CAROLINA CAU SPÓSITO CONSTRUÇÕES DE CAUSA, RAZÃO, EXPLICAÇÃO E MOTIVAÇÃO NA LUSOFONIA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL. São José do Rio Preto 2012

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1 1 CAROLINA CAU SPÓSITO CONSTRUÇÕES DE CAUSA, RAZÃO, EXPLICAÇÃO E MOTIVAÇÃO NA LUSOFONIA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL São José do Rio Preto 2012

2 2 CAROLINA CAU SPÓSITO CONSTRUÇÕES DE CAUSA, RAZÃO, EXPLICAÇÃO E MOTIVAÇÃO NA LUSOFONIA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do título de Mestre em Estudos Linguísticos (Área de Concentração: Análise Linguística) Bolsa FAPESP: (processo nº 09/ ) Orientadora: Profa. Dra. Erotilde Goreti Pezatti São José do Rio Preto 2012

3 3 Spósito, Carolina Cau. Construções de Causa, Razão, Explicação e Motivação na lusofonia: uma abordagem discursivo-funcional / Carolina Cau Spósito. - São José do Rio Preto : [s.n.], f. : il. ; 30 cm. Orientador: Erotilde Goreti Pezatti Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 1. Linguística. 2. Gramática funcional. 3. Causa (Linguística). 4. Língua portuguesa Português falado - Advérbio. I. Pezatti, Erotilde Goreti. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título. CDU 81 1 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE Campus de São José do Rio Preto - UNESP

4 4 CAROLINA CAU SPÓSITO Construções de Causa, Razão, Explicação e Motivação na lusofonia: uma abordagem discursivo-funcional Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do título de Mestre em Estudos Linguísticos (Área de Concentração: Análise Linguística) BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Erotilde Goreti Pezatti Professor Assistente Doutor UNESP São José do Rio Preto Orientador Profa. Dra. Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva Professor Assistente Doutor UFRJ Rio de Janeiro Profa. Dra. Marize M. Dall Aglio Hattnher Professor Assistente Doutor UNESP São José do Rio Preto São José do Rio Preto, 20 de junho de 2012.

5 5 Aos meus pais, Vilma e Mauro, e ao meu noivo, Wilder, pelo apoio e fé incondicional em mim.

6 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por toda força nos momentos de dificuldade. Aos meus pais, por acreditarem e confiarem em mim muito mais do que eu mesma. Ao meu noivo, pela paciência e compreensão nos momentos em que precisei ficar ausente. A minha orientadora, Erotilde Goreti Pezatti, pela paciência, didática e sabedoria para ensinar. Aos meus amigos, por manterem-se amigos mesmo na distância. À FAPESP, pelos 24 meses de bolsa oferecidos durante a realização desse trabalho. A todos os membros do Grupo de Pesquisa em Gramática Discursivo-Funcional (GPGF), pelas discussões e valiosas contribuições durante os encontros semanais do Grupo. À Profa. Marize Dall Aglio Hattnher e à Profa. Gisele Cássia de Souza, pelas contribuições no Exame de Qualificação.

7 7 SPÓSITO, Carolina Cau. Construções adverbiais de Causa, Razão, Explicação e Motivação na lusofonia: uma abordagem discursivo-funcional. 2012, 145 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto. RESUMO Este estudo tem como proposta investigar os diferentes tipos de relações causais, tendo como suporte uma teoria funcional, que considera a língua como um instrumento de interação social, cuja forma se adapta às intenções comunicativas do falante, ou seja, a teoria da Gramática Discursivo-Funcional (GDF). O objetivo principal é verificar como as diferentes relações causais são expressas na gramática do português, ou seja, como são codificadas nos níveis Morfossintático e/ou Fonológico; o objetivo secundário é verificar o grau de integração da relação causal à oração principal, com base na escala linear de combinação oracional proposta por Hopper e Traugott (1993). Para tanto, foi utilizado como material de trabalho o corpus denominado Português Oral, que consiste em ocorrências reais de uso da língua falada em oito variedades do português. As ocorrências são analisadas considerando-se doze critérios que contemplam os quatro níveis propostos pela GDF. Os resultados mostram que as relações causais se distinguem de acordo coma as camadas propostas pelo modelo teórico: Causa (oracional e sintagmática) constitui um estado-de-coisas que modifica outro estado-de-coisas; Razão constitui um conteúdo proposicional que modifica um estado-de-coisas; e Explicação, por outro lado, é um estado-de-coisas que modifica um conteúdo proposicional, todos no Nível Representacional; já Motivação, pertencente ao Nível Interpessoal, constitui um Ato Discursivo que restringe outro Ato discursivo. Consequentemente, no Nível Morfossintático, Causa e Razão exemplificam casos de Subordinação; Explicação, de Cossubordinação e Motivação, de Coordenação. As distinções semânticas, no entanto, não são codificadas na gramática do português, havendo assim neutralização formal entre Causa, Razão e Explicação, por um lado, que se distinguem, por outro, de Motivação, claramente marcada no Nível Fonológico. Além disso, numa escala de integração, que vai de menor para maior integração à oração principal, Motivação coloca-se no polo negativo e Causa, a mais integrada à oração principal, no polo positivo, ficando Explicação e Razão intermediárias, com Razão mais próxima à Causa. PALAVRAS-CHAVE: Funcionalismo; Gramática Discursivo-Funcional; Relação Causal.

8 8 SPÓSITO, Carolina Cau. Adverbial constructions of Cause, Reason, Explanation and Motivation in lusophony: a Functional Discourse approach. 2012, 145 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto. ABSTRACT This study is proposed to investigate the different types of causal relationships, supported by a functional theory, which regards language as an instrument of social interaction, whose shape adapts to the speaker's communicative intentions, ie, the theory of Functional Discursive Grammar (FDG). The main objective is to see how the different causal relations are expressed in the grammar of the Portuguese, that is, how levels are encoded in Morphosyntactic and / or Phonological, the secondary objective is to verify the degree of integration of causal relationship to the main clause, based on linear scale of combining clausal proposed by Hopper and Traugott (1993). Therefore, it was used as working material called the Portuguese Oral corpus, which consists of actual occurrences of use of the language spoken in eight varieties of Portuguese. The events are analyzed considering the twelve criteria that include the four levels proposed by the FDG. The results show that causal relations are distinguished according to the layers proposed by the theoretical model: Cause (clausal and syntagmatic) is a State-of-things that modifies other State-of-things; Reason is a Propositional content that modifies a State-of-things, and Explanation, on the other hand, is a State-of-things that modifies a Propositional content, all in the Representational Level, Motivation as belonging to the Interpersonal Level, is an Discursive Act that restricts other Discursive Act. Consequently, the Morphosyntactic Level, Cause and Reason exemplify cases of Subordination; Explanation of Cossubordinação and Motivation of Coordination. The semantic distinctions, however, are not encoded in the grammar of Portuguese, so there is formal agreement between neutralization Cause, Reason and Explanation on the one hand, they are distinguished, on the other, Motivation, clearly marked on the Phonological Level. Moreover, on a scale of integration, ranging from low to high integration with the main clause, Motivation arises in the negative pole and Cause, the more integrated to the main clause, on the positive pole, being intermediate Explanation and Reason, with Reason nearest to the Cause. KEYWORDS: Functionalism; Functional Discourse Grammar; Causal Relation.

9 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Gramática Discursivo-Funcional como parte de uma teoria ampla da interação verbal Figura 2 - Organização geral da Gramática Discursivo-Funcional... 26

10 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Preposições e conjunções da relação causal Tabela 2 - Os fatores da relação causal

11 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Tipo de expressão da função Causa Gráfico 2 - As preposições na função de Causa sintagmática Gráfico 3 - Ocorrência de Causa sintagmática Gráfico 4 - Pressão da voz na Causa Sintagmática prototípica Gráfico 5 - Análise entonacional na Causa sintagmática prototípica Gráfico 6 - Os juntores na Causa oracional Gráfico 7 - Pressão da voz na Causa oracional prototípica Gráfico 8 - Análise Entonacional na Causa oracional prototípica Gráfico 9 - Pressão da voz na Causa oracional não prototípica Gráfico 10 - Análise Entonacional na Causa oracional não prototípica Gráfico 11 - Preposição e Conjunção na função de Razão Gráfico 12 - Pressão da voz na Razão prototípica Gráfico 13 - Análise Entonacional na Razão prototípica Gráfico 14 - Pressão da voz na Razão não prototípica - Parte I Gráfico 15 - Pressão da voz na Razão não prototípica - Parte II Gráfico 16 - Análise Entonacional na Razão não prototípica - Parte II Gráfico 17 - Os juntores na função de Motivação Gráfico 18 - Pressão da voz na Motivação prototípica Gráfico 19 - Análise Entonacional na Motivação prototípica Gráfico 20 - Pressão da voz na Motivação não prototípica Gráfico 21 - Análise entonacional na Motivação não prototípica Gráfico 22 - Os juntores na função de Explicação Gráfico 23 - Pressão da voz na Explicação prototípica - Parte I Gráfico 24 - Pressão da voz na Explicação prototípica - Parte II Gráfico 25 - Análise Entonacional na Explicação prototípica Gráfico 26 - Pressão da voz na Explicação não prototípica - Parte I Gráfico 27 - Pressão da voz na Explicação não prototípica - Parte II Gráfico 28 - Análise Entonacional na Explicação não prototípica Gráfico 29 - Os subtipos de relação causal Gráfico 30 - Preposições e conjunções da relação causal Gráfico 31 Análise Entonacional das prototípicas de Causa (oracional e sintagmática), Razão e Explicação Gráfico 32 Análise Entonacional das prototípicas de Motivação

12 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL ARQUITETURA DA GDF A ORGANIZAÇÃO DESCENDENTE OS NÍVEIS E CAMADAS O Nível Interpessoal O Movimento Ato Discursivo Conteúdo Comunicado Subato de Atribuição e Subato de Referência O Nível Representacional Conteúdo Proposicional Episódio Estado-de-coisas Propriedades Configuracionais Propriedade lexical O NÍVEL MORFOSSINTÁTICO O NÍVEL FONOLÓGICO A RELAÇÃO CAUSAL NA LITERATURA O CONCEITO DE SUBORDINAÇÃO E COORDENAÇÃO A RELAÇÃO CAUSAL Causa, Razão ou Explicação? Propriedades estruturais da relação causa As conjunções MATERIAL E MÉTODO PARÂMETROS DE ANÁLISE Camada da oração principal e Camada da oração causal Presença de Atos Interativos Função Retórica... 81

13 Camada da oração principal e Camada da oração causal Factualidade Constituição da Expressão Linguística Tipo de operador Forma verbal Posição da oração causal Marcas prosódicas ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS FUNÇÃO DE CAUSA A função de Causa sintagmática A função de Causa oracional FUNÇÃO DE RAZÃO FUNÇÃO DE MOTIVAÇÃO FUNÇÃO DE EXPLICAÇÃO SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS DA RELAÇÃO CAUSAL CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

14 14 INTRODUÇÃO A proposta deste estudo é investigar a relação de causalidade buscando verificar as propriedades pragmáticas e semânticas das diferentes relações causais, conforme proposta de Hengeveld e Mackenzie (2008). A relação de causalidade tem sido objeto de estudo de vários investigadores, que propõem distinções entre subtipos de causalidade, porém nem sempre há um consenso entre eles 1. Na Gramática Tradicional, os autores, tais como Kury (1972), Cunha e Cintra (2001) e Bechara (1999), consideram duas relações causais, a que denominam oração adverbial Causal e oração coordenada Explicativa. Alguns autores utilizam basicamente a sintaxe para explicar a relação causal, como, por exemplo, Cunha e Cintra (2001), que consideram que a classificação da oração depende da conjunção utilizada para estabelecer a relação entre as orações. Dessa maneira, a oração é subordinada adverbial Causal se apresentar conjunção ou locução conjuntiva causal que as encabece, ou é coordenada sindética Explicativa se a conjunção utilizada for explicativa. Kury (1972) propõe cinco critérios para distinguir a oração adverbial Causal da oração coordenada Explicativa: (i) a oração subordinada adverbial Causal vale por um adjunto adverbial, caso que não ocorre com a coordenada Explicativa, que é sintaticamente independente; (ii) a oração Explicativa, por ser independente, admite pausa forte que pode ser indicada por dois pontos ou por ponto e vírgula; (iii) o conectivo, nas Explicativas, pode ser omitido sem qualquer prejuízo da clareza; (iv) 1 Essa falta de consenso entre os gramática foi confirmada no trabalho de Iniciação Científica intitulado A expressão da relação adverbial causal no português, desenvolvido junto ao Departamento de Estudos Linguísticos e Literários do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, UNESP/SJRP, no ano de 2008, sob a orientação da Profa. Dra. Erotilde Goreti Pezatti.

15 15 na maioria das vezes, a oração que antecede uma Explicativa tem o verbo no imperativo, indicando tempo futuro; e (v) na sua maioria, as orações Causais com que, pois e porque podem ser substituídas por equivalentes com os conectivos como, uma vez que e análogos, fato que não é possível nas Explicativas. Bechara (1999), por seu turno, não inclui a Explicativa ao tratar das orações coordenadas, que, para ele, são apenas as Aditivas, as Adversativas e as Alternativas. Acreditamos que a classificação unicamente com base na conjunção, tal como propõem Cunha e Cintra (2001), é insatisfatória se a intenção é buscar uma distinção entre essas relações, porque frequentemente as mesmas conjunções são utilizadas para expressar diferentes relações. Assim, é possível encontrar diferentes relações sob o mesmo rótulo. Consideremos os exemplos a seguir: (01) _ Eh, camarada, espere um pouco,/ que isto acaba-se já./ (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 597). (02) Um pouquinho só lhe bastava no momento,/ pois estava com fome. (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 598). De acordo com os autores, ambas as orações são casos de Coordenada Explicativa, pois apresentam conjunção explicativa (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 597). Entretanto, uma análise mais atenta revela que em (01) a oração causal [que isto acaba-se já] ocorre para justificar o pedido efetuado pelo falante para seu ouvinte. Em (02), a oração causal [pois estava com fome] justifica a crença do falante de que um pouco era suficiente naquele momento. Ou seja, em (01), a oração causal ocorre para justificar o Ato Discursivo Imperativo, enquanto que em (02), ocorre para justificar uma proposição. O mesmo ocorre quando é feita a classificação das orações subordinadas Causais. Vejamos os seguintes exemplos:

16 16 (03) Tio Couto estava sombrio, pois aparecera um investigador da políciaperguntando por Gervásio. (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 586). (04) Ceamos à lareira, / que a noite estava fria./ (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 605). Os autores classificam (03) como Explicativa; no entanto, tal como em (02), a oração [pois aparecera um investigador da polícia perguntando por Gervásio] justifica a percepção do falante a respeito da preocupação de Tio Couto. Em (04), entretanto, a oração [que a noite estava fria] apresenta o motivo da ocorrência do Estado-de-coisas [cear à lareira]. Como se vê, os exemplos de (01) a (04) mostram diferentes formas de relação causal, que não escaparam a estudiosos como Quirk et al. (1991), Dik (1997a, 1997b), Neves (2000), Pérez Quintero (2001), Paiva (1995), Hengeveld (1998) e Hengeveld e Mackenzie (2008), como veremos adiante. Dik (1997a), por outro lado, chama a atenção para as várias relações implícitas dentro do que, comumente, é definido como função de Causa. Para ele, além de Causa, há também a função de Razão, que ocorre entre dois Estados-decoisas com o participante da oração principal apresentando o traço controle, e de Explicação, que ocorre entre dois Atos de Fala. Neves (2000), tal como Dik (1997a), afirma que as relações causais são aquelas que apresentam entre si uma relação causal amplamente considerada (p. 805). Dessa maneira, a autora inclui, dentro da relação causal, subtipos que têm como função expressar não somente a causa real, como também razão, motivo, justificativa ou explicação. Paiva (1995), por sua vez, afirma que o conceito de causa é empregado de forma mais extensiva, recobrindo relações como as de explicação, justificativa e evidência. Tal abrangência se comprova quando a autora afirma, no que tange à

17 17 posição, que a função de Causa pode assumir a forma X então Y, estruturando, assim, uma relação coordenativa, ou a forma de estrutura subordinativa porque X, Y, mostrando que dentro do termo Causa ela também inclui o que é tradicionalmente chamado de coordenada Explicativa. Neves (2000) ressalta, entretanto, que é uma tarefa árdua buscar um refinamento da interpretação semântica de modo que se consiga uma distinção entre causa, razão, motivo, explicação, justificação etc. que possa responder pela distinção entre esses dois grandes grupos que vêm contrastados, na tradição, sob o rótulo de subordinadas Causais. Pérez Quintero (2002) não difere de Paiva (1995) e Neves (2000) ao considerar que, na relação causal, há subtipos que apresentam função semântica diferente; por isso, ele distingue Causa Eventiva, Causa Ilocucionária e Causa Epistêmica. Causa Eventiva expressa a percepção de um objetivo inerentemente conectado ao mundo real, enquanto que Causa Epistêmica expressa uma inferência do falante e a Causa Ilocucionária, por sua vez, expressa uma razão que não faz referência à situação descrita na oração principal, mas sim ao Ato de Fala e, portanto, ela mesma constitui um Ato de Fala, que é designado como uma entidade de 4ª ordem. Nota-se que todos os autores concordam que dentro do rótulo de orações causais existem subtipos de relações que devem ser diferenciados, uma vez que exercem funções diferentes. Todos distinguem três tipos: Causa entre conteúdo (Causa Eventiva), Causa Epistêmica (Razão) e Causa Ilocucionária (Motivação). Muito frequentemente, porém, esses autores atribuem a mesma nomenclatura para relações com diferentes funções. Consideremos o exemplo (05):

18 18 (05) Percy is in Washington, for he phoned me from there (QUIRK et al., 1991, p. 1104). Percy está em Washington porque ele me telefonou de lá. Para Quirk et al. (1991), em (05), a oração causal constitui um Ato de Fala que faz referência à situação descrita no Ato de Fala principal, e, portanto, é designado por uma entidade de 4ª ordem. É possível, entretanto, interpretar a oração causal como uma justificativa da inferência contida na oração principal (ou seja, o falante acredita que Percy está em Washington porque ele tem evidências de que esse fato é verdadeiro, uma vez que Percy realizou um telefonema da cidade) e não da enunciação do Ato de Fala. Em (06), a interpretação é diferente, uma vez que, de fato, a oração causal que antecede a principal é uma justificativa da enunciação do Ato de Fala Interrogativo expresso na oração principal: (06) As you re in charge, where are the files on the new project? (QUIRK et al., 1991, p. 1104). Como você é encarregado, onde estão as pastas do novo projeto? Neves (2000), por outro lado, considera que em (07) a relação causal ocorre entre Estados-de-coisas, tratando-se, portanto, de Causa Efetiva; em (08), a relação causal se estabelece entre proposições, sendo, portanto, Causa epistêmica. (07) A multiplicação das colônias e sua distribuição pela pastagem é necessária porque as vespas fêmeas não têm asas, o que limita sua dispersão (NEVES, 2000, p. 804). (08) Do leite devemos fazer uso abundante porque além de ter efeito específico sobre o crescimento do organismo, é muito rico em cálcio (NEVES, 2000, p. 805). Ora, observando-se os dois exemplos é possível notar que, tanto em um quanto em outro, a oração causal justifica uma proposição, marcada em (07) pelo predicado é necessário, e em (08) pelo auxiliar modal dever. Parece-nos, portanto, que as duas ocorrências dizem respeito à Causa Epistêmica.

