APONTAMENTOS DE GESTORES: FORMAÇAO E INFORMAÇAO EM SEXUALIDADE

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1 APONTAMENTOS DE GESTORES: FORMAÇAO E INFORMAÇAO EM SEXUALIDADE Andreza Marques de Castro Leão Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara-Unesp. Departamento de Psicologia da Educação. Programa de Pós-graduação em educação sexual. Processo Fapesp- 2013/ A sexualidade desde o final do século XX tem conquistado mais espaço para ser problematizada em distintas instâncias sociais haja vista que houve maior flexibilidade na sociedade a diferentes questões de cunho sexual, tais como gravidez na adolescência, Doenças Sexualmente Transmissíveis, violência sexual, entre outras que passam a ser problematizadas de maneira mais aberta. Entre estas instâncias a escola, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), mais precisamente do tema transversal orientação sexual, ganha legitimidade para abranger este assunto. A responsabilidade da escola traz `a tona o profissional que recebera a incumbência de implementar esta orientação. Neste contexto o professor é apontado como a figura cerne neste processo. Diante disso, os especialistas do campo da sexualidade e educação sexual apontam a urgência de se investir na formação inicial e continuada dos professores voltados a esta especificidade temática, porquanto, o professor é o pilar da educação, profissional de fundamental importância (LEÃO, RIBEIRO, BEDIN, 2010). No entanto, tanto os professores, quanto os gestores escolares têm dificuldades em abordar assuntos relativos a sexualidade devido à falta de formação. Por esta razão, Leão (2012) assinala que é preciso que se propicie o devido preparo dos profissionais da educação, entre estes dos gestores, de maneira que tenham uma formação peculiar neste assunto, formação esta que instigue a sensibilidade à necessidade da abrangência deste tema na escola. Considera-se que se a equipe gestora das escolas auxiliar os professores neste trabalho, dando a devida assessoria e apoio, o trabalho de educação sexual terá maiores chances de obter êxito, o que significa que os alunos, geralmente carentes de informações acerca de sexualidade, terão acesso a uma formação relativa a este tema, isto e, tendo oportunidade de refletir e discutir questões de cunho sexual de maneira a mitigar suas duvidas. Pensando neste cenário foi elaborado e implementado um curso direcionado a preparar os gestores de um município para a implementação de trabalhos de educação sexual. O que possibilitou esta elaboração foi dar voz a 40 gestores de um município localizado no interior do estado de São Paulo. Estes gestores foram convidados a participar do curso, tendo ciência que se empregaria um questionário semi-fechado com questões relativas à sexualidade e de educação sexual de maneira a saberem a informação que apresentavam acerca destes temas. Estes dados foram analisados 1295

2 estatisticamente e apresentados descritivamente. Em suma, o presente estudo de cunho misto, isto, pesquisa qualitativa e quantitativa, busca apresentar alguns dos dados obtidos no referido instrumento de pesquisa. Assim sendo, buscou conhecer apontamentos de gestores sobre a formação e informação deles relativos a sexualidade e a educação sexual. A primeira questão do questionário inquiriu como as gestoras se consideram informadas sobre distintos temas de sexualidades, tais como: sexualidade infantil, relações de gênero, violência sexual, gravidez na adolescência, entre outros. Os dados obtidos nesta questão encontram-se apresentados no gráfico 1. Gráfico 1- Análise da informação das gestoras sobre questões de sexualidade Conforme pode-se observar no gráfico 1 em relação aos assuntos que as gestoras tem maior conhecimento, tem-se os seguintes: Gravidez na adolescência e métodos contraceptivos contou com 83%; Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids e puberdade com 75%; Namoro e o ficar com 70%. A violência sexual, sexualidade infantil e relações de gênero obtiveram o mesmo percentual, ou seja, 63%. Na sequência, sexualidade e deficiências e a diversidade sexual contaram com 60%. E por fim, mitos, tabus e preconceitos sexuais com 53%. Leão (2009), em seu estudo propôs conhecer a formação de discentes de um curso de Pedagogia no tocante a estes temas. Os achados do seu estudo são similares ao obtidos no presente estudo. Segundo a pesquisadora, os discentes se consideravam mais informados sobre assuntos que vinculam a sexualidade com prevenção. Assim, temas como gravidez na adolescência, métodos contraceptivos, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids foram apontados como assuntos que eles apresentam mais 1296

