Redução da Pobreza e Desigualdades e Inclusão Produtiva na América Latina: novas abordagens
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- Elias de Abreu Ribeiro
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1 Redução da Pobreza e Desigualdades e Inclusão Produtiva na América Latina: novas abordagens Washington, DC 13 de março de 2006 Senhoras e Senhores É com imensa satisfação que me dirijo aos Senhores para compartilhar alguns aspectos da estratégia que o Governo Brasileiro vem adotando no enfrentamento dos problemas da pobreza, da desigualdade e da exclusão social em nosso país. Satisfação redobrada pelos sólidos laços de parceria estabelecidos entre o Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento nessa direção. O intercâmbio de experiências de desenvolvimento social entre os países da América Latina tem sido intensificado nos últimos anos, em boa parte com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Temos muito o que aprender uns com os outros, dados nossos laços históricos e a semelhança entre nossos principais desafios nessa área. Para começar, gostaria de reiterar o que diversos especialistas têm dito: o Brasil não é um país pobre, mas sim um país com muitos pobres, em decorrência de um quadro secular de desigualdade e injustiça social. Apesar da riqueza per capita produzida no país em 2005 situar-se pelo câmbio atual em torno de 4 mil e quinhentos dólares, temos cerca de um quarto da população brasileira abaixo da linha da pobreza. Mesmo com os avanços obtidos nos anos recentes na redução da desigualdade, ainda estamos entre os 10 países com maior concentração de renda no mundo.
2 2 Nesse contexto, para reduzir de forma efetiva a pobreza, não é suficiente (embora seja fundamental) o crescimento econômico: é preciso garantir que a parcela mais vulnerável e excluída da população possa também desfrutar dos benefícios desse crescimento e contribuir para sua sustentabilidade. Por isso a imperativa necessidade de combinar uma sólida política econômica que promova a estabilidade e o crescimento a uma efetiva rede de proteção e promoção social. O Brasil tem expandido e consolidado sua rede de proteção e promoção social nas últimas décadas. Desde a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, avançamos muito na implementação de políticas públicas universais, garantidoras de direitos de cidadania. A partir de 2003, com a posse do Presidente Lula, as estratégias de inclusão social vêm sendo aperfeiçoadas. A criação, em janeiro de 2004, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) que eu tenho a honra de dirigir desde então é exemplar da determinação do Governo do Presidente Lula de priorizar o efetivo enfrentamento da pobreza, tendo como pressuposto a necessária articulação de diversas políticas públicas. Esse é o espírito do Fome Zero, entendido como estratégia de governo composta por um conjunto de ações voltadas à erradicação da fome e da pobreza extrema. Com a criação do MDS, foram integradas em um mesmo ministério as ações anteriormente desempenhadas por dois ministérios e uma secretaria executiva vinculada à Presidência da República: segurança alimentar e nutricional, assistência social e transferência de renda.
3 3 No âmbito da Assistência Social, estamos implantando o Sistema Único da Assistência Social - SUAS. O SUAS apresenta um caráter inovador e republicano, orientando a organização da rede assistencial e promovendo a alocação de recursos a partir de critérios objetivos e pactuados em espaços de deliberação compostos pelos representantes das três esferas de governo. Desenvolvemos também um conjunto de ações na área de Segurança Alimentar e Nutricional. Vou destacar algumas que me parecem dar uma boa amostra do todo. O Programa de Aquisição de Alimentos PAA agrega em uma mesma estratégia o estímulo à agricultura familiar, por meio de compra governamental direta, à distribuição de alimentos adquiridos dessa forma a famílias carentes. Esta ação se desenvolve integrada ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF. Em parceria com associações da sociedade civil, promovemos a construção de mais de cem mil cisternas no semi-árido brasileiro. Apoiamos o desenvolvimento de consórcios de segurança alimentar e desenvolvimento local os CONSADs em diversas regiões do país. Promovemos ainda o funcionamento de diversos restaurantes populares, cozinhas e hortas comunitárias. Visando dotar de maior institucionalidade essa importante política pública, encaminhamos ao Congresso Nacional o projeto da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional. Um eixo articulador fundamental das ações de desenvolvimento social do Governo Lula, intrinsecamente relacionado às políticas de segurança alimentar e de assistência social, é o Programa Bolsa Família, lançado em outubro de 2003 e que atende hoje a 8,7 milhões de famílias pobres.
