Tumor venéreo transmissível cutâneo sem envolvimento genital em cão - relato de caso

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1 Tumor venéreo transmissível cutâneo sem envolvimento genital em cão - relato de caso Cutaneous transmissible venereal tumor without genital involvement in a dog- case report RAMOS, J.N. 1 ; MONTE, A.M.P. 2 ; QUEIROZ, M. M. 3 ; SOBRINHO, F.B.S. 4 ; LOPES, I.B.L. 5 ; ANDRADE, A.C. 6 ; QUEIROZ, R.W 7 ; GOMES, A.A.D. 8 Origem institucional: Univasf jamillyramos93@gmail.com 1 ; anireves@outlook.com 2 ; manueli.menezes@gmail.com 3 ; fernando-medvet@hotmail.com 4 ; italobl.lopes@gmail.com 5 ; andrezza.andrade@hotmail.com.br 6 ; regina.wolf@univasf.edu.br 7 ; anaamelia.gomes@univasd.edu.br 8. Palavras-chave: tumor de Sticker, tumor venéreo transmissível, cão. REVISÃO DE LITERATURA O tumor venéreo transmissível canino (TVT), também denominado como tumor de Sticker, granuloma venéreo, histiocitoma ou sarcoma venéreo infecioso é uma neoplasia de células redondas, altamente contagiosa, transmitida a partir do contato das células tumorais nas mucosas durante o coito, ou em outros locais, através de lambeduras, arranhaduras, ou contato direto com o tumor (BRITO, 2005). Sticker constatou que essa neoplasia é transmissível por células transplantáveis (SILVA et.al, 2007), com localização predominantemente venérea, afetando o pênis e a vagina de cães, podendo também ser encontrado em regiões extragenitais como pele, regiões subcutâneas, seios nasais, orelha, anus, cavidade oral, tonsilas, faringe, baço, rins, linfonodos, fígado, pulmão, encéfalo e ovários (RIBEIRO e ZAPPA, 2008; SANTOS, 2011; MILLER et al., 2013). A forma cutânea acomete principalmente face e membros (MEDLEAU e HNILICA, 2003) sendo as lesões nodulares com apresentação ulceradas, bordas elevadas e de coloração esbranquiçada, cinza ou rosada, e, ao centro, de coloração avermelhada, friável, (MOYA et al., 2005; MILLER et al., 2013). O TVT canino é considerado como um tumor maligno sob o ponto de vista histológico e benigno no seu comportamento clínico (SANTOS, 2011) sendo seu diagnóstico definitivo obtido através do exame citológico, esfoliativo e/ou histopatológico do tumor. Como método diagnóstico pode ser utilizado à impressão sobre lâmina de microscopia e citologia aspirativa 162

2 com agulha fina, sendo estes de simples e rápida execução, além de baixo custo. Sugere-se também o uso de técnicas de diagnóstico por imagem, que fazem parte de um procedimento completo para o estadiamento do tumor e verificação de metástase (TILLEY & SMITH, 2003). Como tratamento, ficam preconizadas a cirurgia, quimioterapia e a radioterapia, entretanto a cirurgia não é o tratamento de eleição porque pode haver semeadura celular durante a retirada do tumor, sendo a quimioterapia citotóxica a opção terapêutica mais utilizada. No geral, a monoterapia com sulfato de vincristina é eficaz no controle dessa neoplasia, além de ser menos citotóxica. Sua aplicação se dá por via endovenosa na dose de 0,025 0,05mg/kg, uma vez por semana. Cinco a sete aplicações do quimioterápico são geralmente suficientes para o desaparecimento, não havendo recidivas na maioria dos casos (SARATSIS, 2000). O presente relato tem como objetivo descrever a manifestação cutânea sem envolvimento genital do tumor venéreo transmissível, na região cervical esquerda, de um cão sem padrão de raça definida (SPRD) e o seu tratamento bem sucedido com sulfato de vincristina. RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital escola, SPRD,4 anos,5.2 Kg, apresentando lesão de caráter nódulo-tumoral, em região cervical esquerda, com aproximadamente cinco centímetros de diâmetro, de aspecto friável, associada a inflamação e infecção bacteriana, ulcerada e com exsudação sanguinolenta. A proprietária relatou que há três meses a nodulação estava progredindo de tamanho, tratava-se de um animal inteiro e semidomiciliado. Ao exame físico, verificou-se bom estado geral. Foi realizada limpeza da ferida com solução fisiológica e aplicação local de neomicina com bacitracina, prescrito cefalexina (25mg/kg/via oral), a cada 12 horas, durante 21 dias. Realizou-se citologia aspirativa com agulha fina (CAAF), obtendo como resultado o predomínio de células redondas monomórficas, com vacuolização citoplasmática, citoplasma basofílico e escasso, além de núcleos ovais e centralizados, sendo esta citologia compatível com TVT, e não foram verificadas lesões características em região genital. O hemograma apresentou-se dentro dos valores de referência para a espécie e idade. Adotou-se então tratamento a base de sulfato de vincristina, na dose de 0,025mg/Kg, a cada 7 dias, num total de seis aplicações, sendo observado rápida resposta com notável regressão, diminuição da 163

