Acórdão-5ªC RO
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- Giovanni Maranhão Dinis
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1 Acórdão-5ªC RO TÉCNICO DE FUTEBOL. DIREITO DE IMAGEM. NATUREZA SALARIAL. O pagamento efetuado ao técnico de futebol pelo uso da imagem, quando parcela ajustada para o pagamento do trabalho contratado, possui nítido caráter salarial. A praxe de estipular que o pagamento da remuneração será realizada através de salário registrado na CTPS e por meio do denominado direito de imagem, de valor consideravelmente superior, constitui fraude à legislação trabalhista (art. 9º da CLT). VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 4ª Vara do Trabalho de Joinville, SC, sendo recorrentes 1. WALDEMAR LEMOS DE OLIVEIRA e 2. JOINVILLE ESPORTE CLUBE (Recurso Adesivo) e recorridos 1. JOINVILLE ESPORTE CLUBE e 2. WALDEMAR LEMOS DE OLIVEIRA. Ambas as partes recorrem da sentença das fls , por meio da qual o Juiz de 1º grau rejeitou a preliminar de ausência de submissão do litígio à Comissão de Conciliação Prévia e, no mérito, julgou parcialmente procedentes os pedidos deduzidos na petição inicial /2009
2 RO O autor pleiteia a reforma da sentença a fim de que seja reconhecida a natureza salarial da parcela intitulada direito de imagem e para que o réu seja condenado ao pagamento das diferenças decorrentes da integração ao salário, ou seja anulada a sentença e a reaberta a instrução processual. O réu, por meio de recurso adesivo, pleiteia a absolvição da condenação ao pagamento da multa prevista no art. 477, 8º, da CLT. Sucessivamente, postula a compensação do valor pago a título de indenização por rompimento antecipado do contrato. Apenas o réu oferece contrarrazões. É o relatório. V O T O Conheço do recurso do autor, salvo quanto ao requerimento de anulação da sentença e de reabertura da instrução processual, por descumprimento à exigência de exposição das razões de fato e de direito (art. 514, II, do CPC). Conheço do recurso adesivo do réu e das contrarrazões por ele oferecidas, porque preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. RECURSO DO AUTOR TÉCNICO DE FUTEBOL. DIREITO DE IMAGEM. NATUREZA SALARIAL O Juiz de 1º grau, tendo em vista a pactuação do contrato de experiência apresentado pela ré,
3 RO no qual consta o salário de R$6.000,00, julgou improcedente o pedido de reconhecimento de salário de R$30.000,00 e indeferiu as diferenças da férias e do 13º salário, as multas previstas nos arts. 467 e 479 da CLT e o FGTS da contratualidade. Contra essa decisão se insurge o autor, a fim de que seja reconhecido natureza salarial à remuneração apontada na peça exordial e de que seja o réu condenado ao pagamento das diferenças decorrentes da integração ao salário. Alega que o contrato de experiência apresentado pelo demandado em audiência é fraudulento e que dele não tinha conhecimento, razões pelas quais ele foi impugnado. Aduz que o demandado não fez prova da validade do contrato de experiência e que diante da revelia e da confissão a ele imposta devem prevalecer a alegações exordiais. Diante dos valores estabelecidos pelo mercado de trabalho de treinadores de futebol, alega que afronta o princípio da razoabilidade considerar que recebia como salário apenas importância de R$6.000,00. Com efeito, é de natureza empregatícia a relação entre o treinador (técnico) de time de futebol e a agremiação esportiva e, de acordo com o estipulado pelo art. 6º da Lei nº 8.650/1993, incumbe a esta proceder ao registro formal do pacto, mediante contrato de trabalho por prazo determinado não superior a dois anos, com a devida anotação na CTPS, no Conselho Regional de Desportos e na Federação ou Liga à qual o clube ou associação for filiado.
