ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO PARA DETERMINAR PREVALÊNCIA DE LEISHMANIA VISCERAL NA POPULAÇÃO HIV POSITIVA EM PORTUGAL
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1 ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO PARA DETERMINAR PREVALÊNCIA DE LEISHMANIA VISCERAL NA POPULAÇÃO HIV POSITIVA EM PORTUGAL - PROTOCOLO DE INVESTIGAÇÃO - Investigadora Responsável Professora Doutora Anabela Cordeiro da Silva Instituição proponente Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC)- Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3s), Universidade do Porto. Instituições Participante Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS) Equipa Dra. Ana Isabel Pinto (IBMC/I3S) Dr. Nuno Santarém (IBMC/I3S) Introdução A Leishmaniose é uma doença infeciosa causada por parasitas protozoários pertencentes ao género Leishmania. O género Leishmania inclui aproximadamente 30 espécies, a maioria das quais infeta o Homem originando quatro apresentações clinicas diferentes, sendo a leishmaniose visceral (LV) a forma mais severa da doença. A transmissão da infeção ocorre na sequência da picada de moscas fêmea dos géneros Phlebotomus ou Lutzomyia [1]. As estimativas mais recentes sugerem a existência de 0,2 a 0,4 milhões de novos casos por ano em todo o mundo [2]. Em Portugal, apesar do contágio inter- humano ser possível, na sequência de transfusões ou de partilha seringas, o cão é o principal reservatório da doença e também o principal hospedeiro deste parasita [3]. Na ausência de tratamento a LV é fatal sendo por isso, face à inexistência de vacina humanas, essencial o tratamento dos pacientes. As abordagens terapêuticas para tratar a LV estão limitadas pela toxicidade dos fármacos e por um aumento da resistência às terapias de primeira linha. Consequentemente, a frequência de recidivas é significativa, podendo os pacientes sucumbir à patologia associada a LV ou tornarem- se mais vulneráveis a infeções oportunistas. O diagnóstico depende do exame microscópico (invasivo) de aspirados de baço e medula óssea com uma precisão variável, exigindo instalações bem equipadas e pessoal qualificado [4]. Vários testes serológicos foram avaliados e propostos para o diagnóstico de LV, contudo as abordagens existentes são de valor limitado no contexto de infeções assintomáticas e também na avaliação de sucesso terapêutico. Como tal, não há biomarcadores validados para prever a progressão de doença sorologicamente positiva para ativa, resposta ao sucesso do tratamento ou recaída pós- quimioterapia [5]. Consequentemente esta é uma das principais Página 1 de 3
2 prioridades de pesquisa destacada pelo comitê de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o controlo da LV [6]. Nos últimos anos, o crescimento económico, as mudanças climáticas e os movimentos migratórios em todo o mundo contribuíram para o surgimento da leishmaniose em locais cuja incidência era muito baixa. Consequentemente, o maior desafio para o controlo e eventual eliminação da doença é o desenvolvimento de ferramentas diagnósticas não invasivas capazes de detetar pacientes com leishmaniose assintomática, monitorizar pacientes em um estágio diferente da doença e prever a resposta ao tratamento [4, 6]. A LV na Europa é um problema de saúde pública latente e os riscos de emergência incluem a emigração, o aumento do número de pessoas imunossuprimidas e as alterações na distribuição dos vetores de flebotomíneos devido à mudança climática [7]. Em 2014, segundo a OMS, a Espanha apresentou uma alta taxa de incidência (> 100 casos / ano). Este risco de infeção é potenciado nas populações com maior susceptibilidade. Efetivamente em todo o sul da Europa, há uma alta incidência de portadores assintomáticos de LV, como demonstrado pelo aumento da prevalência de co- infeções com o VIH ou em outras condições imunodeprimidas desde os anos 80 [8]. De facto, a LV é uma das infeções parasitárias mais comuns em pacientes com VIH, a seguir à toxoplasmose e à criptosporidiose. As co- infeções por LV- VIH impõem um enorme desafio clínico, uma vez que as duas condições se reforçam mutuamente. Esta condição é agravada pelas dificuldades na deteção da infeção [9]. Efetivamente, em doentes imunocomprometidos os testes serológicos de LV são menos precisos e os testes moleculares, embora mais precisos, são mais raros em contextos de cuidados de saúde primários. Consequentemente, o diagnóstico geralmente depende