XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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- Adelina Barata Antunes
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1 O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DOCENTE: PERCEPÇÕES E APRENDIZAGENS DOS ACADÊMICOS (AS) NA DISCIPLINA DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM GESTÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA- UEPG Cristiane Aparecida Woytichoski de Santa Clara i - UEPG Rayane Regina S. Gasparelo ii UNICENTRO Eixo Temático 1 - Didática e prática de ensino: desdobramentos em cenas na educação pública. Subeixo 2 Práticas pedagógicas: constituição da docência em outros olhares Resumo A presente pesquisa surgiu a partir do acompanhamento da disciplina deestágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I.O estágio faz parte dos cursos de formação docente, com o objetivo de estabelecer relações entre a prática escolar e as disciplinas do curso num processo reflexivo. Trata-se, de acordo com a grade curricular, de uma atividade obrigatória, realizado pelos acadêmicos no terceiro ano de graduação em Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Sob a perspectiva do estágio como pesquisa proposto por Pimenta e Lima (2004), os acadêmicos (as) são inseridos nas instituições de Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental para investigar a realidade escolar na perspectiva da gestão educacional. Assim, num primeiro momento buscam estudar as concepções educacionais e objetivos vigentes na gestão, com vistas à problematização das práticas administrativas, pedagógicas e comunitárias que observam nas instituições; a seguir elaboram e desenvolvem projetos de intervenção no espaço escolar, e ao final realizam a análise crítico-reflexiva do processo de estágio vivenciado.portanto, a preocupação central é o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção no cotidiano da instituição educativa. Neste estudo, procuramos sistematizar a expectativa inicial e a percepção final que os alunos demonstraram com o processo de inserção e vivencias no campo de estágio. Verificamos que no início de todo o processo na concepção dos alunos o estágio seria a parte prática do curso, no quala partir de observações poderiam construir suas próprias práticas, num processo de reelaboração de modelos. No entanto, durante o período os mesmos foram construindo uma nova postura e percebendo o estágio como um momento que caminha para reflexão, a partir da realidade, ou seja, o estágio como uma atividade teórica instrumentalizadora da práxis. Palavras-chave:Práticas de ensino. Estágio como pesquisa. Concepções dos acadêmicos. Introdução Conforme o Projeto-Político-Pedagógico do curso delicenciatura em Pedagogia - Docência na Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Gestão na 4886
2 2 Educação Básica da UEPG, o Estágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I se constitui em uma das disciplinas desenvolvidas no terceiro ano,que tem como objetivo a inserção do acadêmico no contexto de trabalho da gestão escolar na Educação Infantil ou nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, prevendo situações de estágio fundamentadas em discussões e análises teóricas com o intuito de que o aluno reconheça a importância da atuação do pedagogo na gestão da escola enquanto profissional que pesquisa e reflete sobre sua prática profissional, produzindo e disseminando conhecimentos. Para tanto, o este estágio prevê atividades de observação e participação (que ocorrem concomitantemente) do acadêmico-estagiário no trabalho desenvolvido pela equipe gestora da escola (pedagogo, coordenação pedagógica, direção) e também intervenções na escola-campo de estágio junto aos professores, alunos e pais a partir de uma temática pertinente às problemáticas vivenciadas pela/na escola de Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Enquanto pedagogo em formação, as atividades desenvolvidas no estágio em gestão serão desenvolvidas prevendo a observação e reflexão sobre a prática dos profissionais que atuam na gestão da educação básica com o objetivo de oportunizar ao acadêmico experiências significativas no espaço da gestão pedagógica, administrativa e comunitária das instituições escolares. Caminho metodológico Este estudo caracteriza-se de cunho qualitativo, conduzido por meio da pesquisa documental. O documento que recorremos para análise foi o diário de bordo que cada acadêmico registrou suas observações no campo de estágio, no ano de Num universo de doze diários, dentre os muitos elementos que poderiam ser observados, delimitamos a investigação para a concepção sobre o estágio para os alunos. Discussão e Resultados Ao iniciar a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I, há muita ansiedade por parte dos acadêmicos para adentrar nos campos de estágios e conhecer a dinâmica cotidiana das instituições. No entanto, até a inserção no campo realizamos discussões pertinentes a gestão das escolas públicas, as atribuições do