3 informação. Do mesmo modo, apresentam informação sobre temas contemporâneos como é o caso do namoro e o ficar. O estudo de Leão e Ribeiro (2013) buscou conhecer os saber dos discentes de um curso de Pedagogia sobre temas diversos de sexualidade visando, a partir disso, elaborar e implementar um curso direcionado aos mesmos. Em seus achados observaram que os assuntos que os participantes se consideravam muito informados foram também Gravidez na adolescência e métodos contraceptivos (52,1%), Relações afetivas (48,8%) e Doenças Sexualmente transmissíveis e Aids (45,9%). Embora o percentual difira do obtido no presente estudo, foram os assuntos apontados como os que eles tinham maior informação. Estes dados ilustram o que Leão (2009) aponta em sua pesquisa, isto é, aventase que esta informação maior em questões voltadas a prevenção pode ser decorrente da própria educação sexual informal que as gestoras tiveram acesso. Um aspecto que chama a atenção é que a maioria se considera bem informada sobre diferentes assuntos de sexualidade. Somente os tópicos sexualidade e deficiência, relações de gênero, mitos, tabus e preconceitos sexuais foram apontados como o que elas apresentam menos informação. No estudo de Leão (2009) a pesquisadora aponta que estes assuntos também ficaram entre os que os participantes de sua pesquisa referiram ter menos informação. Para ela, isso se deve ao fato de serem temas polêmicos. Pensando na atuação profissional das gestoras foi perguntado a elas se na atuação profissional já tiveram de realizar alguma ação interventiva em sexualidade. Os dados desta questão estão expostos no gráfico 2. Gráfico 2- Ação interventiva em sexualidade Verifica-se no gráfico 2 que 60% das participantes já realizou alguma ação interventiva em sexualidade na escola. Ou seja, embora afirmem que apresentam dificuldades de 1297

4 lidar com algumas situações em sala de aula, assim como, não tiveram formação no assunto, tentam realizar ações voltadas a este tema. Visando conhecer que tipo de ação, as participantes foram questionadas acerca disso e como se sentiam em relação a ela. Os dados alcançados nesta pergunta estão apresentados no gráfico 3. Gráfico 3- Tipo de ação interventiva de sexualidade Pode-se inferir do gráfico 3 que 33% das participantes mencionaram que a ação foi orientação. Ou seja, orientaram os alunos quando foram questionadas sobre algum assunto de cunho sexual. Já 17% delas afirmaram que elaboraram projetos sobre sexualidade abordando alguns temas de sexualidade, tais como, corpo, órgãos reprodutores, métodos contraceptivos, entre outros. 17% disseram que abordaram temas de sexualidade dentro de projetos internos da escola em que atuam, quando houve oportunidade do tema ser inserido. E 33% não responderam que tipos de ação realizaram. Foi possível perceber que não há uma sistemática de ações interventivas de sexualidade, o que houve foram algumas ações isoladas e pontuais. Além disso, as participantes não disseram como se sentiam em relação a elas. Outra questão indagava as participantes se apresentam dúvidas sobre o que falar acerca da sexualidade no contexto escolar. Elas foram unanimes em comentar que apresentam muitas dúvidas, seja de como iniciar a discussão com os alunos acerca de temas relativos a sexualidade, de como responder os alunos, como evitar problemas com a família, entre outros. 1298

5 Além disso, a questão pedia que as participantes dissessem qual o seu papel nesta educação. Os resultados desta pergunta estão apresentados no gráfico 4. Gráfico 4- Papel que exerce nesta educação Segundo as participantes elas têm o papel de orientar os alunos, de esclarecer as dúvidas que eles trazem e de intervir, quando for preciso. Compete ao profissional da educação o devido esclarecimento dos alunos, munindo-os de informação científica, e o mesmo pode ser dito quanto estas dúvidas são relativas às questões de sexualidade. O objetivo é que este esclarecimento possibilite que eles não sejam reféns de saberes e informações baseadas no saber científico. Além disso, acrescentaram que precisam, para tanto, estar devidamente preparados de maneira que possam exercer este papel. Com efeito, como a literatura científica refere, o profissional da educação necessita ter o devido preparo de maneira que possa assumir seu papel no âmbito do trabalho de educação sexual, de modo que saiba como abordar, tendo o devido subsídio teórico para tanto, assim como, munido de estratégias de como abarcar (FIGUEIRÓ, 2006; LEÃO, 2009; MAIA, RIBEIRO, 2011). A falta de formação ou informação deste/a profissional quanto aos distintos temas de sexualidade dificulta o desenvolvimento deste trabalho no âmbito escolar. Aliás, um despreparo acerca do mesmo compromete a própria escola, porquanto pode se tornar um espaço propício para a consolidação de preconceitos (LEÃO, 2009). O preconceito se faz presente no entorno escolar, porém, a escola não pode servir como estratégia de exclusão, e, sim, de inclusão promovendo a formação dos cidadãos em termos de direitos e deveres (LEÃO; DOESCHER, RIBEIRO, 2014). Uma forma de extinguir a 1299