19 19 Além disso, há em nossos dados ocorrências como a (09), que não encontra paralelo nos exemplos apresentados pelos autores consultados. Trata-se, portanto, de um caso que ainda precisa ser investigado. (09) [foi quando a gente combinou com o professor de matemática, a gente sempre brinca "ó, vamos num churrasco? vamos numa pizzaria?" e aquele dia realmente a gente combinou sério de ir. [...] ficamos ali até meia noite e meia, quer dizer, cada um tinha seu compromisso, seu, a esposa esperando, eu não, é lógico, mas eles tinham] e foi muito gostoso porque a partir dali nasceu uma amizade mais gostosa com o professor (Bra93:FestaEstudante). Essas observações mostram que a questão da relação causal necessita ainda de uma investigação que forneça uma gramática da relação causal que leve em conta todas as suas variedades do português. Considerando, assim, a complexidade que envolve a relação causal e a carência de um estudo mais abrangente das variedades portuguesas, este estudo propõe a investigação dos diferentes tipos de relações causais na lusofonia, assumindo com base na Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), que as diferenças entre os subtipos da relação causal estão relacionadas aos níveis e camadas propostos pela Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), de Hengeveld e Mackenzie (2008). O objetivo principal é, pois, verificar como as diferentes relações causais são expressas no português, ou seja, como são codificadas nos níveis Morfossintático e/ou Fonológico. Pretende-se ainda verificar o grau de integração da relação causal com relação à oração principal, com base na escala linear de combinação oracional proposta por Hopper e Traugott (1993). Para tanto, utilizaremos como material de trabalho o corpus denominado Português Oral, desenvolvido no âmbito do Projeto Português Falado: Variedades Geográficas e Sociais, organizado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, em

20 20 parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença- Aix-Marselha, que consiste em ocorrências reais de uso da língua necessárias para um estudo de cunho funcionalista. Um estudo como o que aqui se propõe só pode ser efetuado tendo como suporte uma teoria funcional, ou seja, um modelo que considere a língua como um instrumento de interação social, cuja forma se adapta às intenções comunicativas do falante. Isso, como se verá adiante, é perfeitamente adequado à teoria da GDF, aqui tomada como modelo. Nesse sentido, o texto apresenta-se estruturado da seguinte maneira: No primeiro capítulo, denominado Fundamentação Teórica, apresenta-se a Gramática Discursivo-Funcional de Hengeveld e Mackenzie (2008), teoria que serve de base para o desenvolvimento deste trabalho. No segundo capítulo, As relações causais na literatura, além dos conceitos de subordinação e coordenação, faz-se uma retomada do conceito de causa na literatura linguística. No terceiro capítulo, Material e Método, apresenta-se a descrição do corpus escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa, os procedimentos seguidos para o levantamento de dados e os parâmetros utilizados para a análise das ocorrências. No quarto capítulo, Análise e Interpretação de Dados, são apresentados os resultados obtidos de acordo com o arcabouço teórico da GDF, relacionando os subtipos das relações causais aos níveis e às camadas propostos pela teoria. Nas Considerações Finais, por fim, retomam-se os principais resultados obtidos com a análise e interpretação dos dados, procurando mostrar a contribuição desse estudo para a GDF no que se refere à descrição do português falado.

21 21 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Como já observado, este estudo tem como suporte teórico a Gramática Discursivo-Funcional, que, acreditamos, pode fornecer um aparato teórico mais apropriado para estudar relações entre orações. No presente capítulo serão abordados tópicos essenciais para a compreensão da teoria. É importante ressaltar, entretanto, que, apesar de buscar um apanhado geral da GDF, tratarei aqui apenas de tópicos que estão diretamente ligados ao desenvolvimento desta pesquisa. 1.1 A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2005, p. 9-10), a GDF é um modelo de gramática tipologicamente funcional, que pode ser vista como uma extensão da Gramática Funcional (doravante GF), uma teoria de organização da língua natural que foi desenvolvida principalmente por Simon Dik nos anos 1970, pois compartilha vários de seus pressupostos mas dela se diferencia em alguns aspectos: i) a GDF tem uma organização de cima para baixo, isto é, organização descendente, que começa com a codificação da intenção do falante e termina na articulação do enunciado pelo falante; ii) a GDF toma o Ato de Discurso como unidade básica de análise. Dessa maneira, a GDF pode acomodar orações, unidades maiores e unidades menores que a oração, como, por exemplo, enunciados incompletos e interjeições;

22 22 iii) a GDF analisa Atos de Discurso em termos de independência pragmática, semântica, morfossintática e fonológica, que interage para produzir formas linguisticamente apropriadas. Para Hengeveld e Mackenzie (2005), a maioria dessas diferenças reflete uma genuína tentativa de atingir os níveis de adequação pragmática e psicológica reclamada pela GF e visa também a desenvolver um modelo que seja capaz de englobar preferencialmente discursos e não apenas sentenças. Entretanto, a GDF não é para ser vista como um modelo de análise do discurso, mas como um modelo gramatical. O objetivo disso é capturar todas e apenas as propriedades formais de unidades linguísticas, levando em consideração, entretanto, as intenções comunicativas com a qual essas unidades são produzidas e o contexto em que elas foram enunciadas. Como bem ressaltam os autores, uma importante característica que a GDF tem em comum com a GF é a preocupação tipológica na descrição das línguas: como a GF, a GDF tem por objetivo desenvolver uma moldura para a descrição sistemática de todas as linguagens humanas possíveis. 1.2 ARQUITETURA DA GDF Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 2), a GDF é concebida como o Componente Gramatical de um modelo global de interação verbal. Em tal modelo, o Componente Gramatical se liga ao Componente Conceitual, ao Componente de Saída e ao Componente Contextual, que são não gramaticais, e interagem de várias formas com o Componente Gramatical, por meio das operações de Formulação e de Codificação.

23 23 A Formulação se refere às regras que determinam aquilo que constitui representações semânticas e pragmáticas subjacentes válidas em uma língua. A Codificação, por sua vez, diz respeito a regras que convertem essas representações semânticas e pragmáticas em representações fonológicas e morfossintáticas. A GDF acredita que tanto a Formulação como a Codificação são processos que podem variar de língua pra língua, ou seja, são específicos de cada língua. Isso significa que nenhuma categoria pragmática, semântica, morfossintática ou fonológica universal deve ser postulada até que sua universalidade tenha sido demonstrada por meio de pesquisa empírica. Segue abaixo um esboço desse modelo de interação verbal: Figura 1 - Gramática Discursivo-Funcional como parte de uma teoria ampla da interação verbal Fonte: Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 6). Componente Conceitual Componente Gramatical Formulação Formulação Codificação Componente de Saída Componente Contextual Fonte: Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 6). O Componente Conceitual é responsável pelo desenvolvimento tanto da intenção comunicativa relevante para o evento de fala quanto das conceitualizações

24 24 associadas relativas a eventos extralinguísticos relevantes, sendo, dessa forma, a força motriz por trás do Componente Gramatical como um todo. O Componente de Saída gera as expressões acústicas ou escritas com base na informação fornecida pelo Componente Gramatical. O Componente Contextual, por sua vez, contém a descrição do conteúdo e da forma do discurso precedente, do contexto real perceptível em que ocorre o evento de fala e das relações sociais entre os participantes. Esse tipo de informação é relevante para muitos processos gramaticais, tais como encadeamento narrativo, reflexividade e voz passiva. 1.3 A ORGANIZAÇÃO DESCENDENTE Como já dito, a GDF inicia sua análise com a intenção do Falante e se desenvolve até a fase da Articulação, ou seja, até o momento em que o enunciado e/ou discurso ganha forma escrita ou falada. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 3), essa direção é motivada pela pressuposição de que um modelo de gramática será mais eficaz quanto mais sua organização se assemelhar ao processamento linguístico do indivíduo. Apesar disso, não é objetivo dos criadores que essa teoria seja entendida como um modelo do Falante. Para eles, a GDF é, e deve ser compreendida, como uma teoria sobre a gramática que tenta refletir as evidências psicolinguísticas em sua arquitetura básica. A Figura 2 representa a arquitetura proposta pela GDF: as elipses contêm operações, os quadrados contêm os primitivos usados nas operações e os retângulos, os níveis de representação produzidos pelas operações.

25 25 Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 370), para descrever o processo geral de cima para baixo, apoiam-se no exemplo (10), supostamente produzido em um contexto em que o Ouvinte deseja entrar em uma pastagem onde há um touro: (10) Há um touro no pasto! (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 370).

26 26 Figura 2 - Organização geral da Gramática Discursivo-Funcional Componente Conceitual Moldes Lexemas Formulação Operados Interpessoais e Representacionai s Nível Interpessoal Nível Representacional Padrões Componente Gramatical Morfemas gramaticais Operadores Morfossintáticos Padrões Formas supletivas Codificação Morfossintática Nível Morfossintático Codificação Fonológica Componente Contextual Operadores Fonológicos Nível Fonológico Articulação Componente de Saída Saída Fonte: Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 13). Considerando o exemplo (10) e a imagem acima, os autores observam que no Componente Conceitual pré-linguístico há uma intenção comunicativa (emissão de um alerta), e também, as representações mentais correspondentes (do evento causador do perigo) são relevantes.

27 27 Já à operação de Formulação cabe a tarefa de traduzir essas representações conceituais em representações pragmáticas e semânticas nos Níveis Interpessoal e Representacional, respectivamente. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 371), os alertas não são uma categoria ilocucionária separada, mas o Falante resolve esse problema ao selecionar uma ilocução declarativa combinando-a com um operador de ênfase no Nível Interpessoal. A entidade causadora do perigo, além disso, é caracterizada como Tópico Focal nesse Nível. No Nível Representacional, segundo os autores, o Falante escolhe designar a entidade causadora do perigo como parte de um esquema de predicação locativo. As configurações dos níveis Interpessoal e Representacional são então traduzidas em estruturas morfossintáticas, no Nível Morfossintático, por meio da operação de Codificação Morfossintática. Considerando essas informações e o exemplo (10), Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 371) observam que em (10) a operação envolve, por exemplo, a ordem de palavras característica de construções existenciais, o uso unipessoal do verbo haver etc. De maneira semelhante, as estruturas nos Níveis Interpessoal, Representacional e Morfossintático são traduzidas em estruturas fonológicas no Nível Fonológico. Nesse exemplo, a seleção da ilocução declarativa combinada com o operador de ênfase é a responsável por todo o contorno entonacional com uma queda brusca no item lexical touro, que, por sua vez, está focalizado. Dessa maneira, segundo os autores, a GDF leva a abordagem funcional da linguagem ao seu extremo lógico, uma vez que dentro da organização descendente da gramática, a pragmática governa a semântica, a pragmática e a semântica governam a morfossintaxe, e a pragmática, a semântica e a morfossintaxe governam a fonologia.

28 OS NÍVEIS E CAMADAS No Componente Gramatical há Níveis de representação que, segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 374), se distinguem. Porém, todos os Níveis Interpessoal, Representacional, Morfossintático e Fonológico têm em comum o fato de terem uma organização hierarquicamente ordenada em camadas O Nível Interpessoal Esse Nível está diretamente relacionado aos aspectos pragmáticos da interação verbal. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 375), o Nível Interpessoal capta todas as distinções de Formulação que dizem respeito à interação entre falante e ouvinte. Tais distinções, de acordo com os autores, nas camadas superiores, abrangem noções retóricas de toda a estruturação do discurso, na medida em que elas sejam refletidas na forma linguística (2009, p. 375). Nas camadas inferiores, as distinções pragmáticas são as que refletem como os Falantes moldam suas mensagens, considerando as expectativas que eles têm em relação ao Ouvinte, isto é, em relação aos conhecimentos e sentimentos que eles acreditam que o Ouvinte tenha. Porém, eles ressaltam que tais distinções devem ser gramaticalmente relevantes. Desse modo, a estrutura hierárquica surge a partir da aplicação de um conjunto adequado de moldes selecionados entre os disponíveis para o Falante (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 375). A estrutura hierárquica decorre da aplicação de um adequado conjunto de esquemas disponíveis para o falante. O esquema a seguir mostra as relações hierárquicas que se aplicam no nível de relacionamento Interpessoal:

29 29 (πm1:[ Movimento (π A1: [ Ato de discurso (πf1:ill(f1):σ(f1)) Ilocução (πp1:...(p1):σ(p1))s Falante (πp2:...(p2):σ(p2))a Ouvinte (π C1: [ Conteúdo Comunicado (π T1: [...] (T1): Σ (T1))Φ Subato de Atribuição (πr1: [...] (R1): Σ (R1))Φ Subato Referencial ] (C1): Σ (C1))Φ Conteúdo Comunicado ] (A1): Σ (A1))Φ Ato de Discurso ](M1):Σ(M1)) Movimento O Movimento O Movimento é uma unidade de análise do Nível Interpessoal. De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 50), o Movimento pode ser definido como uma contribuição autônoma para a interação contínua. Além disso, é característica do Movimento oferecer a possibilidade de reação por parte do destinatário, sendo tal reação tanto uma resposta quando uma objeção. Essa reação também deve ser entendida como um Movimento. Sendo assim, há dois tipos de Movimentos: o de Iniciação e o de Reação. Consideremos o exemplo a seguir: (11) A: Qual é o seu nome? B: Letícia. O primeiro Movimento da conversação, Qual é o seu nome?, constitui um Movimento de Iniciação, enquanto o segundo, Letícia, constitui um Movimento de Reação. Porém, tal como bem observam Hengeveld e Mackenzie (2008), esses dois tipos de Movimentos não parecem ser suficientes para abranger a complexidade dos processos que constituem a fala.

30 Ato Discursivo Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 376), onde houver um material linguístico, o Movimento sempre terá a forma de um ou mais Atos Discursivos. Porém, os Atos, ao contrário dos Movimentos, não necessariamente impulsionam a comunicação. Cada Ato contém uma Ilocução que especifica uma relação entre seus Participantes, o Falante, o Ouvinte e o Conteúdo Comunicado. O Ato Discursivo contém um Conteúdo Comunicado, que contém um número, que pode variar, de Subatos Atributivos e Referenciais, dos quais falaremos adiante. O Ato Discursivo, por sua vez, é a unidade básica do discurso e é definido como a menor unidade identificável do comportamento comunicativo. De acordo com os autores, a relação entre Atos Discursivos pode ser de equipolência ou de dependência. Particularmente, o que é de interesse para este estudo são as relações de dependência proeminentes, indicadas como uma Função Retórica do Ato Discursivo dependente, que pode ser de Motivação, Concessão, Orientação e Correção. A Função Retórica está relacionada ao modo pelos quais os componentes do discurso são ordenados pelo falante, que busca atingir seu propósito discursivo. Além disso, também diz respeito às propriedades formais de um enunciado que influenciam o ouvinte a aceitar o que foi proposto pelo falante. Há três tipos de Atos Discursivos, de acordo com Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 376): 1) Atos Expressivos: que dão expressão direta aos sentimentos do falante. (12) Droga!