coordenador pedagógico e definimoso registro das observações de campo no diário de bordo. Por meio do diário e conhecendo asmuitas atribuições do coordenador pedagógico, apontadas por Libâneo (2003),que são: responder por todas as atividades pedagógico-didáticas da escola; desenvolver instrumentos para diagnóstico da escola e realização de projeto; articular a discussão do PPP entre os docentes; auxiliar os professores nos PTD, materiais de apoio e práticas de avaliação; acompanhar o desenvolvimento das atividades dos professores; coordenar reuniões com os professores, estimulando a realização de projetos conjuntos entre eles; organizar horários, turmas e professores para cada turma; propor atividades de formação continuada e de desenvolvimento profissional dos docentes; articular atividades com pais e comunidade; acompanhar o processo avaliativo (procedimentos, resultados e 4887
3 3 formas de superação dos problemas; cuidar a avaliação do corpo docente;acompanhar e avaliar o PPP, foram problematizadas diversas situações, direcionando o olhar dos alunos, para além das questões aparentes e naturalizadas, pois muitas das dificuldades da sala de aula ou da escola como um todo, são influenciadas por condicionantes externos, sejam políticos ou econômicos. O movimento de análise e problematização das práticas escolares, no diário dos acadêmicos ou nas discussões individuais (professor e aluno) e coletivas, tinham como objetivo principal a superação da dicotomia entre a teoria e a prática, bem como oferecer condições para a proposição de novas experiências para transformação da realidade. Nesse processo, [...] os professores orientadores de estágio procedem, no coletivo, junto a seus pares e alunos, a essa apropriação da realidade, para analisá-la e questioná-la criticamente, à luz das teorias. (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 45) Portanto, o estágio torna-se um momento propício para questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos;construir a práxis docente e propor novas experiências na realidade escolar. No entanto, embora esse concepção de estágio, discutida desde o início do anos 90 nos escritos de Pimenta de Golçalvez (1990), e bem definida iii no início da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I, percebemos nos registros dos diários que a expectativa dos alunos, inicialmente, seria que o estágio fosse a parte prática do curso. Descrições como: eu acreditava que o estágio fosse como um treinamento para futuramente exercer a profissão ; uma oportunidade de sairmos da teoria e partirmos para observar o que realmente acontece na prática ; minha expectativa inicial do estágio em gestão era ver quais as funções que o pedagogo exerce na escola, exemplificam a definição de estágio como o momento prático em contraposição à teoria. Nessa perspectiva, [...] a atividade de estágio fica reduzida à hora da prática, ao como fazer, às técnicas a ser empregada em sala de aula, ao desenvolvimento de habilidades especificas do manejo de classe, ao preenchimento de fichas de observação, diagramas, fluxogramas. As oficinas pedagógicas que trabalham com a confecção e material didático ilustram essa perspectiva. (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 9) Essa compreensão retrata exatamente dois sentidos opostos à compreensão do estágio como pesquisa que permite conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade. Estes, de acordo com Pimenta e Lima (2004), são: a prática como imitação de modelo e a prática como instrumentalização técnica. Visando superar estes dois eixos que caracteriza a profissão como atividade técnica que dispensa os conhecimentos científicos, verificamos que dentre as atribuições e os condicionantes na organização do trabalho pedagógico, a fragilidade mais evidente nos campos de estágio encontrava-se relacionada ao coordenador contribuir para o desenvolvimento profissional dos docentes. Para Domingues (2009) a função primordial do coordenadoré organizar e propiciar espaços de formação contínua, nos quais os professores e professoras possamexpor suas dificuldades e questionamentos e ter acesso a uma teoria que se mostra necessáriaa reflexão sobre a prática, estabelecendo um diálogo entre ela e o conhecimento pedagógico existente. Nesse viés, o coordenador pedagógico estará corroborando para o aperfeiçoamento, avanço profissional e para o 4888
