PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante JEANINE MARIA MENA BARRETO DA SILVEIRA sendo apelado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO DIMAS MASCARETTI (Presidente) e RUBENS RIHL. São Paulo, 9 de novembro de Osni de Souza RELATOR Assinatura Eletrônica
2 fls. 2 2 Voto nº Apelação Cível nº São Paulo Apelante: Jeanine Maria Mena Barreto da Silveira Apelada: Fazenda do Estado de São Paulo Apelação Cível. Tradutor Público e Intérprete Comercial. Reconhecida a validade da exigência constante do edital de concurso, no sentido de que o candidato resida por mais de um ano na praça onde pretenda exercer o ofício, prevista na lei especial que regulamenta a função (Decreto n , de 21 de outubro de 1943). Precedente. Ação improcedente. Recurso improvido. Trata-se de apelação interposta contra a r. sentença de fls. 85/88 que julgou improcedente ação ordinária objetivando fosse efetivada a nomeação da autora como tradutora e interprete comercial da Junta Comercial do Estado de São Paulo. Insurge-se a vencida alegando, em síntese, que foi regularmente aprovada em concurso público para o desempenho do ofício, tendo apresentado, no tempo oportuno, a documentação exigida. Ocorre, porém, que sua nomeação foi indeferida, com base na alínea 'e' do artigo 3 do regulamento anexo ao Decreto Federal n /43 que exige que o requerente resida, por mais de um ano, na praça em que pretenda exercer o
3 fls. 3 3 ofício. Pondera que tal exigência constitui inaceitável discriminação a afrontar o princípio da isonomia e o princípio que garante o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, este inserto no inciso XIII do artigo 5 da Constituição Federal, certo que se trataria de requisito que poderia ser cumprido após a nomeação. Assevera que, na verdade, tal exigência erige-se à condição de instrumento favorecedor dos candidatos residentes no Estado de São Paulo em detrimento dos demais, o que seria inaceitável, mesmo porque a mudança de um tradutor público para outro Estado não implica sua exoneração. Nesse passo, o indeferimento de sua nomeação seria ato inconstitucional e, portanto, nulo. Pleiteia, afinal, a integral reforma da sentença (fls. 95/104). respondido (fls. 107/112). Recurso tempestivo, regularmente processado e Nesta sede, a autora foi instada a manifestar-se quanto à subsistência de seu interesse no julgamento deste apelo, dado que se verificou que seu nome constava da lista de tradutores públicos e intérpretes comerciais da Junta Comercial do Estado de São Paulo (fl. 121), ao que respondeu afirmativamente. Nessa ocasião, esclareceu que o motivo de seu nome integrar aquela relação reside no fato de que, por força da liminar concedida initio litis, posteriormente revogada, chegou a prestar serviços de tradutora (fl. 129). É o relatório. Os documentos que instruem a inicial dão conta que a autora obteve aprovação em concurso público para a habilitação de Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais da Junta Comercial do Estado de São Paulo, sendo indeferido, porém, seu pedido de nomeação, visto residir
4 fls. 4 4 em outra unidade federativa (fl. 23), por força do que dispõe o artigo 3, alínea 'e', do regulamento anexo ao Decreto Federal n /43, que estabelece as condições a serem cumpridas pelo candidato quando de sua inscrição no certame: Artigo 3º O pedido de inscrição será instruído com documentos que comprovem: a) ter o requerente a idade mínima de 21 anos completos; b) não ser negociante falido irrehabilitado; c) a qualidade de cidadão brasileiro nato ou naturalizado; d) não estar sendo processado nem ter sido condenado por crime cuja pena importe em demissão de cargo público ou irreabilitação para o exercer; e) a residência por mais de um ano na praça onde pretenda exercer o ofício; f) a quitação com o serviço militar; e g) a identidade. Parágrafo único. Não podem exercer o ofício os que dele tenham sido anteriormente demitidos (grifamos). Pois bem. Mediante a publicação do edital, o Administrador define para a ciência dos interessados os limites do certame. Nesse momento, a Administração vincula-se às normas por ela própria ditadas, ficando obrigada a ater-se aos lineamentos propostos, garantindo aos interessados idênticas oportunidades, isonomia de tratamento e igualdade de
5 fls. 5 5 condições de ingresso. Relativamente aos potenciais candidatos, uma vez cientes do conteúdo do edital, podem eles sopesar as condições ali estabelecidas, avaliando sua aptidão para preenchê-las, e, como isso determinar a conveniência de submeterem-se ao concurso. Com a inscrição, aperfeiçoa-se o vínculo entre o candidato e a Administração, nascendo, para o primeiro, o dever de respeitar as regras, às quais voluntariamente se sujeitou, aí incluído o dever de veracidade quanto às declarações prestadas, em particular aquelas que dizem respeito ao atendimento aos requisitos legais. No caso concreto, a Administração conduziu-se com correção, sem alteração, no curso do certame, das regras antes publicadas, de modo que a autora não foi surpreendida pela exigência aqui discutida. Ao contrário. Ao efetivar sua inscrição para o concurso, anuiu a todos os requisitos e as exigências previstos expressamente no edital e estava plenamente ciente da imposição, fundada na lei especial que rege a matéria e constante do edital, quanto a residir por mais de um ano na praça onde pretenda exercer o ofício (artigo 3, alínea 'e', do regulamento anexo ao Decreto Federal n /43). Não lhe é dado, agora, suscitar a ineficácia do ato que indeferiu sua nomeação como tradutora pública e intérprete comercial, visto que, desde logo, no momento em que foi publicado o edital, teve ciência daquela restrição e, ainda assim, com o risco de ver indeferida sua inscrição ou sua nomeação, como ocorreu, optou por desconsiderá-la e submeteu-se ao concurso.