31 31 2) Atos Interativos: consistem de material léxico invariável que é frequentemente ritualizado. (13) Parabéns! 3) Atos Ilocutivos: envolvem um Conteúdo Comunicado e uma ilocução lexical ou abstrata. (14a) (14b) Prometo que estarei lá amanhã. Estarei lá amanhã. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 64), os Atos Discursivos podem ser modificados por elementos lexicais ou especificados por elementos gramaticais, os operadores de ironia, ênfase e de atenuação. Modificadores são termos que fornecem informações adicionais sobre um referente; são facultativos, isto é, podem ser retirados sem prejudicar a informação essencial e se distribuem nas diversas camadas dos níveis Interpessoal e Representacional. Sua posição é geralmente determinada por relações semânticas de escopo, de acordo com as especificidades de cada camada, tendo posições padrão que podem ser alteradas por motivações pragmáticas, semânticas e estruturais, nos níveis Interpessoal, Representacional e Morfossintático, respectivamente. Os Modificadores de Atos Discursivos permitem ao Falante comentar sobre o Ato Discursivo, indicando: i) as propriedades estilísticas do Ato Discursivo (ex. resumidamente); ii) seu estatuto dentro do Movimento (ex. além disso);

32 32 iii) Ênfase, expressando raiva e/ou irritação, como se observa abaixo em (15), (16), (17) e (18), exemplos de Hengeveld e Mackenzie (2008, p.64): (15) Answer me, dammit! Responda-me, caramba! (16) I want to go home dammit. Eu quero ir para casa caramba! (17) Did you do it or not dammit? Você fez ou não fez caramba? (18) Let s go dammit. Vamos caramba. O elemento enfático dammit ocorre em Atos Discursivos com todos os tipos de Ilocuções, tais como Imperativo (15), Declarativo (16), Interrogativo (17) e Exortativo (18), o que mostra que opera em um nível mais alto do que a Ilocução propriamente dita, ou seja, no nível do Ato Discursivo. Modificadores desse tipo são introduzidos diretamente no Nível Interpessoal. Seu estatuto de modificador é tipicamente refletido em sua posição periférica na expressão do Ato Discursivo. É importante observar que Atos Expressivos e Interativos, como em (12) e (13), não podem ser modificados, pois consistem de material lexical invariável Conteúdo Comunicado Como mostram Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 11), o Conteúdo Comunicado contém a totalidade do que o Falante deseja evocar na sua comunicação com o Ouvinte. Cada Conteúdo Comunicado constitui uma forma de ação comunicativa do falante e contém um ou mais Subatos, chamados assim porque são hierarquicamente subordinados aos Atos Discursivos.

33 33 De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 102), o Conteúdo Comunicado também pode, como as outras unidades, ser modificado por material lexical. Modificadores potenciais nessa camada incluem os do tipo enfático, que acontecem no Nível Interpessoal e se aplicam a todos os tipos de unidades de ação. Na camada do Conteúdo Comunicado, isso significa que o conteúdo inteiro de um enunciado é enfatizado, como nos exemplos (19) e (20) de Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 102) (19) I really don t like you Eu realmente não gosto de você. (20) Do you really want to hurt me? Você realmente quer me machucar? Modificadores enfáticos do Conteúdo Comunicado são diferentes dos modificadores enfáticos do Ato Discursivo, uma vez que não expressam irritação nem raiva, mas intensificam o conteúdo do próprio Ato Discursivo. Além disso, eles têm distribuição mais limitada, pois são incompatíveis com certas Ilocuções. Outra diferença é que sua forma de expressão não é periférica, mas interna. E, por último, eles podem se combinar com Modificadores de Atos Discursivos, como em (21): (21) I really don t like you dammit! (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 103). Eu realmente não gosto de você caramba Subato de Atribuição e Subato de Referência Como já mostramos, o Conteúdo Comunicado contém tudo aquilo que o Falante deseja evocar em sua comunicação com o Ouvinte. Todo Conteúdo Comunicado contém um ou mais Subatos.

34 34 Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008), os Subatos têm função pragmática e podem ser de dois tipos: Subato de Atribuição e Subato de Referência. O Atributivo constitui uma tentativa do Falante de evocar uma propriedade; um Subato de Referência, por outro lado, constitui uma tentativa do Falante de evocar uma entidade. Essas distinções, entretanto, são feitas no Nível Representacional. No Nível Interpessoal, as distinções relevantes abordam o estatuto de referência como uma atividade interpessoal. O núcleo de um Subato de Atribuição é, em princípio, vazio, mas ele pode ser modificado por itens como alegadamente, felizmente, realmente e/ou pode estar sujeito a um operador aproximativo, expresso em português por tipo, assim ou aí. O núcleo de um Subato de Referência é tipicamente um Subato Atributivo (como em o chapéu), mas pode ser um nome próprio (Maria) ou um núcleo abstrato (realizado como um pronome ou um afixo). Como exemplo de modificador de Subatos Referenciais, podem ser citadas formas tais como pobre em pobre de mim O Nível Representacional De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2009, p.379), o Nível Representacional prende-se aos aspectos semânticos de uma unidade linguística. Considerando que a responsabilidade do Nível Interpessoal é cuidar da evocação, o Nível Representacional, por sua vez, é responsável pela designação. O uso do termo semântica é, portanto, restrito às formas em que a língua se prende às possíveis palavras que descreve. As camadas relevantes no Nível Representacional são definidas em termos das categorias semânticas que designam. As categorias

35 35 semânticas são manifestações linguisticamente relevantes e específicas de categorias ontológicas (do ser). Elas são hierarquicamente organizadas, tal como indicado no seguinte esquema: (π p1: Conteúdo Proposicional (π ep1: Episódio (π e1: Estado-de-coisas [(π f1: [ Propriedade Configuracional (π f1: (f1): [σ (f1)φ]) Propriedade Lexical (π x1: (x1): [σ (x1)φ])φ Individual... ] (f1): [σ (f1)φ]) Propriedade Configuracional (e1)φ]: [σ (e1)φ]) Estado-de-coisas (ep1): [σ (ep1)φ]) Episódio (p1): [σ (p1)φ]) Conteúdo Proposicional Conteúdo Proposicional O Conteúdo Proposicional é a mais alta unidade do Nível Representacional. Constitui constructos mentais, isto é, conhecimentos, crenças, desejos etc. Quando corresponde a conhecimentos ou crenças sobre o mundo real é considerado factual e quando corresponde a desejos ou expectativas em relação a um mundo imaginário, não factual. Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 380) afirmam que é característica do Conteúdo Proposicional poder ser qualificado em termos de atitudes proposicionais (certeza, dúvida, descrença) e/ou em termos de sua fonte ou origem (conhecimento comum partilhado, evidências, inferências etc.) Os autores atentam ainda para o fato de que não são idênticos aos Conteúdos Comunicados porque estes constituem o conteúdo da mensagem de Atos Discursivos e não são necessariamente de natureza proposicional. Porém, a principal diferença entre eles é que o primeiro sempre é atribuído ao Falante,

36 36 enquanto o segundo, não necessariamente. Ou seja, Conteúdos Proposicionais podem ser atribuídos a outras pessoas que não o falante sem acarretar nenhum problema, como mostra o exemplo a seguir: (22) Jenny acreditava que/esperava que/ foi para casa porque talvez sua irmã fosse visitá-la (adaptado de HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 380). O Conteúdo Proposicional encaixado em (22) é atribuído ao Indivíduo Jenny da oração principal. Em itálico há uma oração de natureza proposicional evidenciada no fato de que ela pode conter elementos que expressam uma atitude proposicional, como talvez. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 151), os modificadores do Conteúdo Proposicional se relacionam com a especificação de atitudes proposicionais. Essas atitudes podem se relacionar ao tipo e ao grau de comprometimento de um ser racional com o Conteúdo Proposicional ou à especificação de uma fonte (não verbal) do Conteúdo Proposicional. Vejamos o exemplo: (23) Probably/evidently/hopefully/undoubtedly Sheila is ill (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 151). Provavelmente/evidentemente/esperançosamente/indubtavelmente Sheila está doente Episódio Os Episódios podem conter uma ou mais descrições de Estados-de-coisas e podem ser entendidos como o conjunto que é tematicamente coerente no sentido de que apresenta unidade e continuidade de Tempo, Localização e Indivíduos. Além disso, segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p ), os Episódios, em várias

37 37 línguas, apresentam categoria semântica muito claramente presente no sistema gramatical, por exemplo, naqueles que apresentam ligação Tail-Head. Mas os autores também observam que tal categoria semântica é necessária em frases da língua portuguesa, como mostra o exemplo a seguir: (24) Ao sair, parando para verificar a caixa de correio, dando uma olhada para a calçada e parando para ajustar o seu chapéu, ele caminhou até seu carro (adaptado de HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 380). Em (24) há uma série concatenada de formas verbais narrativas não finitas que, junto com a forma verbal finita final, descreve um Episódio dentro de uma narrativa maior. De acordo com os autores, (24) exemplifica um fato acerca dos Episódios, isto é, a propriedade de serem localizados em tempo absoluto, enquanto os Estados-de-coisas são localizados em tempo relativo. Desse modo, enquanto todas as orações em (24) representam Estados-de-coisas, a localização absoluta no tempo ocorre apenas uma vez para a série como um todo (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 381) Estado-de-coisas Estados-de-coisas são entidades que podem ser localizadas em um tempo relativo e podem ser avaliadas em termos de seu estatuto de realidade. Pode-se dizer assim que Estados-de-coisas (não) ocorrem ou (não) acontecem em algum ponto ou intervalo no tempo. Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 171), mostram que Estados-de-coisas podem ser mais bem qualificados considerando-se as propriedades de sua ocorrência. A maior modificação concerne a tempo relativo de ocorrência, lugar da

38 38 ocorrência, frequência da ocorrência, estatuto de realidade, cenário físico, cenário cognitivo, como ilustrado pelos exemplos de Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 171): (i) de locação: (25) Sheila works in London. Sheila trabalha em Londres. (ii) de tempo relativo: (26) Sheila went out before dinner. Sheila saiu antes do jantar. (iii) de frequência: (27) Sheila goes to London frequently. Sheila vai à Londres frequentemente. (iv) realidade: (28) Sheila is actually a guy. Sheila é, na verdade, um cara. (v) de causa: (29) Sheila fell ill because of the heavy rainfall. Sheila ficou doente por causa da chuva forte. (vi) de propósito: (30) Sheila stayed home so that she could watch television. Sheila ficou em casa para que ela pudesse assistir televisão.

39 39 Todos esses modificadores agem na camada de descrição do Estado-decoisas e não do Episódio, uma vez que eles ocorrem dentro do escopo de expressões temporais absolutas de Episódio, como ontem, no ano passado etc.: (31) Ontem (ep) Sheila foi embora antes do jantar. Há diferenças entre as categorias semânticas dos modificadores acima exemplificados: Locação (l) em (25); Tempo (t) em (26); Propriedade (f) em (27) e (28); Estado-de-coisas (e) em (29); Conteúdo Proposicional (p) em (30) e Episódio em (31). (32) Last year Sheila worked in London (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171). No ano passado Sheila trabalhou em Londres. (33) Yesterday Sheila went out before dinner (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171). Ontem Sheila saiu antes do jantar. (34) Last year Sheila went to London frequently (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171). No ano passado Sheila foi para Londres frequentemente. (35) In the past Sheila was actually a guy (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171). No passado Sheila era de fato um homem. (36) Last week Sheila fell ill because of the heavy rainfall (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171) Na semana passada Sheila adoeceu por causa da chuva forte. (37) Yesterday Sheila stayed home so that she could watch television (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 171). Ontem Sheila ficou em casa para que pudesse assistir televisão. Alguns tipos de expressão de Modo, descritivos, e predicações secundárias também pertencem à classe dos Modificadores de Estados-de-coisas. Descrições de Estados-de-coisas com núcleo vazio ou lexical podem ser modificadas por todos os tipos de modificadores típicos de sintagmas referenciais, como nos exemplos de Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 172): (38) the meeting that I attended. O encontro de que participei. (39) the interesting meeting. O encontro interessante.

40 40 (40) yesterday s meeting. O encontro de ontem Propriedades Configuracionais Propriedades Configuracionais constituem o inventário dos moldes de predicação relevantes para uma língua, que se submetem a restrições de natureza quantitativa (valência) e qualitativa (concernentes às categorias semânticas das unidades componentes e à maneira como as relações entre esses componentes são expressas, em termos de suas funções semânticas). Um exemplo de modificador nessa camada é a função de Beneficiário, nomeando uma pessoa ou uma instituição em nome de quem o benefício do Estadode-coisas é efetuado. O estatuto modificador do Beneficiário é aparente em exemplos como o (41), em que todas as três posições associadas com o predicado give já estão preenchidas com you (A), Mary (L), e these flowers (U). (41) Will you give Mary these flowers for me? (fi: [(fj: give (fj )) (xi)a (m prox xj: flower (xj))u(xk)l] (fi ): (xl)ben (fi)) (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 208). Você dará essas flores para Mary por mim? O Beneficiário é assumido como um modificador nessa camada por representar um participante do Estado-de-coisas para o qual a gramática não oferece espaço (slot) como argumento. Uma motivação similar acontece com as funções Comitativa e Instrumento, que funcionam também como modificadores nessa camada, conforme os exemplos de Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 208): (42) John went to Paris with Mary João foi para Paris com a Mary. (43) John cut the meat with a knife João cortou a carne com uma faca.

41 41 Além de participantes adicionais, os modificadores de Propriedades Configuracionais podem, também, designar certos tipos de Modo. Os advérbios de Modo se mostram relevantes em várias camadas, mas com diferenças em seu comportamento, conforme se observa no exemplo abaixo e em sua análise. (44) John walked slowly (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 208). João andou vagarosamente. Nesse caso a expressão de Modo modifica somente o predicado walk: era a caminhada que estava lenta, mas isso não faz de John uma pessoa lenta. Já a interpretação ocasionada pelo exemplo abaixo é diferente: (45) John stupidly answered the question (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 209). João ingenuamente respondeu a questão. A resposta de John pode ter sido muito inteligente, mas foi estúpido da parte dele tê-la respondido da forma como respondeu. Aqui o Estado-de-coisas é que é caracterizado como estúpido, o que é refletido no fato de a expressão de modo ocupar a posição de modificador de (e), o que também é diferente do próximo exemplo: (46) John angrily left the room (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 209). João nervosamente deixou a sala. Esse exemplo mostra que a expressão de Modo não modifica meramente a saída: não há dúvida de que John desenvolveu uma saída raivosa. (59) é entendido como significando que uma Propriedade Configuracional, que é o núcleo do Estado-de-coisas, tem a Propriedade de ser raivosa talvez John tenha batido a porta, ou chutado um gato.

42 42 Em certas línguas, em que não há distinção morfológica entre adjetivos e advérbios, não há distinção formal entre (46) e (47), esses casos serão analisados como pertencentes ao Nível Representacional. (47) John left the room angry (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 209). João deixou a sala nervoso. Sendo assim, entre os exemplos (44) e (47), somente (46) contém um modificador de Propriedade Configuracional. O modificador em (44) está na camada de Propriedade Lexical, o de (45) e (46) na camada de Estado-de-coisas. Outra categoria de modificador na camada de Propriedades Configuracionais é a que quantifica a constituição temporal interna de um Estadode-coisas. O membro mais proeminente dessa categoria é a Duração, que define a extensão temporal interna de um Estado-de-coisas singular, como mostram Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 210): (48) He has lived here for ten years. Ele tem vivido aqui por 10 anos. (49) He waited for three hours. Ele esperou por três horas Propriedade lexical Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 230), Propriedades Lexicais podem ser modificadas por outra Propriedade Lexical. A classe lexical do modificador lexical é, nesses casos, determinada pela classe lexical do núcleo. Assim, temos: (50) dance beautifully dançar lindamente (51) extremely famous

43 43 Extremamente famoso (52) very astonishingly Muito atonitamente (53) former neighbour Primeiro vizinho O exemplo (53) mostra um adjetivo (former) que modifica uma Propriedade, diferente do adjetivo rich (rico), por exemplo, que modifica um Indivíduo. Em (54) um indivíduo é caracterizado como tendo a propriedade vizinho e rico: (54) rich neigbour (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 230) vizinho rico Nota-se que modificadores de Propriedades Lexicais podem, por si sós, designar outras categorias semânticas. Isso é relevante para a classe de modificadores que geralmente combinam com verbos de movimento, como mostrado abaixo: (55) He went up (wards) / down (wards) / in (wards) / out (wards) /right (wards)/ left (wards) / home (wards) / back (wards) / east (wards) /west (wards) / etc. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 232). Esses modificadores indicam orientação direcional, e podem coocorrer com os argumentos direcionais, que designam Locações, como segue nos exemplos abaixo (Hengeveld e Mackenzie, 2008, p. 232): (56) He went down to the station Ele desceu para a estação. (57) He walked up to the church. Ele subiu para a igreja. Essa relação de proximidade desses modificadores com os verbos que eles modificam aparece não só no fato de eles serem restritos no uso aos verbos de

44 44 movimento, mas, também, no fato de que em muitas línguas codificam significados direcionais lexicalmente, como é o caso do português: descer, subir. 1.5 O NÍVEL MORFOSSINTÁTICO O Nível Morfossintático, segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 383), lida com os aspectos estruturais de uma unidade linguística. Juntamente com o Nível Fonológico, ele cuida da codificação das distinções interpessoais e representacionais. Diante dessa função, muito do que acontece no Nível Morfossintático é funcionalmente motivado: princípios de ordenação são motivados por iconicidade, integridade de domínio e preservação das relações de escopo. Ao mesmo tempo, a morfossintaxe tem os seus próprios princípios de organização, como, por exemplo, na imposição arbitrária de um padrão de ordenação de constituintes básica, que, em si mesmo, não pode ser considerado funcionalmente motivado. Nesse nível, as unidades linguísticas são analisadas em termos de seus constituintes sintáticos, sendo das camadas mais altas para as mais baixas: (Le1: (Cl1: (Xp1: (Xw1: (Xs1) (Aff1) (Xw1)) (Xp1)) (Cl1)) (Le1)) Expressão Linguística Oração Sintagma Palavra Raiz Afixo Palavra Sintagma Oração Expressão Linguística