4 4 Em 2006, pretendemos atingir a todas as famílias que se encontram dentro do critério de elegibilidade do programa renda per capita inferior a 46 dólares (R$ 100), estimadas em 11,2 milhões em todo Brasil. O programa está presente em todos os municípios brasileiros e emprega um volume expressivo de recursos. A folha de pagamento mensal é de cerca de 249 milhões de dólares (R$ 540 milhões). Em 2005, foram empregados no programa cerca de 3 bilhões de dólares (R$ 6,5 bilhões), o que equivale a 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O Programa Bolsa Família consiste na transferência de recursos monetários a famílias em situação de pobreza que, para recebê-los, devem cumprir determinadas condições (as condicionalidades definidas na regulamentação do programa). O Bolsa Família promoveu a unificação de 4 programas federais implantados em 2001 e A unificação permitiu o aprimoramento dos mecanismos de gestão, a ampliação da cobertura e a elevação do valor médio dos benefícios. Outra vantagem talvez a principal é a definição da família em sua integralidade como foco das ações de desenvolvimento social, e não seus integrantes ou dimensões de sua vida (saúde, educação, alimentação, dentre outros) tomados isoladamente. O Bolsa Família, assim como outros programas de transferência de renda com condicionalidades, procuram enfrentar o problema da pobreza em dois momentos: no curto prazo, ao aliviar os sintomas imediatos da pobreza (como a fome) e, no médio prazo, induzindo a melhoria do status educacional e da saúde de seus beneficiários, promovendo assim melhores oportunidades de qualificação e conseqüente inserção futura no mercado de trabalho.
5 5 O benefício mensal varia de 7 a 44 dólares (R$ 15 a R$ 95), de acordo com a renda per capita e a composição familiar. O pagamento é feito diretamente às famílias, por meio de cartão magnético. A Caixa Econômica Federal, agente operador do programa, oferece uma rede capilarizada para saque, presente em todos os municípios brasileiros na forma de agências, casas lotéricas ou correspondentes bancários. Em fevereiro de 2006, o valor médio pago às famílias foi de 29 dólares (R$62). As condicionalidades dizem respeito à freqüência escolar mínima de 85% das aulas, à vacinação e ao acompanhamento do desenvolvimento infantil e à realização do acompanhamento prénatal. Os ministérios da Saúde e da Educação são parceiros fundamentais na execução do programa, pois cabe a eles monitorar o cumprimento das condicionalidades em suas respectivas áreas de competência, sistematizando as informações prestadas pelos municípios e encaminhando-as ao MDS. O cumprimento das condicionalidades é uma contrapartida das famílias para o recebimento do benefício. Por outro lado, dado que o acesso aos serviços de saúde e à escola constitui um direito de cidadania, o acompanhamento dos casos de descumprimento deve ter como principal objetivo identificar situações de maior vulnerabilidade social e orientar as ações do poder público para a garantia de direitos, e não apenas para a suspensão de benefícios. Além de receberem benefícios financeiros e de serem incentivados a acessar os serviços de saúde e educação, os beneficiários do Bolsa Família são considerados público-alvo prioritário de programas chamados complementares, que partem do entendimento da necessária complementaridade de ações para enfrentar as diferentes causas da pobreza e da exclusão social.