3 inflamação e produção de tecido cicatricial nos bordos da ferida logo na primeira semana. A melhora do quadro clínico foi continuada com regressão total da lesão em um prazo de seis semanas. DISCUSSÃO O TVT comumente afeta a genitália externa havendo poucos relatos de lesões tegumentares, no entanto, em uma pesquisa com mais de 500 casos de tumores em genitália, foi sugerido que a maioria das lesões extragenitais são secundárias a um foco genital primário, ocorrendo de forma simultânea. (MAC EWEN, 2001). O caso relatado trata-se de uma ocorrência cutânea sem envolvimento genital, sendo o diagnóstico e a diferenciação celular entre o TVT e outros tumores de células redondas bem mais difíceis (MOZOS et al., 1996; MILLER et al., 2013) O método de citologia aspirativa por agulha fina eficaz para fechar o diagnóstico, sendo considerado um exame complementar importante já que o aspecto citológico do tumor tem uma natureza característica (MILLER et al., 2013). A respeito do padrão hematológico, os valores hematimétricos esperados para um animal com TVT seria anemia normocítica normocrômica, provavelmente relacionada à perda de sangue crônica. No entanto, tal observação não corrobora com o caso relatado, relacionado talvez com a localização do tumor, uma vez que era uma região de pouco atrito. Leucopenia absoluta com desvio à esquerda, neutropenia e linfocitose relativa também podem ser detectadas em cães portadores naturais de TVT (CAMACHO & LAUS, 1987), entretanto notou-se que as contagens médias de leucócitos permaneceram dentro dos valores de referências. Como tratamento clínico, o protocolo quimioterápico com sulfato de vincristina é o mais utilizado. A dose da vincristina é controversa, entretanto a mais aceita é 0,025mg/kg (MARCOS et al., 2006; BARBIERI et al., 2007), semanalmente por até sete semanas. No caso relatado foi utilizado cloridato de vincristina (1mg/ml), na dose de 0,025mg/kg, semanais, em um total de 6 aplicações. Alguns efeitos colaterais podem ocorrer na administração da quimioterapia para tratamento do TVT, como, por exemplo, vômitos, diarreia, constipação, insuficiência renal, reações de hipersensibilidade, toxicidade cardíaca e neurotoxicidade (FLORENTINO et al., 2007), o que não foi observado no caso. 164

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O TVT é uma doença venérea altamente transmissível que pode, além da região genital, acometer outros locais como o tecido cutâneo. Deve-se atentar que os nódulos/tumores podem estar localizados em regiões diferentes da genital, e incluir o TVT no diagnóstico diferencial. REFERÊNCIAS BRITO, P.C. Novos tratamentos para o TVT. In: Congresso paulista de clínicos veterinários, 8, 2005, São Paulo. Anais. São Paulo: Anclivepa-SP, 2005, p.37. BARBIERI, G. Tumor venéreo transmissível extragenital no tecido cutâneo: relato de quatro casos. A Hora Veterinária, ano 27, n. 158, p , CAMACHO, A.A., LAUS, J.L. Estudo sobre a eficiência da vincristina no tratamento de cãs com tumor venéreo transmissível. Archives of Veterinaty,37-42p, FLORENTINO, K.C., NICACIO, F. D., BATISTA, J. C., COSTA, Jorge L. O., BISSOLI, E. A. G. Tumor venéreo transmissível cutâneo canino - relato de caso. Revista científica eletrônica de medicina veterinária, ano III, n. 7, MAC EWEN, E. G. Transmissble veneral tumor. In: WITHROW S. J.; MAC EXEN, E.G. Small Animal Clinical Oncology. Phyladelphia: Saunders, p , MARCOS, R., SANTO, M., MARRINHAS, C., ROCHA, E. Cutaneous transmissible venereal tumor without genital involvement in a prepubertal female dog. Veterinary Clinical Pathology, v. 35, n. 1, p ,2006. MEDLEAU, L.; HNILICA, K.A. Dermatologia de pequenos animais. Atlas Colorido e Guia Terapêutico. São Paulo, Roca, p.317,

5 MILLER, W.H.; GRIFFIN, C.E.; CAMPBELL, K.L. Muller and Kirk's Small Animal Dermatology. 7ed. Saint Louis: Elsevier, c.20, p , MOYA, C.F., LOPES, M.D.; PRESTES, N.C.; ARAÚJO, G.H.M.; RODRIGUES, M.M.P. Tumor venéreo transmissível canino: revisão de literatura e descrição de caso clínico. Medvep: Revista Científica de Medicina Veterinária. Pequenos Animais e Animais de Estimação, v.3, p , MOZOS.E.; MÉNDEZ, A.; GÓMEZ-VILLAMANDOS, J. C. et al. Immunohistochemical characterization of canine transmissible venereal tumor. Veterinary Phatology, v.33, n.3, p , RIBEIRO, I.; ZAPPA, V. Tumor Venéreo Transmissível em cães. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, ano 6, n 11, Disponível em: < Acesso em: 03/06/2016. SANTOS, I.F.C; CARDOSO, J.M.M.; OLIVEIRA, K.C. Metástases cutâneas de tumor venéreo transmissível canino Relato de caso. Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, v.9, n.31, p , SARATSIS, P.H, YPSILANTIS, P., TSELKAS, K. Semen quality during vincristine treatment in dogs with transmissible venereal tumor. The riogenology, v.53, n.5, p , mar SILVA, M. C. V; BARBOSA, R.R., SANTOS, R.C., CHAGAS, S.N., COSTA, W.P. Avaliação epidemiológica, diagnostica e terapêutica do tumor venéreo transmissível na população canina atendida no hospital veterinário da UFERSA. Acta Veterinaria Brasílica. Jaboticabal, v.1, n.1, p.28-32, TILLEY, L.P., Smith, F.W.K.S. Tumor venéreo transmissível. In: Consulta veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 2ª ed. São Paulo: Manole, p.1268,