45 45 A camada mais alta, Expressão Linguística, consiste de pelo menos uma unidade que pode ser usada independentemente. Quando há duas ou mais unidades que compõem a Expressão Linguística, elas compartilharão as mesmas propriedades morfossintáticas, e necessariamente uma não é parte da outra. As unidades que podem se combinar na Expressão Linguística são Orações, Sintagmas ou Palavras. Segundo Hengeveld e Mackenzie, uma Oração simples é um agrupamento de um ou mais Sintagmas e, possivelmente, Palavras (gramaticais), e é caracterizada, em maior ou menor grau, por um padrão para a ordenação desses Sintagmas e, também, em maior ou menor grau, por expressões morfológicas de conexão (em especial, regência e concordância). Além disso, a Oração pode operar como um domínio para vários processos morfossintáticos. Enquanto, para cada língua analisada, a identificação das Orações será dependente de critérios específicos da língua, acreditamos que é justificável postular a Oração como uma categoria universal da estrutura morfossintática (2009, p. 383). O Sintagma, de acordo com os autores: têm como núcleo um item lexical que é transmitido a partir do Nível Interpessoal ou do Nível Representacional. Não há uma correspondência biunívoca necessária entre as classes de lexemas reconhecidas em uma língua e os tipos de Sintagmas e classes de Palavras correspondentes reconhecidas dentro dessa mesma língua. Uma língua com uma classe de lexemas altamente flexível pode ter uma variedade de tipos de Sintagmas (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 385). Os Sintagmas podem ser de vários tipos: Verbais, Nominais, Adjetivais, Adverbiais e Adposicionais, a depender do núcleo. Porém, esses tipos de sintagmas não necessariamente estão presentes em todas as línguas. Outra camada desse nível é a Palavra, que, por sua vez, consiste em uma configuração sequenciada de Morfemas, outras Palavras, Sintagmas e Orações. A Gramática Discursivo-Funcional distingue Palavras de Lexemas. Os Lexemas operam no Nível Representacional enquanto que as Palavras operam no

46 46 Nível Morfossintático. Essa distinção deve ser feita porque (i) uma única palavra no Nível Morfossintático pode corresponder a vários Lexemas no Nível Representacional; (ii) não há distinção entre a classe de Lexemas em algumas línguas, mas há uma variedade de classes de Palavras; (iii) muitas Palavras não apresentam Lexemas correspondentes. De acordo com Garcia (2010, p. 49), outra distinção necessária é entre Palavras Lexicais e Palavras Gramaticais. As Lexicais são introduzidas no Nível Morfossintático e são classificadas de acordo com sua distribuição sintática e conteúdo lexical. Já as Gramaticais não apresentam Lexemas correspondentes. São palavras a que corresponde um operador ou uma função no Nível Representacional ou Interpessoal, que são introduzidas por elementos vazios (dummies) ou suporte (support). Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009), cada camada de análise morfossintática é construída em uma série de etapas. A ordenação linear inicia-se com os elementos hierarquicamente superiores e se desenvolve até os mais baixos, uma vez que é um modelo de organização descendente. Porém, com as unidades interpessoais e representacionais que estão em uma relação configuracional, o processo não pode ser da mesma maneira porque essas unidades devem ser colocadas umas em relação às outras e é nesse momento que o sistema de alinhamento da língua ganha participação. Tal alinhamento pode ocorrer com base interpessoal, representacional ou morfossintática, ou, até mesmo, com uma combinação deles. É característica da ordenação linear ser feita de forma dinâmica, valendo-se de uma série de posições absolutas (P I, P 2, P M e P F ). Depois de essas posições terem

47 47 sido preenchidas, criam-se as posições relativas, expandidas à direita ou à esquerda das posições absolutas (P I+1, P M-1, P M+1, P F-1 ). Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 387) ressaltam que, caso nenhum material tenha sido disponibilizado pelos níveis Interpessoal e Representacional para ocupação de posições obrigatórias, essas posições devem ser preenchidas por elementos vazios sintáticos ou morfológicos, em um processo que eles intitulam de Coerção. Desse modo, segundo os autores, em muitas línguas a inserção de um componente não verbal na posição de predicado vai desencadear a inserção de uma cópula. Em outras, ao ser inserido um lexema transitivo em uma estrutura de predicação intransitiva será acionado um afixo de detransitivização. 1.6 O NÍVEL FONOLÓGICO Por fim, o Nível Fonológico (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 387) é o responsável por todos os aspectos da codificação não abrangidos pelo Nível Morfossintático. O Nível Fonológico recebe input alguns já estão em forma fonêmica de todos os três outros níveis e fornece o input para Componente de Saída. O Componente de Saída é responsável por questões análogas, ou seja, frequência dos formantes, intensidade, duração etc.. O Nível Fonológico, por sua vez, contém representações em fonemas que são baseados em oposições binárias fonológicas. Isso quer dizer que o Nível Fonológico não tem como objetivo mostrar a melodia da Frase Entonacional, mas, sim, fornecer um número de indicações em cada camada que o Componente de Saída converte em um resultado que flui suavemente.

48 48 Os primitivos com os quais opera o Nível Fonológico incluem: (i) os padrões prosódicos que se aplicam em cada estrato de análise; (ii) um inventário de sequências segmentadas, léxico-gramaticais, que apresentam configuração especial ou espaços reservados que são introduzidos a outros níveis; e (iii) um conjunto de operadores terciários que terá o seu efeito final no Componente de Saída. Tal como os outros níveis, as representações fonológicas são de natureza hierárquica. Também neste caso, a GDF toma como pressuposto que nem todas as camadas estão ativas em cada Enunciado ou, de fato, são relevantes para o sistema de cada língua. E quanto ao Nível Morfossintático, a GDF não exclui a possibilidade de recursão em certas camadas. Nesse nível, a expressão linguística é analisada em termos de unidades fonológicas tais como se segue abaixo: (π U1:[ Enunciado (π IP1: [ Frase Entonacional (π PP1: [ Frase Fonológica (π PW1: [ Palavra Fonológica (π F1: [ Pé (π S1)N Sílaba ] (F1)) Pé ] (PW1)) Palavra Fonológica ] (PP1)) Frase Fonológica ] (IP1) Frase Entonacional ](U1)) Enunciado Para Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 388), o enunciado é o maior trecho de discurso abrangido pelo Nível Fonológico. Para separar Enunciados de Frases Entonacionais, o falante tenderá a usar pausas mais longas, que, por sua vez, não serão interpretadas pelo Ouvinte como hesitação por parte do Falante. É também propriedade do Enunciado a possibilidade de apresentar distinções de altura,

49 49 chamadas paratons, que têm como característica contribuir para marcar o Enunciado como um grupo autônomo de Frase Entonacional. Na fronteira entre Enunciados, o Componente de Saída pode reagir de diversas formas: abaixamento, voz crepitante, longas pausas etc. De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 432), uma Frase Entonacional é caracterizada por propriedades internas e externas, sendo que, internamente, contém um núcleo que é um movimento pontual, localizado em uma ou mais Sílabas, e que tem como característica ser essencial para a caracterização da Frase Entonacional como um todo. Internamente, as Frases Entonacionais se separam por meio de pausas (mais curtas do que as pausas usadas para separar Enunciado, por exemplo). Em algumas línguas, a oração subordinada pode vir separada da oração principal por meio da quebra de duas Frases Entonacionais, enquanto que em outras línguas essas duas orações formam uma única Frase Entonacional. Em relação à Frase Fonológica, Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 388) afirmam que as línguas acentuais contêm uma sílaba nuclear, que geralmente também é o principal local para a queda ou a subida dentro da Frase Entonacional, que é mais fortemente acentuada do que as outras. Nas línguas tonais, por sua vez, em que o movimento tonal é utilizado para distinções lexicais, as Frases Fonológicas tem uma raison d être (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 22) diferente, no caso, o domínio de sândi tonal. A Palavra Fonológica é uma parte da estrutura fonológica que pode estar relacionada ao número de segmentos, aos recursos prosódicos ou ao domínio das regras fonológicas. Essas Palavras Fonológicas são divididas em Sílabas que em

50 50 línguas acentuais que apresentam sílabas acentuadas e não acentuadas agrupamse em Pés (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 388). Níveis e camadas, como veremos adiante, são importantes na determinação dos vários tipos de relação causal tratadas neste estudo.

51 51 2 A RELAÇÃO CAUSAL NA LITERATURA A relação causal é um tema muito investigado nas línguas, independentemente do suporte teórico utilizado. Este capítulo, primeiramente, busca apresentar as noções de Subordinação e Coordenação em que a relação causal é tratada por grandes nomes da linguística, além de burcar realizar uma interface com as noções de Subordinação, Coordenação e Cossubordinação em que a relação causal é abordada, por sua vez, pela GDF. Posteriormente, apresenta-se um aparato de como essa relação adverbial tem sido tratada na literatura pelos linguistas. 2.1 O CONCEITO DE SUBORDINAÇÃO E COORDENAÇÃO Matthiesen e Thompson (1988, p. 276) acreditam que não é possível diferenciar oração subordinada e oração principal em termos puramente sintáticos, mas sim pelo contexto discursivo em que tais orações aparecem. Tais autores, tal como Halliday (1985), fazem uma distinção entre (i) Parataxe, que, segundo Matthiesen e Thompson (1988, p. 318), inclui uma noção mais abrangente que a noção tradicional de Coordenação, (ii) Hipotaxe (subordinadas adverbiais) e (iii) Encaixamento (Substantivas e Adjetivas). É possível observar que, além de Halliday (1985), outros grandes nomes da linguística, tais como Matthiesen e Thompson (1988) e Givón (1990, p. 827), rejeitam a dicotomia Coordenação e Subordinação, pois partilham da concepção de que as orações não são independentes de seus contextos oracionais imediatos e que, além disso, a distinção entre Subordinadas e Coordenadas, como respectivamente dependente e independente, só procede quando em limites tipológicos.

52 52 Givón (1990) e Lehmann (1988) propõem a existência de graus de encaixamento, considerando que há orações que são mais e orações que são menos dependentes da principal. Lehmann (1988) propõe até mesmo um continuum de articulação, que vai da mais independente ou menos dependente (Parataxe) para a menos independente ou mais dependente (o Encaixamento). Segundo o autor, tal cline foi baseado em seis parâmetros: (i) o rebaixamento hierárquico da oração subordinada; (ii) o nível sintático da oração principal com relação à oração subordinada; (iii) a dessentencialização da oração subordinada; (iv) a gramaticalização do verbo da oração principal; (v) o entrelaçamento das duas orações; e (vi) a explicitude da ligação. Segue abaixo o continuum proposto por Lehmann (1988, p. 189): Parataxe Encaixamento Na Parataxe não há uma relação hierárquica entre as duas orações que formam a sentença complexa, enquanto que no Encaixamento há uma oração encaixada governada por um verbo principal. É considerando Lehmann (1988) e também Matthiessen e Thompson (1988), que Hopper e Traugott (1993) propõem o seguinte cline: Parataxe > Hipotaxe > Subordinação Para esses autores, uma sentença complexa, sintaticamente definida, é uma unidade que consiste de mais de uma oração. Uma oração que possa se manter sozinha pode ser chamada de núcleo. A oração complexa consiste de uma oração

53 53 núcleo e uma ou mais orações adicionais a esse núcleo, ou de um núcleo e uma ou mais orações subordinadas, que são orações relativamente dependentes que não podem se suportar sozinhas, mas exibem diferentes graus de dependência. Dentre as orações que formam subordinadas, três tipos podem ser semanticamente distintos: (i) completivas, ou aquelas que funcionam como um sintagma nominal; (ii) relativas, ou aquelas que funcionam como modificadores do substantivo; e (iii) adverbiais, ou aquelas que funcionam como modificadores do sintagma verbal ou de sentenças inteiras. Dessa maneira, Hopper e Traugott (1993, p. 178) observam que o cline em (a) pode ser elaborado com base na combinação de características como dependente, encaixadas: (a) Parataxe > Hipotaxe > Subordinação - dependente + dependente + dependente - encaixada - encaixada + encaixada Ao atribuir tais características às orações, Hopper e Traugott (1993, p. 178) observam que estão também redefinindo a terminologia de duas tradições e expandindo em três distinções o que antes era tratado apenas em duas. O par Parataxe versus Hipotaxe deriva de uma tradição do século XIX em que a Parataxe era entendida como aquela que incluía todos os tipos de justaposição enquanto que a Hipotaxe incluía todos os tipos de dependência. O outro par, Coordenação e Subordinação (essa especialmente entendida como Encaixamento), deriva de uma tradição mais recente, na qual a Coordenação e o Encaixamento são definidos formalmente em termos de estrutura constituinte. Segundo Hopper e Traugott (1993, p. 179), a Parataxe, ou independência relativa, é um tipo de relação que ocorre com duas ou mais orações núcleo que

54 54 aparecem uma ao lado da outra, sem dependerem uma da outra e sem apresentarem encaixamento. Já a Hipotaxe, ou interdependência, ocorre quando há um núcleo e uma ou mais orações que não podem se manter sozinhas e que, portanto, são relativamente dependentes. Porém, elas não são completamente incluídas dentro de nenhum constituinte da oração núcleo. Por fim, segundo os autores, na Subordinação, ou Encaixamento, há uma dependência completa, em que a oração subordinada é totalmente incluída dentro do constituinte do núcleo. Para Dik (1997b, p. 94), há uma relação binária entre Coordenação e Encaixamento. No Encaixamento, segundo o autor, há termos complexos que podem ocupar a posição de argumento ou de satélite e que contém estruturas encaixadas como restritores. Quando os termos complexos ocupam a posição de satélite, a integridade do Estado-de-coisas não é afetada, caso esses sejam retirados da oração, e é nesse caso que Dik (1997b, p. 94) acredita ocorrer uma oração adverbial. Diferentemente de Dik (1997b), Cristofaro (2003) não defende uma relação entre Subordinação e Coordenação como possível de ser definida como processos de natureza binária, uma vez que acredita que essa divisão é essencialmente morfossintática e foi desenvolvida com base nas línguas indo-europeias. Além de encontrar problemas na relação binária entre Coordenação e Subordinação, Cristofaro (2003, p. 20) também afirma que há problemas no continuum proposto por Lehmann (1998), porque, devido à diversidade morfossintática que existe nas diferentes línguas, há que se relacionar Subordinação e não Subordinação com outros parâmetros e não somente com o critério de

55 55 encaixamento que serve de base para o continuum proposto por Lehmann (1988), pois, segundo Cristofaro (2003, p.20), é necessário considerar a possibilidade de diferentes tipos de mecanismos de articulação de oração. A crítica de Cristofaro (2003, p. 20) ao continuum é fundamentada no fato de que, quando definida somente com base em critérios formais, tal como é o Encaixamento, os resultados das descrições podem não ser satisfatórios, pois há que se considerar a existência de línguas que não expressam oração subordinada ou que, pelo menos, as utilizam para expressar funções semânticas e pragmáticas. Considerando tais aspectos, Cristofaro (2003) conceitua a Subordinação como um modo de construir uma relação cognitiva entre dois Estado-de-coisas, de modo que no Estado-de-coisas dependente falte um perfil autônomo, o que faz com que seja construído a partir do outro Estado-de-coisas, que será, portanto, chamado de principal. Desse modo, o Estado-de-coisas dependente é pragmaticamente não assertivo enquanto que o Estado-de-coisas principal é pragmaticamente assertivo. A grande vantagem da abordagem da autora é que, segundo ela, tal situação existe em todas as línguas, o que permite a identificação do Estado-de-coisas dependente em qualquer língua. Na Gramática Discursivo-Funcional, as orações podem ocorrer como constituintes de outras orações. Quando esse é o caso, a oração constituinte ocorre na forma de orações adverbiais, completivas ou predicativas. De acordo com essa perspectiva teórica, os fatores interpessoais, representacionais e morfossintáticos são responsáveis pela escolha de determinados tipos de oração subordinada. Ainda, segundo os autores, a oração subordinada pode ocupar qualquer camada do Nível Representacional. Porém, as camadas do Nível Interpessoal podem corresponder a camadas do Nível Representacional quando uma unidade

56 56 comunicativa for referida. Desse modo, as subordinadas são classificadas em termos de camadas Interpessoais ou Representacionais que subjazem a ela. No caso específico da subordinação adverbial, é a função semântica ou a conjunção que serão responsáveis por restringir as camadas com as quais ela se combina. Considerando os diferentes autores e seus distintos conceitos de Subordinação, neste trabalho optamos por adotar o conceito de Hengeveld e Mackenzie (2008). Para esses autores, a subordinação ocorre na camada tanto da oração quanto do sintagma e da palavra. Na primeira, de acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 334), as orações podem ocorrer como constituintes de outras orações, sendo adverbiais, completivas ou predicativas. Eles ressaltam que a forma dessas orações podem ser diferentes da oração principal e que nem todas as línguas possuem orações subordinadas, usando, no lugar dessas, construções paratáticas. Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 353) afirmam que já em outras línguas encontram-se tipos de orações subordinadas que são como as orações principais. Porém, muitas línguas possuem orações subordinadas que são distintas da oração principal e que podem ser de mais de um tipo. Os autores ressaltam ainda que orações subordinadas podem ser distinguidas umas das outras por meio de presença ou ausência de conjunção, por presença ou ausência de formas verbais especiais, ou por presença ou ausência de marcas especiais. No presente trabalho, optamos por excluir a análise dessas orações, por acreditarmos que tal recorte é mais adequado a um mestrado. No que tange à camada do sintagma, Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 396) mostram que sintagmas podem conter outros sintagmas ou orações, que dentro de um sintagma maior podem atuar como argumentos ou modificadores. Os autores observam que algumas línguas usam os mesmos templates para sintagmas e orações

57 57 subordinadas que são usados para orações e sintagmas independentes, enquanto que em outras línguas, sintagmas e orações subordinadas podem se diferenciar na forma em relação às independentes. Para a camada da palavra, os autores afirmam que a subordinação ocorre quando uma palavra incorpora outra palavra, sintagma ou oração. Com relação à palavra, ela pode estar subordinada a outra(s) palavra(s). O sintagma pode estar incorporado, por exemplo, a uma palavra verbal, e a oração pode estar, por sua vez, também incorporada a uma única palavra. De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 309), na Expressão Linguística, os elementos podem estar envolvidos por meio de Equiordenação, Coordenação ou Cossubordinação. A Equiordenação é um tipo de relação em que há uma dependência mútua entre as orações, de forma que nenhuma delas poderia ser usada independentemente, apesar de uma não ser constituinte da outra. Há casos, no entanto, em que uma unidade é usada independentemente enquanto a outra não, o que configura o fenômeno de Cossubordinação. Uma última possibilidade, segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 308), surge quando nem um constituinte e nem o outro dependem entre si, isto é, cada um pode ocorrer por conta própria, mas combinam-se pra formar uma única unidade formal, caso que recebe o nome de Coordenação. A Expressão Linguística pode ainda ser constituída de uma só unidade usada de maneira independente, mas constituída de duas unidades oracionais, em que uma é constituinte da outra, o que configura, então, um caso de Subordinação. Entretanto, o que é aplicável ao trabalho aqui desenvolvido é somente, além da Subordinação, a Cossubordinação e a Coordenação.