6 fls. 6 6 Não se vislumbra, tampouco, inconstitucionalidade na exigência, visto que há pertinência lógica para o discrimen que também se haure da lei. É bem certo que a competência das Juntas Comerciais está adstrita aos limites territoriais dos respectivos Estados, nos termos do artigo 5 da Lei n 8.934/94. Por seu turno, o artigo 37 do Decreto Federal n /43 comete às Juntas Comerciais a atividade fiscalizatória do ofício de tradutor público e intérprete comercial sob sua jurisdição, ao passo que o artigo 25, alínea 'b', do mesmo decreto, prescreve que compete àqueles órgãos a aplicação de penalidades quando configurada eventual infração no desempenho daquelas funções. Ora, se o tradutor ou o intérprete não reside em local abrangido pela jurisdição do órgão fiscalizador, evidentemente, esquivase de seu controle. Desse modo, adotar a tese defendida pela autora implicaria aí, sim violação do princípio da isonomia, atribuindo-lhe o privilégio de exercer o ofício fora da jurisdição da Junta Comercial do Estado de São Paulo e, portanto, sem sujeitar-se aos mecanismos de monitoramento de suas atividades e de imposição de sanções, aos quais os demais tradutores e intérpretes estão subordinados. Como bem ponderou a MM. Juíza, cujas razões de decidir são aqui adotadas em acréscimo aos fundamentos já expostos: (...) tampouco qualquer direito objetivo e subjetivo da autora foi violado, pois foi tratada como seus pares, ou seja, aqueles que obtiveram aprovação e não conseguiram comprovar residência
7 fls. 7 7 em São Paulo por mais de um ano, de acordo com o item do Edital. A exigência feita à autora para posse no cargo não foi por ela atendida nem quando de sua inscrição para o concurso, nem quando da nomeação. Por fim, destaque-se que a Junta Comercial não pode nomear para o cargo quem é domiciliado em outro Estado, pois estaria ultrapassando os limites de sua competência, sendo o ato nulo, já que as interpretações do Tradutor e Intérprete não teriam fé pública e, assim, sem efeito jurídico. A autora, por conseguinte, não preenche os requisitos exigidos para a investidura do Cargo previstos em lei e exigidos pelo edital. Ademais, a autora aceitou tacitamente as regras ao iniciar o certame, vindo a questioná-las após sua não nomeação, visando afastá-las e infringindo, ela sim, os Princípios norteadores dos concursos públicos, principalmente o da Isonomia (fls. 87/88). No mesmo sentido que aqui se decide, é o precedente desta Corte, julgado pela C. 9ª Câmara de Direito Público, relatado pelo I. Desembargador Geraldo Lucena, e do qual se extraem preciosas lições: Observe-se inicialmente, que no edital do certame para recrutar Tradutor Público Juramentado e Intérprete Comercial constou à exigência do candidato residir por mais de um ano no Estado, e, como se sabe, esta norma administrativa constitui o ato mais importante de todo o concurso. A Administração Pública pode, além dos dispositivos constitucionais que regem à espécie, impor outras exigências de conformidade com o cargo ou função que lhe é peculiar. Estes requisitos estão intimamente vinculadas à tarefa a ser exercida pelo postulante ao
8 fls. 8 8 cargo ou função, sempre norteada no art. 37 da CF/1988. A título de exemplo, a Administração Pública pode exigir comportamento especial e adequado para a função que é objeto do certame, ou mesmo compleição física, teste vocacional e todas essas exigências, desde que façam parte do edital do concurso, ajustam-se a ordem constitucional. No caso concreto, o Decreto n de 21 de outubro de 1943 foi recepcionado pela atual carta política, pois, apenas regula o exercício e delegação dessa atividade pretendida pelo apelante Mauro José Soeiro. Por outro lado, cabe a Junta Comercial do Estado de São Paulo com base na Lei n de 18/11/1994 observar sua competência em tema substancial e também territorial, com a obrigação de fiscalização do exercício dessa função pública delegada, além de disciplinála. E quem reside fora do Estado de São Paulo, obviamente, estaria exonerado dessa fiscalização ou disciplina. Não se deve esquecer que constou do edital do concurso à exigência do candidato residir por mais de um ano neste Estado de São Paulo. Aliás, ao se inscrever no concurso, o impetrante-apelante Mauro José Soeiro já demonstrou que não possuía um requisito para concorrer. Como bem assentado às fls. 23/30: 'Ao admitir que a Junta Comercial possa atuar fora de seu território, estar-se admitindo a instalação do caos, permitindo-se, em confronto com a ordem constitucional, que a Administração Pública extrapole a competência material e territorial que a Lei lhe confere: a Junta Comercial do Estado de São Paulo ficaria a conceder a matrícula ao
9 fls. 9 9 impetrante, mas este, residente em outro Estado, não ficaria sujeito à fiscalização da JUCESP, nem estaria sujeito à fiscalização pela Junta Comercial do Paraná, porque não foi ela que lhe matriculou; entretanto, o ofício, enquanto exercício de função pública delegada, é atividade fiscalizadora pelo Estado, titular da função que delegou' (AC n /2-00, j. em ). Tem-se, portanto, que a exigência prevista no edital não ofende nem a lei nem a Constituição, erigindo-se a requisito legítimo do certame, decorrente da competência territorial e material da Junta Comercial do Estado de São Paulo, órgão promotor do concurso e fiscalizador do ofício. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. OSNI DE SOUZA Relator
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