6 6 Trata-se do esforço de articular a ação do Estado brasileiro, com suas três esferas de governo, e ações da sociedade civil, de forma a reforçar as oportunidades de inclusão social das famílias beneficiárias do programa. Creio que estamos no momento oportuno para deslancharmos ações de maior envergadura nesse sentido. Em 2004, promovemos uma forte expansão do programa, principalmente na região do semi-árido e nas regiões metropolitanas. Em 2005, além de ampliarmos o programa em todo território nacional, fortalecemos nossa capacidade de gestão e regulamentamos aspectos fundamentais à sua plena implementação. Temos agora bases sólidas para darmos um decisivo passo na direção da inclusão social e da autonomia das famílias, por meio da articulação de esforços dos diversos agentes governamentais e sociais comprometidos com a melhoria das condições de vida da população mais carente. No âmbito do Governo Federal, a articulação se inicia pelas próprias ações desenvolvidas pelo MDS. Estamos em pleno processo de integração do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PETI ao Bolsa Família. O PETI, instituído em 1996, é um elemento fundamental da rede de proteção e promoção social brasileira, que hoje atende a 1,1 milhão de crianças e adolescentes em situação de risco de trabalho infantil. Ele é composto por dois componentes: benefício financeiro e atividades sócio-assistenciais. Para receber o benefício financeiro, a criança deve freqüentar a escola e participar das atividades sócioassistenciais a Jornada Ampliada. Com a integração, as famílias beneficiárias do PETI que se adeqüem ao perfil do Bolsa Família receberão o benefício financeiro do Bolsa Família e terão a
7 7 freqüência à jornada ampliada acompanhada como uma condicionalidade adicional às definidas para este programa. Como isso, será possível atingir a todas as crianças em situação de risco de trabalho infantil cerca de 3 milhões hoje no Brasil. Outra importante linha de desenvolvimento da rede de proteção e promoção social brasileira é o estabelecimento de uma metodologia de acompanhamento das famílias beneficiárias do Bolsa Família, por meio da articulação deste programa com o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF). Como o próprio nome indica, o PAIF é um programa que realiza o princípio da centralidade da família na prestação de serviços de Assistência Social. O Programa é desenvolvido nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), conhecidos também como "Casa das Famílias". Esses Centros são equipamentos localizados estrategicamente em áreas de pobreza que prestam atendimento sócio-assistencial e articulam os serviços disponíveis em cada localidade, potencializando a rede de proteção e promoção social básica. Neles também são desenvolvidas ações de geração de renda. No final de 2005, encontravam-se em operação 1777 CRAS Casas da Família - em 1200 municípios, com orçamento de R$ ,00. Para 2006, há a previsão de um acréscimo de 500 CRAS. Pretendemos implantar pelo menos um CRAS em cada município brasileiro, o que lhe daria uma cobertura nacional, aproximando-se do Bolsa Família. A iniciativa de articulação entre o PAIF e o Bolsa Família já foi iniciada. A regulamentação do PAIF passou a prescrever a priorização do atendimento dos beneficiários do Programa Bolsa Família. Além disso, estamos desenvolvendo uma metodologia de
8 8 acompanhamento em parceria com 7 municípios, ilustrativos dos diversos contextos do país (incluímos municípios de todas as regiões, capitais, municípios de pequeno e médio porte). Nosso foco prioritário será o acompanhamento qualificado das famílias em situação de descumprimento de condicionalidades e a inserção das famílias em atividades que promovam sua autonomia e plena inclusão econômica e social. Outro ponto fundamental para uma atuação coordenada e efetiva de inclusão social é compartilhamento de informações entre os diferentes órgãos de governo. Temos feito extrações específicas da base de dados empregada para a identificação e seleção das famílias o Cadastro Único de Programas Sociais - para orientar e induzir a inserção dos beneficiários do Bolsa Família em programas complementares. Um exemplo dessa articulação é a identificação de membros analfabetos de famílias beneficiárias do Bolsa Família e o repasse dessas informações ao Ministério da Educação, para que sejam incluídos no Programa Brasil Alfabetizado. Temos adotado o mesmo procedimento com outras áreas de governo, como o Ministério das Cidades, para programas de habitação popular, e o Ministério das Minas e Energia, para acesso à tarifa social de energia elétrica. No campo da geração de oportunidades de trabalho e renda, estamos empreendendo uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, para priorização das famílias no PRONAF. Este programa consiste na concessão de crédito e apoio técnico a empreendimentos familiares rurais. Temos mantido ainda uma intensa parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego para o atendimento das famílias