58 58 O primeiro tipo, Cossubordinação, segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 63), pode ocorrer entre orações, como em (58), e entre sintagmas, como (59): (58) Eu joguei aquilo cuidadosamente e aquilo não quebrou. Eu tendo jogado aquilo cuidadosamente, aquilo não quebrou (Adaptado de HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 308). (59) Quanto aos alunos, eles ouviram as notícias ontem.(adaptado de HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 308). Em (58), há uma relação de extraoracionalidade, já que há uma relação de dependência sem que o termo dependente seja um constituinte do outro. O segundo tipo, Coordenação, pode ocorrer entre Orações, como em (60), ou entre Sintagmas, como em (61): (60) Celtic ganhou e os Rangers perderam (Adaptado de HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 309). (61) Um Big Mac, batatas fritas e uma coca cola (Adaptado HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 309). Em (60) e (61), nenhum constituinte depende do outro, mas a combinação deles forma uma única unidade linguística. 2.2 A RELAÇÃO CAUSAL Nesta seção, faremos uma apresentação daquilo que os linguistas, como Quirk et al. (1991), Dik (1997a, 1997b), Neves (2000), Pérez Quintero (2002), Paiva (1995, 2001), Paiva e Braga (2006) e Hengeveld e Mackenzie (2008) entendem por relação causal Causa, Razão ou Explicação?

59 59 Definir e compreender quando estamos diante de uma relação subordinada adverbial Causal ou uma oração coordenada Explicativa é definitivamente uma tarefa árdua, como bem ressalta Neves (2000). Já entre as Gramáticas Tradicionais encontramos em alguns autores a preocupação com tal identificação. Dentre esses autores, Kury (1972) chama a atenção quando estabelece critérios que podem ser utilizados a fim de evitar a confusão entre as relações. Segundo Kury (1972, p. 81), o primeiro critério é ter em mente que a oração subordinada adverbial Causal sintaticamente vale por um adjunto adverbial e que um possível teste é tentar substituir a oração desenvolvida da adverbial Causal iniciada com que, pois, porque por outra equivalente, reduzida de infinitivo, iniciada pela preposição por. Caso isso seja possível sem afetar o sentido da frase, é sinal de que a oração é subordinada Causal. Desse modo, a possibilidade de trocar o porque por por e obter uma oração com sentido confirma que (62) é uma adverbial Causal: (62) Um dia quebrei a cabeça duma escrava, [porque me recusara uma colher de doce de coco] que estava fazendo (KURY, 1972, p. 78). (62a) Um dia quebrei a cabeça duma escrava por ela ter me recusado uma colher de doce de coco que estava fazendo. Porém, consideremos o exemplo a seguir: (63) Um pouquinho só lhe bastava no momento, pois estava com fome (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 598). (63) é classificado como um exemplo de Explicação por Cunha e Cintra (2001, p. 598). Porém, considerando o primeiro critério estabelecido por Kury (1972), a conjunção pois em (63) pode ser trocada por por, como em (63a). Desse

60 60 modo, tal oração não seria, portanto, de Explicação para Kury (1972), apesar de o ser para Cunha e Cintra (2001). (63a) Um pouquinho só lhe bastava no momento por estar com fome. O segundo critério elencado por Kury (1972, p. 81) afirma que a oração Explicativa, por ser independente, admite pausa forte, que se pode indicar por dois pontos, ou ponto e vírgula, o que em geral será forçado ou impossível para as causais. O terceiro critério é baseado no conectivo, que, segundo Kury (1972, p. 81), nas orações Explicativas pode ser omitido sem qualquer prejuízo da clareza, fazendo-se preceder a oração de dois pontos, algo que, de acordo com o autor, não ocorre com as Causais. Desse modo, (64a) é aparentemente possível: (64) Roda, meu carro, que é curto o caminho (KURY, 1972, p. 81). (64a) Roda, meu carro, o caminho é curto. (65) é uma oração Causal sem conectivo. No entanto, o próprio autor se contradiz ao afirmar que as orações causais podem aparecer justapostas a sua principal, sem auxílio de conjunção. (65) Ninguém reparou em mim: todos andavam como pasmados (KURY, 1972, p. 79). O quarto critério fornecido por Kury (1972) é de que, na maioria das vezes, a oração que antecede uma Explicativa tem o verbo no imperativo, indicando tempo futuro, como em (66). Por sua vez, (67) trata-se de uma adverbial causal, pois o verbo está no indicativo, sendo, pois, uma Causal. (66) Não chores, porque estou a teu lado (KURY, 1972, p. 81). (67) Não chorava porque a mãe não estava a seu lado.(kury, 1972, p. 81).

61 61 Como último critério, Kury (1972) afirma que na sua maioria, as orações Causais de que, pois, porque podem substituir-se por equivalentes com os conectivos como (no início do período), uma vez que etc.; algo que não é possível com as Explicativas. O exemplo (68) de Cunha e Cintra (2001, p. 598), no entanto, mostra que é possível substituir pois por como, conforme mostra (82a): (68) Um pouquinho só lhe bastava no momento, pois estava com fome (CUNHA e CINTRA, 2001, p. 598). (68a) Como estava com fome, um pouquinho só lhe bastava no momento. Desse modo, percebe-se que nem sempre é possível a aplicação desses critérios para distinguir uma adverbial Causal de uma coordenada Explicativa. Quirk et al. (1991, p. 1103) englobam dentro do título de Razão orações que exercem diferentes funções. Os autores afirmam que dentro da nomenclatura Razão há diversos tipos de orações subordinadas que apresentam similaridades básicas quando se relacionam com sua oração matriz. Para todos os tipos há geralmente uma sequência temporal de tal modo que a situação na oração subordinada precede em tempo a sua oração matriz. Seguem abaixo as diferentes relações consideradas pelos autores: (a) Causa e efeito: a construção expressa a percepção de um objetivo inerentemente conectado no mundo real. (69) The flowers are growing so well because I sprayed them (QUIRK et al., 1991, p. 1103). As flores estão crescendo tão bem porque eu as pulverizei. Segundo os autores, a paráfrase que pode ser feita de (69) é a de que a causa/razão pela qual as flores estão crescendo tão bem é porque eu as pulverizei.

62 62 (b) Razão e consequência: a construção expressa uma inferência do falante de uma conexão: (70) She watered the flowers because they were dry (QUIRK et al., 1991, p. 1104). Ela aguou as flores porque elas estavam secas. Tal como em (69), a paráfrase para (70) é a de que a razão que fez com que ela aguasse as flores foi a secura delas. (c) Motivação e resultado: a construção expressa a intenção de um ser animado, que tenha um resultado subsequente. Agentividade e intenção estão sempre presentes na Motivação. (71) I watered the flowers because my parents told me to do so (QUIRK et al., 1991, p. 1104). Eu aguei as flores porque meus pais me pediram para fazer isso. Em (71), entende-se, segundo os autores, que a motivação/razão do falante para aguar as flores foi porque os pais pediram. (d) Circunstância e consequência: a oração circunstancial combina razão com uma condição que é preenchida ou para ser preenchida. Tal construção expressa uma relação entre uma premissa na oração subordinada e uma conclusão na oração matriz: (72) Since the weather has improved, the game will be held as planned (QUIRK et al., 1991, p. 1104). Uma vez que o tempo melhorou, o jogo será organizado como planejado.

63 63 Em (72), Quirk et al. (1991) afirmam que por conta do fato de que o tempo melhorou, o jogo será organizado como planejado ou que a razão para o jogo ser organizado como planejado é que o tempo melhorou. Além dessas quatro possibilidades, colocadas dentro do grupo intitulado de Razão Direta por expressarem uma relação direta entre a oração de razão e a oração matriz, há um outro grupo que, segundo os autores, apresenta casos de usos mais periféricos, intitulado Razão Indireta. Nesses, a razão não está relacionada com a situação da oração matriz, mas é sim uma motivação para o Ato de Discurso implícito de um enunciado: (73) Since you seem to know them, why don t you introduce me to them? (QUIRK et al., 1991, p. 1104) Uma vez que você parece conhecê-los, porque você não me apresenta para eles? (73) pode ser parafraseada da seguinte maneira: uma vez que você os conhece, eu peço que me apresente para eles. É relevante observar que Pérez Quintero (2002), com base em Quirk et al. (1991), faz a seguinte divisão: Causa Eventiva, Causa Epistêmica e Causa Ilocucionária, correspondendo, respectivamente, às orações de Causa e Efeito, Razão e Consequência e Razão Indireta. Neves (2000) afirma que as relações de causa ocorrem entre predicações (Estado-de-coisas), indicando causa real, causa eficiente ou casa efetiva. Porém, a própria autora concorda que essa maneira de enxergar a relação causal é estrita porque o fato é que as expressões linguísticas ligadas pelo conector porque ou seus equivalentes semânticos não se restringem a esse tipo de causalidade efetiva entre conteúdos. Na verdade, como bem observa Neves (2000, p. 804), a relação causal raramente se refere a simples acontecimentos ou situações de um mundo. Sendo

64 64 assim, Neves (2000), tal como faz Pérez Quintero (2002), opta por tratar a relação causal de modo amplo. Neves (2000), então, mostra que tais relações podem ser (i) marcadas por um conhecimento ou crença do falante, o que, segundo ela, faz com que tal relação ocorra no domínio epistêmico e configura, assim, uma Causa formal ou Causa Epistêmica para Pérez Quintero (2002), como em (74), ou (ii) entre um Ato de Fala e a expressão da causa que motivou este Ato linguístico, Causa Ilocucionária para Pérez Quintero (2002), como em (75). (74) A opção de usar frango para alimentação de peixes pode não ser boa, porque há excesso de proteína na carne da ave (NEVES, 2000, p. 805). (75) Vou tirar umas férias, porque estou cansadíssimo (NEVES, 2000, p. 805). Relações como a expressa em (74) são tradicionalmente tratadas como oração coordenada Explicativa e não relação subordinada Causal. Para Neves (2000), essa abordagem tradicional faz sentido uma vez que: não se articulam simples orações, mas períodos, cada um representando um ato de fala. Justifica-se, também, a denominação explicativa (oração coordenada explicativa), ao invés de causal, para a oração que exprime causa, já que na relação de causalidade entre diferentes atos de fala nunca está abrigada a causalidade real, efetiva, material, eficiente, e nem mesmo a causalidade manada da visão dos fatos ( proposições ) do falante. Trata-se de uma relação mais frouxa do que uma relação verdadeiramente causal (em qualquer de suas subespécies, como motivo, razão justificativa, etc.) próximo de uma explicação (NEVES, 2001, p ). Ainda é característica da relação Explicativa a frouxidão que existe entre a oração principal e a relação Explicativa. Segundo Neves (2000), tal frouxidão da coordenada Explicativa é sensível na formação de duas curvas entonacionais, cada uma delas referente a um dos dois Atos de Fala, que tem tal separação normalmente

65 65 registrada na escrita com sinal de pontuação (vírgula, ponto e vírgula ou mesmo ponto final): (76) Depressa, que a luz está indo embora (NEVES, 2000, p. 806). Porém, como bem observa a autora, não se deve entender sinal de pontuação como marca imprescindível para a ocorrência da quebra entonacional entre as duas orações. O fato é que, às vezes, a pausa ocorre na fala mas não é marcada graficamente, como é o caso do exemplo a seguir: (77) Deixa estar que eu sirvo (NEVES, 2000, p. 806). Considerando que Neves (2000) acredita que a relação causal deve ser tratada de maneira ampla, o que a autora propõe é analisar a relação causal como possível de ocorrer de três maneiras: a) predicações (Estados-de-coisas); b) proposições (fatos possíveis); c) enunciados (Atos de Fala). Porém, apesar de serem diferentes, uma vez que envolvem funções semânticas diferentes, para a autora, em (a) e (b) teríamos a relação considerada subordinada Causal, como em (78), enquanto que em (c) teríamos a relação coordenada Explicativa, como em (79). (78) Já que por ora trato do período que se seguiu à Revolução de 1964, desejo abrir um parêntese para prestar homenagem a um grande chefe militar (NEVES, 2000, p. 815). (79) Tem paciência, que a sala está cheia e é preciso atender a todos (NEVES, 2000, p. 815).

66 66 A grande diferença para Neves (2000, p. 816) é que a Explicação relaciona camadas diferentes, isto é, nas Causais, como em (78), o falante explica porque deseja praticar determinada ação (que, no caso, é a de abrir parênteses); já nas Explicativas, como em (79), o falante explica por que emitiu enunciado ou praticou determinado Ato de Fala (que, no caso, é uma injunção) Propriedades estruturais da relação causal Para Paiva (1995) a relação causal 2 pode ser justaposta, como em (80), ou realizada por meio de conectores, como em (81). (80) E - E brigam muito lá no recreio, é? F- Às vezes brigam. Outro dia cada um ficou com a camisa toda molhada de sangue. Bateu no nariz um do outro (PAIVA, 1995, p. 59). (81) E- Mas dá todo mundo no carro? F- Ah! Eu tinha kombi, né? Hoje em dia eu já modero que o carro está menor. É uma variante (PAIVA, 1995, p. 59). Apesar da dupla possibilidade, no presente trabalho nos restringimos apenas às orações que ocorrem com a presença dos conectores, porque a GDF trabalha apenas com o que é gramaticalmente expresso, ou seja, aquilo que não tem codificação, não é trabalhado pela GDF. A posição é uma propriedade muito relevante quando se trata de relação causal. Para Paiva (1995), a relação Causal pode assumir a forma X então Y, estruturando então uma relação coordenativa, como em (82). Ou a forma de estrutura subordinativa porque X, Y, como em (83): (82) Ah, jogam dando pontapé na gente, né? Elas num conseguem pegar a bola, aí dão rasteira na gente, a gente cai (PAIVA, 1995, p. 59). (83) Porque lá num tem elevador, eu desci a escada (PAIVA, 1995, p. 60). 2 Paiva (1995) trata a causa de maneira abrangente, isto é, envolvendo, causa, razão, explicação, justificativa.

67 67 Todavia, enunciados como (83) são excluídos do corpus de análise de Paiva (1995) porque, segundo ela, as cláusulas porque antepostas são raras no discurso oral e, além disso, incitam problemáticas, uma vez que em muitos destes enunciados a conexão e a ordenação da oração causal é ambígua, uma vez que essa pode ser ligada ao discurso anterior tanto quanto ao discurso seguinte. Visando tratar da ordenação das relações causais, Paiva (1995) utiliza duas noções funcionais: (i) o princípio da iconicidade e (ii) o princípio de distribuição de informação. No que tange ao primeiro, a autora afirma que é possível que seja analisado a partir dos próprios pressupostos subjacentes à noção de causa. Para reforçar este argumento, Paiva (1995, p. 61) traz à tona o pressuposto da sequencialidade temporal, isto é, os fatos se disporem respeitando a linha imaginária temporal em que ocorreram, em outras palavras, respeitando a ordem anterioridade/posterioridade. Segundo a autora, tal pressuposto pode ser verificado se considerarmos que X não é (e não pode ser) a causa de Y, pois Y ocorreu antes de X (PAIVA, 1995, p. 61). Considerando os enunciados causais, segundo a autora, o princípio de iconicidade possibilita que a relação causa/tempo encontre sua realização mais natural na ordenação causa-efeito, isto é, X então Y, e isso, como bem observa Paiva (1995), reproduz um espelho acerca da organização da realidade. Para comprovar essa afirmação, Paiva (1995, p. 62) traz os exemplos abaixo, sendo (84) um exemplo com verbo de evento (aqueles que exprimem uma mudança do sujeito no tempo) e (85), exemplo com outros tipos de verbos: (84) E- Como é que é essa história? Me conta.