do procedimentos invasivos, que não podem ser frequentemente repetidos, e que têm riscos acrescidos em grupos de doentes mais vulneráveis. Em contextos de imunossupressão o tratamento também é extremamente desafiante sendo muitas vezes mal sucedido com a maioria dos pacientes a recidivar após cura clínica inicial aparente. Como tal, seria extremamente importante identificar a infeção por LV antes do início da doença, visando a fase latente ou precoce da infeção (como para outras infeções oportunistas) e desenvolver ferramentas de prognóstico clínico (biomarcadores), integrando as informações clínicas relativas às infeção por VIH e Leishmania [10]. Outra preocupação, enfatizada recentemente pela OMS, é a falta de vigilância e notificação de casos de LV, o que é fundamental para determinar a real prevalência e delinear estratégias globais para avaliar e gerir o risco de transmissão [11]. Em Portugal, a leishmaniose é endémica, causada pela espécie L. infantum, sendo a apresentação clínica predominante, a leishmaniose visceral. Entre 2008 e 2013, e segundo o último relatório das Doenças de Declaração Obrigatória da Direção- Geral da Saúde (DGS), foram notificados 42 casos de leishmaniose (38 confirmados). Contudo estes valores representam, aparentemente, uma subestimação grosseira já que segundo o descrito por Serra E., entre , dos 375 indivíduos foram internados com LV em vários hospitais de Portugal continental, mas só 38,6% dos casos foram notificados [3, 12]. Por outro lado, de acordo com os dados da OMS, em 2011 e 2012, não foram declarados casos de leishmaniose em Portugal e o relatório anual de 2013 do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) não refere quaisquer dados sobre a ocorrência de leishmaniose nos países europeus, informações que suportam a existência de subnotificação significativa desta parasitose em Portugal [12]. Página 2 de 3
3 JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO O aumento da incidência de doenças infeciosas transmitidas por vectores na Europa é um problema de saúde emergente. Neste contexto, vários estudos indicam um aumento na incidência de LV na bacia mediterrânica e o alastramento das zonas endêmicas [13, 14]. No entanto, dada a elevada percentagem de subnotificação da LV em Portugal é difícil estimar o impacto desta doença na saúde pública [14, 15]. Por exemplo num dos raros estudos focados na caraterização do perfil epidemiológico da Leishmaniose diagnosticada em Portugal entre estimou- se uma subnotificação na ordem dos 61.4% [16]. É por isso premente determinar a real prevalência da coinfecção VIH- VL para que estratégias globais para avaliar e gerir o risco de transmissão sejam delineadas [11, 17, 18]. Nas últimas décadas, a LV surgiu como uma importante infeção oportunista associada ao VIH, o que tem importantes implicações clínicas, diagnósticas e epidemiológicas, constituindo um problema de saúde pública latente na Europa [19-21]: Os pacientes infectados pelo VIH são particularmente vulneráveis à LV, enquanto a LV acelera a progressão do VIH para a SIDA. Nos doentes co- infetados com LV- VIH, a quimioterapia é menos eficiente e as recaídas são frequentes (elevada taxa de morbilidade e mortalidade). As recaídas recorrentes, ao promoverem a seleção de clones resistentes, têm o potencial de contribuir para o aumento da resistência aos fármacos, particularmente em condições permissivas à transmissão leishmaniose antroponótica. Os pacientes co- infetados podem apresentar parasitémia elevada podendo atuar como reservatório, tornando- se uma fonte de infeção para o inseto vetor. Levando em consideração o prognóstico desfavorável da coinfecção e o alto risco de recidivas, seria extremamente importante identificar a infeção VL antes do início da doença, visando o estágio latente ou precoce da infeção (assim como para outras infeções oportunistas) [10, 22]. Em doentes imunocomprometidos os testes serológicos para diagnosticar a LV são menos precisos e os testes moleculares, embora mais precisos, são mais raros em contextos de cuidados de saúde primários [5, 23]. Consequentemente, o diagnóstico geralmente depende do procedimentos invasivos, que não podem ser frequentemente repetidos, e que têm riscos acrescidos em grupos de doentes mais vulneráveis [10]. É por isso urgente desenvolver novos testes de detecção de anticorpos anti- Leishmania, que sejam fidedignos no diagnóstico de LV em doentes VIH+. Página 3 de 3
