ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS UTILIZADAS POR PROFESSORAS ALFABETIZADORES DO ASSENTAMENTO ITAMARATI/MS POR MEIO DAS FORMAÇÕES DO PNAIC

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1 ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS UTILIZADAS POR PROFESSORAS ALFABETIZADORES DO ASSENTAMENTO ITAMARATI/MS POR MEIO DAS FORMAÇÕES DO PNAIC Andrea Walder Zanatti Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul Resumo: O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC é um compromisso formal firmado entre os governos federal, Distrito Federal, estados e municípios visando assegurar que todos os estudantes da rede pública de ensino estejam plenamente alfabetizados até oito anos de idade. Em 2013 participaram do eixo de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores: 53 coordenadores estaduais, 5424 coordenadores municipais, 78 coordenadores no âmbito das IES, 170 supervisores (IES), 645 formadores (IES), orientadores de estudos e professores alfabetizadores das redes estaduais e municipais de ensino. Em Ponta Porã Mato Grosso do Sul, três escolas estaduais do Assentamento Itamarati aderiram ao compromisso, no ano de 2013 as formações foram sobre alfabetização em Língua Portuguesa, com carga horária de 120 horas, e em 2014 está sendo sobre alfabetização em Matemática, com carga horária de 160 horas, ao todo, participam das formações 22 professores alfabetizadores do Assentamento. O Assentamento Itamarati é considerado um dos maiores do Brasil e foi implantado no ano de 2002, em uma área de 25 mil há; de acordo com o último Censo do IBGE (2010), aproximadamente 15 mil pessoas vivem no Assentamento. Mediante a esses dados pretende-se nesta pesquisa responder as seguintes questões: O PNAIC é um Programa Nacional com metodologia específica, como o professor utilizou/administrou esses materiais em seu planejamento e quais estratégias didáticas implantou/implementou em suas aulas em 2013 (alfabetização em Linguagem) e quais pretende para 2014 (alfabetização em Matemática)? Quais impactos de aprendizagem os estudantes apresentam em decorrência da quase inexistência de acesso cultural e ambiente letrado na comunidade? Palavras-chave: PNAIC, educação do campo, estratégias didáticas. O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC é um compromisso formal firmado entre os governos federal, Distrito Federal, estados e municípios visando assegurar que todos os estudantes da rede pública de ensino estejam plenamente alfabetizados até oito anos de idade (BRASIL, 2012). Dentre as ações propostas pelo PNAIC, o seu principal eixo, sem dúvida, é a formação continuada de professores alfabetizadores do 1 ao 3 ano do ensino fundamental. O curso de formação iniciou-se em março de 2013, com carga horária de 120 horas (formação em Linguagem) e encerrar-se-á em dezembro de 2014, com carga horária de 160 horas (formação em Matemática e Linguagem). A metodologia empregada é a mesma do programa Pró-Letramento, que propõe estudos e atividades práticas conduzidos por orientadores de estudos capacitados pelas Universidades Públicas Estaduais ou Federais (BRASIL, 2012)

2 Vale registrar que em 2013 participaram do eixo de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores os seguintes agentes: 53 coordenadores estaduais, 5424 coordenadores municipais, 78 coordenadores no âmbito das IES, 170 supervisores (IES), 645 formadores (IES), orientadores de estudos e professores alfabetizadores das redes estaduais e municipais de ensino. A formação continuada de professores está garantida por lei e também por meio dos planos decenais de educação; no campo de formação continuada de professores alfabetizadores, destacam-se o PROFA e Pro-Letramento, cuja metodologia é utilizada pelo PNAIC, conforme citado anteriormente. Em Mato Grosso do Sul, as formações da Rede Estadual de Ensino estão sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Educação, sendo que os 78 municípios do Estado aderiram ao PNAIC. Ao todo, em 2013, foram capacitados 1078 professores alfabetizadores do 1 ao 3 ano do ensino fundamental, e 53 orientadores de estudos. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul tem a incumbência de capacitar os orientadores de estudos das secretarias municipais e estadual de Educação. Observa-se, pelos dados apresentados, que a proposta do PNAIC é grandiosa, não só pela verba utilizada, mas, principalmente, pela quantidade de agentes envolvidos. Entretanto, para se compreender os meandros de qualquer formação continuada de professores, é necessário analisar, em conjunto, a Didática empregada, não como forma de instrumento ou técnica, mas sim a partir de sua dimensão política, econômica, social e principalmente do trabalho docente. Nessa perspectiva corroboramos com Severino (1996, p.69), quando diz que o professor necessita ter o domínio de diversas habilidades; não basta ter o domínio de técnicas objetivas, autônomas na sua eficácia antes de tudo é preciso dominar os sentidos da prática educativa numa sociedade historicamente determinada, o que significa ter a capacidade de utilização de recursos aptos a tornarem fecundos os conteúdos formadores, propiciando condições para que os elementos mediadores da aprendizagem convirjam para os objetivos essenciais da educação. Para tanto, Libâneo (1998, p.10) destaca que, [...] novas exigências educacionais pedem às universidades e cursos de formação para o magistério um professor capaz de ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos diversos universos culturais, dos meios de comunicação. O novo professor precisaria, no mínimo, de uma cultura geral mais ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional, saber usar os meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e multimídias