68 68 F- Eu- No livro num contava não. Só contava só sobre a esfinge. Mas eu sei- eu vi num filme, né? Quer dizer- Foi assim, né? Tutankamon, o pai dele morreu, né? então ele ficou sendo o rei. Ele tinha um irmão né? (PAIVA, 1995, p. 62). (85) Aí quando foi umas duas e meia, eu estava cansado de ficar na cama, eu levantei (PAIVA, 1995, p. 62). O objetivo da autora é mostrar que em (84), a noção temporal é mais explícita, sendo que a oração de evento descreve um acontecimento que corresponde a uma mudança de estado que, por sua vez, está associado a um referente. Em (85), a oração de evento [Tutankamon, o pai dele morreu né?] representa uma mudança de estado sofrida pelo referente o pai dele. Paiva (1995, p. 63) conclui a respeito do primeiro princípio que, ao observar as estatísticas, as orações causais com verbos de eventos são preferencialmente antepostas, enquanto que orações causais com outros tipos de verbos tendem mais à posposição. Partindo para o segundo princípio funcional, o da distribuição de informação no interior do período complexo e não apenas dentro da oração causal, Paiva (1995, p. 65) observa que há uma motivação externa que está diretamente ligada à ordenação dos constituintes dentro de uma oração causal. Uma vez que essas orações são inseridas em um discurso, tal ordenação reflete também a forma de distribuição de informação dentro do discurso. Segundo a autora, a informação é distribuída no discurso de acordo com um princípio de que a informação que já faz parte do conhecimento pragmático dos interlocutores, isto é, a informação velha precede a informação ainda não compartilhada, ou seja, nova. Falando em termos de orações, este princípio prevê que orações com informação nova tendem a ser pospostas, enquanto orações com informação velha serão mais antepostas. Porém, em enunciados em que ambas as orações são equivalentes no que tange ao grau de informação, isto é, ambas

69 69 expressam informação velha ou ambas expressam informação nova, a diferença entre as probabilidades se neutraliza. O falante, neste caso, é livre para escolher a anteposição ou a posposição da oração causal, uma vez que nestes casos a posição das orações não irá comprometer o fluxo informacional do discurso. A posposição é característica da relação causal, principalmente das introduzidos por porque, conforme afirmam Neves (2000, p. 808) e Paiva (1995), já que os casos das orações causais com porque antepostas são geralmente marcados, servindo para focalização: a) por correlação (86) Ou porque sentisse necessidade de primeiro, tomar um pouco de ar, ou porque o seduzisse a calçada larga e bem arborizada da Alameda Ibiruna, pôs-se a caminhar a passos lentos (NEVES, 2000, p. 808). b) por clivagem (87) Foi porque éramos tecnologicamente adiantados que aprendemos a ganhar terra ao mar (NEVES, 2000, p. 808). Entretanto, é possível a anteposição de oração causal iniciada com porque: (88) Porque estou fazendo agora este programa sertanejo, já estão dizendo por aí que de chapéu de couro e botas apeio do cavalo lá na portaria bem cedo (NEVES, 2000, p. 808). pode aparecer: Observa-se, porém, que mesmo pospostas, a oração iniciada com porque a) em correlação (89) Esses significados de acaso se juntam a um outro, onde se afirma que algo ocorre por acaso não apenas porque estejamos incapacitados de determinar suas causas mas porque se acredita que tais causas existem (NEVES, 2000, p. 808).

70 70 b) quase-clivada (90) Essas provas verbais, baseadas numa lógica em última análise arbitrária, não são científicas, são sofismas, sofismas engenhosos e, pior, voluntaristas. Não é porque seja assim, é porque se quer que seja assim (NEVES, 2000, p. 808). Porém, é relevante observar que a anteposição não é o tipo de ordem marcada para todas as relações causais porque há casos, como orações com a conjunção como, em que a ordem marcada é exatamente a posposição. Com isso, o que deve ser observado, quando se fala em ordem marcada da posição da causa, é o conector que está estabelecendo a relação, porque, a depender dele, a ordem marcada pode mudar. Tal como Paiva (1995) e Neves (2000), Paiva e Braga (2006, p. 76) acreditam que a posposição é uma característica da relação causal. Segundo elas, 88,4% das construções causais seguem a oração núcleo. A posposição do segmento causal ao segmento efeito parece construir, portanto, a ordem não marcada nas construções causais com porque. A anteposição, muito mais rara, geralmente está associada a contextos bastante marcados, principalmente àqueles em que ocorre um processo de clivagem, por meio do qual uma condição, dentre outras possíveis, é destacada como a causa de um Estado-de-coisas. De acordo com Paiva e Braga (2006, p. 77), a posposição da oração porque reflete a função que os segmentos causais têm na organização discursiva: (i) introduzem informação nova ou (ii) inferível de outras peças de informação já apresentadas no discurso anterior. Em ambos os casos, pode-se considerar que as orações causais introduzidas pelo conector porque desempenham um papel essencial na progressão discursiva.

71 71 Ainda sobre a questão da posição que a relação causal ocupa, Paiva (2001, p. 38) mostra que um ponto de interseção entre os conectores se refere à organização sintagmática preferencial desses enunciados. A autora afirma que nas construções causais com porque, por causa de e por causa de que, a posição é predominantemente posposta. No que diz respeito à disposição do segmento causal, a autora afirma que há uma notável simetria entre os enunciados com cláusula porque, por períodos simples com o sintagma preposicionado por causa de e os enunciados com a locução conjuntiva por causa (de) que. São raras, no corpus analisado por Paiva e Braga (2006), as ocorrências de segmentos causais antepostos, principalmente os introduzidos pelo conector porque ou pela locução conjuntiva por causa (de) que. A anteposição, no caso da conjunção porque, de tais segmentos se dá em contextos marcados, nos quais se tem, com frequência, um processo de clivagem, no qual uma condição, dentre outras possíveis, é destacada como a causa de um Estado-decoisas (PAIVA e BRAGA, 2006, p. 77): (91) É porque minha mãe é viúva que ela então se juntou com meu padrasto (PAIVA e BRAGA, 2006, p. 77). O fato é que essa tendência à posposição, como bem observa a autora, parece estar associada à função que os conectores exercem na organização discursiva: constituem pontos de informação nova que faz avançar no discurso. Porém, Paiva (2001, p. 39) atenta para o fato de que tal paralelismo entre porque e por causa de não mais procede quando consideramos a organização discursiva como um todo. Nos períodos compostos pelo conector porque, é frequente uma configuração informacional do tipo velho-novo, isto é, em que a cláusula efeito anteposta é tomada como ponto de partida para a inserção de uma informação não

72 72 compartilhada pelos participantes do discurso. Tais enunciados concretizam o princípio de que a informação nova segue a informação velha. Nas construções com o sintagma preposicional por causa de, é maior a variabilidade na categoria informacional do constituinte que codifica o efeito. Com por causa (de) que, entretanto, há uma tendência a que o segmento causal com informação nova se relacione a uma cláusula efeito que também codifica informação nova As conjunções A conjunção porque é a mais usada para expressar relação causal. Paiva e Braga (2006) dão uma boa explicação para o extenso uso do porque afirmando que nas construções causais com porque, o conector que é mais frequentemente usado para expressar a relação de causalidade goza de acentuada polissemia e multifuncionalidade, servindo à expressão não de causa estrita, como também de justificativa, razão, motivo. Segundo Paiva (2001), a conjunção porque é um elemento linguístico polifuncional, que é utilizado pra estabelecer relação entre orações e também para ligar porções maiores de discurso, podendo introduzir ou retomar tópicos. A ambiguidade e a polivalência do conector porque podem ser observadas mesmo no nível interoracional em que esse elemento serve tanto à expressão de causa estrita (no nível Referencial) ou Causa formal, para Neves (2000), e Causa Eventiva, para Pérez Qintero (2002), quanto de causa ampla (relações no nível Epistêmico e dos Atos de Fala), como mostram os exemplos a seguir: a) nível Referencial

73 73 (92) E o Tião chegou por último, porque ele passou primeiro na delegacia, não é? (PAIVA; BRAGA, 2006, p. 75). b) nível Epistêmico (93) O Serafim ele não gosta da merenda porque ele só leva merenda (PAIVA; BRAGA, 2006, p. 75). c) nível de Atos de Fala (94) Olha, corre, vem pra cá porque a minha casa foi assaltada (PAIVA; BRAGA, 2006, p. 75). No exemplo do nível Referencial, a oração introduzida pelo conector porque expressa a causa efetiva do fato expresso na oração núcleo, ou seja, pode-se falar realmente de relação causa-efeito. Nos exemplos de nível Epistêmico e de Atos de Fala, por outro lado, só podemos falar em causa em sentido mais amplo. No nível Epistêmico, a oração introduzida por porque expressa uma evidência que autoriza o falante a extrair, a partir da sua avaliação, uma determinada conclusão. Trata-se, no caso, de uma causa formal, realizada no plano das relações possíveis e que opera no plano interpessoal da linguagem. No nível de Atos de Fala, estabelece-se uma relação entre um Ato de Fala e a justificativa para a realização de tal Ato. É importante ressaltar que nas abordagens tradicionais essa polivalência do conector porque é resolvida pela sua inclusão em dois conjuntos paradigmáticos distintos: no conjunto das conjunções subordinativas (Causais) e no conjunto das conjunções coordenativas (Explicativas). Essa solução taxonômica constitui, no entanto, um problema na medida em que, em muitos enunciados, duas

74 74 interpretações podem conviver, requerendo a intervenção de fatores discursivos que permitam determinar a natureza exata do uso de porque. Além da conjunção porque, há também uma grande incidência de uso da locução por causa de/ por causa de que para a expressão da relação causal. Sobre a última, por causa de que, Paiva (2001, p. 36) observa que configura um deslocamento da forma básica representada pelo sintagma preposicional por causa de, que, por sua vez, é utilizado prototipicamente para introduzir um constituinte da oração que expressa o ponto de origem, a razão de um Estado-de-coisas descrito na oração principal. Com o acréscimo de que é derivada uma combinação sintagmática (prep + nome + (prep) + que) que pode, segundo a autora, introduzir uma oração causal em contextos semelhantes àqueles em que seria utilizado o conector porque. Por serem ambas muito utilizadas, apesar de não ser com a mesma recorrência, é possível que alguém veja uma noção de equivalência entre esses operadores, isto é, que acredite ser possível trocar a conjunção porque pela locução por causa de. Porém, cada uma delas têm propriedades específicas. Quanto aos aspectos fonológicos, Paiva (2001, p. 43) observa que nos enunciados por causa (de) que + cl. causal há menor frequência de pausa entre a cláusula causal e o efeito do que nos enunciados com porque. Ou seja, assim como o sintagma preposicional, a locução conjuntiva situa dois segmentos na mesma unidade prosódica. Nas construções com o conector porque, ao contrário, há maior variabilidade na ruptura prosódica entre os dois segmentos relacionados devido, provavelmente, à multifuncionalidade do porque como conector de orações, o que irá se comprovar na análise dos nossos dados. Porém, além desses dois juntores mais utilizados, não se pode descartar a possibilidade de estabelecer a relação causal por meio de outros operadores.

75 75 Segundo Neves (2000) iniciam orações causais pospostas as conjunções pois, que, pois que, tanto mais que, por causa que, por isso que. Por outro lado, iniciam orações causais tanto posposta quanto anteposta as conjunções: porquanto, já que, uma vez que, desde que, dado que, visto que, visto como. Em relação às construções com como, Neves (2000) afirma que são sempre antepostas. A autora observa que a oração causal expressa por como é diferente da expressa por porque, uma vez que a primeira é entendida como veiculadora de informação partilhada, consensual, e como apoio para progressão informativa que a oração principal, então, realiza. Pérez Quintero (2002) realizou pesquisas com textos extraídos do corpus Lancaster Oslo/Bergen (LOB). Tal pesquisa revelou resultados interessantes acerca das conjunções utilizadas na expressão da relação causal para serem discutidos aqui. A autora observou que a oração adverbial de Causa Eventiva pode ser expressa por meio de formas independentes e dependentes; além disso, 92,4% dos exemplos encontrados desse tipo são de construções que contêm formas independentes, introduzidas pelas conjunções because ( porque ), as ( como ) e since ( desde ), citadas em ordem de frequência. (95) I mean science works because it has abandoned the classical idea that seeking truth mean grasping theroretical principles underlying experience (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 100). Quero dizer que a ciência funciona porque tem abandonado a ideia clássica de que buscar a verdade significa agarrar princípios subjacentes à experiência. (96) The roast turkey, too, demands special attencion, and as it has walnut stuffing a richly flavoured wine would be my choice (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 100). O peru assado também demanda atenção especial, e como tem recheio de nozes, um vinho de excelente sabor seria minha escolha. (97) No pooling of proceeds or reallocations of holdings is necessary since the land is already divided up in such a way that each shareholder works the whole or twothird or one-third of his total holding as the case may be (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 100). Nenhum agrupamento de produtos ou realocações das explorações é necessário, pois o terreno já está dividido de tal maneira que cada proprietário trabalho no todo, em dois terços ou em um terço da sua terra, conforme o caso.

76 76 Orações de Causa Eventiva, que são expressas por formas dependentes (infinitivo ou gerúndio), constituem apenas 7,6% do total dos exemplos. A conjunção que mais frequentemente introduz construções com o gerúndio é para, apesar de haver ocorrências introduzidas por for fear of ( por medo de ) e by ( por ), neste último caso com um sujeito explícito na oração subordinada. (98) You re not trying to say that Hewson would victimise Forrest for behaving with ordinary courage! (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 100). Você não está tentando dizer que Hewson deveria vitimizar Forret por se comportar com coragem comum. (99) Another permanent conductor was needed, but the Hallé Society were reluctant to appoint one for fear of losing Sir. Thoma s presence altogether (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Outro condutor permanente foi necessário, mas a Sociedade Hallé estava relutante de apontar um por medo de perder a presença do Senhor Thomas s. (100) How it had begun by Parnell sleeping in the dressing-room, because he came home so late and did not wish to disturbe her (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Tudo começou por Parnell dormindo no vestiário, porque ele chegou em casa tão tarde e não quis incomodá-la. (101) You are a silly to look so worried about the matter. I can lend you whatever money you require until we return then you can pay me back (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Você é tão idiota de parecer tão preocupado sobre o problema. Eu posso emprestar pra você qualquer dinheiro que você precisar até nós voltarmos e então você pode me pagar. A Oração adverbial de Causa Epistêmica é expressa apenas por formas verbais independentes. As conjunções que introduzem esse tipo de construção são: because (62,33%), as (23,38%), since (12,99%) e for fear of (1,3%). (102) Recently some writers have suggested that a worker may gain both social and economic satisfaction, because controls over output and earnings maintained by the group may be intended to serve economic objectives, and may consciously be designed to do so (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Recentemente alguns escritores têm sugerido que apenas trabalhadores podem obter satisfação social e econômica, porque os controles sobre a saída e o salário mantido pelo grupo podem igualmente ser pretendidos para servir a objetivos econômicos, e podem conscientemente serem designados para fazer isso. (103) Bearing in mind the profit he is making on the sale of the car I would have thought that he would be delighted to do the work for nothing, especially as he would be unable to sell the car if the finance was not forthcoming (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Levando em consideração o lucro que ele está fazendo na venda do carro, eu poderia ter pensado que ele poderia fazer o trabalho de graça, especialmente porque ele seria incapaz de vender o carro se a finança não estivesse próxima.

77 77 (104) This was felt to be particularly important since in the event of a breach in the bund all villagers must be equally responsible (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 101). Isto foi sentido para ser particularmente importante desde que no caso de uma ruptura na barreira, todos membros da aldeia devem ser igualmente responsáveis. (105) Besides, since it was forbidden for a man to lie with his wife for twenty-four months after she had born him a child for fear that her milk would fall on him and cause a thahu, or when a cow was about to calve, it was necessary that he should have more than one wife (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 102). Além disso, desde que foi proibido por um homem mentir para sua mulher por 24 meses depois de ela ter tido um filho, por medo de que seu leite poderia cair nele e causar thahu, ou quando uma vaca está próxima a parir, era necessário que ele devesse ter mais de uma mulher. Nas orações de Causa Ilocucionária, que constituem sozinhas um Ato de Fala que expressa uma explicação a respeito da oração principal, a conjunção característica da oração subordinada é for ( para 91,94%), seguida de because ( porque ) e in that ( em que ). (106) Remembering that it is only fifty years since a syllabic writers version of the Canadian Eskimo language was created by missionaries, the production now of an all-eskimo magazine, in two separate dialects, is truly an amazing step forward. For, it must be remembered, fifty years ago the Canadian Eskimo was still a stoneage people (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 102). Lembrando que é apenas 50 anos desde que uma versão silábica da escrita da língua Eskimo do Canadá foi criada por missionários, a produção atual da revista Eskimo, em dois dialetos separados, é um verdadeiro passo a frente. Para, deve ser lembrado, 50 anos atrás a língua canadense Eskimo foi ainda de pessoas da era da pedra. (107) You re not telling me that all schools are perfect except Waterloo, because I know better than that (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 102). Você não está me dizendo que todas as escolas são perfeitas com exceção de Waterloo, porque eu sei mais do que isso. (108) The gross and rapid concentration of the blood in sea water drowing was well demonstrated in that after only 3 minutes submersion the blood had lost some 40% of its water (PÉREZ QUINTERO, 2002, p. 102). A bruta e rápida concentração do sangue no afogamento em água do mar foi bem demonstrada em que somente após 3 minutos de submersão, o sangue perdeu aproximadamente 40% de sua água.

78 78 3 MATERIAL E MÉTODO Como mencionado anteriormente, o objetivo geral deste estudo é apresentar uma descrição detalhada das relações causais na lusofonia, buscando observar primeiramente se há distinção entre seus subtipos, isto é, Causa, Razão e Explicação, tal como proposto por Hengeveld e Mackenzie (2008). Posteriormente, são determinadas as propriedades pragmáticas e semânticas das diferentes relações causais e como elas são codificadas nos níveis Morfossintático e Fonológico. O universo de pesquisa utilizado para realização deste trabalho é o corpus denominado Português oral 3, desenvolvido no âmbito do Projeto Português Falado: Variedades Geográficas e Sociais, organizado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha. Esse corpus é constituído de amostragens do português falado em Portugal, no Brasil, nos países africanos de língua oficial portuguesa e em Macau. Os materiais publicados contêm ainda amostragens do português falado em Goa e no Timor-Leste, recolhidas posteriormente. Estas amostragens de discurso oral, gravadas em lugares, datas e situações diversificadas, são acompanhadas das correspondentes transcrições ortográficas alinhadas. O corpus totaliza 86 gravações, quer de conversas informais entre pessoas conhecidas ou entre amigos e familiares, quer de intervenções mais formais, como, por exemplo, as de programas radiofônicos. São textos exemplificativos do português falado em Portugal (30), no Brasil (20), nos países africanos de língua 3 Disponível no endereço eletrônico: Acesso em: 30/06/2012 às 14 horas e 10 minutos.