6 perpetuação dos preconceitos, mitos e tabus é colocar estes temas em debate, isto é, deles serem devidamente questionados. Isso remete a necessidade da formação do professor. Considerando isso, Maia e Ribeiro (2011, p. 80) pontuam que [...] a formação deve instrumentalizar criticamente o professor para que possa lidar com as dificuldades naturais resultantes dos tabus e preconceitos inerentes ao sexo, ao gênero e à orientação sexual. Concernente às relações de gênero, Figueiró (2009) discorre que este conteúdo deve ser o esteio de todo o processo educativo voltado para as questões de sexualidade. Os alunos trazem suas dúvidas sobre sexualidade. Por isso, é importante que o professor tenha sensibilidade e desenvoltura para saná-las, necessitando, para tanto, do devido preparo, haja vista que como enfatiza Maistro (2009), é difícil trabalhar de maneira exitosa dentro do contexto educacional questões relativas à sexualidade se os professores não tiveram sensibilidade e a preparação necessária para tanto. Ribeiro (2013, p. 13) alerta que é de fundamental importância formar profissionais conscientes da relevância do desenvolvimento de ações eficazes no âmbito da sexualidade, aptos a trabalhar com a educação sexual na escola visando contribuir na formação e informação das pessoas em sua globalidade e totalidade. Nesta mesma linha de pensamento, Maia e Ribeiro (2011) declaram que a educação sexual na escola é uma prerrogativa fundamental que objetiva o atendimento global e íntegro do ser humano em formação. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Os dados evidenciaram que a informações das gestoras relativas à sexualidade decorre de um saber adquirido na educação informal, uma vez que não tiveram acesso a uma formação específica neste tema na graduação. Elas apresentam dificuldades de lidar com algumas situações em sala de aula envolvendo este assunto, embora tentem realizar algumas ações interventivas, tais como orientar, elaborar projetos, entre outros. Relataram que apresentam duvidas sobre o que abordar e o que discorrer concernente a sexualidade, embora concordam que tenham o papel de orientar e esclarecer os alunos. Em suma, estes dados foram fundamentais para se pontuar aspectos que deveriam ser tratados em um curso direcionado a preparar estes profissionais para o trabalho de educação sexual, curso este que está sendo implementado. 1300

7 REFERENCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Brasília, FIGUEIRÓ, M. N. D. Educação sexual: como ensinar no espaço da escola. In: FIGUEIRÓ, M. N. D.(org.). Educação sexual: múltiplos temas, compromisso comum. Londrina: UEL, p LEÃO, A. M. C. Estudo analítico-descritivo do curso de Pedagogia da UNESP de Araraquara quanto à inserção das temáticas de sexualidade e orientação sexual na formação de seus alunos f. Tese (Doutorado em Educação Escolar). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, LEÃO, A. M. C. A percepção do(a)s professore(a)s e coordenadore(a)s dos cursos de Pedagogia da Unesp quanto à inserção da sexualidade e da educação sexual no currículo: analisando os entraves e as possibilidades para sua abrangência. 259f. Relatório de Pós-Doutorado (Sexologia e Educação Sexual), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, LEÃO, A. M. C.; RIBEIRO, P. R. M.; BEDIN, C. R. SEXUALIDADE E ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA EM FOCO: algumas reflexões sobre a formação de professores. Revista Linhas, Florianópolis, v. 11, n. 01, p , jan. / jun LEÃO, A. M. C.; DOESCHER, A. M.L.; RIBEIRO, P. R. M. O preconceito na escola: caminhos para enfrentar a homofobia e a discriminação de gênero. In: MAGALHAES, J. C.; RIBEIRO, P. R. C. (org.). Educação para a sexualidade. Rio Grande: Ed. da FURG, p LEÃO, A. M. C.; RIBEIRO, P. R. M. Curso de formação inicial em sexualidade: relato de uma proposta interventiva. Revista Iberoamericana de Estudos em Educação. Araraquara, v. 8, n. 3, p , MAIA, A. C.B.; RIBEIRO, P. R. M. Educação sexual: princípios para a ação. Doxa, Revista Brasileira de Psicologia e Educação. Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara: UNESP- Laboratório Editorial, v. 15, n. 1, p , MAISTRO, V. I. A. Desafios para a elaboração de projetos de educação sexual na escola. In: FIGUEIRÓ, M. N.D. (org.). Educação sexual: em busca de mudanças. Londrina: EdUEL, p RIBEIRO, P. R. M. A educação sexual na formação de professores: sexualidade, gênero e diversidade enquanto elementos pra a construção de uma cidadania ativa. In: RABELO, A.; PEREIRA, G. R.; SOUZA REIS, M. A. (ORGS.) Formação docente em gênero e sexualidade: entrelaçando teorias, políticas e práticas. Petrópolis: DP et Alii, 2013, p