4 4 fortalecimento de dignidade profissional dos docentes, valorizando os saberes e experiências do contexto educativo. Após o diagnóstico de campo, definiu-se a perspectiva da formação contínua centrada na escola para organização das intervenções. A proposta de formação centrada na escola é também defendida por Imbernón (2009). Para o autor, repensar a formação próxima do contexto contribui significativamente para a construção da identidade docente e potencializa uma nova cultura formativa, recuperando o protagonismo dos docentes, sua criatividade, capacidade de mudança e autonomia docente. Nesse viés, para o primeiro momento de intervenção na realidade escolar foi selecionado o texto Nada substitui o bom professor (NÓVOA, 2007), e organizado discussões a partir deste, com pequenos grupos de docentes na hora-atividade. Em linhas gerais o texto destaca três dilemas que atravessam as instituições e influenciam na configuração da identidade profissional: 1º- a escola centrada no aluno ou na aprendizagem? 2º- a escola como comunidade ou como sociedade? 3º- a escola como serviço ou como instituição? Aborda ainda três desafios para o futuro: 1º- organizar melhor a profissão na escola; 2º formação centrada nas práticas e na análise destas e 3ºreconstruir a credibilidade da profissão. Portanto, o texto evidenciava o quão necessário são os momentos de formação contínua centrados na escola e as reflexões coletivas. Após essa discussão, foi aplicado um questionário para os docentes responder se consideram a formação continuada a partir de situações problemáticas do contexto como importante e quais temas seriam emergentes. De posse desse instrumento, as próximas intervenções dos acadêmicos giraram em torno das análises desses questionários, apresentação à escola e proposição de estudos a partir das temáticas evidenciadas pelos professores. Diante desse percurso e encaminhando-se para a finalização do estágio, os registros em diários foram se alterando. Identificamos um novo olhar acerca do processo formativo nas anotações dos alunos. Apontamentos como: ser pedagogo não é uma fórmula pronta e acabada, e cada situação é necessário uma ação diferenciada ; não há respostas corretas para cada dificuldade encontrada, é a partir da prática e de constantes reflexões que se pode entender e desenvolver uma boa ação ; estar no ambiente escolar me fez refletir e entender muitas coisas que até então eu havia visto nos textos ; no estágio pude fazer relações do cotidiano escolar com outras disciplinas do curso de pedagogia, como filosofia, psicologia, sociologia e perceber a importância das práticas educativas, ilustram a mudança de concepção manifesta nas primeiras aulas e registros da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I. Essa visão mais ampla e contextualizada do estágio indica, [...] para além da instrumentalização técnica da função docente, um profissional pensante, que vive num determinado espaço e num certo tempo histórico, capaz de vislumbrar o caráter coletivo e social da profissão. (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 15) Considerações finais A presente discussão teve como objetivo demonstrar a percepção dos acadêmicos frente ao desenvolvimento do estágio, e nos fez perceber uma questões que 4889
5 5 é de extrema pertinência: a importância de ser ter clareza sobre os objetivos e métodos que as disciplinas do currículo de formação de professores assumem. Entendemos que o processo educativo é uma grande responsabilidade de todos os profissionais que atuam na e para a melhoria da qualidade da educação na escola. Nesse viés, Ferreira (2008) sobre o processo formativo, acredita na formação como fonte de vida, ou seja, [...] uma formação cuja concepção forneça os elementos que permitam superar os limites da consciência ingênua, limitadora e servil, uma formação que possa permitir sacudir a certeza do mundo comum e da realidade fetichizada de todos os dias ao indagar sobre a sua legitimidade e racionalidade. (FERREIRA, 2008, p. 52). Formação está, com ciência e consciência social, intencional e comprometida com a cidadania, humana e digna, capaz de conduzir, a partir do conhecimento nas suas dimensões científicas, técnicas e éticas, a ação docente no sentido da humanização da sociedade. Nesse viés, destacamos a importância dos professores de estágio na orientação dos acadêmicos e a necessidade de se trabalhar cada vez mais sistematicamente a perspectiva do estágio como pesquisa. Referências Domingues, I. O coordenador pedagógico e o desafio da formação contínua do docente na escola. São Paulo: Cortez, FERREIRA, N. S. C. Formação humana, práxis e gestão do conhecimento. In: FERREIRA, N. S. C.; BITTENCOURT, A. B.(Orgs.). Formação humana e gestão da educação: a arte de pensar ameaçada. São Paulo: Cortez, p GONÇALVES, C.L.; PIMENTA, S.G. Revendo o ensino de 2º Grau, propondo a formação do professor. São Paulo: Cortez, IMBERNÓN, F. Formação permanente do professorado: novas tendências. São Paulo: Cortez, LIBÂNEO, J. C. et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, NOVOA, A. Nada substitui um bom professor. Disponível em: Acesso em: 8 de agosto de PIMENTA, S.G.; LIMA, M. S. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, i Doutoranda em Educação PPGE/UEPG. Docente na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. ii Mestranda em Educação PPGE/UNICENTRO. Bolsista CAPES. Docente na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. iii Após a apresentação da ementa da disciplina é proposto aos alunos o estudo e discussão do texto Estágio: diferentes concepções de Pimenta e Lima (2004). 4890
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