DOCUMENTO DE TRABALHO

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1 ASAMBLEA PARLAMENTARIA EURO-LATINOAMERICANA EURO-LATIN AMERICAN PARLIAMENTARY ASSEMBLY ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO- AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão dos Assuntos Sociais, da Juventude e da Criança, dos Intercâmbios Humanos, da Educação e da Cultura DOCUMENTO DE TRABALHO sobre a luta contra a pobreza no quadro dos objetivos de desenvolvimento sustentável pós-2015 Comissão dos Assuntos Sociais, da Juventude e da Criança, dos Intercâmbios Humanos, da Educação e da Cultura Relatora: Andina Silvia Salgado DT\ doc AP v01-00 Unida na diversidade

2 Contexto A luta contra a pobreza tem sido uma das principais preocupações dos países da América Latina e das Caraíbas, devido aos índices de pobreza e de desigualdade que caracterizam a região. Para além disso, depois da assinatura, no ano 2000, da Declaração do Milénio e da subsequente definição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, os quais estabelecem oito propósitos de desenvolvimento humano que os 189 países das Nações Unidas se comprometeram a cumprir até 2015, destaca-se entre eles, como primeiro objetivo, «erradicar a pobreza extrema e a fome». Cumpre sublinhar que a aprovação da Declaração do Milénio e o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) constituem uma das iniciativas com maior êxito e influência que a comunidade internacional promoveu nos últimos cinquenta anos. Na sequência da sua aprovação e do seu seguimento, foi possível dar aos direitos das pessoas e à luta contra a pobreza um lugar de destaque no contexto da atenção internacional, obrigando as instituições internacionais e os governos nacionais a prestar contas quanto à sua contribuição para estes objetivos. 1 Não obstante, os ODM viram o sucesso da sua execução comprometido por algumas limitações. Deste modo, «ainda que a definição dos objetivos e das metas tenha tido um valor indiscutivelmente positivo, o silêncio dos ODM quanto aos meios e às estratégias para concretizar esses propósitos pode ser interpretado como uma manifesta fragilidade». 2 De igual modo, foi posta em causa a suficiência das consultas abertas à sociedade durante o processo de formulação dos ODM. Face ao acima exposto, no âmbito da Cimeira de Joanesburgo, realizada de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002, e da Cimeira Rio + 20, realizada entre 20 e 22 de junho de 2012, foi analisado o alcance atual dos ODM. Na sequência destas cimeiras, surgiu a necessidade de se definirem novas metas que partam das conquistas já alcançadas, com o objetivo de erradicar a pobreza extrema do mundo e de melhor articular as alterações climáticas e toda a temática da proteção ambiental com uma produção sustentável, dado que se afirmou que «o mais grave foi os ODM terem ficado aquém das expectativas ao não integrarem os aspetos económicos, sociais e do meio ambiente relativos ao desenvolvimento sustentável, contemplados na Declaração do Milénio, e ao não abordarem a necessidade de promover padrões sustentáveis de consumo e de produção. Consequentemente, o meio ambiente e o desenvolvimento nunca foram devidamente integrados: havia pessoas a trabalhar arduamente mas, muitas vezes, de forma isolada em problemas interligados». 3 Deste modo, foi decidida a nomeação de um grupo de 27 líderes mundiais denominado 1 Alonso, José Antonio. Compromiso Global por un desarrollo incluyente y sostenible. Consideraciones sobre la Agenda Post Consultado em 7 de outubro de 2014, em: p Ibidem, p Organização das Nações Unidas ONU «Uma Nova Aliança Mundial: Erradicar a pobreza e transformar as economias através do desenvolvimento sustentável», Nova Iorque, maio de AP v /6 DT\ doc