79 79 oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe (5 de cada), em Macau (5), em Goa (3) e no Timor-Leste (3), e correspondem a 8h e 44min. de gravação e a palavras gráficas. As gravações abrangem um período de tempo que vai de 1970 a 2001, com uma incidência de cerca de 70% na última década. Este projeto restringir-se-á apenas às variedades que constituem língua oficial dos respectivos países: 1) Brasil; 2) Portugal: gravações da década de 70, 80 e 90; 3) África: São Tomé e Príncipe; Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique; 4) Timor Leste. É necessário observar, no entanto, que não se pretende assumir um tratamento variacionista e/ou sociolinguístico; pelo contrário, o uso desse material apenas nos permite despretenciosamente observar como esse fenômeno ocorre no português, já que o objetivo é fazer uma descrição detalhada das relações causais na lusofonia. Foram encontradas 161 ocorrências que expressam relação causal, sendo o trabalho de busca realizado por meio da leitura e da audição de todo o corpus. Cada ocorrência utilizada para exemplificação apresenta a referência que inclui o país, seguida do ano de gravação, e, após dois pontos, o nome do inquérito de onde foi extraída, como se vê a seguir: (Bra80:FestadeEstudante) Como se verá, há exemplos que necessitam da apresentação de um contexto maior para viabilizar a interpretação adequada da ocorrência. Em caso de

80 80 necessidade da transcrição do diálogo, F refere-se ao Falante (entrevistado) e E, ao entrevistador. Todas as ocorrências selecionadas foram ouvidas utilizando-se os arquivos sonoros do corpus, uma vez que se pressupõe haver diferenças prosódicas entre os vários subtipos. Cada ocorrência foi então analisada de acordo com 12 parâmetros, que serão apresentados a seguir. 3.1 PARÂMETROS DE ANÁLISE Abaixo elencaremos os 12 parâmetros de análise que foram utilizados para observação das ocorrências encontradas no corpus, sendo que esses abrangem os quatro Níveis da Gramática Discursivo-Funcional: Interpessoal, Representacional, Morfossintático e Fonológico Camada da oração principal Camada da oração causal O primeiro e o segundo parâmetro, camadas do Nível Interpessoal, referemse às camadas a que pertencem os segmentos envolvidos na relação causal no Nível Interpessoal: Atos Discursivos, Subato de Atribuição ou Subato de Referência Presença de Atos Interativos

81 81 Ainda no Nível Interpessoal, como terceiro parâmetro, é também verificado se a fronteira entre as duas orações envolvidas é, de alguma forma, marcada pela presença de Atos Interativos, que são, de acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 77),, geralmente, expressos por elementos lexicais e se diferem dos Atos Expressivos por serem claramente direcionados ao Ouvinte. Porém, tal como os Expressivos, os Interativos não passam pelo Nível Representacional, ou seja, são enviados diretamente do Nível Interpessoal para o Fonológico, uma vez que são atualizados por formas invariáveis, normalmente retirados da classe das Interjeições. Os Atos Interativos aqui são entendidos como qualquer elemento que quebre a integração das estruturas envolvidas, tais como: não é, entendeu, claro, sabe, bem, bom etc., comumente conhecido como Marcadores Discursivos. Esse parâmetro mostra-se pertinente, uma vez que os Atos Interativos marcam início e fim de Atos discursivos, o que pode indicar combinação de Atos Discursivos, e, consequentemente, o grau de integração entre as orações Função Retórica A relação entre Atos Discursivos pode ser de dependência ou equipolência, como vimos no Capítulo 1. Quando for de dependência, o Ato Dependente terá uma Função Retórica. O quarto e último parâmetro relacionado ao Nível Interpessoal, Função Retórica, foi reservado para verificar se, quando for o caso, a oração causal desempenha a Função Retórica Motivação, como proposto por Hengeveld e Mackenzie (2008).

82 Camada da oração principal Camada da oração causal O quinto e o sexto parâmetros, camadas do Nível Representacional, referem-se à camada a que pertence cada um dos segmentos envolvidos dentro do Nível Representacional. As camadas do nível Representacional, como já observado, são Conteúdo Proposicional, Episódio, Estado-de-coisas e Propriedade Factualidade O sétimo parâmetro, importante na determinação das propriedades da relação causal, é a factualidade. Segundo Hengeveld (1998, p. 350) e Pérez Quintero (2002, p. 53), a factualidade é um parâmetro utilizado na classificação dos tipos semânticos das orações adverbiais, e, sendo um parâmetro independente, é aplicado para todos os tipos de entidade. Segundo esses autores, são consideradas factuais as orações que descrevem (i) uma Propriedade ou relação como aplicável; (ii) Estados-de-coisas como reais; (iii) Conteúdos Proposicionais como verdadeiros; e (iv) Atos discursivos como assertivos. Caso contrário, são não factuais. Como um dos objetivos é verificar como as relações causais são codificadas morfossintática e fonologicamente, reservamos os fatores de 8 a 11 para o Nível Morfossintático e 12 para o Nível Fonológico Constituição da Expressão Linguística

83 83 No Nível Morfossintático, a camada mais alta constitui uma Expressão Linguística, que consiste em qualquer conjunto de pelo menos uma unidade que possa ser usada de maneira independente. Caso haja mais de uma unidade dentro da Expressão Linguística, elas não são partes uma da outra, apesar de pertencerem à mesma unidade morfossintática (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 308). Por causa da dependência entre seus componentes, a Expressão Linguística pode ser de Equiordenação, Coordenação ou Cossubordinação. A Equiordenação é um tipo de relação em que há uma dependência mútua entre as orações, de forma que nenhuma delas poderia ser usada independentemente, apesar de uma não ser constituinte da outra. Há casos, no entanto, em que uma unidade é usada independentemente enquanto a outra não, o que configura o fenômeno de Cossubordinação. Uma última possibilidade, segundo Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 308), é quando nem um constituinte e nem o outro dependem entre si, isto é, cada um pode ocorrer por conta própria, mas combinam-se pra formar uma única unidade formal, caso que recebe o nome de Coordenação. A Expressão Linguística pode ainda ser constituída de uma só unidade usada de maneira independente, mas constituída de duas unidades oracionais, em que uma é constituinte da outra, o que configura, então, um caso de Subordinação. Este parâmetro está reservado para verificar o tipo de relação que se estabelece dentro da Expressão Linguística constituída de uma só unidade ou de mais de uma Tipo de operador

84 84 Como forma de codificação morfossintática, o parâmetro nove, Tipo de operador, refere-se ao tipo de elemento que estabelece a ligação entre as orações envolvidas: conjunção e preposição Forma verbal Ainda no nível Morfossintático, o parâmetro dez refere-se à forma assumida pelo verbo da oração causal, isto é, finita, infinitiva, particípio ou gerúndio Posição da oração causal O parâmetro 11 verifica a posição que o segmento causal assume com relação à oração que modifica: inicial ou final, uma vez que a posição pode ser determinada por fatores pragmáticos, semânticos ou morfossintáticos Marcas prosódicas O último fator refere-se à codificação fonológica, ou seja, à existência de marcas prosódicas na fronteira entre as orações envolvidas, visto que isso pode indicar maior ou menor integração entre elas. Para verificar esse fator, utilizamos os arquivos de áudio disponibilizados pelo corpus e o programa eletrônico intitulado Praat, que é uma ferramenta utilizada para analisar a voz e, consequentemente, pausas, quebras entonacionais etc. por meio de gráficos de análise, tal como mostraremos no capítulo seguinte. Essa ferramenta foi desenvolvida por Paul Boersma e David Weenink, do Instituto

85 85 de Ciências Fonéticas da Universidade de Amsterdan e pode ser acessada com a realização do download gratuito na página oficial: O programa Praat envolve uma análise auditiva, isto é, análise perceptual, em que o pesquisador, ao ouvir o áudio, busca informações de seu interessa, e uma análise acústica, que pode ser feita com o auxílio de programas como o Praat, em que os parâmetros acústicos são analisados a partir dos gráficos resultantes dos programas. A qualidade das gravações, no entanto, mostrou-se apropriada para uma análise auditiva, mas não satisfatória para uma análise acústica. Por essa razão, todas as ocorrências passaram por uma análise auditiva, com o objetivo de identificar as quebras entonacionais presentes ou não na fronteira entre as orações. A fim de comprovar os resultados obtidos na análise auditiva, que é um tanto intuitiva, foi feita uma análise acústica em um conjunto de dados controlados, gravados com qualidade acústica necessária para tal investigação. Desse modo, o procedimento para a realização da análise fonológica foi como segue. Selecionamos três orações de cada subtipo da relação causal e três colaboradores que, não tendo conhecimento da proposta do teste, ouviram as sentenças nos arquivos de áudio originais de corpus e, posteriormente, repetiram a sentença tal como a escutaram, sendo então efetuada a gravação. É importante ressaltar que as 12 ocorrências selecionadas foram gravadas três vezes cada uma, a fim de buscarmos a gravação mais natural, uma vez que a primeira gravação pode ser vista como um teste. Desse modo, nesse procedimento, os colaboradores procuram reproduzir o mais fielmente possível o que escutaram,

86 86 sem auxílio de leitura, isto é, só com base na audição. Os dados limpos, livres de quaisquer ruídos, foram então analisados no Praat 4. A utilização do Praat tinha como fim, unicamente, a análise da fronteira entre as orações. Em princípio, buscávamos por um tom descendente na fronteira entre as orações. No decorrer da análise, entretanto, observamos que todas as orações apresentavam essa propriedade fonológica. Uma delas, no entanto, além do tom descendente, apresenta uma pausa longa entre as orações, o que se tornou um parâmetro de distinção entre essa relação e as outras envolvidas no processo, conforme mostra o Gráfico 5. Gráfico 5. O silêncio no programa Praat nunca passaram # porque nós dávamos 4 Essa solução foi gentilmente proposta pela Profa. Dra. Luciane Ester Tenani, especialista em Fonética e Fonologia da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, campus de São José do Rio Preto, a quem agradeço imensamente. Esse procedimento também foi utilizado por Jesuelem Salvani Ferreira em sua dissertação O apagamento do /d/ em morfema de gerúndio no dialeto de São José do Rio Preto, defendida em 2010 sob orientação da Profa. Dra. Luciane Ester Tenani e coorientação do Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves.

87 87 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Neste capítulo, são apresentados os resultados das análises dos dados com base nos doze parâmetros, conforme elencados no Capítulo 3, que abrangem os quatro Níveis propostos pela GDF: Interpessoal, Representacional, Morfossintático e Fonológico. Primeiramente, dedicaremos uma subseção a cada um dos subtipos da relação causal encontrados no corpus. Posteriormente, em outra seção, confrontaremos esses subtipos a fim de buscar semelhanças e, principalmente, elementos que possam distingui-los. O levantamento acusou 161 ocorrências de relação causal, que podem ser expressas tanto por meio de sintagmas (15%) quanto por meio de orações (85%). A análise dos dados mostra, primeiramente, que há diferentes relações causais, e para distingui-las, consideramos a tripla distinção feita por Hengeveld (1998) e Hengeveld e Mackenzie (2008) entre Causa e Razão e Motivação 5. As seções que seguem serão dedicadas a cada um desses tipos de relação causal encontrados no corpus, começando pela função Causa. 4.1 FUNÇÃO CAUSA Segundo Hengeveld (1998, p. 346), a função de Causa descreve um evento independente em relação ao qual a ocorrência do evento da oração principal pode ser entendida. A Causa, portanto, descreve dois eventos que ocorrem independentemente, sendo que um deles apresenta o evento que causa a ocorrência do evento principal, sem haver nenhum envolvimento intencional por parte de um 5 Motivação em Hengeveld (1998) é denominada Explanation.

88 88 agente no evento da oração principal. É importante observar que os eventos são independentes porque quem estabelece a função de Causa é o falante e/ou ouvinte. Em nosso corpus, foram encontradas relações Causais expressas tanto oracionalmente quanto sintagmaticamente. Como se nota pelo gráfico abaixo, há o predomínio da função Causa expressa por meio de oração. Gráfico 1 - Tipo de expressão da função Causa Apesar de apresentarem particularidades no que tange às propriedades, tais relações apresentam propriedades em comum, como poderemos conferir no decorrer da explanação de cada subtipo. Primeiramente, apresentaremos os resultados que se referem à função Causal sintagmática, e, depois, nos concentraremos nas propriedades específicas da função de Causa oracional.

89 A função Causa sintagmática A função de Causa sintagmática pode ser expressa tanto pela preposição por, seguida de causa e isso, quanto por de, conforme mostram os exemplos a seguir: (109) Desculpe voltar a incomodá-la por causa da, do tipo de prato.(cv95:colherpanela). (110) A Priscila, ela brinca mais comigo, ela dá mais risada comigo, ela tem mais afinidade, não é, não sei se é porque eu fico fora a semana inteira, só vejo de fimde-semana, pode ser por isso também (Bra95:MuitoIguaiseDiferentes). (111) Eu só faltei dar um ataque de tanta alegria (Bra80:GostoDela). O gráfico abaixo mostra que a preposição por, seguida de causa ou isso é a mais recorrente para expressão dessa função em forma de sintagma: Gráfico 2 - As preposições na função de Causa sintagmática

90 90 A relação causal, nesse caso, é expressa por meio de um sintagma preposicionado constituído da preposição por, que indica a função causa no Nível Representacional, e pela palavra causa ou pelo pronome demonstrativo isso, que constituem Estado-de-coisas. O que os dados mostram é que toda a relação causal sintagmática é constituída por uma preposição e uma palavra que expressa um Estado-de-coisas. Como é possível observar em (109), o Estado-de-coisas é a palavra causa, que é uma propriedade de um lugar cujo argumento é [do tipo de prato]. Em (110), por sua vez, o isso está retomando os Estados-de-coisas [ficar fora semana inteira] e [ver no final de semana] expressos anteriormente. A relação causal com de, como mostra (111), é constituída por um Estado-de-coisas com propriedade de zero lugar. Consideremos os exemplos a seguir: (112) Ela tinha mais energia, foi por isso que conseguiu ultrapassar (Moç97:SentimentoDesporto). (113) F: A carne seca foi feita ás pressa. E: hum F: por isso ela estava salgada (Bra80:Bichinho). (114) Uma olhava para cara da outra e ria por causa de determinada coisa que minha avó fazia (Bra95:MuitoIguaiseDiferentes). A Causa sintagmática, pode, sendo um Estado-de-coisas, modificar o Estado-de-coisas principal, como se observa de (112) a (114), em que [por isso] constitui a causa de [conseguir ultrapassar e estar salgada], respectivamente. É claro que o operador isso retoma anaforicamente os Estados-de-coisas [ter mais energia], em (112), e [ter sido feita às pressas], em (113), expressos na oração anterior. Em (114), por outro lado, não há retomada, mas o Estado-de-coisas principal [risos] é modificado pelo Estado-de-coisas [causa]. Um sintagma Causal, além de modificar um Estado-de-coisas, pode também, sendo uma propriedade, modificar outra propriedade, como exemplificam

91 91 (115) e (116), em que a propriedade [nervoso] indica a causa da propriedade [chorar], e [catapora] e [varicela], da propriedade [furado], respectivamente. (115) Eu só fazia chorar de nervoso (Bra80:GostaDela). (116) F: Ele tem o rosto todo furado E: hum, hum F: de catapora e varicela que deu junto (Bra80:CriarFilhos). A Causa sintagmática, quando constitui uma propriedade, só pode ser restringida por modificadores de Propriedade, como o intensificador [tanto] na paráfrase de (115) em (115a): (120a) Eu só fazia chorar de tanto nervoso. A Causa sintagmática pode ocorrer no início da oração que a modifica, como exemplifica (117): (117) Por causa do tempo, ele disse que não podia (Moç83:CantarPintar). Paiva e Braga (2006, p. 78) observam que o segmento causal pode se antepor ou se pospor ao segmento efeito. Porém, assim como acontece em ocorrências com o conector porque, essa flexibilidade é, apesar de possível, pouco recorrente, o que se confirma nos dados aqui analisados. Segundo as autoras, a preferência pela posposição ocorre tanto para períodos formados com porque quanto para as orações com por causa de. Para Paiva e Braga (2006, p. 79), isso ocorre porque ambos os conectivos contribuem para a evolução do discurso, constituindo pontos de introdução de informação nova. A Causa sintagmática é mais frequentemente expressa por por + causa (de X), como mostra o Gráfico 3.

92 92 Gráfico 3 - Ocorrência de Causa sintagmática A fim de observar os aspectos fonológicos da função Causal sintagmática, consideremos o exemplo (118) e seus respectivos quadros de análise fonológica obtidos no Praat, lembrando que o Gráfico 5 é o resultado da análise entonacional do Gráfico 4. (118) Ele amava-a, já por isso casou com ela (PT97:AmoresCamilo).

93 93 Gráfico 4 - Pressão da voz na Causa Sintagmática prototípica por isso casou com ela Gráfico 5 - Análise entonacional na Causa sintagmática prototípica por isso casou com ela

94 94 Nos gráficos 4 e 5, [por isso] constitui uma única Frase Fonológica tal como [casou] e [com ela]. As três constituem um único Enunciado Fonológico [por isso casou com ela]. Esse Enunciado Fonológico, no Nível Morfossintático, constitui uma Expressão Linguística expressa por uma única oração. Uma vez que buscamos observar a presença de pausa longa marcada no gráfico por uma linha contínua, as relações de Causa sintagmática não apresentam pausa em nenhuma ocorrência, uma vez que há um contínuo das linhas em formas de onda e não retilínea. Os resultados fonológicos então mostram que a função Causa sintagmática apresenta a seguinte estruturação: [[PP + PP + PP] IP ] U 6 Tal estrutura configura um Enunciado sem pausa longa, porém com um tom descendente na fronteira entre as orações. Tal como foi explicado no Capítulo 1 Fundamentação Teórica, segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 388), o Enunciado é o maior trecho de discurso abrangido pelo Nível Fonológico. Para separar Enunciados (U) de Frases Entonacionais (IP), o falante tende a usar pausas mais longas que, por sua vez, não são interpretadas pelo Ouvinte como hesitação do Falante. A IP, segundo os autores, é caracterizada por propriedades internas e externas, sendo que, internamente, contém um núcleo que é um movimento pontual, localizado em uma ou mais Sílabas, que tem como característica ser essencial para a caracterização da IP como um todo. Internamente, as Frases Entonacionais se separam por meio de 6 De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2009), IP (Intonational Phrase ) é a Frase Entonacional, enquanto U ( Utterance) é o Enunciado e Phonological Phrase (PP) se refere à Frase Fonológica. Doravante, utilizaremos apenas as abreviações.