4 RO In casu, apesar da revelia e da confissão aplicadas ao réu, pelo não comparecimento à audiência, foi juntado com a defesa apresentada pelo advogado o contrato de trabalho a título de experiência celebrado no período de a , prorrogado até (fl. 93). Apesar de não cumprido o requisito formal do registro na Federação Catarinense de Futebol, a contratação a título de experiência, demonstrada documentalmente, não pode ser presumida fraudulenta em razão das alegações fáticas constantes da exordial, pois a presunção de veracidade que decorre da confissão ficta é apenas relativa. O contrato de experiência está assinado pelo autor e pela assistente de recursos humanos da agremiação esportiva (fl. 93), que representou o réu no ato e também assinou o termo de rescisão contratual (fl. 97), sendo formalmente válido. O autor também assinou a Comunicação de Término do Contrato de Trabalho de Experiência (fl. 96), que está subscrita por duas testemunhas. Portanto, ele tinha pleno conhecimento de que foi contratado a título de experiência, apesar de constar do documento da fl. 11 que seria contratado para o período de a Com efeito, conforme bem acentuado pelo Juiz de 1º grau, o autor é pessoa esclarecida e tinha ciência dos documentos que assinou (fls ).
5 RO Apesar disso, omitiu na inicial esse fato e não alegou a fraude na contratação. Outrossim, não há elementos nos autos, nem mesmo indiciários, que indiquem que o princípio da boafé tenha sido violado pelo réu. Ressalto que sequer houve a produção de prova testemunhal. Cabe destacar que era do autor o ônus de provar o fato constitutivo do seu direito, encargo do qual não se desincumbiu (art. 818 da CLT). No que se refere ao salário contratado realmente não se apresenta razoável que um técnico de futebol de reconhecida capacidade no meio futebolístico tenha ajustado a título de remuneração a importância de R$6.000,00. A despeito do valor que consta do contrato de experiência, o documento da fl. 11 evidencia que foi acertada a importância de R$30.000,00 como remuneração, dos quais R$6.000,00 deveriam ser registrados na CTPS, o que de fato veio a ocorrer (fl. 16), e R$24.000,00 deveriam ser pagos a título de direito de imagem. Trata-se, inquestionavelmente, de parcela ajustada para o pagamento do trabalho contratado. Apesar de a utilização da imagem (assegurada pelo art. 5º, XXVIII, a, da Constituição Federal) fazer parte dos negócios em torno do futebol e que
6 RO a exploração econômica da própria imagem é direito inerente à personalidade, o que confere ao titular direito aos lucros dela advindos, hipótese em que os valores recebidos não constituem salário, não se pode olvidar que os clubes buscam escapar dos encargos sociais trabalhistas e dos encargos tributários (contribuições previdenciárias e imposto de renda), razão pela qual é praxe estipular que o pagamento da remuneração será realizado através de salário registrado na CTPS e por meio do denominado direito de imagem, de valor consideravelmente superior. Essa prática constitui fraude (art. 9º da CLT), diante da natureza salarial da parcela. Dessarte, reconheço a natureza salarial à importância ajustada a título de direito de imagem e defiro a sua integração ao salário, devendo o réu a anotar na CTPS o salário devido de R$30.000,00 e, com base nesse valor, a pagar as diferenças do FGTS, do 13º salário proporcional (2/12), das férias proporcionais com 1/3 (2/12), e das multas previstas nos 477, 8º, e 479 da CLT. Entretanto, fiquei parcialmente vencido, pois a douta maioria do Colegiado entende ser indevida a multa prevista no 8º do art. 477 da CLT, pelos fundamentos que serão expostos a seguir, ao ser apreciado o recurso adesivo do réu. Ressalto, por fim, que o demandante não se insurge expressamente contra a rejeição do pedido relativo à clausula penal. De qualquer sorte, no contrato de trabalho a título experiência não foi estipulada
