Ética e Responsabilidade Empresarial contextualizadas
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- Gonçalo Casqueira Paranhos
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1 Ética e Responsabilidade Empresarial contextualizadas A empresa moderna constitui-se em torno do Capital. O seu contexto resulta do processo social que transforma os bens em capital O capital, tal como a energia, é também um valor adormecido. Despertá-lo requer que se vá além de olhar os nossos bens como eles se apresentam para os pensarmos como poderiam ser se tivessem uma forma activa. É necessário um processo para estabelecer o potencial económico dos bens de forma a poderem ser utilizados para iniciar uma produção adicional. (Hernando de Soto, O Mistério do Capital) Tal processo consiste no sistema unificado de propriedade formal (equivalente a uma central hidroeléctrica) que descreve, organiza e regista as características económicas e sociais que respeitam aos bens, dando-lhe a forma de um título.
2 Titularidade da propriedade O sistema permite descobrir o potencial económico da propriedade: no momento em que, por exemplo, se centra a atenção no título de uma casa e não na casa em si, sai-se automaticamente do mundo material para o universo conceptual onde se situa o capital A informação dispersa sobre os bens é integrada num único sistema É criada a responsabilidade individualizada do proprietário, libertando-o das restrições próprias aos contextos politizados das comunidades locais, substituídas pelo contexto impessoal da lei Os bens tornam-se fungíveis, dividindo, combinando, mobilizando e utilizando as suas representações para transacções (acordos com vista à realização de negócios) As pessoas são ligadas numa rede de agentes de negócios individualmente identificáveis e responsabilizáveis As transacções são protegidas, permitindo movimentarem-se largas quantidades de bens em segurança Consequentemente, os sistemas monetários e bancários funcionam e o investimento pode ser realizado (o papel moeda deve a sua criação às anotações de confissão de dívida, pressupondo a instituição prévia da propriedade; o que as pessoas oneram não são os bens físicos em si, mas sim as suas representações de propriedade ).
3 A propriedade das Empresas A propriedade das empresas vai incidir sobre as representações do potencial económico dos bens de que aquelas são proprietárias, isto é, sobre o capital social das empresas Há separação entre a propriedade e a gestão Controlo da empresa é transferido para os administradores e conselhos de administração A titularidade da propriedade é fragmentada (acções) Interesses diferentes emergem: lucros para accionistas / crescimento para gestores Capital social e seus acrescentos (fundos próprios) são alavancados por capitais alheios. Direitos (estritos) dos accionistas: de vender os títulos, de votar em assembleias de accionistas, de aceder a informação, de responsabilizar os gestores por má conduta eventual, direitos residuais em caso de liquidação da empresa. Não incluem o direito a uma certa grandeza de lucro ou dividendo. Deveres (amplos) confiados aos gestores: actuar para benefício da empresa através da criação de valor, cuidar e aplicar competências ao serviço desta, dever de diligência.
4 Conflitualidade accionistas/gestores Teoria da agência: a parte accionista (o principal ), ao delegar por via de contrato a execução de actividades na parte gestora (o agente ), expõe-se ao oportunismo e interesse próprio do agente (abuso de poder, atitudes diferentes face ao risco, informação assimétrica) e ao risco moral. Activismo accionista: fundos institucionais e raiders podem entrar no capital social da empresa, tirando partido da sua necessidade de liquidez, para parti-la, vendê-la em segmentos e reestruturá-la na óptica do valor accionista, independentemente da estratégia de criação de valor da gestão.
5 Intermediação e outras funções das instituições financeiras Mercado monetário Mercado de capitais Mercado de balcão over-the counter Câmbios de divisas Taxas de juro Instrumentos derivados
6 Os mercados financeiros Os mercados financeiros secundários (bolsista e over-the-counter) tornaram-se fundamentais para a acção das empresas. Os empréstimos perdem alguma da sua importância tradicional no negócio das instituições financeiras devido à desintermediação As instituições financeiras não podem sobreviver sem: Boa gestão do risco controlando a sua exposição Contribuição para a criação de riqueza.
7 Novos riscos Os mercados financeiros são mercados de activos e de responsabilidades. As transacções realizadas resultam em fluxos de pagamentos espalhados pelo tempo, sem horizonte temporal normalizado A maioria dos bens físicos e de muitos serviços tem horizontes temporais dilatados. Para certos serviços e bens virtuais, o horizonte temporal é, no entanto, curto e o seu valor (como activo ou responsabilidade) está alavancado pelo crédito (leveraged) Através dos derivados pode construir-se alavancagem sobre alavancagem (leverage on leverage), aumentando ainda mais os riscos.
8 Distorções nos mercados financeiros Podem resultar de dois factores: Má supervisão dos centros financeiros offshore Insuficiente monitoragem das posições de risco dos hedge funds.
9 Desafios éticos nos mercados financeiros Banca comercial e de retalho: segmentação de mercados, redução dos serviços directos aos mais pobres (encaminhamento para caixa automática, etc.), cross selling Mitigação de risco de crédito através de derivados de crédito e titularização da dívida, transferindo-o para terceiros com consequências imprevisíveis Crédito às PME com elevadas taxas de juro Discriminação étnica no crédito Empréstimos predatórios, concedidos com facilidade e elevadas taxas a clientes vulneráveis) Cartões de crédito Financiamento de projectos não sustentáveis Micro-crédito Banca de investimento: conflitos de interesses entre o lado de banco de investimento e o lado de analista financeiro Hedge Funds com estratégias de elevadíssimo risco Regulação Estratégias de investimento dos fundos de pensões e outros institucionais Seguros: risco de insolvência acrescido pelas estratégias de investimento em derivados
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