podemos concluir que a leitura passou a ser uma atividade planejada e não mais uma atividade que só ganha espaço nos intervalos ou na ausência de outras propostas. Muito importante essa conquista. Por outro lado, há passos a avançar. Alguns projetos de leitura traduzem um desconhecimento a respeito do que as crianças podem aprender quando lêem para elas assim como, uma descrença que a leitura em si possa ser traduzida em aprendizagem, pois muitas vezes o professor parece sentir necessidade de finalizar a leitura com uma proposta de desenho ou dramatização É preciso compreender que ao ler para os seus alunos eles aprendem muitas coisas, que vão além do prazer pela leitura. Os professores precisam incluir nos seus projetos, os conteúdos envolvidos na leitura em voz alta: comportamentos leitores, capacidades de leitura, propósitos leitor e modalidades de leitura. Dentre todos os projetos, não tivemos nenhum que, por exemplo, trabalhasse com os alunos os propósitos de leitura tal como, leitura para obter informações. É preciso que os alunos aprendam como se lê cada tipo de texto, que cada texto tem uma finalidade, que o leitor pode e deve se relacionar com o texto a partir das suas experiências e do contexto que o texto foi escrito. É urgente que os professores abandonem a ideia que após toda leitura os alunos precisem adivinhar o que o autor quis dizer para provarem que compreenderam o texto. Ler não é isso, ler é atribuir sentido. É esse o passo além que os projetos de leitura precisam ganhar. Produção de texto foi outro conteúdo que nos trouxe uma boa notícia. Muitos projetos bem planejados que incluíam diferentes etapas com vistas a garantir as condições didáticas para a produção, por exemplo, a revisão tratada como um procedimento articulado à produção de texto. Ficou evidente que este conteúdo tem sido objeto de estudo nos projetos de formação e que isso já está fazendo diferença na produção textual dos alunos. O que ainda se faz necessário considerar é a articulação dos projetos de produção de texto, desenvolvido com alunos não alfabéticos, com as práticas de leitura e escrita pelo aluno. Entramos aqui nas considerações do último bloco de conteúdo: leitura e escrita pelos alunos. Há uma reincidência de envio de projetos para a área de alfabetização que atendem a alunos já
7 alfabetizados ou que não fazem referência ao trabalho voltado à aprendizagem da leitura e da escrita. No primeiro caso, se o professor tem só alunos alfabéticos não é nesta área de alfabetização que deve inscrever seu projeto e sim para a área de Língua Portuguesa. Se sua classe tem alunos não alfabéticos o foco do projeto precisa ser também o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita. Os professores precisam apresentar projetos que revelem as práticas desenvolvidas para alfabetizar seus alunos, as avaliações realizadas, a documentação da evolução dos alunos, os planejamentos, as antecipações das intervenções, enfim tudo o que colocou em jogo para ensinar. Além destas orientações, é importante que o professor revele, em seu projeto, que acredita que seus alunos precisam de muitas oportunidades para ler, escrever, pensar sobre como se escreve, rever sua forma de pensar, trocar com os parceiros e receber ajuda e informações do professor. A questão maior, que por sinal explica a ausência de um projeto de alfabetização entre os 10 finalistas, está na ausência da descrição do trabalho realizado no ensino e na aprendizagem do sistema de escrita. A maioria dos projetos apresenta trabalhos com foco na linguagem que se escreve, via leitura pelo professor ou via produção de textos ditados ao professor. Ao que parece os projetos se voltaram ao ensino da linguagem e esqueceram a reflexão sobre o sistema de escrita. A ideia que no âmbito do desenvolvimento de um projeto também se pode oferecer ricas situações para as crianças pensarem sobre o sistema é completamente ausente. As propostas de leitura e escrita com vistas à reflexão sobre o sistema de escrita ocorrem totalmente desvinculadas dos projetos. Não há uma consideração que o desafio quando construído num campo de sentido potencializa as aprendizagens. Muitos projetos apresentam dados que revelam o avanço dos alunos na aprendizagem da leitura e da escrita, mas as etapas descritas não revelam como chegaram a esses resultados e, o que apresentam, por si só, não daria conta de justificar os resultados apresentados. Temos aqui algo a ser desvendado. Em síntese a alfabetização se concretiza com a conquista simultânea de conhecimentos sobre o sistema de escrita e sobre a linguagem que se escreve. Optar por um em detrimento do outro é ir ao sentido contrário do que se concebe hoje como alfabetização. Projetos entre os 50 Este ano tivemos 4 trabalhos indicados entre os 50. Apresento aqui a síntese da avaliação destes projetos. Título do trabalho: Projeto de Escrita: Livro de receitas Segmento de ensino: Ensino Fundamental 1º ano Área: alfabetização