9 9 beneficiárias do Bolsa Família em diversas ações daquela pasta. Estamos realizando um conjunto de ações de qualificação profissional orientada para oportunidades de inserção produtiva. Estamos incluindo jovens integrantes de famílias beneficiárias no Programa Primeiro Emprego, que estimula a inserção profissional após um período de capacitação para o trabalho. Desenvolvemos ainda um conjunto de iniciativas no marco da economia solidária (incubadoras de cooperativas populares, fundos rotativos de financiamento de empreendimentos solidários, formação de agentes de desenvolvimento solidário) que poderão, em um prazo não muito longo, gerar uma significativa oferta de oportunidades de geração de trabalho e renda. Tais ações poderão ser alavancadas de maneira significativa, desde que viabilizemos recursos para sua execução. Nesse sentido será apresentada ao BID proposta a partir do que o MDS considera como prioridade, qual seja oferecer oportunidades de geração de emprego, trabalho e renda às famílias beneficiárias do Bolsa Família, de acordo com o identificação do potencial de setores da economia brasileira. Acreditamos que esta parceria está compatível à estratégia de atuação do BID que propõe o crescimento com eqüidade. Para concluir, gostaria de registrar que a implementação do Bolsa Família está tendo um impacto extremamente positivo sobre a vida das famílias. Diversas pesquisas promovidas pelo MDS e por instituições acadêmicas demonstram que as famílias têm se alimentado mais e melhor e que as condicionalidades são respeitadas e valorizadas pelos beneficiários. Além disso, os benefícios pagos às famílias geram efeitos importantes sobre as economias locais, principalmente nos
10 1 municípios mais pobres, onde representam em certos casos um volume de recursos superior à receita própria ou às transferências efetuadas pela União. Essa injeção de recursos dinamiza a economia local, criando novas oportunidades de trabalho e renda nas regiões mais pobres do Brasil, como a Nordeste, onde são alocados cerca de 50% dos benefícios pagos pelo Bolsa Família. O Governo Brasileiro tem clareza de que o Bolsa Família, tomado isoladamente, por mais exitosa que seja sua implementação, não é suficiente para reduzir de forma definitiva a pobreza. Para que o Bolsa Família seja uma estratégia efetiva de redução da pobreza e da desigualdade, deve ser concebido como um elemento do sistema de proteção e promoção social necessariamente articulado a programas e ações, tanto federais quanto de outras esferas de governo, bem como da sociedade civil. Após cumprirmos o desafio de incluir as famílias no Bolsa Família, garantindo um mínimo de dignidade e condições de subsistência ao enorme contingente populacional beneficiário, cabe agora o desafio seguinte: gerar, na escala necessária e com a brevidade possível, alternativas para a promoção da autonomia e plena inserção social das famílias beneficiárias. O acordo de empréstimo, assinado em 24 de outubro de 2005 visando o fortalecimento do sistema de proteção e promoção social brasileiro, consiste em uma das mais recentes materializações da duradoura parceria estratégica estabelecida entre o Governo Brasileiro e o Banco Interamericano de Desenvolvimento para a promoção do desenvolvimento econômico e social no Brasil. Considero extremamente oportuno estreitarmos ainda mais os laços com o Banco Interamericano de Desenvolvimento para dar maior escala às iniciativas de qualificação e inclusão produtiva em
11 1 andamento. Considero ainda que a experiência acumulada em outros países das Américas e a excelência da equipe de profissionais do Banco será de grande valia para a formulação de outras estratégias complementares. Agradeço mais uma vez a oportunidade de compartilhar com os senhores nossas iniciativas a aprofundar a parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, visando tornar o Brasil cada vez mais justo, onde todos os seus cidadãos tenham oportunidade de contribuir e desfrutar do desenvolvimento de nosso país.
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