3 O PNAIC visa, por meio das formações e materiais didáticos disponibilizados, capacitar o alfabetizador, para que esteja apto a ajustar/melhorar sua práxis à realidade contemporânea. Todavia, e necessário registrar que o professor, além de uma boa formação continuada, precisa do apoio da gestão escolar. De acordo com Marques (2013), essa questão já é debatida entre os docentes de Porto Alegre, participantes do PNAIC; os relatos demonstram a falta de apoio por parte da gestão escolar, e gera insegurança; uma das entrevistadas desabafou que não sabe se dará conta de tudo que necessita fazer. Assim, pretende-se analisar como a formação do PNAIC está se desenvolvendo em três escolas do campo: E.E. Nova Itamarati, E.E. Prof. Carlos Pereira da Silva e E.E. Prof. José Edson Domingos dos Santos. As escolas selecionadas estão localizadas no Assentamento Itamarati no município de Ponta Porã Mato Grosso do Sul. O Assentamento Itamarati é considerado um dos maiores do Brasil e foi implantado no ano de 2002, em uma área de 25 mil há; de acordo com o último Censo do IBGE (2010), aproximadamente 15 mil pessoas vivem no Assentamento. Em fevereiro de 2014, o Ministério da Educação, disponibilizou oito Cadernos de Estudos voltados para a Alfabetização Matemática, na perspectiva do letramento, e um de Matemática no Campo; neste último, é enfatizada a importância das lutas dos trabalhadores do campo por uma educação digna, onde se ressalta que [...] a luta dos trabalhadores do campo esteve presente em nosso país desde a colonização, ainda que com configurações e motivações distintas. Nesse sentido, compreendemos que a Educação do Campo é herdeira dessas configurações e motivações, mas que, no entanto, o que sua configuração expressa na atualidade é fruto direto da luta pela terra realizada pelos movimentos sociais do campo no fim dos anos grifo nosso (BRASIL, 2014, p. 7) No contexto da valorização e acesso à educação, Zago (2013), em uma pesquisa realizada no campo, no final dos anos 1970, aponta que, [...] a grande maioria das escolas funcionava em classes multisseriadas e a oferta escolar era da 1ª a 4ª série do antigo primário. A pesquisa demonstrou que até esse nível o índice de assiduidade escolar era alto (entre 90 e 100%), porém, os pais e professores informaram que, após o término das primeiras séries, a maior parte das crianças deixava de estudar, sobretudo pela oferta escolar limitada no entorno. A inexistência de transporte público para uma escola com maior infraestrutura era outro obstáculo à continuidade dos estudos. (ZAGO, 2013, p.1) De acordo com os microdados do Censo Demográfico de 2010, compilados no estudo O enfrentamento da Exclusão Escolar no Brasil, os problemas de acesso e permanência dos estudantes do campo ainda não foram sanados. O estudo mostra que