3 «Painel de Alto Nível de Pessoas Eminentes para a Agenda de Desenvolvimento pós-2015», que se encarregou da análise de todas as conquistas alcançadas e dos erros da ODM, bem como, com base nos resultados obtidos, da estruturação de uma Agenda Mundial para o Desenvolvimento pós Finalmente, o Painel de Alto Nível apresentou em 30 de maio de 2013 o relatório «Uma Nova Aliança Mundial: Erradicar a pobreza e transformar as economias através do desenvolvimento sustentável», no qual se estipula que a Agenda para o Desenvolvimento pós- 2015, com vista a alcançar um mundo sem pobreza extrema em 2030, deve assentar em cinco princípios: 1) Não esquecer ninguém; 2) Colocar o desenvolvimento sustentável no centro da Agenda; 3) Transformar as economias para criar emprego e crescimento inclusivo; 4) Construir a paz e instituições eficazes, abertas e responsáveis para todos; 5) Criar uma nova aliança mundial. A luta contra a pobreza na Agenda pós-2015 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio foram estabelecidos para o período como uma estratégia global de «luta contra a pobreza». Ainda que a redução da pobreza não tenha sido totalmente alcançada, os ODM permitiram canalizar diferentes esforços para prosseguir este objetivo e para melhorar as condições de vida indispensáveis para a sobrevivência das pessoas mais pobres do mundo. Segundo esta ordem de ideias, ao longo das últimas duas décadas, verificou-se uma redução considerável da pobreza em termos absolutos, quer a linha se situe nos 1,25 dólares, quer nos 2 dólares. Concretamente, de acordo com o Banco Mundial, a percentagem de pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares por dia na população mundial passou de 43% em 1990 para 20% em 2010 e espera-se que, em 2015, essa percentagem seja reduzida para 16%. De igual modo, registou-se uma mudança na localização destas populações pobres, uma vez que cerca de três quartos destas populações já não residem atualmente em países com baixos rendimentos, mas em países com um rendimento intermédio. 1 Outrossim, o objetivo de «reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a percentagem de pessoas com rendimentos inferiores a 1,25 dólares por dia» foi alcançado entre 2008 e Além disso, o número de pessoas pobres passou de 1937 milhões em 1981 para 1215 milhões em No que respeita à América Latina, devem destacar-se os dados publicados em fevereiro de 2014 pelo Banco Mundial (BM ), que indicam que, nesta região, a pobreza extrema foi reduzida para metade nos últimos dez anos, conduzindo a uma diminuição da percentagem do 1 Alonso, José Antonio. Op. Cit., p. 8 2 Nações Unidas. Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Relatório de Alonso, José Antonio. Op. Cit., p. 58. DT\ doc 3/6 AP v01-00

4 grupo social mais pobre e criando uma classe média que se situa agora nos 34,4%. Adicionalmente, sublinha-se que os países da Região Andina são os países sul-americanos que têm as taxas mais reduzidas de pobreza 22% da sua população pese embora tenham um crescimento económico inferior ao dos países que constituem o bloco MERCOSUL 1. Na última década, mais de 56 milhões de pessoas saíram de uma situação de pobreza extrema na região. No entanto, ainda falta muito para tornar este objetivo numa realidade, dado que mais de 1200 milhões de pessoas vivem em condições de carência extrema. Por essa razão, erradicar totalmente a pobreza deve continuar a ser uma parte obrigatória e central da nova agenda para o desenvolvimento. Alcançar uma taxa de 3% em 2030 através do aumento das receitas da percentagem de 40% da população mais pobre em cada país e tendo como objetivo a partilha da prosperidade, tal como propõe o Banco Mundial, poderia ser um objetivo ambicioso, mas alcançável. 2 Relativamente à América Latina, deve assinalar-se que, apesar da redução dos níveis de pobreza, ainda está em dúvida na região a redução dos índices de desigualdade, para a qual seria importante trabalhar no quadro dos Objetivos de Desenvolvimento pós O PNUD adverte que a América Latina tem cerca de 200 milhões de pessoas isto é, um terço da população que se encontram numa situação vulnerável, ou seja, que saíram da pobreza mas não chegaram a integrar a classe média, tratando-se de «uma população ainda vulnerável que, ante efeitos adversos, pode retroceder». Por essa razão, recomenda aos governos que concentrem os seus esforços neste grupo populacional, para que não se invertam os progressos até agora alcançados, promovendo políticas públicas multidimensionais com mais investimento na prevenção 3. Atendendo ao acima exposto, a luta contra a pobreza no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015 deve responder às necessidades que o atual contexto internacional apresenta no âmbito geopolítico, social e ambiental, já que se «alteraram notavelmente os factos, os conhecimentos e as previsões, no que respeita aos limites e às condições do desenvolvimento humano no planeta Terra (o que se convencionou denominar «desenvolvimento sustentável», DS) e a sua relação com a luta contra a pobreza como parte integrante do processo de desenvolvimento económico e social da humanidade. 4 Deste modo, evitar a deterioração do meio ambiente deve ser uma parte integrante da nova agenda da luta contra a pobreza, considerando que as condições ambientais são indispensáveis para o desenvolvimento humano da população mundial, assim como para garantir o desenvolvimento sustentável dos países Ibidem, p t=segun_pnud_ecuador_bolivia_y_peru_han_reducido_mucho_pobreza_y_han_creado_clase_media 4 Ibidem, p. 42. AP v /6 DT\ doc