8 Do que trata o trabalho Escrita de receitas. A proposta era produzir escritas de receitas feitas pelas crianças, mas sem deixar de lado a responsabilidade com a aprendizagem do sistema de escrita. Neste sentido a professora aproveitou bem o contexto do projeto para ajudar seus alunos a avançarem na escrita. Organizou atividades de leitura e escrita de listas vinculadas ao projeto: nome das receitas, lista de ingredientes, listas de utensílios... Tomou a música Sopa do Nenê como texto memorizado para trabalhar leitura e escrita. Desenvolvido em escola rural, comunidade com pouco acesso a material escrito. A fala corrente da comunidade é que os alunos só precisam de um trabalho social, pois têm dificuldade para aprender. A professora se implicou nesta situação e, ao invés de usar este cenário como justificativa da não aprendizagem, tomou para si o desafio de ensiná-los, apostou na competência dos alunos e planejou boas situações didáticas. Procurou partir do que os alunos sabiam, somou a isso intervenções que colocassem bons problemas, organizou parcerias produtivas com as quais pudessem partilhar discussões a respeito de como se escreve. Ao justificar o seu trabalho explicita as referências nas quais se apoia. Já no início elabora uma análise da situação atual dos alunos no Ensino Fundamental I e nesta análise deixa claro que além de conhecer os conteúdos envolvidos na alfabetização, reconhece a importância dos mesmos, declarando que é de responsabilidade da escola ensiná-los. Assumir que todos os alunos podem aprender, mesmo em condições tidas como adversas, e concretizar esta missão com o avanço de todos os alunos é uma conquista importante da professora. Título do trabalho: Alfabetizar e letrar com contos de fadas Segmento de ensino: Ensino Fundamental 1º ano Área: alfabetização Do que trata o trabalho Reescrita do conto Chapeuzinho Vermelho, na versão em que o autor usa bilhetes e textos informativos. A professora aproveitou a versão para trabalhar outros gêneros. Trouxe do projeto diversas situações de leitura e escrita de listas e textos de memória para ajudar os alunos a avançarem na aprendizagem da leitura e da escrita. A professora faz os seguintes encaminhamentos: 1. Parte das necessidades de aprendizagem dos alunos para elaborar o projeto; 2. Reconhece que os alunos precisam conhecer e escrever diferentes gêneros; 3. Faz uma ponte com a família, por acreditar que esse envolvimento contribui com a aprendizagem dos alunos; 4. A articulação que estabelece entre o trabalho com a linguagem escrita e a reflexão sobre o sistema de escrita. A professora também investe na formação da família como leitora, por meio da sacola do viajante sistema de empréstimo de materiais diversificados de leitura. Título do trabalho: Aprender a ler lendo Segmento de ensino: Ensino Fundamental 2º ano Área: alfabetização
9 Do que trata o trabalho Produção de uma nova versão do conto da Chapeuzinho Vermelho associado ao trabalho voltado para a análise e a reflexão sobre o sistema de escrita. A professora defende a ideia de que o projeto pode se constituir num bom contexto de trabalho para ajudar os alunos não alfabéticos, desde que contasse com atividades focadas na construção de conhecimentos sobre o sistema de escrita. Assim, articulado a este projeto planejou várias dessas situações, o que contribuiu para que todos os alunos conquistassem a base alfabética. Título do trabalho: Biografias Segmento de ensino: Ensino Fundamental 2º ano Área: alfabetização Do que trata o trabalho Trata-se de um projeto muito simples e clássico de leitura e escrita de biografias. O aspecto central foi a produção coletiva de textos. O projeto apresenta diversas etapas relacionadas à elaboração de biografias. Orientações para professores que pretendem participar do prêmio em 2011 na área de alfabetização Enviar projetos desenvolvidos com alunos não alfabéticos. Cuidar para que o projeto: tenha objetivos e conteúdo articulados entre si e com foco bem definido. As etapas devem ser claras, objetivas e revelar como o professor entende que as crianças aprendem a ler e escrever. O trabalho precisa explicitar todas as propostas efetivadas para alfabetizar os alunos. Os projetos de produção de texto devem ser usados como contextos para as propostas de leitura e escrita pelas crianças, por exemplo, se o projeto é de reescrita de contos de fadas, os alunos podem completar este projeto escrevendo a lista dos personagens, dos títulos lidos, cenários onde se desenvolve a trama... Projetos de leitura devem explicitar seus conteúdos e como os mesmos foram trabalhados. Documentar todo o trabalho, tanto os planejamentos e atividades como as produções dos alunos realizadas ao longo do projeto. Não apresentar projetos diretamente copiados de projetos de formação. O trabalho enviado deve ser o relato de um projeto já desenvolvido e avaliado...
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