4 [...] mais de 3,8 milhões de brasileiros entre 4 e 17 anos estão fora da escola. Esse jovem é, em sua maioria, homem negro com renda domiciliar de até ½ salário mínimo per capita e mora na zona rural. Seus pais não têm instrução ou não completaram o ensino fundamental. Nessa direção, as formações continuadas visam favorecer questões de investigação e de propostas teóricas e práticas que estudam os processos nos quais os professores se implicam, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola. (GARCIA 1999, p. 22) Neste ano de 2014, as formações do PNAIC compreendem o período de abril a novembro. No Assentamento, ao todo, vinte e duas professoras alfabetizadoras participam dos encontros. Foi proposta aos docentes a adoção de um diário de bordo e registros fotográficos das atividades desenvolvidas pelo PNAIC, e implementadas em sala de aula. Além disso, as escolas são monitoradas, mensalmente, pelo Orientador de Estudos, para a análise in loco das informações registradas. Dessa forma, no primeiro encontro foram analisadas as salas de aula em seu contexto de ambiente alfabetizador. Sabe-se que o letramento é fundamental para a criança, pois configura sua imersão no mundo da escrita. Ademais, não se pode negar que as crianças mais carentes e, principalmente, do campo não têm acesso/convívio com a leitura e a escrita antes de frequentarem a escola. Sobre essa questão Kleiman (2005) ressalta que, A presença da escrita muda de lugar para lugar. Se você mora numa grande cidade, um trabalho que pode ser feito com seus alunos para dirigir os olhos e a atenção deles para as funções da escrita é um passeio-leitura pelo bairro, anotando tudo o que estiver escrito: placas, folhetos, avisos, letreiros. Mas se você mora em zona rural, talvez não haja muita presença da escrita ao redor, para ser anotada num passeio-leitura. Nesse caso, o objetivo pode ser outro: descobrir lugares que se beneficiariam com placas e letreiros escritos, como: É proibido jogar lixo!, Perigo! e outros. grifo nosso (KLEIMAN, 2005, p.6). Nesse sentido, focando a relação família/escola/cultura pode-se remeter às teorias de Bourdieu (apud Nogueira, 2002), em que as famílias mais abastadas valorizam e se envolvem, inclusive, economicamente, com as práticas escolares. Em relação a essa questão, não quer dizer que as famílias menos abastadas não se importam com a educação de seus filhos, mas muitos pais/responsáveis, não possuem conhecimentos para acompanhar/incentivar seus filhos. Vale ressaltar que foi realizada uma sondagem sobre essas questões com os docentes: de vinte e dois participantes, seis pais eram analfabetos. Em decorrência disso, acredita-se que os professores conhecem a realidade da maioria dos estudantes do Assentamento. Cabe aqui acrescentar que a única fonte cultural dos assentados é a

5 televisão, pois o acesso à internet é limitado, tanto que uma das escolas não possui nem telefone fixo. É preciso mudar essa realidade, e mais uma vez corroboramos com Zago (2013); em sua pesquisa, ao ser entrevistado, um agricultor fez a seguinte observação: anota ai: aqui no interior tem muita potência adormecida, falta despertar. Precisa ter mais estudo aqui. Precisa ter mais investimento e valorização. Mediante aos dados apresentados, pretende-se nesta pesquisa averiguar como ocorreu a implantação do PNAIC no Assentamento Itamarati, e responder as seguintes questões: O PNAIC é um Programa Nacional com metodologia específica: assim sendo, como o professor utilizou/administrou esses materiais em seu planejamento; quais estratégias didáticas implantou/implementou em suas aulas em 2013 (alfabetização em Linguagem); e quais pretende para 2014 (alfabetização em Matemática)? Quais impactos de aprendizagem os estudantes apresentam em decorrência da quase inexistência de acesso cultural e de ambiente letrado na comunidade? BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 dezembro de Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Manual de Apoio/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Apresentação/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Educação Matemática do Campo/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, GARCIA, C. M. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, INSTITUO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA Censo Disponível em: < Acessado em 20 maio LIBANEO, José Carlos. Adeus professor, Adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo, Cortez, KLEIMAN, A.B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever? Campinas: CEFIEL/UNICAMP, 2005 NOGUEIRA, M.A.; NOGUEIRA, C.M.M. A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: Limites e Contribuições. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 78, abr NÓVOA, Antonio. Os professores e as histórias da sua vida. In NÓVOA, Antonio (org) Vida de professores. Portugal: Editora Porto, SEVERINO, A.J. Da possibilidade do estatuto científico da Didática: um olhar filosófico. Anais do VII Endipe Conferências, Simpósios, Mesas Redondas. Florianópolis, v.2, ZAGO, Nadir. Migração rural e urbana, juventude e ensino superior. Anais da 36º Reunião Nacional da Anped Conferências, Simpósios, Mesas Redondas. Goiânia,