95 95 pausas (mais curtas do que as pausas usadas para separar Enunciado, por exemplo). A Frase Fonológica, por sua vez, de acordo com Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 389), em línguas acentuais, contém uma sílaba nuclear, que geralmente também é o principal local para a queda ou subida dentro da Frase Entonacional, que é mais fortemente acentuada do que as outras. Nas línguas tonais, em que o movimento tonal é utilizado para distinções lexicais, as Frases Fonológicas têm uma raison d être diferente; no caso, o domínio de sândi tonal. (HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 389) Função Causa oracional A ocorrência (119) constitui um exemplo claro da função de Causa, expressa por meio de uma oração. (119) escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva (Bra80:Fazenda). Como se nota, a relação é estabelecida entre dois Estados-de-coisas: o Estado-de-coisas [escurecimento rápido] é desencadeado pela ocorrência do Estado-de-coisas [ameaça de chuva], sem que haja qualquer ação por parte de um agente. De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 166), Estados-de-coisas são entidades que podem ser localizadas no tempo relativo e podem ser avaliadas em termos do seu status de realidade. Estados-de-coisas podem, além disso, ser ditos como (não) ocorreu, (não) aconteceu ou (não) é o caso. Estados-de-coisas podem ser restringidos por modificadores que especificam o tempo relativo, o lugar e a frequência de ocorrência, assim como o

96 96 estatuto de realidade, o cenário físico ou cognitivo do Estado-de-coisas. Dessa forma, é possível especificar, independentemente, tanto o Estado-de-coisas [escurecimento rápido] quanto o Estado-de-coisas [ameaça de chuva] pelo, por exemplo, modificador de Realidade de fato, como se vê nas paráfrases em (119a) e (119b): (119a) De fato escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva. (119b) Escureceu muito rapidamente porque de fato estava ameaçando chuva. A oração Causa constitui um modificador da oração principal, uma vez que especifica o cenário cognitivo do Estado-de-coisas dessa oração. Como resultado, no Nível Morfossintático, o processo é de Subordinação, ou seja, a Expressão Linguística é composta de duas orações, sendo umas delas constituinte da outra. No Nível Interpessoal, tais orações juntas correspondem a um único Ato Discursivo (73,3%). Entretanto, há ocorrências, como de (120) a (122), que constituem casos speciais de relações Causais (27,3%), uma vez que as orações envolvidas apresentam-se, no Nível Interpessoal, como Atos Discursivos. (120) A gente levava altos pitos da minha mãe, não é, porque a gente ficava dando risada da minha vó (Bra95:MuitoIguaiseDiferentes). (121) Não foi a classe inteira, é lógico, que a gente não combinou com a classe inteira (Bra80:FestaEstudante). (122) Hoje em dia a maior parte das mulheres já sentem essa necessidade. Pronto! E, porque adquiriram esse hábito ao longo dos anos (PT96:BomSensoRosto). Uma análise mais atenta, no entanto, revela que a relação causal não ocorre no Nível Interpessoal, ainda que se configurem dois Atos, mas, sim, no Nível Representacional, entre dois Estados-de-coisas: em (120), o Estado-de-coisas [ficar dando risada da minha vó] justifica o Estado-de-coisas [levar altos pitos da mãe]; em (121), o Estado-de-coisas [não ter combinado com a classe inteira] justifica o

97 97 fato de [não ter ido toda a classe]; em (122), o fato de [as mulheres adquirir o hábito ao longo dos anos] justifica o fato de [elas sentir necessidade]. Isso mostra que não há relação um a um entre os Níveis Interpessoal, Representacional e Morfossintático, uma vez que se trata de dois Atos, no Nível Interpessoal, um Estado-de-coisas (núcleo) modificado por outro Estado-de-coisas no Nível Representacional e duas orações, uma principal e outra dependente, no Nível Morfossintático. Observamos também que esse tipo de ocorrência permite ainda a existência de Atos Interativos entre as orações envolvidas na função de Causa, uma vez que Atos Interativos têm como propriedade marcar o final e o começo de Atos Discursivos. Ressalte-se, no entanto, que metade desses casos apresenta Atos Interativos, tal como em (123): (123) F: [...] só tem, às vezes, umas coisas que a gente não está de acordo, não é, porque cada um tem... E: sua maneira [...] F: seu modo de viver, de pensar, não é... (Bra80:NadaCiumenta). Todas as Causais detectadas no corpus são factuais, porque apresentam Estado-de-coisas reais, como se pode observar em (120), (121), (122) e (123), ou seja, [dar risada], [não combinou com a classe inteira], [as mulheres adquirir o hábito] e [cada um tem seu modo de viver, de pensar] são fatos considerados reais. A função de Causa oracional é quase sempre introduzida por uma conjunção, especificamente porque, como e que, com predominância da primeira, conforme mostrará o Gráfico 6, a seguir. As ocorrências (124), (125) e (126) exemplificam cada uma delas. Consequentemente, como não poderia deixar de ser, todas as Causais oracionais introduzidas por conjunção apresentam o verbo na forma finita.

98 98 (124) Quando uma das enfermeiras me viu, ela ficou apavorada porque tinha visto eu ser jogada uns dois metros de altura e cair no chão (Bra80:Acidente). (125) Como já se trata de uma zona fértil, lá criaram... todo o processo de socialização (CV95:IlhaFogo). (126) Não fogem que eu não deixo (PT97:SerPastor). como e que. O Gráfico 6 mostra os juntores da relação causal: as conjunções porque, Gráfico 6 - Os juntores na Causa oracional Os resultados mostram ainda que a posição predominante da função de Causa é no final da oração principal (96%), uma vez que, como observam Paiva e Braga (2006, p. 76), a posposição é uma característica da função de Causa, de modo que a posposição do segmento causal ao segmento efeito constitui, portanto, a ordem não marcada nas construções causais com porque. A posposição reflete a

99 99 função que os segmentos causais assumem na organização discursiva: (i) introduzem informação nova ou (ii) são inferíveis de outras partes de informação já apresentadas no discurso anterior. Em ambos os casos pode-se considerar que as orações Causais introduzidas pelo conector porque desempenham um papel essencial na progressão discursiva. Por sua vez, as cláusulas antepostas, muito mais raras, estão associadas a contextos bastante marcados por meio do qual uma condição, dentre outras possíveis, é destacada como a causa de um Estado-de-coisas. As orações Causais antepostas tornam-se problemáticas, uma vez que essa pode estar ligada tanto ao discurso anterior quanto ao discurso seguinte. Para reforçar a predominância da posição final da subordinada em relação à matriz, Paiva (1995, p. 61) se vale do pressuposto da sequencialidade temporal, isto é, os fatos se dispõem respeitando a linha imaginária temporal em que ocorrem, em outras palavras, respeitando a ordem anterioridade/posterioridade. Segundo a autora, tal pressuposto pode ser verificado se considerarmos que X não é (e não pode ser) a causa de Y, pois Y ocorreu antes de X (PAIVA, 1995, p. 61). Dessa maneira, os enunciados Causais possibilitam que a relação causa/tempo encontre sua realização mais natural na ordenação causa-efeito, isto é, X então Y, e isso, como bem observa Paiva (1995), reproduz um espelho acerca da organização da realidade. Há, no entanto, ocorrências em posição inicial, representadas em (127) e (128) e retomadas a seguir: (127) Como já se trata de um zona fértil, lá criaram todo o processo de socialização (CV95:IlhaFogo). (128) Como choveu, todas elas desapareceram! (Moç86:Chuva).

100 100 Observa-se que (127) e (128) ocorrem com a conjunção como. Neves (2000) aponta que a oração Causal expressa por como é diferente da expressa por porque, uma vez que a primeira é entendida como veiculadora de informação partilhada, consensual, e como apoio para progressão informativa que a oração principal, então, realiza. O processo que envolve a função Causa é a Subordinação, uma vez que há entre as orações uma dependência completa, em que a oração subordinada é constituinte do núcleo. No Nível Fonológico, das 37 orações Causais oracionais encontradas no corpus, a maioria (95%) não apresenta nenhum tipo de pausa longa, porém, todas as ocorrências apresentam um tom descendente na fronteira entre as orações. Os gráficos 7 e 8 apresentam a análise prosódica de uma oração Causal prototípica, isto é, um tipo de função de Causa que apresenta as características mais comuns e recorrentes de tal relação, como: (i) configurarem juntas, oração principal e oração subordinada, um único Ato Discursivo; (ii) não apresentarem Ato Interativo entre elas; (iii) não apresentarem Função Retórica; (iv) ocorrerem entre Estados-de-coisas; (v) serem factuais; (vi) exemplificarem caso de Subordinação; (vii) utilizarem conjunção na junção das orações; (viii) apresentarem verbo finito, (ix) posição final da oração subordinada em relação à matriz, (x) apresentarem pausa longa na fronteira entre as orações. (129) Escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva (Bra80:Fazenda).

101 101 Gráfico 7 - Pressão da voz na Causa oracional prototípica escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva No exemplo (129), representado fonologicamente no Gráfico 7, há um único Enunciado Fonológico [escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva] constituído de duas Frases Entonacionais, isto é, [escureceu muito rapidamente] e [porque estava ameaçando chuva], ou seja, não há pausa longa marcada por uma linha contínua e retilínia, como mostra o Gráfico 8:

102 102 Gráfico 8 - Análise Entonacional na Causa oracional prototípica escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva Consideremos agora uma ocorrência de oração Causal não prototípica. (130) quando chega ao solo já vem sem força, porque houve uma f[...], uma primeira parte que amorteceu a queda da água (ANG97:GuerraeAmbiente)

103 103 Gráfico 1 - Pressão da voz na Causa oracional não prototípica solojávem sem força # porquehouveuma primeira parte Gráfico 10 - Análise Entonacional na Causa oracional não prototípica Já vem sem força # porque houve uma Pprimeira parte

104 104 A oração (130) faz parte da minoria (5%) de ocorrências em que há diferença na pausa existente na fronteira entre as orações. Dessa forma, os gráficos 10 e 11 apresentam um Enunciado Fonológico [quando chega ao solo já vem sem força, porque houve uma f[...], uma primeira parte que amorteceu a queda da água] que conta com duas Frases Entonacionais: [quando chega ao solo já vem sem força] e [porque houve uma f[...] uma primeira parte que amorteceu a queda da água]. O símbolo #, no Gráfico 9, representa aqui, ilustrativamente, a pausa, efetuada pelo falante antes de proferir a causa pela qual a água chega sem força ao solo. Provavelmente, essa se justifica por questões idiossincráticas eventuais. No Gráfico 10, por sua vez, observamos a queda que quebra a continuidade da oração, isto é, uma pausa longa marcada pelo #. Ocorrências como essa apresentam a seguinte estruturação: [U][U] Com exceção dessa pequena porcentagem (5%), todas as ocorrências apresentam a seguinte estruturação fonológica: [[ IP + IP]] U Segundo Paiva (2001, p.43), o sintagma preposicional situa dois segmentos na mesma unidade prosódica. Nas construções com o conector porque, ao contrário, há maior variabilidade na ruptura prosódica entre os dois segmentos relacionados, devido, provavelmente, à multifuncionalidade do porque na utilização como conector de orações.

105 FUNÇÃO RAZÃO No corpus, foram encontradas apenas 9 ocorrências que expressam a função de Razão. Razão, por sua própria natureza, constitui um Conteúdo Proposicional, uma vez que representa pensamentos que direcionam um agente humano para agir de determinado modo (cf. HENGEVELD; MACKENZIE, 2008, p. 272). Em outras palavras, de acordo com Pezatti (2009, p. 143) a função de Razão fornece a causa da realização de um Estado-de-coisas expresso na oração principal em termos de um motivo atribuído ao controlador do Estado-de-coisas da oração principal, tal como ocorre em (131), em que a crença de que dois filhos são suficientes determina a ligadura como controle de natalidade. (131) E: Você e sua esposa vão querer ter mais filhos? F: Não! Ela, quando nasceu a garota, ligamos. man[...], mandei ligar porque dois basta (Bra80:CriarFilhos). Um Conteúdo Proposicional, como já observado, constitui uma entidade de terceira ordem, ou seja, um construto mental que não pode ser localizado nem no espaço nem no tempo e só pode ser avaliado em termos de sua verdade. Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 380), os Conteúdos Proposicionais são caracterizados pelo fato de poderem ser qualificados em termos de atitudes proposicionais (certeza, dúvida, descrença) e/ou em termos de sua fonte ou origem (conhecimento comum partilhado, evidências sensoriais, inferência). Assim, em (132), o evento principal constitui um Estado-de-coisas [uso de pulseiras] cujo participante tem controle sobre sua ocorrência. Esse Estado-de-coisas é motivado pela crença da existência de mágica. Em outras palavras, a relação causal ocorre

106 106 entre o Estado-de-coisas da oração principal e o Conteúdo Proposicional da oração com função de Razão. Assim, na função de Razão, um Conteúdo Proposicional justifica um Estado-de-coisas. (132) e muitas vezes na tradição africana, as pessoas usam mesmo, eh, pulseiras, e porque realmente acreditam em qualquer coisa de mágica (Ang97:ContoTradicional). A função de Razão e sua respectiva oração principal podem configurar um único Ato Discursivo, como em (131) e (132), acima, mas pode também ocorrer que cada oração constitua um Ato Discursivo, como exemplifica (133), em que a oração Razão constitui a resposta ao Ato Interrogativo da oração principal. (133) Eu estou a chamar a atenção para uma situação e por quê? Porque nós estamos numa fase de grande desenvolvimento (PT90:PoderesChefeEstado). Quando a função de Razão ocorre entre Atos Discursivos, é possível a presença de Atos Interativos demarcando o final do primeiro Ato e o início do segundo, tal como em (134): (134) tem coisas que eu não conto para a minha irmã, que eu conto para melhores amigas minhas, entendeu?, porque ela é diferente de mim em muitas coisas (Bra95:MuitoIguaiseDiferentes). Observamos que o Estado-de-coisas da oração principal pode, então, ser restringido por um modificador de Estado-de-coisas; por sua vez, o Conteúdo Proposicional da oração subordinada só pode ser restringido por um modificador dessa camada, conforme mostram as paráfrases em (135a) e (135b), respectivamente. Observe-se que o modificador possivelmente só se aplica à oração com função Razão, e não ao conjunto todo. Confira a agramaticalidade de (135c).

107 107 (135a) e muitas vezes na tradição africana, as pessoas usam de fato, eh, pulseiras, e porque realmente acreditam em qualquer coisa de mágica. (135b) muitas vezes na tradição africana, as pessoas usam, eh, pulseiras, e porque possivelmente acreditam em qualquer coisa de mágica. (135c) *possivelmente muitas vezes na tradição africana, as pessoas usam, eh, pulseiras, e porque acreditam em qualquer coisa de mágica. A oração Razão caracteriza-se por sempre apresentar o verbo da oração com função Razão no modo indicativo e ser sempre factual, uma vez que apresenta os Conteúdos Proposicionais avaliados como verdadeiros (cf. HENGEVELD; MACKENZIE, 2009, p. 380). Isso é possível em (140), porque o Conteúdo Proposicional [porque democracia também é, eu acho... que ao mesmo tempo é sinal de desenvolvimento] é considerado verdadeiro pelo falante. (136) nós devemos trabalhar para fortalecer essa democracia, para desenvolver o país. Porque democracia também é, eu acho... que ao mesmo tempo é sinal de desenvolvimento (GB95:Democracia). Considerando os exemplos de Razão utilizados até agora, é possível afirmar que a análise de ocorrências como essas mostra que, no Nível Morfossintático, a função de Razão configura casos de Subordinação, porque há duas orações que não podem ser usadas independentemente. A oração Razão restringe a oração principal, modificando-a, ou seja, é um constituinte da oração principal e ambas constituem uma única Expressão Linguística, em que [porque queriam mostrar a força nalg[...] de algum modo] modifica o fato de elas serem melhores alunas que eles, ou seja, é um constituinte da oração principal e ambas representam uma única Expressão Linguística (137) Eram muito melhores alunas que eles, porque queriam mostrar a força nalg[...], de algum modo (GB95:Democracia)..

108 108 De acordo com os resultados, a oração Razão apresenta-se sempre posposta à oração principal. Isso significa que primeiramente apresenta-se um Estado-decoisas visto como real seguido de Conteúdo Proposicional que o justifica. Essa ordenação reflete, portanto, o princípio de iconicidade que ocorre no Componente Conceitual, na ordenação de experiências mentais. A oração Razão é geralmente introduzida pelos relatores porque e que, sendo o primeiro predominante. Gráfico 11 - Preposição e Conjunção na função de Razão (138), (139) e (140) exemplificam ocorrências com o relator que. (138) Eu também faço por ela que eu gosto dela demais (Bra80:GostoDela). (139) Os trabalhadores continuaram a trabalhar com investimento, com afinco, enfim, com dedicação à terra, que no fundo era isso que eles tinham (PT97:TrabalhoPosseTerra).

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