4 OBJECTIVOS Determinar a prevalência de LV na população VIH+ em Portugal, por técnicas de biologia molecular e por técnicas serológicas (detecção de anticorpos anti- Leishmania em circulação). Validar o uso de novos antigénios recombinantes no diagnóstico de LV em doentes VIH+ na população portuguesa. Criação de Biobanco de componentes sanguíneos para estudos longitudinais de doentes VIH- VL: o estabelecer uma assinatura de biomarcadores para diagnosticar e monitorizar o tratamento da LV em pacientes VIH+ o estabelecer biomarcadores para identificação de casos VL assimptomáticos e subclínicos O projeto aqui apresentado insere- se num projeto maior, desenvolvido em parceria com o Instituto de Salud Carlos III Espanha (laboratório de referência para o estudo de Leishmanioses na Europa), que tem por objectivo final definir assinaturas serológicas e celulares em sangue periférico para estratificação da doença. Metodologia tipo Recrutamento de Participantes Pretende- se incluir neste estudo o número de participantes possível de doentes VIH+, co- infectados com VIH- LV ou LV, e tenham indicação para realização de análises de rotina periódicas, por um período de 8 meses desde o início do projecto. Os critérios de inclusão no estudo são: adultos (18-65 anos). As amostras de sangue total e soro dos doentes sinalizados pelo serviço de Infecciologia e/ou Medicina Interna, à chegada ao laboratório serão identificadas com um número individual de amostra anonimizada. As amostras (sangue toral e soro\plasma) serão fornecidas ao Grupo de Doenças Parasitárias (IBMC\i3S) pelos Laboratórios de Patologia Clínica, após conclusão do circuito de análise. Estas amostras serão depois caracterizadas para a presença de anticorpos anti- Leishmania e DNA do parasita no laboratório de Doenças Parasitárias do IBMC\i3S. Os investigadores do grupo de Doenças Parasitárias do IBMC\i3S não terão acesso a nenhum dado biográfico, epidemiológico ou clínico relativo ao doente, só acedida pelo médico assistente responsável pela seleção dos doentes (VIH+ com idade entre os anos). Este estudo não implica métodos invasivos (será usado material recolhido no seguimento de análises de rotina após a conclusão do circuito de análise), nem deslocações específicas dos participantes. Financiamento Qualquer encargo inerente a este projeto será da responsabilidade do Grupo de Doenças Parasitárias do IBMC- i3s ( group- detail?x=43) Cronograma Estima- se o início da recolha das amostras biológicas a partir de Julho de 2019 durante um período de 8 meses. Seguir- se- á o processamento das amostras e análise de dados. A apresentação final dos resultados está prevista para Página 4 de 3
5 Colaboração da APECS: Parceria Institucional na aplicação e divulgação do projecto. Facilitador no contacto com clínicos que possam colaborar no projeto. Plataforma para divulgação dos resultados junto dos seu associados e corpos clínicos relevantes. Bibliografia 1. Kaye, P. and P. Scott, (2011). Leishmaniasis: complexity at the host- pathogen interface. Nature Reviews Microbiology, 9(8): p Pace, D., (2014). Leishmaniasis. Journal of Infection, 69: p. S10- S Serrada E. A leishmaniose visceral em Portugal continental ( ), L.s.n. and p.- D.d.m. 2010). 4. Chappuis, F., S. Sundar, A. Hailu, et al., (2007). Visceral leishmaniasis: What are the needs for diagnosis, treatment and control? Nature Reviews Microbiology, 5(11): p Kip, A.E., M. Balasegaram, J.H. Beijnen, et al., (2015). Systematic Review of Biomarkers To Monitor Therapeutic Response in Leishmaniasis. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, 59(1): p World Health Organization (WHO). Leishmaniasis: epidemiology and access to medicines. Geneva, Switzerland: WHO; Available at: Leishmaniasis worldwide epidemiological and drug access update.pdf [accessed ]. 7. Ready, P.D., (2010). Leishmaniasis emergence in Europe. Eurosurveillance, 15(10): p Alvar, J., P. Aparicio, A. Aseffa, et al., (2008). The relationship between leishmaniasis and AIDS: the second 10 years. Clinical Microbiology Reviews, 21(2): p van Griensven, J., E. Diro, R. Lopez- Velez, et al., (2014). A Screen- and- Treat Strategy Targeting Visceral Leishmaniasis in HIV- Infected Individuals in Endemic East African Countries: The Way Forward? Plos Neglected Tropical Diseases, 8(8) Lisboa, 28 de Fevereiro (Anabela Cordeiro da Silva, MSc, PhD) (Ana Pinto, PhD) Página 5 de 3
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