7 RO cláusula penal. Em face do exposto, é dado provimento parcial ao recurso do autor para, reconhecendo a natureza salarial à importância ajustada a título de direito de imagem, condenar o réu a anotar na CTPS do autor o salário devido de R$30.000,00 e, com base nesse valor, pagar as diferenças do FGTS, do 13º salário proporcional (2/12), das férias proporcionais com 1/3 (2/12), e da multa prevista no art. 479 da CLT. RECURSO ADESIVO DO RÉU MULTA PREVISTA NO 8º DO ART. 477 DA CLT Insurge-se o réu contra a condenação ao pagamento da multa prevista no 8º do art. 477 da CLT. Alega que o prazo para o pagamento das verbas rescisórias, nos termos do art. 477, 6º, alínea b, da CLT, findava no 10º dia posterior à rescisão contratual. As partes firmaram contrato de experiência em até (45 dias), o qual foi prorrogado até (mais 45 dias, fl. 93). Em , consoante o termo de rescisão do contrato de trabalho (fl. 12), o réu tomou a iniciativa de romper antecipadamente o contrato celebrado. Nos termos do art. 477, 6º, da CLT, se há previsibilidade do término do contrato de trabalho, seja porque o contrato tem prazo certo para findar, seja porque é cumprido o aviso-prévio, as verbas rescisórias
8 RO devem ser pagas no dia útil imediato ao rompimento do pacto (alínea a ). Se, por outro lado, o caso é de ausência, indenização ou dispensa do cumprimento do aviso-prévio, o prazo para pagamento das rescisórias é de dez dias contados da data da notificação da extinção do contrato. Portanto, o prazo que deveria ter sido observado no caso vertente era o da alínea a do 6º do art. 477 da CLT. Assim, as verbas rescisórias deveriam ter sido pagas em No entanto, elas somente foram pagas em (fl. 12). Não observado o prazo legal para pagamento das rescisórias, é devida a multa prevista no art. 477, 8º, da CLT. Todavia, fiquei vencido pela douta maioria do Colegiado, que entende que embora o contrato tenha sido estipulado por prazo determinado, com prorrogação de seu termo, certo é que a rescisão se deu de forma antecipada. Logo, tendo em vista que a rescisão não se deu na data prevista, mas antecipadamente, sem a imposição de concessão de aviso prévio, é aplicável ao caso o disposto na alínea b, do 6 o, do art. 477 da CLT. Desse modo, é dado provimento ao recurso adesivo do réu para excluir da condenação o pagamento da multa prevista no 8º do art. 477 da CLT.
9 RO Pelo que, ACORDAM os Juízes da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DOS RECURSOS, salvo quanto ao requerimento de anulação da sentença e de reabertura da instrução processual, formulado pelo autor, por descumprimento à exigência de exposição das razões de fato e de direito (art. 514, II, do CPC). No mérito, por maioria, vencido, parcialmente, o Exmo. Juiz Garibaldi Tadeu Pereira Ferreira (Relator), DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO AUTOR para, reconhecendo a natureza salarial da importância ajustada a título de direito de imagem, condenar o réu a anotar na CTPS do autor o salário devido de R$ ,00 (trinta mil reais) e, com base nesse valor, pagar as diferenças do FGTS, do décimo terceiro salário e das férias proporcionais, estas com 1/3, (2/12), e da multa prevista no art. 479 da CLT; por maioria, vencido o Exmo. Juiz Garibaldi Tadeu Pereira Ferreira, DAR PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU para excluir da condenação o pagamento da multa prevista no 8º do art. 477 da CLT. Custas de R$ 900,00 (novecentos reais) pelo réu sobre o valor da condenação alterado para R$ ,00 (quarenta e cinco mil reais). Intimem-se. Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 17 de novembro de 2009, sob a presidência
10 RO da Exma. Juíza Gisele Pereira Alexandrino, os Exmos. Juízes Gerson Paulo Taboada Conrado e Garibaldi Tadeu Pereira Ferreira (Relator). Presente a Exma. Procuradora do Trabalho Quézia Araújo Duarte de Aguiar. Florianópolis, 24 de novembro de GARIBALDI TADEU PEREIRA FERREIRA Relator
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