5 Assim, a luta contra a pobreza na Agenda pós-2015 também deve ser concebida como uma estratégia fortemente relacionada com a estratégia global, orientada para um desenvolvimento sustentável de âmbito mundial. Para além da sustentabilidade ambiental, na luta contra a pobreza será necessário adotar hábitos de consumo sustentáveis, redesenhar os sistemas de produção, repensar a ordem mundial e reestruturar os modelos políticos e socioeconómicos vigentes. Esta estratégia será fundamental para conseguir uma confluência das agendas do Norte e do Sul, permitindo o reconhecimento das responsabilidades dos países desenvolvidos. 1 Neste contexto, a luta contra a pobreza deve propiciar uma nova abordagem que promova a inovação, a mudança tecnológica e a adoção de padrões de consumo e de produção responsáveis, considerando que tanto as empresas como as pessoas não atuam responsavelmente no momento de gerar e de adquirir produtos cuja vida útil é limitada, gerando mais resíduos e contaminação do meio ambiente. Por outras palavras, deve promover-se um modelo de produção sustentável, no quadro do qual se utilizem os recursos necessários para o desenvolvimento da população atual, sem comprometer os recursos das gerações futuras. Conclusão Com o objetivo de apresentar uma Agenda para o Desenvolvimento pós-2015 dotada de metas sensatas e exequíveis, deve procurar-se um consenso e um trabalho coordenado para consolidar uma aliança que deveria envolver os governos, mas que também incluísse as pessoas que vivem numa situação de pobreza, as pessoas deficientes, as mulheres, a sociedade civil e as comunidades indígenas e locais, os grupos tradicionalmente marginalizados, os organismos multilaterais, os governos locais e nacionais, bem como as empresas, a comunidade académica e as entidades filantrópicas privadas. 2 De igual modo, o trabalho parlamentar através de ações legislativas deve converter-se num elemento fundamental para a execução das diretrizes que se estipulem na Agenda para o Desenvolvimento pós-2015 e, assim, conseguir que sejam eficazes a nível regional, nacional e local. Nesse sentido, o trabalho dos parlamentos latino-americanos e do Parlamento Europeu deve convergir e centrar-se nas metas que se definam nesta Agenda para 2030, com o intuito de ajudar a «dar resposta aos desafios globais do século XXI, a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), e com vista à erradicação da pobreza», 3 para um mundo mais equitativo e com mais oportunidades para os menos favorecidos. O atrás disposto baseia-se no facto de ser «alarmante o nível de desigualdade no mundo, tanto entre os diferentes países, como dentro de cada país. Em relação a todos os bens e serviços consumidos no mundo por ano, os 1200 milhões de pessoas que vivem numa situação de 1 Ibidem, p Organização das Nações Unidas ONU Op. cit. 3 Ibidem DT\ doc 5/6 AP v01-00

6 pobreza extrema apenas representam 1% do consumo, enquanto os 1000 milhões de pessoas mais ricas consomem 72% do valor total», 1 o que significa que apenas um pequeno grupo da população a nível mundial está integrado com sucesso no sistema económico, o que gera grandes níveis de iniquidade. Por outro lado, é importante mencionar que os sucessos alcançados pelos ODM a nível regional, nacional e local não seriam possíveis se não tivesse havido um trabalho conjunto de todos os Estados, o que implica que o trabalho parlamentar tem de contribuir para a procura de uma solução dos problemas globais hodiernos, através de um trabalho legislativo que permita aos Estados a estruturação e o desenvolvimento de políticas mais inclusivas e equitativas. Nesta perspetiva, os parlamentos latino-americanos podem desempenhar um papel preponderante na realização de um trabalho coordenado com os governos dos países da região, que vise alcançar os cinco princípios apresentados pelo Painel de Alto Nível. Por sua vez, é necessário desenvolver um plano que permita aos parlamentos supranacionais, na sua qualidade de representantes dos povos latino-americanos, cumprir a função de meio de comunicação entre as comunidades e os governos da região, com o objetivo de transmitir todas as necessidades mais prementes dos cidadãos para que os governos possam desenvolver políticas públicas, com vista a alcançar as metas apresentadas para a redução da pobreza em 2030 na Agenda para o Desenvolvimento pós Por fim, é de vital importância que todos os esforços parlamentares conduzam ao desenvolvimento de um quadro regulamentar comunitário que apoie o trabalho nacional e local para a erradicação da pobreza, a melhoria das condições de vida e a proteção do ambiente. Este último deve entender-se no sentido de orientar todos os esforços necessários para proteger a grande riqueza ambiental presente na Amazónia, assim como as florestas e pântanos que sejam nascentes de água doce na região. 1 Ibidem AP v /6 DT\ doc